“NOEL ROSA:
COISA NOSSA”
ou
(UM É BOM.
DOIS?
AINDA
MELHOR.)
ou
(NÃO IMPORTA
COM QUE ROUPA
EU FUI.)
ou
(UM MUSICAL
“BREJEIRO”.)
Não consigo entender por que, ainda hoje, alguns diretores
insistem em querer “inventar a roda” e a conduzir seus trabalhos de direção de uma
forma equivocada, valorizando o que não precisa ficar sob o foco dos
refletores, esquecendo-se de que, em TEATRO,
pode muito bem funcionar a teoria do “menos é mais”, principalmente
porque está ficando cada vez mais difícil erguer um espetáculo, por falta de
produtores, patrocínios e apoios, principalmente. Com uma verba, muitas vezes, curta
ou não muito elástica, a solução é apelar para o trabalho em conjunto e explorar,
ao máximo, a criatividade e o bom gosto. Por que complicar? Para que tanto rebuscamento,
quando, com poucos elementos, de comprovada qualidade, se pode
conseguir erguer uma peça de TEATRO,
bastante ao gosto do grande público?
Não pensem que o parágrafo que inicia esta crítica faz
referência a “NOEL ROSA: COISA NOSSA”,
espetáculo a que tive o imenso prazer de assistir na noite do último sábado (16
de setembro de 2023), no Teatro Prudential, já na reta final
de um temporada de grande e merecido sucesso. Foi intencional a sua escrita,
para lhes chamar a atenção para este delicioso musical, escrito por GERALDO CARNEIRO, dirigido por CACÁ MOURTHÉ e com um ótimo quinteto de
atores/cantores/musicistas:
ALFREDO DEL-PENHO, FÁBIO ENRIQUEZ, DANI CÂMARA, JULIE WEIN
e MATEHEUS PESSANHA.
Nada
contra as superproduções. Muito pelo contrário! Quem não gosta delas? Fico
extremamente feliz, quando vejo um super musical montado, que faz com que eu me
sinta na Broadway, provando que os artistas brasileiros não ficam nada a
dever aos estrangeiros, mas também fico com o coração massageado de alegria,
depois de ter assistido a um musical como o que está sendo alvo destes
escritos, “BREJEIRO”, como escrevi num dos subtítulos acima, num sentido
mais ampliado e, até mesmo, metafórico do adjetivo; simples, que atinge,
facilmente, qualquer pessoa da plateia, diverte, emociona, encanta, tornando-se
merecedor de muitos aplausos.
O autor do texto, um dos “imortais” da Academia
Brasileira de Letras (ABL), GERALDO
CARNEIRO, para comemorar suas “bodas de ouro”, de uma bela
trajetória artística, resolveu homenagear um dos mais consagrados nomes da Música
Popular Brasileira, mais propriamente, do samba, NOEL ROSA, o “Poeta da Vila”, cujo
talento é indiscutível, a ponto de, a despeito de ter morrido aos 27
anos de idade, incompletos, de tuberculose, nos ter legado alguns dos maiores
clássicos da MPB, mais de 200 músicas, como “Com
que Roupa”, “Fita Amarela”, “Gago Apaixonado”, “Palpite
Infeliz”, “Até Amanhã”, “Último Desejo”, “Conversa
de Botequim”, “Feitio de Oração”, “Três
Apitos” e tantos outros sucessos.
As letras escritas por NOEL
atingiam qualquer classe social, embora fossem mais voltadas para o popular,
alternando lirismo e poesia com humor e ironia. É fácil detectar nelas seu senso lúdico e humor anárquico. Durante 47 anos, trabalhei em
sala de aula, como professor de língua portuguesa, da segunda fase do primeiro
grau até o nível superior, e sempre me utilizei de muitas das letras do
compositor, para fazer análise e interpretação de textos, o que era muito bem
recebido pelos alunos, principalmente depois de terminada a tarefa, quando
ouvíamos as canções.
SINOPSE:
O
espetáculo reconta episódios divertidos, boêmios e
trágicos da vida meteórica do “Poeta da Vila”, de seu nascimento
até sua morte, sendo que esta é abordada de forma suave, leve e delicada.
Recheada
de som, humor e poesia, a montagem é caracterizada pelas noitadas em bares e a
luta de NOEL contra a tuberculose.
O Rio
de Janeiro, o Brasil, os marginalizados e as
“dores de cotovelo” embalam canções clássicas do
autor, presentes em qualquer “playlist” que se propõe a mostrar o
que é o “samba de raíz”.
A peça
revela, ao público, os momentos mais divertidos e emocionantes da vida de NOEL ROSA, bem como alguns casos
curiosos que deram origem à obra do artista.
NOEL é a grande
estrela do espetáculo, mas quem brilha mesmo é a dupla de atores/cantores/musicistas
ALFREDO DEL-PENHO e FÁBIO ENRIQUEZ, os quais interpretam o
protagonista de forma impecável. Considero genial a ideia de o personagem ser
vivido por duas pessoas, tão diferentes do homenageado quanto entre si. ALFREDO e FÁBIO são muito diferentes, fisicamente, contudo essa solução, no
palco, tem a ver com a “personalidade plural do
protagonista”. “Noel é tão amplo e diverso, que é capaz de ser representado por dois atores
muito diferentes fisicamente”,
nas palavras da diretora do espetáculo. E lhes garanto que o resultado é o
melhor possível. Já aproveito, aqui, para louvar essa iniciativa, que partiu
dela, em comum acordo com um dos produtores,
EDUARDO BARATA. Originalmente, o texto
fora escrito para que o personagem NOEL
fosse representado por um único ator. Essa iniciativa de CACÁ MOURTHÉ concede à encenação um extraordinário dinamismo, ainda
ampliado pelo ótimo trabalho de direção
de movimento, dividido entre ela e RENATO
VIEIRA, este também responsável pelas coreografias.
Em
personagens coadjuvantes, mas nem por isso menos importantes, os personagens e os trabalhos, DANI CÂMARA,
JULIE WEIN e MATEHEUS PESSANHA garantem o apoio de que os dois atores protagonistas
necessitam, para que, ao final da encenação, o trabalho dos cinco possa merecer
os efusivos aplausos e o merecido reconhecimento do público. DANI, cantora, percussionista e
compositora, interpreta a mãe de NOEL,
Dona
Rosa, e Ceci, considerada a verdadeira paixão do “Poeta
da Vila”. JULIE, cantora,
musicista e doutora em neurociências, é Lindaura, a esposa de NOEL, com quem ele foi obrigado a
casar, por pressão da mãe da moça, depois de tê-la engravidado, quando ainda
era uma adolescente, de 13 anos, 10 a menos que ele. Eles
viveram uma vida precária, dormindo em vagões de trem e passando as noites em
bares. Lindaura perdeu o filho meses após o casamento. MATHEUS PESSANHA, amigo de rodas de
samba de ALFREDO DEL-PENHO, faz sua
estreia no TEATRO, e o faz com o pé
direito, interpretando o compositor Nássara, amigo de NOEL. Cada um dos cinco entendeu,
perfeitamente, como colocar os “tijolinhos” necessários para a
construção deste espetáculo.
A trilha
sonora, apenas com grandes sucessos da carreira do compositor, é excelente
e foi selecionada pelo dramaturgo,
pelo pesquisador CARLOS DIDIER e por
ALFREDO, que assina a correta direção musical da peça. Gostei muito
dos arranjos, tanto os musicais quanto os vocais, de todas as canções, com
destaque para alguns andamentos que fogem às gravações originais, feitas por
alguns dos maiores intérpretes da nossa música.
Sendo um musical biográfico, o texto
obedece à estrutura padrão para esse tipo de espetáculo, seguindo, cronologicamente,
os fatos mais importantes da curta vida de NOEL.
GERALDO CARNEIRO demonstra ser um
notável conhecedor da vida e da obra do homenageado como também, de posse de
todas as informações que julgou necessárias passar para o público, soube apresentá-las
na forma de ágeis diálogos. Não vou comentar essas passagens, uma vez que
espero, com esta crítica, despertar o interesse dos que a leem, de modo a
conferir estas minhas palavras com uma ida ao Teatro Prudential, nesta
última semana da temporada. Apenas adianto que NOEL era bastante negligente com sua saúde, o que fez com que sua passagem
por aqui tenha sido muito meteórica mesmo. Ele morreu no dia 4 de
maio de 1937. Seu espírito anárquico e gozador levava-o a fazer graça
de sua desgraça e, pelo que pude perceber, ele era um praticante da teoria do “Carpe
Diem!”.
Um único artista de criação, de comprovada competência, RONALD TEIXEIRA, ficou com a tripla responsabilidade de assinar a cenografia, os figurinos e a direção de arte desta montagem, e cumpriu, à altura, suas atribuições. RONALD optou por um palco vazio, que permite, facilmente, aos atores, o deslocamento em cena e a execução das coreografias. Poucos elementos cenográficos são levados, pelos próprios atores, para o palco, quando uma determinada cena os exige. Ao fundo, um enorme telão, no qual são projetadas “lembranças imagéticas” da vida de NOEL: seus amores, lugares que ele frequentou e citações visuais de suas músicas. Os figurinos são datados, da década de 1920, entretanto trazem “gotas” e "frescor" de contemporaneidade, “trazendo para o nosso tempo essa lembrança do que era o compositor”. Ótima combinação!
FICHA TÉCNICA:
Idealização: Eduardo Barata e Marcelo Serrado
Texto: Geraldo Carneiro
Direção: Cacá Mourthé
Assistência de Direção: Marcelo Cavalcanti
Direção Musical: Alfredo
Del-Penho
Assistência de Direção Musical: Matheus Pessanha
Direção de Movimento: Renato
Vieira e Cacá Mourthé
Coreografia: Renato Vieira
Elenco: Alfredo
Del-Penho, Fábio Enriquez, Julie Wein, Dani Câmara e Matheus Pessanha
Direção de Arte:
Ronald Teixeira
Cenografia: Ronald Teixeira
Figurinos: Ronald Teixeira
Iluminação: Rodrigo Belay
"Design" de Som: Júnior Brasil
Visagismo: Fernando Ocazione
Assessoria de imprensa: Barata comunicação e
Dobbs Scarpa
Fotos: Cris Granato e Priscila Prade
Direção de Produção: Denise Escudeiro e Elaine Moreira
Produção Executiva: Roy D'Peres
Realização: Barata Produções e Rio MS
SERVIÇO:
Temporada: De 31/08 a 24/09 de 2023.
Local: Teatro Prudential.
Endereço: Rua do Russel, 804 – Glória – Rio de Janeiro.
Telefone: (21)35533557.
Lotação: 359 lugares (com acessibilidade).
Dias e Horários: De 5ª feira a sábado, às 20h; domingo, às 17h.
Valor dos Ingressos: R$90,00 (5ª e 6ª feira) e R$100,00 (sábado
e domingo)
Indicação Etária: 12 anos.
Gênero: Musical.
OBSERVAÇÃO: Nos
sábados, 02/09 e 23/09, sessões extras, às 17h.
Parabéns
a EDUARDO BARATA e MARCELO SERRADO pela iniciativa de
montar este espetáculo! Oxalá o façam muitas outras vezes!
“NOEL ROSA: COISA NOSSA” é uma prova
inconteste de que, acima de tudo, para que uma produção teatral seja bem aceita
pelo público, fazem-se necessários um bom texto, desenvolvendo uma boa história;
uma boa leitura de uma competente direção e um elenco bem preparado e cônscio
de sua perícia artística. Não é à toa que, ao final de cada sessão, os 359
espectadores, que lotam o Teatro Prudential, aplaudam, DE PÉ, durante um bom tempo, o
espetáculo, sendo que testemunhei depoimentos de gente da plateia, confessados a mim e a outras pessoas, que estavam assistindo ao musical pela
segunda ou terceira vez. Também eu o faria, se tivesse oportunidade e tempo
hábil para isso. É claro que
RECOMENDO MUITO O ESPETÁCULO!!!
FOTOS: CRIS GRANATO
e
PRISCILA PRADE
GALERIA PARTICULAR:
Com Cacá Mourthé.
Com Cacá Mourthé e Fábio Enriquez.
Com Matheus Pessanha e Alfredo Del-Penho.
Com Julie Wein.
VAMOS AO TEATRO!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS
DE ESPETÁCULO
DO BRASIL!
A ARTE EDUCA E
CONSTRÓI,
SEMPRE!
RESISTAMOS, SEMPRE
MAIS!
COMPARTILHEM ESTE
TEXTO,
PARA QUE, JUNTOS,
POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR
NO TEATRO BRASILEIRO!
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