“A AFORISTA”
ou
(UMA “MASTERCLASS”
DE INTERPRETAÇÃO
TEATRAL.)
ou
(“A AMIZADE É UM AMOR QUE
NUNCA MORRE.”
– UM AFORISMO DE
MÁRIO QUINTANA.)
Uma atriz. UMA SENHORA ATRIZ! Uma
atriz e dois pianistas. QUE SENHORES PIANISTAS! Uma atriz e uma direção.
QUE SENHORA DIREÇÃO! Uma atriz e uma iluminação. QUE SENHORA
ILUMINAÇÃO! E tudo mais, de bom, necessário à realização de um excelente
espetáculo teatral.
“A AFORISTA”, em cartaz no Teatro
I do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) do Rio de Janeiro (VER SERVIÇO.)
é um espetáculo teatral da melhor qualidade, que merece, e precisa, ser visto
pelos amantes do bom TEATRO. A atriz é ROSANA STAVIS; o diretor, MARCOS DAMACENO; os pianistas, SERGIO JUSTEN e RODRIGO
HENRIQUE; e o desenhista de luz, BETO BRUEL.
SINOPSE:
“A AFORISTA” traz à cena uma mulher (ROSANA STAVIS) – a personagem é anônima – caminhando, sem parar, em direção ao enterro de um antigo amigo da faculdade de música (Polacoviski), que tivera um destino trágico: cometeu suicídio, enforcando-se numa das árvores em frente ao prédio onde estudaram.
Seria uma premonição do colega de faculdade, John Marcos Martins, o qual, um dia, quando ainda eram estudantes, lhe disse que o colega era “um náufrago, uma pessoa fadada ao suicídio”?
Enquanto caminha, povoam a mente da “aforista” pensamentos acerca de sua própria vida e os caminhos escolhidos por ela e seus velhos amigos, todos “promessas da música”.
Caminhos que vão da plenitude da realização ao fracasso fatal.
A peça apresenta, como um dos personagens centrais, o famoso pianista John Marcos Martins, dono de um talento unanimemente reconhecido em todo o mundo, apenas citado, na peça, assim como Polacoviski.
A narrativa desenvolve-se a partir das lembranças, pensamentos e imaginação da terceira personagem, a narradora, amiga dos dois, por eles apelidada de “aforista”, pelo fato de viver a criar aforismos, frases feitas, máximas ou sentenças que, em poucas palavras, contêm uma regra ou um princípio de alcance moral. Ela, uma “aforista”, “escrevedora - e colecionadora - de frases pseudofilosóficas. De textos sem fôlego. De frases de calendário.”.
A narradora está sempre andando e, enquanto anda, pensa em como chegou àquele momento, mergulha na sua trajetória de vida, na relação com os dois amigos e faz constantes revelações e reflexões.
Em sua “viagem”, ela avalia a relação com seus antigos amigos de faculdade, o caminho que cada um seguiu, aonde esses caminhos os levaram e o quanto eles influenciaram, positiva e negativamente, mais este advérbio que aquele, inclusive na vida uns dos outros.
É sempre uma enorme felicidade ver que o
TEATRO continua, cada vez mais, vivo, forte e criativo, renovando-se
sempre. Basta assistir ao espetáculo “A AFORISTA”, para se ter a certeza
de que produzimos um TEATRO de altíssima qualidade, graças ao talento
dos artistas brasileiros. Também gosto muito quando o Rio de Janeiro recebe
espetáculos de outros estados, o que permite, aos cariocas, saber que a
cultura, o TEATRO, em especial, não existe apenas no eixo Rio/São Paulo.
Vivo a repetir isso e não me canso de o fazer. Conheço, faz tempo, o trabalho
da “Cia. Stavis – Damaceno”, com sede em Curitiba, comemorando duas
décadas de existência, no ano em curso, e afirmo, com a mais inequívoca
certeza, que ROSANA STAVIS é uma das melhores atrizes brasileiras, cujo
trabalho procuro acompanhar de perto e, a cada novo contato, mais admiro seu
talento.
Quando assisto a algum espetáculo que me
faz sair do Teatro em total “estado de graça”, como
ocorreu na noite da última 5ª feira (09/02/2023), confesso sentir muita
dificuldade para escrever sobre ele, o que pode parecer paradoxal, entretanto
fico embaraçado, procurando palavras que possam traduzir tudo o que ele
acrescentou à minha vida de “rato de Teatro”. Além disso, é muito
desafiador ter as ideias ordenadas e encadeadas, de modo a falar sobre o máximo
possível, com o mínimo de palavras e precisão.
O texto de “A AFORISTA”, de
MARCOS DAMACENO, é muito bom para propiciar um excelente trabalho de
interpretação. Sucinto, objetivo, “enxuto”,
escrito de forma clara e simples, muito favorável à compreensão de qualquer
pessoa. Destaco, nele, algumas repetições, admiravelmente colocadas, visando a
realçar detalhes marcantes para o público. É uma mescla de narrativas,
reflexões, julgamentos, acusações, aforismos e frases desconexas, como a deixar
claro, em alguns trechos, um possível estado de perturbação mental da
personagem narradora.
Marcos Damaceno.
DAMACENO, como autor do texto,
como não poderia deixar de ser, sabe, melhor que ninguém, como pautar seu
trabalho de direção, apresentando uma proposta muito desafiadora para a atriz,
exigindo dela muita concentração e esforço físico, para sustentar cerca de 70 minutos
com os pés “fincados” num mesmo lugar. Esse detalhe é muito
especial, uma vez que a SINOPSE fala na personagem “caminhando,
sem parar”, até o local do enterro do amigo. É possível “ver”,
em cena, alguém andando, sem parar e, ao mesmo tempo, sem sair do lugar. Alguns
dos melhores destaques desta direção vão para essa ideia de “fazer
caminhar, parada”, o visagismo da atriz, que lembra a “Medusa”,
descabelada, desgrenhada, enlouquecida, perdida em devaneios e incertezas, e na
iniciativa de fazê-la riscar, com muita frequência, o espaço, como se estivesse
registrando, num papel, seus aforismos. A ideia de colocar em cena dois
pianistas é um dos grandes trabalhos desta irretocável direção. Os dois
instrumentos dialogam com a atriz, e entre si, cada um parecendo querer impor
seu talento ao outro, e sublinham a cena, do princípio ao final da encenação,
com composições originais, de uma qualidade inquestionável, obra de arte criada
por GILSON FUKUSHIMA, o qual responde, também, pela direção musical da
peça.
O
trabalho de MARCOS DAMACENO, como diretor, já foi, devidamente,
reconhecido, quando ele ganhou o “Prêmio Shell-SP!”, de Melhor
Dramaturgia pela peça “Homem ao Vento”, também indicada ao “APCA”
e ao “Aplauso Brasil”. DAMACENO também ganhou o “Prêmio
Governador do Estado do Paraná” (Troféu Gralha Azul), de Melhor Diretor
e de Melhor Cenógrafo, pela peça “Antes do Fim” e o prêmio de
Melhor Texto pela peça “Pedro, Pedrinho, Pedreco”, entre diversas
outras indicações. Não me causará nenhuma surpresa, se, a se fazer justiça, o
seu nome for, no mínimo, indicado a prêmios de TEATRO, por “A
AFORISTA”, no Rio de Janeiro e por onde a peça passar.
Creio que o fato de a personagem narradora ser sem-nome
deve-se ao desejo do dramaturgo de fazer com que ela represente todas as
pessoas, qualquer pessoa. Sua caminhada perece significar a travessia que cada
um de nós faz em sua trajetória de vida. Ou deveria fazer. Não sei se o nome do
festejado pianista John Marcos Martins, o “Johnzinho”,
dos tempos da faculdade, antes de se tornar celebridade, é uma referência, ou
homenagem, ao maestro e pianista João Carlos Martins. Será?
O texto traz algumas pérolas como uma crítica à arraigada
vaidade e ao marcante egocentrismo dos artistas, direcionada a Polacoviski,
a quem a personagem considerava “metido”, quando diz que “a pretensão mais ridícula para qualquer
estudante, iniciante, aspirante a artista - e para qualquer artista - é querer ser gênio”. Ela repete, no texto que “tem coisa que se fala e coisa que se cala”, mas não cala o que não deveria ser dito. Ou
será que devia mesmo dizer? A “aforista” havia deixado a
cidadezinha de sua juventude, Laciport, por achar que não cabia nela, porquanto
não aceitava a “autofagia” praticada na pequena cidade, todos
falando mal de todos, e estava lá, de volta, quando soube da morte do amigo,
sem ter a certeza, contudo, de que deveria ou não comparecer ao sepultamento. A
mulher vê, em Polacoviski um comportamento traduzido por um
interessante neologismo, “soberbice”, mistura de “soberba”
com “idiotice”.
A narradora afirma que John
“sempre foi meio esquisito, meio louco”, quando, na verdade, isso
parecia se aplicar mais a ela mesma, que se julgava “a mais normal”,
dos três. Acho ótimo, no texto, a parte em que a personagem reconhece que todos
os artistas são loucos, “para dar, ao mundo, a dose de loucura que o
mundo precisa. Nada mais chato que um artista quadrado”. Também penso assim.
Achei muito interessante a parte do
texto em que a personagem afirma que os artistas “são verdadeiros
acumuladores de frustrações...”. E ser artista é isso. Saber lidar com
frustações...”. Acrescenta que Polacoviski “se
acostumou, desde pequeno, a ser sempre melhor que os outros, no piano. E
realmente era. Ganhando sempre, em primeiro lugar, os concursos, os prêmios, as
adulações e tudo. Mas, quando se deparou com o John, o ‘Johnzinho’,
desacorçoou-se. Deprimiu-se. Desolou-se. E enforcou-se. Mortalmente atingido
pelas notas do piano do Johnzinho.”. Polacoviski pecava
pelo excesso de competitividade e não soube administrar a sua condição de
inferioridade, como pianista, em relação a John.
Mais uma ótima alfinetada aos artistas,
ou àqueles que se julgam ser um, reside na afirmação de que todos os eles, como
Polacoviski, almejam a celebridade, mas que isso é coisa para os “pseudoartistas”.
Também vale um destaque a crítica feita às pessoas que vivem a “demonizar”
os artistas, sem terem a menor noção do que seja ARTE e o que fazem os
artistas, a importância do seu papel na sociedade. Essa cabe, como uma carapuça,
nas cabeças de quem quase destruiu o Brasil nos últimos quatro anos. Melhor ainda, embora possa parecer
estranho, é quando reforça que, às vezes, isso se aplica aos próprios artistas.
O trabalho de ROSANA STAVIS é
algo que mereceria muitos adjetivos elogiosos, o que poderia cair num “déjà
vismo” (Criei um neologismo afrancesado.) O melhor mesmo é conferir
essa fantástica “performance”, que exige muito da atriz, parada, o tempo todo, como já disse, como se apenas o tronco, a cabeça e os
membros superiores entrassem na interpretação. Causou-me grande espanto o tanto
de tempo em que ela permanece com os braços elevados, sem se deixar vencer pelo
cansaço. ROSANA faz o que quer com a voz, um dos mais fortes elementos
na composição da personagem. Trabalha, quase sempre com o olhar perdido,
lançado ao final do Teatro, fixo, porém, às vezes, desvia,
discretamente, os olhos. ROSANA é uma atriz de extraordinárias
possibilidades, transitando, com igual talento e desembaraço, da comédia à
tragédia, passando pelo drama e outros gêneros, e, além de interpretar como
ninguém ainda se dá o luxo de cantar. Declaro-me, “despudoradamente”,
seu incondicional admirador, por todas as vezes em que a vi no palco,
principalmente em “Antes da Coisa Toda Começar” (2012), “Hoje
É Dia de Rock” (2018), “Estado de Sítio” (2019) e “Henrique
IV” (2022), as três últimas sob a, sempre criativa, direção de Gabriel
Villela.
Rosana Stavis.
Ao assistir à peça, prestem
bastante atenção a como é apresentada a mente da personagem narradora, na qual “se
sobressaem a confusão, como linguagem, o ritmo vertiginoso, o excesso de
informações, as digressões, além de boas doses de ansiedade e perturbação”,
o que ROSANA consegue transmitir com perfeição. Isso é muito difícil de
ser feito, só possível a alguém com o talento de ROSANA STAVIS. Nada do
que ela verbaliza e a maneira como é verbalizado é gratuito; pelo contrário,
cada frase, cada palavra dita tem um peso singular, no texto, lapidado por sua
interpretação. Ainda que sejam “narrativas densas e sôfregas”,
tornam-se hilariantes, porque são ditas por uma atriz do porte de ROSANA
STAVIS. Recebi o texto e o li. Conquanto seja ótimo, não me passou nem a metade de emoção que
senti, quando saído da boca dessa fabulosa atriz.
Os dois pianistas que se encarregam de todas as incursões
musicais, composições de irrepreensível criação, de GILSON FUKUSHIMA,
são SERGIO JUSTEN e RODRIGO HENRIQUE, dois “virtuoses”,
os quais agregam, à peça, muito de sua extrema qualidade artística. São duas
presenças “fortes” em cena, elegantes, discretos e necessários.
Eles “duelam no palco e dão o tom da narrativa”.
Dois dos elementos de criação, numa montagem teatral, o
cenário e o figurino, estão aqui representados numa só criação, um magnífico trabalho
de KAREN BRUSTOLLIN. A personagem veste um traje recheado de elementos
significativos, na cor preta, que se assemelha a uma escultura e parece – é
apenas impressão – que ajuda a sustentar a atriz em cena, em pé, sem sair do
lugar, por tanto tempo, com uma armadura. Não há, na FICHA TÉCNICA, o nome
de alguém responsável, especificamente, pela cenografia, uma vez que o cenário
e o figurino formam uma espécie de instalação, um figurino/instalação.
Ao fundo do palco, não muito visível, a não ser nas poucas cenas em que a iluminação
se torna mais abundante, pode ser vista uma aplicação, em alto-relevo, de uma
enorme peça preta, na forma de um “S”, próxima – foi o que me
pareceu, de longe – a um túnel de brinquedo de crianças. Decodifiquei aquela
imagem como o caminho, de algum ponto até o cemitério, percorrido pela personagem.
Já que citei a luz, preciso dizer que a iluminação, criada
por BETO BRUEL, é um dos pontos altos do espetáculo e me deixou muito bem
impressionado. Fazia tempo, não me sentia tão impactado por um desenho de luz
como o desta peça. Desde quando vi o fantástico trabalho de BRUEL em sua
primeira criação para o TEATRO, no espetáculo “Ludwig/2”,
da “Artesanal Cia. de Teatro”, em 2015, enxerguei nele um
grande potencial para se tornar um dos melhores iluminadores do TEATRO BRASILEIRO, o que só vejo ser ratificado, a cada novo trabalho do BETO. Assim
como ocorere com os pianos, a luz também entra no diálogo com a atriz.
FICHA
TÉCNICA:
Texto: Marcos Damaceno
Direção: Marcos Damaceno
Atuação: Rosana Stavis
Pianistas: Sergio Justen e Rodrigo Henrique
Composição Original: Gilson Fukushima
Direção Musical: Gilson Fukushima
Iluminação: Beto Bruel
Figurinos: Karen Brustollin
Assessoria de Imprensa: Ney Motta (Arte Contemporânea Comunicação
Ltda.)
Fotos: Renato Mangolin
Produção Executiva: Bia Reiner
Assistente de Produção: Marianna Holtz
Produção: Cia. Stavis – Damaceno
SERVIÇO:
Temporada: De 25 de janeiro até 05 de março de 2023.
Local: Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro – Teatro I.
Endereço: Rua Primeiro de Março, nº 66 – Centro - Rio de Janeiro.
Informações: (21)3808-2020 | ccbbrio@bb.com.br
Dias e Horários: De 4ª feira a sábado, às 19h30min; domingo, às 18h.
Valor doa Ingressos: R$30,00 (inteira) e R$15,00 (meia entrada: estudantes, maiores de 65 anos e clientes Ourocard.)
Os ingressos podem ser adquiridos na bilheteria do CCBB ou,
antecipadamente, pelo “site” https://ccbb.com.br/rio-de-janeiro/
Funcionamento do CCBB Rio de Janeiro (aplicável à bilheteria): 2ªs,
4ªs, 5ªs, 6ªs feiras e sábados, das 9h às 21h; domingos, das 9h às 20h (FECHA ÀS 3ªs FEIRAS).
Classificação Etária: Indicado para maiores de 16 anos.
Duração: Aproximadamente, 70 minutos.
Gênero: Monólogo Dramártico.
Diz MARCOS DAMACENO, no “release” que
recebi de NEY MOTTA (Are Contemporânea Comunicação Ltda.):
“É uma peça sobre as decisões que tomamos. Sobre as nossas escolhas. Os
caminhos que seguimos. E onde eles nos levam. É também uma peça sobre nossos
sonhos. Sobre nossos desejos, principalmente de quando jovens. E de como
lidamos com eles. Como lidamos com nossas frustrações. Nossas insatisfações: ‘ser
artista é saber lidar com as frustrações’ – diz a aforista. Enfim, como toda
peça de TEATRO, de como lidamos com os nossos sentimentos. E de como lidamos
com os nossos pensamentos. Ela, a narradora, a aforista, está sempre
pensando e andando. O pensamento é o lugar onde se passa a peça: ‘andando,
vamos resolvendo as perturbações do pensamento’ – diz a aforista, enquanto anda
e pensa.”. E é pensando nessas palavras que espero que todos assistam à
peça, a qual RECOMENDO COM O MAIOR EMPENHO.
O espetáculo fez sua estreia nacional no palco do CCBB Rio de Janeiro, mas fiquem atentos que, após o encerramento da atual temporada, cumprirá agendas nas unidades do CCBBs em Belo Horizonte, Brasília e São Paulo.
FOTOS: RENATO MANGOLIN
GALERIA PARTICULAR:
Com a querida e talentosa amiga Rosana Stavis.
VAMOS AO TEATRO,
COM TODOS OS CUIDADOS!!!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO
DO BRASIL,
COM TODOS OS CUIDADOS!!!
A ARTE EDUCA E CONSTRÓI, SEMPRE!!!
RESISTAMOS, SEMPRE MAIS!!!
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O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO BRASILEIRO!!!
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