terça-feira, 6 de junho de 2023

 “31º FESTIVAL DE CURITIBA”


“SONHO DE UMA

NOITE DE VERÃO”

ou

(“UMA FESTA

REGADA A SHAKESPEARE”)

ou

(“UMA GRANDE

HOMENAGEM 

À VIDA”)


 

        Das duas semanas que passei em Curitiba, do finalzinho do mês de março ao início de abril deste ano, participando do “31º FESTIVAL DE CURITIBA”, trago deliciosas lembranças e uma delas foi a oportunidade de ter conhecido a pessoa e o trabalho de um artista local, MAURÍCIO VOGUE, que eu enxergo como um “primo-irmão” do José Celso Martinez Corrêa, dois “adoráveis louquinhos”. Espero que não se importem com a minha comparação.




      Saí do Rio de Janeiro, rumo à capital paranaense, com a minha agenda já quase completa e, nela, já estava reservada uma noite para assistir a uma montagem, ao ar livre, num jardim, de um dos clássicos de WILLIAM SHAKESPEARE, a COMÉDIA “SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO”, da qual sempre gostei muito, desde meus tempos de estudante de TEATRO, e cujo texto já havia visto encenado várias vezes, por profissionais e amadores, incluindo uma montagem na pérgula da piscina do Parque Lage, no Rio de Janeiro, em pleno carnaval – sábado ou domingo -, cuja apresentação teve de ser interrompida, pelo tempo necessário à passagem do bloco carnavalesco “Suvaco do Cristo”, que desfilava pela rua Jardim Botânico, produzindo um som tão alto, que encobria qualquer coisa que os atores diziam. O público não enxergou outra maneira, para não se aborrecer, que não fosse ir até o portão do Parque Lage, sambar, vendo o bloco passar, e, depois disso, voltar aos seus lugares, para a continuação do espetáculo, no que foi seguido pelo elenco. Bem no “clima” da montagem a que assisti em Curitiba: “deliciosa loucura total”.





     Mais interessado ainda fiquei em assistir ao “SONHO...”, no “FESTIVAL”, depois de ter participado da coletiva de imprensa com MAURÍCIO VOGUE e algumas pessoas do elenco da peça e alguns artistas de criação. Fiquei bastante instigado a não perder aquilo, que prometia ser bem engraçado, o que comprovei numa noite bem fria, para os padrões cariocas, sentado num lindo e agradável jardim que fica nos fundos do Dizzy Café Concerto” (A grafia, lá, é mesmo essa, sem hífen.), um espaço bem descontraído, que mistura bar e local para pequenas apresentações artísticas. Na verdade, é um bar de “jazz”, que funciona num espaço histórico e muito conhecido da classe artística curitibana.




        Fui o primeiro espectador a chegar e ocupei um lugar de onde me pareceu que teria uma visão privilegiada de todas as áreas em que se passariam as cenas, e não me enganei. Como o meu ingresso naquele lugar se deu antes do grande público, pude ver o elenco, já caracterizado, ou quase totalmente, passando trechos de algumas cenas e os atores se posicionando, aqui, ali e acolá, para fixar as marcações do diretor, MAURÍCIO VOGUE. Já ali, comecei a achar graça do que via e a imaginar como tudo se daria naquela noite, quando a sessão tivesse início.




      Durante a já citada, e agradável, entrevista, MAURÍCIO repetiu, inúmeras vezes, que o que veríamos seria “uma festa regada a Shakespeare” e que “a peça não era para ser levada a sério”. Também não fez segredo de que acreditava na alegria, no humor e no deboche e que os três estariam mais que presentes na sua montagem. Já comecei, naquele momento, a gostar do que só iria ver na noite do dia seguinte. Coincidência ou não, o fato é que eu estava meio “carente” dessas coisas, as quais, QUANDO SÃO BEM FEITAS, têm um grande valor. Uma “bagaça” de qualidade me deixa muito feliz, de vez em quando.




        A proposta, dirigida por MAURÍCIO, com artistas locais, da "CIA. MKV" e atores convidados, é totalmente anárquica e tem como base textual uma adaptação livre do original, feita por RHENAN QUEIROZ, bastante escrachada, subversiva e criativa, obra de um artífice, que me pareceu bastante trabalhosa e apurada, preso, contudo, à trama original, ainda que bem distante dos cânones dramatúrgicos da época em que a peça foi escrita. Sobre isso, convém dizer que é especulativa a sua data de concepção, entre 1594 e 1596, na ausência de fontes seguras e confiáveis que determinem o ano exato de sua composição ou encenação, embora se suponha que tenha sido escrita de encomenda para as núpcias de alguma dama da nobreza próxima à Rainha Elizabeth I. As evidências que melhor permitem estabelecer uma datação aproximada advêm da comparação de seu estilo e temática com outras obras de Shakespeare.”.

  





 SINOPSE (do texto original): 

A história se inicia com o Duque Teseu, que se prepara para se casar com Hipólita.

Antes do casamento, ele é chamado a resolver uma disputa amorosa, envolvendo a romântica Hérmia e o seu pai, Egeu.

Hérmia ama Lisandro, mas Egeu tem a ideia de forçar Hérmia a se casar com Demétrio.

Então, decide Teseu que Hérmia tem até a dia do seu casamento com Hipólita, para escolher o seu destino: casar-se com Demétrio, morrer ou converte-se, no altar de Diana, e abandonar a companhia de homens, para viver em solidão.

Lisandro propõe, à sua amada, que ambos fujam de Atenas, com o que ela concorda.

Hérmia conta o seu plano à sua amiga Helena, que morre de amores por Demétrio.

Helena acaba informando-o da fuga, a fim de ficar sozinha com ele na floresta.

Os quatro, então, entram em uma floresta povoada por elfos, fadas e outros seres encantados.

O Rei dos Duendes, Oberon, arma, com Puck, um elfo, um plano extraordinário, envolvendo uma flor mágica, que fará com que qualquer pessoa se apaixone pelo primeiro ser que vir pela frente, seja rato, cobra ou leão, com a intenção de pregar uma peça em Titânia, Rainha das Fadas.

Isso faz com que ela se apaixone perdidamente por um burro.

Enquanto isso, um grupo de artesãos, que também são atores amadores, ensaiam uma peça para o casamento de Teseu, “A mais lamentável comédia e a mais cruel morte de Píramo e Tisbe”.

Fundilhos, o mais egocêntrico do grupo, acaba sendo transformado, por Puck, em um burro falante, pelo qual Titânia se apaixona, por culpa da flor mágica.

Puck também arma outras confusões, que levam Lisandro e Demétrio a caírem de amores por Helena, deixando Hérmia de lado.

 

 





 

 SINOPSE DA MONTAGEM AQUI COMENTADA: 

Uma atmosfera cênica inusitada apresenta um estranho clima de uma festa, que parece não ter fim, sob o qual, uma diversidade de criaturas e outros habitantes da noite, estranhos e bizarros, se entorpecem, incessantemente, sem, ao menos, perceber que o público entra e ocupa seus lugares.

De repente, uma poderosa sirene de alerta nuclear anuncia o início de tudo.

É tudo uma peça de TEATRO.

O diretor MAURÍCIO VOGUE apresenta, em sua versão, conceitualmente, “cara de pau”, no dizer do próprio, essa livre adaptação de RHENAN QUEIROZ do clássico de WILLIAM SHAKESPEARE.

No original, o clássico de SHAKESPEARE é uma comédia de erros, amorosa, com altas doses de fantasia.

Na versão de VOGUE, Puck, um malandro traficante, frequentador da "Festa do Solstício", acaba se atrapalhando, ao “repassar”, para os convidados, algumas de suas poderosas e estimulantes “garrafinhas”, distribuindo, assim, a paixão de uma forma diferente, libertando, dessa forma, seus desejos mais íntimos e estabelecendo uma grande confusão entre os casais, afetando, até mesmo, a grande divindade da festa, a “poderosa” Titânia.

 

 


 




Pensando na SINOPSE supra, “esse é o mote para a construção de uma nova dramaturgia, mais contemporânea, pensada sob uma linguagem de texto que converse com todo mundo”. A peça, por sua proposta, me agradou muito, pelo conjunto da obra: texto, direção, interpretações, elementos criativos e produção.




 Já tendo expressado meu agrado pelo texto, parto para falar da direção, de MAURÍCIO VOGUE. Não conhecia o seu trabalho, embora já tivesse ouvido falar muito dele. É óbvio que qualquer diretor, independentemente do tipo de propositura, tem que fazer o melhor, dentro daquilo a que ele se propõe. Então, se é para deixar falar mais alto o seu lado “cara-de-pau e subversivo”, que ele venha à tona, sem nenhum “gesso” e sem qualquer forma de pudor. Sem autocensura. Era uma festa o que VOGUE queria mostrar; uma “celebração”, que, no fundo, é uma bela homenagem ao TEATRO e a um de seus maiores expoentes universais. MAURÍCIO VOGUE atingiu seu objetivo, a julgar pelos meus aplausos e de tanta gente que superlotava os jardins do “Dizzy Café Concerto” (INGRESSOS ESGOTADOS.).




O elenco, bastante afinado, “no mesmo tom”, seguiu, à risca, as orientações da direção e, da forma mais espontânea possível, despiu-se de seus pudores e se dispôs a fazer todos os tipos de concessão, em nome da ARTE, cada um dando seu recado com brilhantismo. Como não os conheço, a não ser VOGUE e RHENAN, fica difícil, para mim, avaliar os trabalhos, individualmente, todavia, talvez, isso nem fosse necessário, já que todos merecem meus aplausos, na mesma proporção.




Pelo que captei, durante a entrevista concedida por MAURÍCIO VOGUE e alguns envolvidos no projeto, que o acompanhavam na ocasião, não havia muitos recursos, uma desejada verba, para a montagem do espetáculo. Pensei, então, que estaria diante de uma montagem franciscana, entretanto fiquei surpreso, quando vi a cenografia, de FERNANDO MARÉS, e os figurinos, de KAREN BRUSTTOLIN. Não havia luxo, é verdade, mas este pode ser dispensado, quando falta dinheiro, e, em seu lugar, entram a criatividade, a inteligência e o bom gosto dos artistas criadores. A parte cenográfica serve, perfeitamente, à proposta, com mistura de elementos de cena, espalhados por todo o espaço cênico, formando microespaços, com toques de uma tropicalidade, que “caiu muito bem”.





Quanto aos figurinos, confidenciou-me KAREN BRUSTTOLIN que se valeu da reciclagem de peças usadas em montagens anteriores, de um grande trabalho de customização, do aproveitamento de sucatas e o uso de materiais incomuns na confecção de roupas, e o resultado ficou excelente, deixando a impressão de que cada figurino, alguns bastante “esdrúxulos”, no melhor sentido da palavra, havia sido pensado, exatamente, da maneira como o vemos em cena. KAREN esbanja talento e criatividade. Bastava olhar para alguns personagens e eu já sentia vontade de rir, por conta de suas vestes e caracterização.




Por oportuno, devo citar o ótimo trabalho de visagismo, o qual, por não constar na FICHA TÉCNICA, quero crer que tenha sido um trabalho coletivo. A quem quer que seja(m) o(s) autor(es) de tal empreitada, os meus aplausos, por um elemento tão importante em qualquer produção teatral. Tudo funciona muito bem nesta peça.




TEATRO feito ao ar livre é, na visão deste leigo nos assuntos ligaos a isso, um desafio para quem cuida da iluminação e do som, mas, nesta montagem, vi que não houve qualquer contratempo. Um belo trabalho do iluminador, LUIZ NOBRE, e do profissional encarregado em fazer com que o público não deixasse de captar, auditivamente, nada do que é dito ou cantado pelos atores (Não há citação de um nome, na FICHA TÉCNICA.).





 Por ser uma “festa”, não poderia faltar uma boa música. A trilha sonora (Infelizmente, não há referência, especificamente, na FICHA TÉCNICA, ao nome de quem a criou, mas acredito que o respónsável por ela tenha sido IGOR KIERKE, que assina a direção musical da peça.) reúne ritmos bastante ecléticos, da atualidade: “funk”, samba, pagode, “tecnobrega”, “reggaeton”, música eletrônica e muita psicodelia, “configurando, assim, o conceito de ‘Teatro de Balada’, para celebrar uma grande festa de libertação”. E, se, de alguma coisa, aquele público estava precisando, naquele momento, era vivenciar um sentimento de libertação: liberdade para reencontrar pessoas, para voltar a viver em sociedade, após três longos anos de confinamento, por conta de uma “peste” que matou quase 800.000 pessoas no país, e a felicidade por termos nos livrado de um (des)governo cruel, incompetente, autoritário e inimigo das ARTES, com o qual, infelizmente, tivemos de conviver nos últimos quatro anos. Não precisam me dizer que um crítico teatral não deve tecer esse tipo de comentário em suas críticas, mas, conscientemente, e feliz por isso, assumo ser uma exceção, da mesma forma como SÓ ESCREVO SOBRE UM ESPETÁCULO TEATRAL QUANDO GOSTO DELE.  





Produzir um espetáculo com essas “excentricidades” requer muito trabalho e atenção de um produtor, para que tudo dê certo. E tudo deu. Aproveito para agradecer o carinho e a atenção de BIA REINER, que me recebeu. 

 




FICHA TÉCNICA:

Adaptação: Rhenan Queiroz, do texto original de William Shakespeare

Direção: Maurício Vogue

Assistência de Direção: Carmen Jorge

Direção de Movimento: Carmen Jorge

Direção Musical: Igor Kierke

 

Elenco (por ordem alfabética): Amanda Leal, Carolina Meinerz, Helena de Jorge Portela, Igor Kierke, Otto Bueno, Rafael Camargo e Rhenan Queiroz

Atores convidados: Felipe Wessler, Maju Izar, Milena Kleiquian, Milena Ricato e Rafael Koman

 

Cenografia: Fernando Marés

Figurino: Karen Brusttolin

Assistente de Figurino: Flávia Vogue

Iluminação: Luiz Nobre

Fotos: Chico Paes

Produção: Bia Reiner

Coordenação do Projeto: Adriano Vogue

Realização MKV Produções

 

 


 




       No dia seguinte ao da minha ida ao “Dizzy Café Concerto”, fiz uma postagem, numa das minhas redes sociais, em que eu dizia que “Shakespeare devia estar dando cambalhotas no seu túmulo; mas de tanto rir”. Há quem considere uma "heresia", um "desrespeito" a apropriação de uma consagrada obra de TEATRO, principalmente um clássico da dramaturgia universal, e “brincar” com ela, descaracterizá-la e sei lá mais o quê. Respeito essas pessoas. Dona Bárbara Heliodora, por exemplo, uma das mais estudiosas e profunda conhecedora da obra shakespeariana, essa, sim, certamente, se tivesse assistido à versão “festa” de MAURÍCIO VOGUE, e se propusesse a escrever uma crítica sobre o espetáculo, deixaria bem clara, “naquele estilo que lhe era peculiar”, a sua desaprovação. Eu, porém, indo de encontro a essa possível crítica, digo que precisamos mais desse TEATRO debochado, escrachado, subversivo e festeiro, porém feito com muito amor e qualidade, como ocorre aqui.  





        Gostei tanto, que adoraria poder rever este espetáculo.

 

 


 


FOTOS: CHICO PAES.



GALERIA PARTICULAR

(Fotos: Gilberto Bartholo.)


 

Coletiva de Imprensa.


Coletiva de Imprensa.


Coletiva de Imprensa.


Com Karen Brusttolin.







































































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