“UMA
DECLARAÇÃO
DE AMOR –
40 ANOS
DE SAUDADE”
ou
(QUEM DISSE
QUE
O “POPULAR”
NÃO
TEM
QUALIDADE?)
Por definição,
de uma maneira geral, “popular” é um adjetivo que significa “o que pertence ao povo”
ou “o
que concerne ao povo”; aquilo que “recebe
a aprovação do povo, que tem a simpatia da maioria”. Posto isso, o
espetáculo a que assisti na noite de anteontem (10/9/2023), no Teatro
Clara Nunes, infelizmente em seu último dia de uma vitoriosa temporada,
“UMA
DECLARAÇÃO DE AMOR – 40 ANOS DE SAUDADE”, é um espetáculo “popular”.
É pena que muita gente ainda pense, de
forma completamente errada, que o que é popular não tem compromisso com a excelência.
Não é bem assim. Algo classificado como “popular” pode, sim, ser de boa
qualidade, como a montagem aqui analisada. Bastava ver a emoção de uma plateia
superlotada (LOTAÇÃO
ESGOTADA), que aplaudia, freneticamente, em cena aberta, cantando
com a protagonista, as acerca de 40
canções que fazem parte da trilha sonora da peça.
Depois de quase um mês afastado
do TEATRO, por estar em viagem de
férias, fora do país (Em estado de abstinência. Momento
descontração!), não poderia ter encontrado um espetáculo melhor para
voltar à minha rotina de ir, quase diariamente, ao Teatro, porque a peça em
questão é bonita, leve, alegre e descontraída, e traz, encabeçando o elenco,
uma boa atriz, BRUNA PAZINATO, que
também é dona uma belíssima voz, além de ser muito bonita, carismática e saber
se comunicar muito com o público.
Sendo um musical biográfico, não se poderia esperar um formato muito diferente do convencional, para esse tipo de proposta, normalmente apoiado e guiado pela linha do tempo do(a) homenageado(a). De tanto assistir a esse modelo de espetáculo, poderia dizer que ele já começa a se tornar desagradável; “chato” mesmo, o que não é o caso aqui. Nada de muito novo, na estrutura dramatúrgica, é verdade, entretanto um detalhe, para mim, fez toda a diferença: a ideia de utilizar dois casais de atores, como personagens, para dividir, entre si, a tarefa de ligar as cenas, com textos narrativos, diretamente lançados à plateia, com a quebra da quarta parede, pontuando momentos da trajetória de CLARA NUNES, em sua abortada vida, tão jovem, muito precocemente, aos 41 anos de idade, vítima de uma “fatalidade”, um choque anafilático causado por uma anestesia, que a levou ao coma e ao óbito, quando era submetida a uma cirurgia para a remoção de varizes.
CLARA NUNES era o nome artístico de Clara Francisca Gonçalves Pinheiro,
cantora e compositora brasileira, considerada uma das maiores e melhores
intérpretes do país, que ainda contribuía como pesquisadora da Música
Popular Brasileira, de seus ritmos e de seu folclore, tendo viajado
para muitos países, como uma espécie de “embaixadora”, representando a
cultura brasileira.
Voltando ao quarteto de atores/cantores/narradores, preciso
dizer que todos se comportam com muita graciosidade, representando seus
personagens: (por ordem alfabética) AMANDA
RAMOS (Santa Clara), CAIO
PASSOS (São Francisco de Assis), FELIPE
PORTELLA (São Jorge/Ogum) e TINA
VILLELA (Santa Bárbara/Iansã). Como já puderam perceber, dois dos
personagens são santos da Igreja Católica e, ao mesmo tempo,
representam dois orixás importantes na Umbanda, religião de matriz africana
com muita penetração no Brasil. CLARA era
filha de Ogum com Iansã.
Considero de extrema felicidade a ideia de chamar a atenção para o
sincretismo religioso em nossa terra. Os quatro, além de darem seus textos,
acompanham, em coro, BRUNA PAZINATO,
em quase todas as canções, muito bem selecionadas para o espetáculo, as quais
receberam ótimos arranjos, musicais e vocais, de NICO REZENDEN e ZEH NETTO,
sendo NICO também responsável pela direção
musical do espetáculo. Para ficar nessa área, merece uma menção de
destaque a excelente banda que acompanha, ao vivo e no palco, à vista do
público, todas as canções.
Quando fiz referência ao texto, não disse o nome de quem é
responsável pelo roteiro da peça bem como pela sua direção: FRANCISCO NERY. Para a condução do fio
narrativo, NERY também criou duas
cenas que mostram momentos importantes da vida da protagonista, que marcaram,
indelevelmente, sua carreira. A primeira é aquela em que a cantora é recebida
por Hebe
Camargo (BRUNA CAMPELO), em
seu programa de TV, líder em audiência, transmitido, à época, diretamente de Belo
Horizonte, quando, pela primeira vez, CLARA foi apresentada ao grande público. A outra, mais tarde,
quando, no programa do Chacrinha (GILSON GOMES), percebe que já é uma unanimidade nacional. É bem
interessante a não omissão desses dois momentos, pois que envolvem dois grandes
ícones da comunicação pela telinha, os quais tiveram grande importância na
carreira de CLARA. Quem fosse
convidado para o programa da Hebe ou do Chacrinha, inevitavelmente,
ganhava notoriedade, espaço na mídia e no gosto “popular” (Olha
ele aí, de novo, gente!). O casal de artistas que representam os dois
apresentadores faz um ótimo trabalho, estes, sim, com a intenção de imitar a
ambos; de uma forma geral, pelo menos. Dois bons trabalhos.
Na parte referente aos artistas de criação, todos os profissionais convidados para fazer parte da FICHA TÉCNICA responderam à altura, para cujos trabalhos chamo a sua atenção. GEORGE BRAVO criou uma ótima cenografia, com elementos de raízes mineiras (CLARA era mineira, de Caetanópolis.), como dois conjuntos de “fuxicos” gigantes, ao fundo do palco, e alguns estandartes, nas duas laterais, como os que são utilizados nas procissões do interior; um belo toque puxado para o barroco, no espetáculo. A religiosidade sempre esteve muito presente na vida da cantora. Além desses elementos, outros são conduzidos ao palco, pelos atores, com destaque para uma barraquinha para vender produtos típicos nordestinos. LETÍCIA DA HORA assina todos os figurinos, incluindo, obviamente, os muitos vestidos usados pela personagem CLARA NUNES, muito bem adequados às várias fases pelas quais passou a artista. Cabe aqui um elogio ao responsável pelo visagismo de todos os personagens e, principalmente, da protagonista, cujo nome, infelizmente, não consta na FICHA TÉCNICA, mas para quem direciono muitos aplausos. Quase no final da peça, há uma cena arrebatadora, quando CLARA é conduzida, ao centro do palco, sentada numa enorme cadeira de vime, trazendo, na cabeça, uma linda e exuberante tiara de flores, que CLARA NUNES usou muito em suas apresentações. Por oportuno, ainda que não tenha ficado, para mim, nenhuma intenção de “mimesis”, da parte de BRUNA, a qual mantém sua personalidade artística, durante os 90 minutos de espetáculo, sem intervalo (E para quê?!), a verdade é que, em certos momentos, sua voz e sua aparência física se aproximam muito da homenageada. Jamais me cansarei de elogiar o trabalho de BRUNA. Tudo o que é exposto no palco, das presenças humanas aos elementos plásticos da montagem, é bastante valorizado por uma ótima iluminação, desenhada por ADRIANA ORTIZ. O espetáculo é marcado por muitas entradas e saídas em cena, o que lhe confere bastante dinamismo, para o que contribui bastante o trabalho de direção de movimento, a cargo de SUELI GUERRA.
Roteiro: Francisco Nery
Direção: Francisco Nery
Assistente de Direção: Wagner Brandi
Direção Musical: Nico Rezende
Assistente de Direção Musical: Zeh Netto
Elenco: Bruna Pazinato (Clara Nunes), Bruna Campelo (Hebe Camargo),
Gilson Gomes (Chacrinha), Amanda Ramos (Santa Clara), Caio Passos (São
Francisco de Assis), Felipe Portella (São Jorge/Ogum) e Tina Villela (Santa
Bárbara/Iansã)
Cenografia: George Bravo
Cenotécnica: Humberto Silva e Humberto Silva Jr.
Figurinos: Letícia da Hora
Iluminação: Adriana Ortiz
Arranjos: Nico Rezende e Zeh Netto
Direção de Movimento: Sueli Guerra
“Designer” Gráfico: Paulo
Cordeiro
Direção de Produção: Ernaldo Santini
Fotos: Estúdio Insônia (fotos de estúdio) Não foi divulgada (para mim)
a autoria das fotos de cena.
Assessoria de Imprensa: Julyana Caldas
Oxalá
possa haver outra(s) temporada(s) deste musical, no Rio de Janeiro, e que ele
possa viajar por este Brasil, para que o nome de CLARA NUNES seja devidamente lembrado; reverenciado por quem já era
admirador de sua arte; conhecido por aqueles que não tiveram a oportunidade de
viver na mesma época em que ela fez sua meteórica passagem pela Terra! Como é
óbvio, oculto o SERVIÇO da peça, já
que não está mais em cartaz, ficando, aqui, apenas, o registro do quanto “UMA DECLARAÇÃO DE AMOR: 40 ANOS DE
SAUDADE” me agradou.
FOTOS: ESTÚDIO INSÔNIA (fotos de estúdio).
Não foi divulgada (para mim) a autoria das fotos de cena; algumas foram encontradas em redes sociais.
VAMOS AO TEATRO!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS
DE ESPETÁCULO
DO BRASIL!
A ARTE EDUCA E CONSTRÓI,
SEMPRE!
RESISTAMOS, SEMPRE MAIS!
COMPARTILHEM ESTE TEXTO,
PARA QUE, JUNTOS,
POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR
NO TEATRO BRASILEIRO!
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