“ALGUMA COISA
PODRE”
ou
(“OLHA A RENASCENÇA
AÍ, GENTE!”)
ou
(“SHAKESPEARE OU
‘FAKE’SPEARE:
EIS A QUESTÃO!”)
ou
(“NÓS TAMBÉM TEMOS
A NOSSA ‘OMELETE’”.)
Esta crítica comportaria muitos subtítulos e todos lhe
cairiam como uma luva. Fazia bastante tempo que eu aguardava a oportunidade de
assistir a este musical, o que só se deu no último sábado (29 de julho de
2023), quando faltava apenas uma semana para o encerramento de uma
curta temporada, para os padrões paulistanos de musicais, de invejável e
merecido sucesso, com sessões de lotação esgotada. Fui a São Paulo,
para assistir, no Teatro Porto, a este espetáculo, pois, além do
imenso interesse em poder conferir a montagem, não tinha a certeza – como
ainda não a tenho – de que a peça virá para o Rio de Janeiro.
Queiram os DEUSES DO TEATRO que sim!!!
Eram muitas as motivações para eu ir à capital paulista, a
fim de conhecer esta encenação: o que eu já sabia sobre o seu sucesso na
Broadway; a excelente FICHA TÉCNICA, englobando direção,
elenco, artistas de criação e produção; ser algo que brinca
com Shakespeare; a metalinguagem, que eu adoro; e “otras
cositas mas”.
SINOPSE:
A trama ocorre em 1595, no sul de Londres.
Os irmãos “do Rêgo Soutto” (Bottom, no original.), Nick
(MARCOS VERAS) e Nigel (LEO BAHIA), são autores de
peças teatrais, mas a concorrência de Shakespeare é “desleal”,
já que este é um astro “pop”, e o público só quer saber de suas
criações.
Shakespeare é o “queridinho” do
público.
Sem dinheiro e com muitas contas a pagar, eles estão tentando
escrever uma peça que os deixe mais famosos que o rival, no entanto vivem um
grave bloqueio criativo.
Nick, o mais velho dos irmãos, resolve,
então, consultar um vidente, para saber qual será o maior sucesso dos palcos no
futuro.
É aí que Nostradamus (WENDELL BENDELACK) – não
o verdadeiro, mas o sobrinho – prevê que o público vai adorar peças em que a
história é apresentada por meio de canções, além de muita dança,
o, até então desconhecido, musical, o que, a princípio, parece ser algo
impossível de vir a acontecer.
Além de satirizar o gênero, a peça fala sobre a crise criativa de
autores; sobre o machismo, que impedia mulheres de trabalhar; a religião, usada
como instrumento para repressão; além, claro, de homenagear a obra de Shakespeare.
Tudo isso de maneira inteligente, alegre e muito engraçada.
O espetáculo ainda traz muitas referências a outros musicais famosos e às obras do Bardo.
Embora seja uma peça bastante recente,
cuja estreia na Broadway se deu em 2015, tendo
permanecido em cartaz até 2017 (708 apresentações),
o “show” já coleciona prêmios e indicações a eles, sendo 18 ao "Tony Awards",
incluindo a de Melhor Musical, tendo ganhado o de Melhor Ator em Musical (Christian Borle). No “Drama
Desk”, recebeu 19 indicações; no “Outer Critics
Circle”, foram 20, além de uma, no “Grammy”, para Melhor
Álbum de Teatro Musical. Depois do retumbante sucesso na Broadway,
seguiram-se turnês pelos Estados Unidos, de 2017 a 2019,
e produções internacionais, na Suécia e Coreia do Sul,
até que chegou ao Brasil, graças, principalmente, a RENATA
BORGES e GUSTAVO BARCHILON, os quais, depois de terem assistido à
montagem da Broadway e ficado encantados com o que viram,
chegaram à conclusão de que “aquilo tinha a cara do Brasil” (E
acertaram em cheio!), não medindo esforços para trazer o espetáculo
para o nosso deleite.
Considero
genial a ideia dos autores do original, da exposição, nua e crua, de um gênero
teatral que, a cada dia, ganha mais admiradores, o musical, da forma
mais crítica, inteligente e hilária, o que, no fundo, acaba sendo uma sátira
bastante jocosa sobre o seu próprio ofício. Da mesma forma, estendo os meus
aplausos a GUSTAVO BARCHILON, que, seguindo os passos dos “pais da
criança”, fez uma excelente tradução e adaptação, bastante
próxima à nossa realidade e ao gosto dos brasileiros, em se tratando de humor.
O mesmo aplico a CLAUDIO BOTELHO que, a meu juízo, parece ter ido além
do que fizeram os autores norte-americanos (Não conheço o original.),
atingindo um resultado para lá de excelente, a julgar pela receptividade do público.
A plateia “rola de rir”, uma após outra fala e durante a
execução dos números musicais, principalmente pelas referências contemporâneas.
Um detalhe que merece destaque e do qual pude ter certeza de ser verdadeiro,
após a sessão em que estive presente, em conversas com alguns atores, após o
espetáculo, é que eles se divertem muito, no palco. Quer coisa melhor do que
palco e plateia se divertindo, e rindo, juntos? É sinal de que tudo deu certo.
E como deu!
A
primeira autocrítica com a qual nos deparamos é o fato de os irmãos dramaturgos
– a gente já começa a rir por conta do sobrenome: “do Rêgo Soutto”
– estarem mergulhados em dívidas e sem dinheiro, numa clara menção às
dificuldades financeiras que assombram os artistas, de uma forma geral, num
país em que a ARTE não é levada a sério e por terem abraçado uma profissão
insegura, instável. De uma forma geral, guardadas as devidas, e poucas,
exceções, quem trabalha em/com TEATRO não “nada em dinheiro”,
como muitos supõem e, sim, tem que “matar um leão por dia”, para
uma sobrevivência digna.
A
ideia da previsão feita por um “Nostradamus fake” também é algo a
merecer nossos aplausos. Na verdade, seria um seu suposto “sobrinho”,
um charlatão, isso sim, já que o notório vidente viveu de 1503 a 1566,
antes, pois, do momento em que a trama acontece. A única coisa boa e
verdadeira, naquela “profecia”, é que o TEATRO MUSICAL se
solidifica, a cada dia, como um gênero teatral de sucesso, arrebanhando uma
enorme quantidade de admiradores. Nesse aspecto, vejo a sátira aos musicais
muito mais como um fator a tornar o gênero mais “robusto” do que
alguma coisa depreciativa e que poderia levá-lo a um prejuízo.
Muito
oportuna é a abordagem do machismo que, dentre tantas coisas nefastas que
causa, leva à proibição de as mulheres trabalharem, de uma forma geral. É
sempre pertinente lembrar que, na época de Shakespeare, elas não
podiam representar nos palcos, sendo os papéis femininos interpretados por
homens travestidos. Quanto a isso, recomendo um ótimo filme, que retrata essa
problemática: “Shakespeare Apaixonado”, de 1998. Lá
uma mulher se veste de homem, para atuar. Em “ALGUMA COISA PODRE”,
apesar de estar passando por uma grave crise financeira, Nick do Rêgo
Soutto (MARCOS VERAS) não permite que sua esposa, Bea
(LAILA GARIN), para ajudá-lo, interprete um de seus personagens, na peça
que intenta escrever, para desbancar Shakespeare, mas ela
desobedece ao marido.
Uma sátira bem contundente, na peça, recai sobre a religião, usada como instrumento para a repressão. O TEATRO é visto como algo “pecaminoso”, pelo Irmão Jeremias (RODRIGO MIALLARET), um “puritano”, a ponto de não querer que sua filha, Portia (BEL LIMA), dele se aproximasse, não contando o pai com que ela e Nigel do Rêgo Soutto (LEO BAHIA) iriam se apaixonar. (Será que estou dando “spoilers” demais? Vou tentar “domar” os dedos.). Ainda no que tange à religião, há, na peça, a participação de um judeu, Shylock (TONY GERMANO), que expressa o desejo de ajudar a financiar a trupe dos “do Rêgo Soutto”, mas Nick rejeita a oferta, pois “é ilegal empregar um judeu”.
CLAUDIO BOTELHO não economiza
irreverência, na sua versão, para o “idioma de Camões”, das
letras das músicas. O “Caolho” deve “dar cambalhotas no
túmulo”, por conta das inteligentes, oportunas e criativas referências
aos dias de hoje, nas 14 canções (4 se repetem.), que ajudam a
contar a história. Um exemplo disso está nos títulos de 4 delas (Isso
é só o começo.): “Vai se Fuder (SIC), Shakespeare!”,
“Will Power” (“Will”, como apelido para Shakespeare.),
“Ovos” e “Algo Podre / Omelete”.
Uma conclusão que a peça nos permite é a de que
os “do Rêgo Soutto” nos legaram a primeira peça em formato de TEATRO
MUSICAL.
A história começa quando a dupla de irmãos dramaturgos pensa em escrever uma peça, para se sobreporem a Shakespeare, como já mencionado, no momento em que este, depois de já ter escrito seu clássico “Romeu e Julieta”, está se preparando para escrever “Ricardo II”, depois de também ter criado outro seu grande sucesso, “Ricardo III” (Aqui, há uma ótima piada, que não revelarei, “para não ser cancelado” por quem odeia “spoilers”, se é que já não o fui.
Ao procurar
um “adivinho”, para saber qual seria o próximo grande sucesso do TEATRO,
o “mago” lhe diz que será “um musical”, uma peça em
que “um ator está dizendo suas falas e, do nada, ele, simplesmente,
começa a cantar”, uma alusão ao pensamento, completamente preconceituoso e “capenga”,
que muitas pessoas que não gostam de musicais têm, com relação ao gênero.
A relação entre Nigel e Portia se torna mais consistente, a partir do momento em que ambos descobrem um interesse comum pela poesia. Ele é um poeta e ela, uma dedicada amante desse tipo de literatura. O fato de Nigel também ser um bardo, como Shakespeare, tem uma importância, na peça, por conta do que este faz, quase ao final da peça. Mas isso eu não revelarei agora.
Atentem
para uma confusão que o velhaco Nostradamus faz, em suas
adivinhações marotas, com relação ao título da obra que ele revela, a Nick,
ser o grande sucesso futuro de Shakespeare, por conta da semelhança
sonora entre “Hamlet” e “Omelete”, de onde surge um
grande quiprocó.
Um dos
momentos mais engraçados do espetáculo é quando Shakespeare se
disfarça e procura os dois irmãos, seus rivais, para fazer um teste, a fim de
integrar a trupe da dupla, porém com o objetivo real de se aproximar deles e
lhes roubar a peça que estão ensaiando: nada mais, nada menos que “Omelete,
O Musical!”. “Durma-se com um barulho desses!”
Creio já
estar na hora de parar falar sobre o “plot” e passar a uma
modesta análise do trabalho dos profissionais envolvidos nesta montagem, a
começar pelo do diretor, uma vez que CLAUDIO BOTELHO já teve o
seu bem avaliado, como versionista das canções. GUSTAVO BARCHILON,
que também assina a tradução e adaptação do texto, apesar de bem jovem,
não precisa mais dizer a que veio, porque quem gosta de TEATRO MUSICAL e
acompanha o que entra em cartaz, no Brasil, já o identifica como
um excelente profissional do ramo, por suas direções anteriores, como, por
exemplo, “Barnum, o Rei do Show”, “Ponto a Ponto – 4.000
Milhas” (Este não é musical.) e “Bob Esponja, o Musical”,
este recém-estreado, na capital paulista, depois do grande sucesso alcançado no
Rio de Janeiro. E já se prepara para nos brindar com mais um de seus
trabalhos de direção, a montagem de outro musical, “Funny Girl”,
muito em breve, em São Paulo. Aplaudo, com vigor, sua assinatura
como diretor geral de “ALGUMA COISA PODRE”, um trabalho cheio de
dinamismo e criatividade. Ademais, BARCHILON foi extremamente feliz, ao
convidar atores notadamente vitoriosos como comediantes, sem experiências
anteriores, porém, em musicais. Isso poderia ter sido um grande entrave, até
que as cortinas se abrissem ao público, entretanto parece que se deu, exatamente, o contrário.
Gustavo Barchilon.
Conquanto,
inevitavelmente, os focos mais intensos convirjam para os protagonistas e os
que mais próximos estão a eles, no enredo da peça, a verdade é que vemos, no
palco, um elenco
de primeiríssima qualidade, afinado em tudo: com o ritmo, o “timing”
da comédia, os números musicais e as coreografias, a despeito de, até então, eu
jamais poder imaginar que alguns atores cantassem e / ou dançassem. E muito bem. Trata-se
de um elenco, coeso, harmônico, ajustado; homogêneo, enfim. Torna-se, para
este crítico e, antes de tudo, um amante inveterado de musicais, uma
tarefa difícil destacar um único actante em cena. Todos, sem exceção,
respondem, muito satisfatoriamente, às exigências do texto, das canções e das
danças. Não será nenhuma surpresa encontrar alguns nomes do elenco nas listas
dos indicados a prêmios de TEATRO, ao fim do ano teatral de 2023,
com grandes possibilidades de conquistá-los.
Sempre admirei MARCOS VERAS como um ator cômico e de domínio
absoluto de uma plateia, em seus “stand-ups”. Esperava um ótimo
rendimento do ator, por se tratar de uma comédia, porém, confesso que todas as
minhas expectativas foram superadas. Para mim, foi uma agradabilíssima surpresa
vê-lo com destaque, como solista de algumas canções, cantando em coro e
cumprindo os passos criados pelo coreógrafo. Logo no seu primeiro número
musical, o ator mostra que não está naquele palco por outro motivo que não seja
“ter garrafas vazias para vender”. Parece um veterano em
musicais, fruto de um grande trabalho de estudo e dedicação, agora recompensado
pelo reconhecimento do público, em forma de longos aplausos, inclusive em cena
aberta, e pelos elogios recebidos por parte da crítica especializada. MARCOS
canta com correção e qualidade, embora seja um estreante no seleto grupo de
ótimos atores de musicais, o que o credencia a outros voos semelhantes a este.
Para interpretar Nigel do Rêgo Soutto, irmão do
personagem de MARCOS VERAS, ninguém melhor que LEO BAHIA, este,
sim, já um veterano em musicais, apesar de tão pouco tempo de carreira. Desde
quando o vi, pela primeira vez, numa produção musical acadêmica, na UNIRIO,
“The Book os Mormon”, ao apagar das luzes de 2013,
enxerguei ali o início de uma brilhante carreira de ator de musicais, o que BAHIA
ratifica, em tantos grandes sucessos, de público e de crítica, como “Chacrinha,
o Musical”, Gabriela, o Musical” e “Bibi, Uma Vida
em Musical”, para citar alguns. LEO interpreta um homem inocente
e tímido, além de hilário e com um talento expressivo para a poesia. As cenas em que contracena com
VERAS e BEL LIMA são marcantes. Com aquele, o personagem
mostra-se mais “com o pé no chão”, contrapondo-se às ideias “exóticas”
do irmão, enquanto, nos diálogos com a personagem Portia, de BEL,
ele explora mais sua veia cômica, excelente, por sinal, além de cantar bem e
corresponder às exigências das coreografias.
Outro estreante em musicais,
embora já de há muito exercitando a voz, como cantor, além de tecladista e
compositor, na banda “Choque do Magriça”, GEORGE SAUMA interpreta William Shakespeare. SAUMA é o que se
pode chamar de um multiartista, com grande desenvoltura na arte de sapatear. A
propósito, nesta peça, há uma cena em que os personagens rivais, Nick
e Shakespeare, partem para um “duelo” em forma de
sapateado, que agita a plateia e arranca muitos aplausos. GEORGE esbanja
técnica, enquanto VERAS, com pouca experiência nessa arte, um neófilo,
responde aos desafios de SAUMA com parcimônia, porém em passos corretos.
Os que não embarcarem na proposta do espetáculo podem estranhar um Shakespeare
“afetado” (Seria um eufemismo?), histriônico e ególatra,
e próximo à insanidade. Desde sua brilhante interpretação na COMÉDIA “A
Arte de Ser Perfeito”, não o via tão exuberante e pleno em cena.
Com larga experiência em
musicais, mas quase sempre em papéis dramáticos, como em “Gonzagão, a
Lenda”, “Elis, a Musical”, “O Beijo no Asfalto, o
Musical”, “Gota D’Agua [a seco], o Musical”, “Dois
filhos de Francisco, o Musical” e
“A Hora da Estrela ou O Canto de Macabéa”, LAILA GARIN,
como eu já esperava, brilha, na pele de Bea, a esposa de Nick
do Rêgo Soutto, uma mulher à frente do seu tempo, intrépida, arrojada, uma
verdadeira feminista, nos moldes de hoje, que sabe o que quer e como atingir
seus objetivos. Conheci LAILA e
seu trabalho nos idos de 2010, no Rio de Janeiro, quando,
ao lado de Osvaldo Mil, participou de um musical romântico,
chamado “Eu Te Amo Mesmo Assim, o Musical”, quando fiquei “de
queixo caído” com sua força interpretativa, sua magnífica e possante
voz e sua sensualidade em cena, o que ela sempre repetiu, em todas as suas
atuações; e não é diferente agora. Ali,
ela me ganhou, “para todo o sempre”. Sua primeira incursão no
universo dos musicais, salvo engano, se deu em 2002, quando fez
parte do elenco de uma montagem de “Grease”, em São Paulo,
a única vez em que LAILA mais se aproximou de algo parecido com um
musical da Broadway. Sua estreia numa COMÉDIA MUSICAL
acontece “a pleno vapor”, encantando o público, com seu talento
ímpar. Tanto diz coisas sérias como provoca boas gargalhadas, marcando
território no campo do humor. Sua personagem é cativante, à procura de vez e
voz numa sociedade machista, como a da época em que se passa a história.
Para finalizar a análise do trabalho do quinteto dos
principais personagens da peça, ele, Nostradamus,
irretocavelmente interpretado por WENDELL BENDELACK, outro estreante em
musicais, que já chega “metendo o pé na porta” e reclamando seu
espaço, muito merecido, diga-se de passagem, nesse nicho de espetáculo teatral.
Que WENDELL é um excelente ator de COMÉDIA todos o sabemos, mas o
que desconhecíamos – eu, pelo menos – era sua porção cantor e dançarino. Seu
personagem, hilário, para o que contribui bastante sua caracterização, um
charlatão excêntrico e muito sagaz, é responsável por alguns dos melhores
momentos de humor na peça. O personagem também é bastante confuso, até para fazer as
suas “armações”, e existe uma excelente “química”
entre ele e MARCOS VERAS.
Em termos de participação na
trama, a importância dos personagens no desenrolar da história, e não pelos
méritos individuais de cada artista, ainda que todos sejam muito importantes,
divido o elenco em três blocos; o primeiro, com cinco atores, sobre os quais já
falei; o segundo, dos que interpretam personagens secundários, em número de
quatro; e um terceiro, reunindo quem se insere nas rubricas “ensemble” e
“swing”.
No segundo pelotão, também
aplaudo bastante o trabalho do quarteto, formado por BEL LIMA, RODRIGO
MIALLARET, THIAGO PERTICARRARI e TONY
GERMANO. BEL é uma ótima atriz de musicais, porque interpreta, canta
e dança com muita desenvoltura e valoriza qualquer papel que lhe caia às mãos, mesmo
que não seja uma protagonista, no enredo, como aconteceu na montagem de “Pippin”,
nas vezes em que precisou substituir a titular do papel de Mestre de
Cerimônias, Totia Meireles. Era uma grande
responsabilidade, que BEL não desperdiçou. Seu trabalho aqui é brilhante.
RODRIGO MIALLARET está impagável, como o pastor
extremista Irmão Jeremias, que via o pecado estampado em tudo; e
o TEATRO não era exceção. Aliás, sua posição, com relação àqueles que se
dedicam a esta ARTE lembra muito a fala de um dos personagens da icônica
“Roda Viva”, de 1968, no Rio de Janeiro.
O papel era interpretado pelo saudoso Antônio Pedro, o qual, num
determinado momento revela, à plateia, a sua "definição" para “ator”: “pederasta
vírgula, comunista ponto”. O personagem de RODRIGO arranca
muitas gargalhadas, muito em função de um conflito existencial que o
acometia: como ser um servo de Deus e, ao mesmo tempo, dominar seus desejos “proibidos”
reprimidos?
THIAGO
PERTICARRARI e TONY GERMANO também
sabem valorizar seus personagens, Lord Clapham e o judeu Shylock,
respectivamente.
Neste espetáculo, o que não é muito comum de se ver, o texto, a direção e o coreógrafo permitem que todos os artistas que formam o “ensemble” sejam notados e tenham seu trabalho aplaudido.
Dos artistas de criação, todos executam sua parte com excelente rendimento. DUDA ARRUK assina uma cenografia que ajuda a criar a atmosfera em que se dá a trama. Percebem-se os detalhes que caracterizam as ruelas de uma Londres pós-Idade Média, um ambiente propício a tramas, traições, mistérios... Achei deveras interessante a utilização, em duas ou três cenas, de placas sinalizadoras, em neon, um toque “subversivo” de modernidade, contrastando com o austero conjunto cenográfico.
FÁBIO NAMATAME dispensa maiores comentários, quaisquer que sejam as exigências, no que diz respeito aos figurinos. Aqui, NAMATAME tinha como objetivo criar trajes de época, o que fez com total acerto e bom gosto. Quem, como eu, tem a oportunidade de se sentar nas primeiras fileiras da plateia (Eu fui acomodado na segunda.) pode melhor observar os detalhes dos bordados e das aplicações feitas em cada peça. Os trajes criados por ele e o excelente trabalho de visagismo e perucaria, assinado por FELICIANO SAN ROMAN, são de grande valia, para que os atores possam construir melhor seus personagens.
O desenho de luz, criado por MANECO QUINDERÉ, é responsável por belas imagens que permanecem nas nossas retinas, depois de fechada a cortina. É muito bonita a luz da peça.
De todos os espetáculos musicais a que tenho assistido, nos últimos tempos, notei que, aqui, a qualidade do som é perfeita, fruto do trabalho de TOCKO MICHELAZZO e GABRIEL BOCUTTI, responsáveis pelo desenho de som.
Encerro estes comentários, salientando as magníficas coreografias, criadas por ALONSO BARROS. Sua presença numa FICHA TÉCNICA é sempre um motivo a mais para que eu me interesse por assistir a um musical. ALONSO é um profissional que muito respeito e admiro. A cada novo trabalho, parece que o coreógrafo desafia seus próprios limites de criação. Gosto muito quando ele inclui um número de sapateado no seu conjunto de coreografias, como em “ALGUMA COISA PODRE”.
FICHA TÉCNICA:
Concepção Original: Wayne Kirkpatrick e Karey Kirkpatrick
Texto: Karey Kirkpatrick e John O’Farrel
Músicas: Wayne Kirkpatrick e Karey Kirkpatrick
Tradução e Adaptação: Gustavo Barechilon
Versão Brasileira: Claudio Botelho
Direção Geral: Gustavo Barchilon
Direção Musical: Thiago Gimenes
ELENCO: Marcos Veras (Nick do Rêgo Soutto), Leo Bahia (Nigel do
Rêgo Soutto), George Sauma (Shakespeare), Wendell Bendelack (Nostradamus)
Rodrigo Miallaret (Irmão Jeremias), Bel Lima (Portia), Thiago Perticarrari
(Lord Clapham) e Tony Germano (Shylock)
PARTICIPAÇÃO ESPECIAL: Laila Garin (Bea)
ESSEMBLE: Ana Araújo, Andrea Marquee, Andreza Meddeiros, Bruno
Kimura, Carol Botelho, Daniel Cabral, Ingrid Gaigher, Marcelo Vasquez, Nathalia
Serra, Renato Bellini, Sandro Conte e Tony Germano
SWING: Roberto Justino e Sara Milca
ORQUESTRA: Thiago Gimenes (maestro e pianista condutor), Johnny
Mantelato (segundo regente e teclado 2), Thiago Saul (guitarra e violão),
Marcos Paiva (contrabaixo), Renatto Abreu (bateria), Ana Paula Eloi (violino),
Ivan Rossi ("reed") e Felipe Aires (trompete)
EQUIPE DE MÚSICA: Rafael Oliveira (edição de partitura), Johnny
Mantelato (pianista ensaiador) e Thiago Gimenes (preparação vocal)
EQUIPE CRIATIVA:
Coreografia e Direção de Movimento: Alonso Barros
Cenografia: Duda Arruk
Figurino: Fábio Namatame
Desenho de Luz: Maneco Quinderé
Desenho de Som: Tocko Michelazzo
Desenho de Som Associado: Gabriel Bocutti
Direção de Arte: Gus Perrella
Visagismo e Perucaria: Feliciano San Roman
Concepção Identidade Visual: Eduardo Juffer e Luiz Pimenta
Direção Residente: Vanessa Costa
Estagiária de Direção: Isabel Castelo Branco
Assistente de Coreografia: Murilo Ohl
EQUIPE DE PRODUÇÃO:
Produtores Executivos: Renata Borges (Touché Entretenimento) e
Thiago Hofman (Barho Produções)
Produtores: Marly Silva, Leandro Leal e Guilherme Malafaia
Assistentes de Produção: Juliana Brigido e Andressa Cericato
“Production Stage Manager”: Rafael Vasconcelos
Financeiro: Thamilles França
Assessoria de Imprensa: Trigo Casa de Comunicação
Marketing Cultural: R+Marketing
Fotógrafo: Caio Galucci (E Jonatas Marques, fotógrafo do Teatro Porto.)
Direção de Arte: Gustavo Perrella
Gestão de Projetos: Natalia Egler
OBSERVAÇÃO: Cada EQUIPE conta com um grande número de colaboradores, num total de mais de 80 profissionais, além de mais de 20 pessoas que respondem pelo funcionamento do Teatro Porto.
SERVIÇO:
Temporada: De 16 de junho a 6 de agosto de 2023.
Local: Teatro Porto.
Endereço: Alameda Barão de Piracicaba, nº 740 – Campos Elíseos – São Paulo.
Telefone: (11)3366-8700.
Capacidade: 484 lugares.
Dias e Horários: 6ª feira, às 20h; sábado, às 16h e às 20h;
domingo, às 15h e 19h.
Valor dos Ingressos: Plateia: R$250,00 (inteira) e R$125,00
(meia-entrada); Balcão e Frisas: R$150,00 (inteira) e R$75,00
(meia-entrada); Balcão (preço popular) R$50,00 (inteira) e R$25,00
(meia-entrada).
Duração: 130 minutos.
Classificação Etária: 14 anos.
“Link” Vendas:
https://bileto.sympla.com.br/event/82003
Vendas na Bilheteria: Aberta somente nos dias de espetáculo, duas
horas antes da atração.
Clientes Porto Seguro Bank mais acompanhante têm 50% de desconto.
Clientes Porto mais acompanhante têm 30% de desconto.
Vendas “on line”: www.sympla.com.br/teatroporto
Formas de pagamento: Cartão de crédito e débito (Visa,
Mastercard, Elo e Diners).
Acessibilidade: 10 lugares para cadeirantes e 5 cadeiras para
obesos.
Estacionamento no local: Gratuito para clientes do Teatro Porto.
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Assessoria de imprensa do espetáculo: Trigo Casa de Comunicação - Renata
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“ALGUMA COISA PODRE” é um espetáculo vendido como “a comédia mais hilária da Broadway”.
Não sei se é “a mais”, contudo asseguro que é muito hilária, leve
e divertida. Correndo o risco de ser mal interpretado pelos que não apreciam o TEATRO
MUSICAL ou pelos que podem me considerar ufanista, o que, absolutamente, não
sou, afirmo, com a maior convicção, que, em termos de TEATRO MUSICAL,
em várias produções, como esta, já atingimos um estágio que nos permite uma
equiparação com o que de melhor se faz fora do Brasil, nesse gênero. “ALGUMA
COISA PODRE”, por seu porte, pelo cuidado de uma produção competente e
cuidadosa, fez com que, sentado numa poltrona do Teatro Porto, em
São Paulo, eu me sentisse como se estivesse na Broadway. #prontofalei
É impossível negar a importância de William
Shakespeare, para o TEATRO universal. Ele é grandioso, como
escritor – o grande poeta – e dramaturgo, mas, independentemente de esta peça
brincar com o gênio das tábuas e de apresentá-lo, talvez, com uma personalidade
que pode não corresponder à realidade, “tirando-o do pedestal, transformando-o
em “vilão” (Olha o “spoiler” aí, gente!), o que importa é
que “ALGUMA COISA PODRE” é um dos melhores espetáculos em
cartaz, no eixo Rio / São Paulo, e presta-lhe
uma grande, linda e merecida homenagem.
Qualquer semelhança entre a fala “Há
algo de podre no reino da Dinamarca.” (“Something is rotten in the
state of Denmark”), do maior sucesso de Shakespeare, "Hamlet", com esta peça não terá sido coincidência. Desnecessário é
dizer que RECOMENDO O ESPETÁCULO e espero revê-lo, muito em breve, no Rio de
Janeiro ou em outra temporada paulistana.
FOTOS: CAIO GALUCCI
e
JONATAS MARQUES
GALERIA PARTICULAR
(Fotos: Leonardo Soares Braga.)
VAMOS AO TEATRO!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS
DE ESPETÁCULO
DO BRASIL!
A ARTE EDUCA E CONSTRÓI,
SEMPRE!
RESISTAMOS, SEMPRE MAIS!
COMPARTILHEM ESTE TEXTO,
PARA QUE, JUNTOS,
POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR
NO TEATRO BRASILEIRO!
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