“EVITA
OPEN AIR”
ou
(SIMPLESMENTE,
UMA EFEMÉRIDE.)
Por mais que eu me esforce – acho que aconteceria a qualquer outro mortal –, jamais conseguirei descrever o que seja um evento tão aguardado por mim, e por todos os que amam o TEATRO MUSICAL: “EVITA OPEN AIR”, espetáculo ao qual assisti num domingo, dia 24 de julho próximo passado (2022). Mais difícil, ainda, seria conseguir transformar, em palavras, tudo o que senti, diante de tamanha OBRA-PRIMA, a qual, infelizmente, só pude assistir uma vez e durante o dia. Há sessões à tarde e à noite. Embora eu volte a São Paulo na segunda quinzena de setembro, não tenho esperança de que a temporada seja prorrogada – o encerramento está previsto para o dia 28 de agosto (2022), mas merecia, ou tinha que, ficar em cartaz por meses – e eu possa conferir aquela maravilha numa sessão noturna.
Não sei se já tiveram a oportunidade de assistir a uma sessão de TEATRO, ao ar livre, durante o dia, sob um sol escaldante, o qual, porém, não incomodava em nada, porque o fator psicológico, a ansiedade e a alegria de estar naquelas arquibancadas, montadas no Parque Villa-Lobos, em São Paulo, afastavam, para bem longe de mim, qualquer sensação de desconforto. Eu já tivera, antes, a oportunidade de passar, duas vezes, por tal experiência, fora do país. Foi na Grécia, mais propriamente em Atenas. Numa visita à Acrópole, vi que estava sendo realizado, nas ruínas de um anfiteatro, um Festival de TEATRO, com entrada franca. Minha curiosidade levou-me a ocupar um espaço e ver o que aconteceria. Encenaram, um grupo local, uma peça curta, de cerca de trinta minutos, em grego, obviamente, e eu, logicamente, não entendi, absolutamente, nada. Nem sei dizer se era um drama ou uma comédia, uma vez que me pareceu não haver locais, para demonstrar alguma reação, numa plateia, formada por turistas, para os quais aquela língua “era grego”. Não consegui mensurar a sensação de estar sentado num lugar, construído há cerca de 450 anos a.C., erguido com a finalidade de servir à encenação de peças de TEATRO, e quase entrei em transe. No dia seguinte, voltei lá, quase no mesmo horário da visita feita no dia anterior, e o Festival continuava. De novo, disputei um lugarzinho, para assistir a uma outra peça, porém percebi, depois de algum tempo, mesmo sem “entender patavina”, como diziam minha avó e minha mãe, do que estava sendo dito. Não fiquei até o final.
Mas, na descomunal e complexa estrutura, montada no Parque
Villa-Lobos, para a encenação de um dos meus musicais favoritos,
“EVITA”, nessa versão “OPEN AIR”, a coisa era bem diferente: o
texto e as canções estariam ao alcance da minha decodificação, por serem em
língua portuguesa. Ademais, já conhecia muito bem a história, a cuja primeira
montagem no Brasil, em 1983, eu havia assistido, inúmeras vezes, no Teatro
João Caetano, no Rio de Janeiro, com a cantora Cláudya,
brilhando, no papel da protagonista. Também foi um grande acontecimento,
na época. Além disso, assisti, no cinema, e, depois, em casa, “trocentas
vezes”, em DVD, à versão cinematográfica, de 1996,
dirigida por Alan Parker, com roteiro de Oliver Stone
e TIM RICE, muitíssimo bem protagonizada por um ícone da música “pop”:
Madonna.
Esta é a terceira produção do musical, no Brasil. A primeira, já referida, em 1983, com direção de Maurício Shermann, de saudosa lembrança, a qual, além da já citada Cláudya, no papel-título, contava com um grande elenco, que reunia Mauro Mendonça, como JUAN PERÓN; Carlos Augusto Strazzer, no papel de CHE; Sílvia Massari, como a amante de PERÓN (a personagem não tem nome); e Hilton Prado, como MAGALDI, o homem considerado, pela História, como amante de EVITA. Na ocasião, os produtores da montagem inglesa chegaram a dizer que Cláudya era a melhor EVITA, entre todas as que tinham interpretado o papel.
A segunda montagem nacional foi dirigida por Jorge Takla, no Teatro Alfa, em São Paulo, em 2011, trazendo, no elenco, nomes já consagrados do TEATRO MUSICAL BRASILEIRO, como Paula Capovilla, como EVITA; Daniel Boaventura, como PERÓN; e Fred Silveira, como CHE.
“EVITA” é um dos musicais mais encenados e premiados, em vários países, já tendo contado, em suas plateias, com mais de 60.000.000 de espectadores. A música é do gênio ANDREW LLOYD WEBBER, com letras de outro gênio dos musicais, TIM RICE. Foi inspirado no filme, do diretor argentino, Carlos Pasini-Hansen, “Queen of Hearts” (“Rainha dos Corações”), de 1972, película baseada na vida e morte de MARÍA EVA DUARTE PERÓN (1919 – 1952) e sua influência, a partir da ascensão, ao poder, de seu marido JUAN DOMINGO PERÓN, como presidente da Argentina. EVITA tornou-se, então a Primeira Dama daquele país.
O musical pode ser considerado uma “ópera-rock”, nos moldes do grande sucesso – uma das maiores paixões da minha vida – “Jesus Cristo Superstar”, dos mesmos autores. Ao tomar conhecimento da existência e da história de vida de EVA PERÓN, TIM RICE passou a, obstinadamente, pesquisar sobre aquela mulher, até transformá-la numa de suas maiores criações, como personagens femininas. Para a obra, RICE criou um personagem, CHE, para servir como um narrador, e, também, uma espécie de coro grego. Fato curioso é que, embora ERNESTO CHE GUEVARA fosse argentino de nascimento, RICE não concebeu o personagem CHE como sendo um dos maiores revolucionários da História; não foi essa a sua intenção, porém, nas montagens teatrais, os diretores houveram por bem estabelecer uma relação entre um, o narrador, e outro, o GUEVARA.
SINOPSE:
“EVITA” é a história da
obstinação de uma jovem pobre, que constrói uma pífia carreira como vedete,
atriz de cinema e apresentadora de rádio, até conhecer um coronel em plena
ascensão política.
As trajetórias de ambos se entrelaçam, e ela adquire maior importância social que seu marido, por meio da construção
de uma persona que se pretendia mística, uma “santa viva, madre de todos
los niños, de los tiranizados, de los descamisados, de los trabajadores, de la
Argentina", vestida pelo luxuoso estilista de moda Christian Dior.
RICE e WEBBER introduzem CHE GUEVARA,
outro ícone da cena política da segunda metade do século XX, como personagem
crítica e narradora da história, em constante desconstrução dos mitos políticos
que, até hoje, dominam a história do país sul-americano.
CHE apresenta o público a uma EVA, aos 15 anos, em 1934, quando ela tem seu primeiro caso de amor, com AGUSTÍN MAGALDI, um cantor de tango, depois de o encontrar em um de seus "shows".
Ela chantageia MAGALDI, para que a leve com ele a Buenos Aires e, embora, inicialmente, ele resista, finalmente, se rende.
Após a sua chegada à cidade, EVA fala sobre suas esperanças e ambições de glória como atriz, mas, rapidamente, deixa MAGALDI, e CHE relata a história de como EVA sobe na escada social, tornando-se uma modelo, estrela de rádio e atriz.
Dá-se, então, um golpe de Estado, em 1943, e o sucesso de EVA, o que implica que a política da Argentina e a carreira da protagonista, em breve, poderão coincidir.
CHE também faz questão de apresentar a figura do coronel JUAN DOMINGO PERÓN, um militar ambicioso, que estava se destacando na política argentina.
Em nome de uma ascensão na política da Argentina, PERÓN e outras figuras
militares competem pelo poder e expõem a sua estratégia política.
Depois de um devastador terremoto, que atinge a cidade de San Juan, PERÓN organiza um concerto de caridade, no "Luna Park", para prestar ajuda às vítimas.
EVA assiste ao concerto e, brevemente, se reúne com MAGALDI, o qual, friamente, se esquiva da moça, por suas ações passadas.
PERÓN aborda a multidão, com palavras de encorajamento, e vai para o "backstage", onde conhece EVA.
Ambos compartilham um encontro secreto, após o concerto de caridade, e EVA sugere que poderia ajudar PERÓN a ascender ao poder.
Para garantir seu relacionamento com o alvo de suas ambições, EVA "dispensa" a
amante de PERÓN (A personagem é conhecida apenas por esse título,).
Depois de morar com PERÓN, é apresentada à alta sociedade, mas é recebida com desdém, pelas classes altas e pelo Exército Argentino.
Em 1946, PERÓN lança sua candidatura à presidência, depois de ter sido promovido a general do Exército, e, ao mesmo tempo, na cama, com EVA, ele discute suas chances de ganhar a eleição e expõe as suas dúvidas.
EVA tranquiliza-o e, logo, organiza
comícios, nos quais as pessoas mostram o seu apoio e a esperança de um futuro melhor,
enquanto, nos bastidores, PERÓN e seus aliados armam um complô, para eliminar
qualquer um que esteja em seu caminho.
PERÓN é eleito presidente, com uma vitória arrasadora, em 1946.
Ele fica no balcão da Casa Rosada, abordando seus votantes, enquanto EVA fala, da varanda do palácio presidencial, para seus partidários ardorosos, revelando que, apesar de sua meta inicial, de alcançar a fama e glória, ela encontrou sua verdadeira vocação no serviço ao povo de seu país.
CHE analisa o preço da fama, quando EVA dança no "Baile Inaugural", com PERÓN, agora presidente eleito.
EVA insiste em uma imagem de "glamour", a fim de impressionar o povo da Argentina e promover o peronismo.
Ela se prepara para uma turnê, na Europa, vestida pelos seus consultores de moda.
Sua famosa turnê, de 1946, alcançou resultados distintos e bem opostos: os espanhóis a adoram, mas os italianos comparam o seu marido a Benito Mussolini; a França não se impressiona, e os ingleses desdenham dela, convidando-a a se hospedar numa propriedade rural, em vez de a acomodarem no Palácio de Buckingham.
EVA afirma seu desdém para a classe alta, enquanto CHE lhe pede para começar a ajudar os necessitados, como ela prometra.
EVA cria a "Fundação EVA PERÓN", para direcionar seu trabalho de caridade.
CHE descreve o trabalho de caridade de EVA como controverso, insinuando que é possível que tenha havido lavagem de
dinheiro, dado que a organização e a contabilidade eram desprezadas, em favor da
resposta imediata aos problemas.
EVA aparece em uma igreja, para tomar o sacramento, na frente de seus partidários ardorosos, mas entra em um estado de transe, começando a ter alucinações e desmaia.
Em sua visão, ela e CHE, acaloradamente, debatem as suas ações; CHE acusa EVA de usar o povo argentino, para seus próprios fins, enquanto ela, cinicamente, responde que não há glória na tentativa de resolver os problemas do mundo do lado de fora.
No final da discussão, EVA, finalmente, admite, para si mesma e para CHE, que ela está morrendo e que não pode continuar por muito mais tempo.
Depois, EVA PERÓN, finalmente, entende que o marido e o povo a amam, por si mesma, e não, apenas, pela sua aparência ou pelo o que ela pode fazer pela carreira do marido.
Os generais aliados de PERÓN ficam chateados, pelas constantes intromissões de EVA, na politica do Estado, e exigem que ele a force a abandonar a política, no entanto, PERÓN afirma que, se não fosse por ela, eles nunca teriam conseguido se manter no poder, mas ele também reconhece que ela não será capaz de continuar trabalhando por muito tempo, e, em breve, vai sucumbir ao câncer.
Enquanto isso, EVA está determinada a concorrer à vice-presidência, apesar do medo de PERÓN, da irritação que ela iria provocar nos generais, se fosse eleita, além de que a saúde da esposa estava muito debilitada, para qualquer trabalho estressante.
EVA, porém, insiste que pode
continuar, apesar de sua saúde estar piorando cada vez mais.
Percebendo que está perto da morte, EVA renuncia da sua jornada pela vice-presidência e jura amor eterno pelo povo da Argentina.
EVA, antes da morte, pede perdão, contemplando a sua escolha de fama e glória, em vez de uma vida longa ou filhos.
EVITA PERÓN morre e embalsamadores preservam seu corpo para sempre.
CHE observa que um monumento estava previsto para ser construído
para EVITA, mas que "apenas o pedestal fora concluído, quando o corpo de
Evita desapareceu há 17 anos ..."
Quando eu soube que haveria uma nova montagem de “EVITA”, no Brasil, em São Paulo – infelizmente, creio não haver a menor chance de o espetáculo visitar outras praças, como o Rio de Janeiro, dada a gigantesca complexidade do projeto -, fiquei atento, para não perder a oportunidade de ver aquela história, que parece totalmente inverossímil, embora seja a mais pura verdade, com um “toquezinho” de ficção, que “o dramaturgo não é de ferro”. Só que havia um adendo ao título: “OPEN AIR”, cujo significado, em português – ao ar livre - eu bem conhecia, porém faltava-me a visão desse espetáculo em solo brasileiro. A experiência já vem sendo posta em prática, há algum tempo, não muito, com outros espetáculos, em algumas cidades, como Londres e Nova Iorque, por exemplo. Até aí, nenhuma novidade, pois sabemos que, apesar de estarmos bem à frente, na produção de musicais, é notório que a “Broadway” e “West End” são as “mecas” dos musicais, nos Estados Unidos e na Europa, respectivamente, porém material humano, talento e muita vontade de fazer o melhor não nos faltam.
Por outro
lado, uma produção como essa implica um custo elevadíssimo, que só
poderia ser concretizada, contando com muitos apoios e grandes patrocínios.
Ainda bem que a ideia de se produzir o espetáculo, no Brasil,
partiu de gente da maior seriedade e competência, assim como garra e
determinação, o que, certamente, concorreu para que os devidos apoios e patrocínios
não faltassem. “EVITA OPEN AIR” é uma realização do "ATELIER DE
CULTURA", que tem, em seu currículo, produções fabulosas, como “Charlie
e a Fantástica Fábrica de Chocolate”, “Escola do Rock”, “Billy
Elliot”, “Annie”, “A Noviça Rebelde” e “O
Homem de La Mancha” e partiu para “uma nova experiência, ao
público, ao combinar um clássico do TEATRO MUSICAL com a estrutura de um
festival a céu aberto”. “O evento é apresentado pelo Ministério
do Turismo e pela Comgás, que celebra 150 anos de sua fundação”.
Soube, nos bastidores – a conferir -, que a escolha do momento para a realização da temporada se deu após estudos que mostraram que, durante os meses de julho e agosto, em São Paulo, a probabilidade de haver chuvas é mínima. Disseram-me que chegaram à conclusão de que havia previsão de mau tempo, com precipitações pluviais, para apenas três dias, dentro da temporada, de cerca de dois meses. Em caso de chuva, o que me parece que só ocorreu um dia, até agora, fica inviável a encenação, a sessão é suspensa, obviamente, e faz-se a troca dos ingressos para outras datas ou o dinheiro pago pelos ingressos é devolvido, se a pessoa o preferir.
A estrutura do evento, o
conjunto, em geral, não o espetáculo, em si, lembra uma produção do “Circo
de Soleil”, com espaços, fora da área de representação, para circuitos
livres das pessoas, com lojinha de “suvenires”, barracas que
vendem alimentos e bebidas, locais para as pessoas se sentarem, para um “bate-papo”, e, até mesmo, uma “baladinha”, após cada sessão ou
no intervalo entre uma e outra, na qual alguns atores se misturam ao público,
para se divertirem, à farta, e celebrar a vida. É uma experiência ímpar,
que só valoriza quem passa por ela, quem a vive. E deixa muita saudade.
A preocupação com
todos os detalhes é tal, que a megaestrutura é autossuficiente, em água
e eletricidade, e não utiliza esses recursos do parque. A plateia tem
capacidade para quase 1600 pessoas e o palco é cerca de quatro vezes
maior que o de um Teatro convencional (Pareceu-me bem maior ainda.), lembrando que há algumas cenas
sobre um gramado, fora da área do palco. Isso faz com que o público possa ver
uma maior movimentação dos atores em cenário majestoso, com quatro
níveis de altura. “Todos esses aspectos privilegiam a visão criativa
do diretor JOHN STEFANIUK, que, para esta montagem, criou uma encenação
radicalmente original, jovem, pulsante, contemporânea e muito diferente da
linguagem usual dos musicais”. “‘EVITA OPEN AIR’ traz uma
perspectiva nova e moderna de quem foi essa figura icônica do cenário político
argentino”. O diretor, que é canadense, radicado na Broadway,
é o mesmo que dirigiu as montagens brasileiras de “O Rei Leão”, “Billy
Elliot” e Charlie e a Fantástica Fábrica de Chocolate”, todas
em São Paulo. STEFANIUK prometeu, e cumpriu, nos
apresentar um projeto de encenação “radicalmente original, pulsante,
contemporâneo e muito diferente da linguagem usual dos musicais”.
Reproduzo, aqui, um trecho do “release”
que me foi enviado por DIOGO LOCCI (Assessoria de Imprensa – Agência TAGA):
“A velha Argentina. Um novo musical. O
espetáculo apresentará, pela primeira vez, no Brasil, os novos arranjos
musicais, compostos por DAVID CULLEN e ANDREW LLOYD WEBBER, em 2014. É uma
versão mais jovem, mais energética, o que permite explorar coreografias
agressivas e uma dramaturgia mais realista. (...) A produção em São Paulo afasta-se
da glamourização, percorre e evidencia as contradições da cena política da
Argentina daquele período, e funda-se em recursos teatrais sólidos. É
supervisionada, diretamente, por ANDREW LLOYD WEBBER, produtor original.”.
Seria desnecessário, uma perda tempo, falar da grandeza, beleza e perfeição do texto e das canções,
reunidas num “set list” da melhor qualidade, com destaque para
aquela que se tornou um grande “hit”, “Don’t Cry For Me Argentina”, gravada por vários intérpretes consagrados na música internacional.
A parte musical é bem eclética, misturando música clássica com ritmos
latinos, além de baladas e “rocks” americanos.
Sobre a cenografia,
de MORGAN LARGE, que já se disse ser "majestosa", esta corresponde a uma super construção, em quatro
planos, ocupando uma vasta área do espaço cênico, com portas, muitos andaimes,
que lembram – eu vi semelhança – um pouco cenas do filme “Jesus Cristo Superstar”; praticamente, num palco nu, com a entrada de alguns elementos cenográficos, como
um luxuoso canapé (tipo de sofá), algumas cadeiras, uma mesa e um caixão funerário, por
exemplo.
A ausência de elementos
cenográficos, no palco, facilita a execução dos muitos e fantásticos números
coreográficos, um dos pontos altos do espetáculo, todos executados,
por todo o elenco, com extremíssima perícia. Quem assina a coreografia
é um grande profissional do ramo, cujo talento já foi demonstrado em tantos musicais
anteriores a este: FLORIANO NOGUEIRA.
Nada posso falar sobre a
iluminação – isso é uma lástima -, uma vez que, como já disse, só
tive a oportunidade de assistir à encenação numa apresentação que teve
início às 15 horas, sob um sol escaldante, de um “veranico de
julho” na “pauliceia desvairada”. Iluminação natural e perene. Pelo aparato de iluminação que vi instalado, para as sessões noturnas, e pelas fotos que ilustram, em grande escala, esta crítica,
posso avaliar o deleite que causa, aos olhos dos espectadores, o desenho
de luz projetado para o espetáculo, por BEN JACOBS.
Um dos detalhes que
mais me chamaram a atenção, nesta montagem, pelo fato de ser executada
ao ar livre, diz respeito à qualidade do som, algo, realmente,
indescritível. Penso que deva ter sido utilizado o que há de mais moderno, em
matéria de propagação eletrônica do som, por GASTÓN BRISKI, de
modo a garantir uma cristalinidade sonora total. Em tom, obviamente,
exagerado, cheguei a comentar, com amigos, que a qualidade do som, em “EVITA
OPEN AIR”, era tamanha, que daria para se ouvir os passos de uma formiga,
andando pelo palco.
Voltando a falar da parte
musical, não poderia deixar de mencionar o fabuloso trabalho da grande
musicista (Ou música?) e maestrina VÂNIA PAJARES, responsável
pela direção musical e pela condução da excelente orquestra,
formada por admiráveis músicos. Divagando um pouco, digo que alguns
consideram o termo “maestra” um sinônimo para “maestrina”,
seguindo a linha da utilização do vocábulo “poeta” para ambos os
gêneros. Hoje em dia, praticamente, todos usam “poeta”, quando se
referem a mulheres que escrevem poesia. Reza a lenda que quem iniciou
essa prática, a qual demorou um pouco a ser assimilada, teria sido Manuel
Bandeira, que, além do grande poeta, também foi um exigente
crítico literário. E também um “machista de carteirinha”, uma
vez que – repito: reza a lenda -, ao ler os primeiros poemas de Cecília
Meireles, julgou-os de tão altíssimo nível, que sua autora não deveria
ser considerada uma “poetisa”, porque isso qualquer mulher que
escrevia poemas o era; ela, “por mérito”, seria “uma poeta”,
comparada aos homens. Duas coisas ficaram a partir disso: o “machismo”
teria, como ocorre, ainda hoje, em profusão, falado mais alto e o vocábulo “poeta”
passou a ser considerado, oficialmente, do ponto de vista gramatical, um substantivo
comum de dois gêneros: “o/a poeta”. Aqui, sem nenhuma
conotação machista, porque não faço parte desse time, não por uma questão
de querer equipará-la aos homens, em talento, mas para lhe fazer destaque, pelo
inusitado do uso do termo, para as mulheres, digo que VÂNIA, cujo trabalho venho
acompanhando, há anos, em tantos musicais de sucesso, é uma “maestra”,
que também seria uma mestra.
Quando fiz referência
ao texto, deveria ter reservado um espaço, para elogiar o ótimo
trabalho de VICTOR MÜHLETHALER, responsável pela versão brasileira.
Mais uma vez, ele demonstrou sua competência nesse importantíssimo tipo de trabalho.
Um lugar de destaque,
certamente, tem que ser reservado aos figurinos do espetáculo, os
quais, de tão grandiosos, em quantidade, beleza, originalidade
e acabamento, ficaram sob a responsabilidade de três profissionais: LÍGIA
ROCHA, MARCO PACHECO e JEMIMA TUANY. Nem consigo calcular a
quantidade de diferentes vestes, numa diversidade de modelos e cores, que
chamam a nossa atenção, e suas imagens ficam gravadas, para sempre, nas nossas
retinas, com destaque para um dos trajes utilizados pela protagonista,
na famosa e icônica “cena do balcão”, quando EVITA canta “Dont’t
Cry for Me Argentina”, uma cópia fiel do modelo que EVITA teria
usado, confeccionado pela “Maison Dior”. Quanto deslumbramento!!!
Toda a estética, a caracterização exterior dos personagens, conta com um cuidadoso e milimétrico trabalho de visagismo,
assinado por FELICIANO SAN ROMAN, um “craque” no que faz.
Para finalizar esta análise
crítica, como de praxe, reservo, ao elenco, as palavras finais, sem
saber, sinceramente, por onde começar. Espero que estejam preparados para dispensar
alguns minutos na leitura do que pretendo escrever, para, em primeiro lugar, destacar
o trabalho de todos, da protagonista ao ator ou atriz que interpreta o menos
importante dos papéis, e, depois, tecer comentários especiais sobre alguns dos artistas.
Como todos devem estar
esperando que eu comece pela protagonista, é por aí que eu vou. Não sei,
de verdade, o que mais dizer sobre MYRA RUIZ, além de tudo o que já
disse sobre ela, em produções anteriores a esta, e do óbvio, que aqueles
que já conheciam bem o seu trabalho, como eu, o seu potencial de talento, nas
três exigências do TEATRO MUSICAL, e os que, pela primeira vez, a veem
em cena afirmam: Não há cabimento para que apenas um único adjetivo, do léxico da língua portuguesa, possa qualificar a atriz, em todos os trabalhos em que atua. Ela
merece muitos, todos positivos, ao máximo, e algum ainda não registrado. É lógico que não esperaríamos
nada diferente, da parte dela, em “EVITA OPEN AIR”. Seu trabalho, principalmente
quando canta, sua beleza, seu carisma, sua presença,
seu domínio de palco “atingem o céu” e, para ele, nos conduz, juntos. Não sinto a menor
necessidade nem vontade de comparar sua EVITA a nenhuma das outras grandes
“cantrizes” brasileiras que já interpretaram a personagem,
anteriormente, porque, em primeiro lugar, cada uma delas, todas de
excepcionais méritos, tem uma digital diferente, para as suas “evitas”.
Não quero, absolutamente, dizer qual das interpretações da personagem
mais me comoveu, todavia faço questão de dizer que MYRA RUIZ “me
tirou do sério”. Literalmente, cheguei a tremer, de tanta emoção, em
algumas de suas cenas. Jamais esquecerei esta EVITA! Muito agradeço, à
querida MYRA, pela felicidade que quase fez meu coração explodir,
naquela tarde.
(Foto: Jairo Goldflus)
CLETO BACCIC já
teve seus grandes momentos de glória, no palco, em musicais anteriores,
porque isso está na dependência direta do personagem a ser interpretado.
PERÓN não é um “herói” de tanta relevância, na trama, a
despeito de toda a importância da protagonista estar atrelada à sua
ligação com ele. Ao personagem, não cabem grandes cenas nem significativos
solos, que CLETO sabe fazer muito bem, com o seu imenso talento, tantas
vezes destacado em musicais anteriores a este, produzidos pelo ATELIER
DE CULTURA. Mesmo assim, o grande ator concede, ao seu personagem,
a maior dignidade, na interpretação, o que lhe confere merecidos elogios.
Conheci-o em “A Madrinha Embriagada”, porém minha total paixão e
devoção por seu trabalho teve início quando, na pele do “Cavaleiro da
Triste Figura”, uma das paixões da minha vida, ele me fez derramar
muitas lágrimas. Jamais o esquecerei, em sua interpretação de Cervantes / Dom
Quixote, em “O Homem de La Mancha”, espetáculo ao
qual assisti inúmeras vezes, em São Paulo e no Rio de
Janeiro.
(Foto: Jairo Goldflus)
Que me perdoem aqueles
que irão discordar do que eu digo, mas a impressão que tenho é a de que, ao escrever
o musical, TIM RICE e o diretor, ao dirigir o espetáculo,
“jogaram muitas merecidas luzes” sobre um personagem que, aparentemente,
não tem tanta importância, é “apenas um narrador”, CHE,
porém ele está, de forma marcante, presente em todo o decorrer da encenação,
da primeira à última cena, sendo um dos personagens – eu diria “o
personagem” – que mais energia, em cena, exige(m) de um ator/atriz,
neste musical. Na trama, EVITA é a protagonista; para mim,
no palco, ela divide esse privilégio e essa honra com CHE,
brilhantemente interpretado por FERNANDO MARIANNO, a quem aplaudo de pé.
Mesmo fora da ação, MARIANNO atrai a atenção da plateia, por sua
presença marcante em cena, pela “visceralidade” com que
interpreta seu personagem. Confesso que – talvez eu esteja falando por
outras pessoas também – numas poucas vezes, deixei de direcionar meu olhar para
a cena e desviei-o para CHE, observando a ação bem do alto do cenário,
ao longe. Na verdade, não era uma mera observação; ele fazia parte dela também.
São 28 atores e atrizes em cena, cada um dando o seu melhor, e conseguindo-o, todos merecedores de meus louvores, sendo que, deles, também é meu desejo, por uma questão de justiça e merecimento, destacar o corretíssimo trabalho de FELIPE ASSIS BRASIL, intérprete de AGUSTÍN MAGALDI, um cantor de tangos.
FICHA TÉCNICA:
Letras: Tim Rice
Músicas: Andrew Lloyd Webber
Arranjos: David Cullen e Andrew Lloyd
Webber
Baseado nos arranjos originais de
Andrew Lloyd Webber
Direção Geral: John Stefaniuk
ELENCO: EVITA: Myra Ruiz; CHE GUEVARA:
Fernando Marianno; PERÓN: Cleto Baccic; AGUSTÍN MAGALDI: Felipe Assis Brasil; AMANTE DE PERÓN:
Verônica Goeldi; PEQUENA EVITA: Belle Rodrigues, Isa Camargo e Anna Beatriz
Simões; ENSEMBLE: Alice Zamur, Alicio Zimmermann, Amanda Döring, Bia Castro,
Bruno Ospedal, Claudia Rosa, Danilo Martho, Della, Éri Correia, Fernanda
Biancamano, Fernanda Muniz, Gigi Debei, Gui Leal, Ingrid Sanchez, Marco
Azevedo, Mari Rosinski, Paulo Grossi, Rafael Barbosa, Sandro Conte e Vinicius
Cafer
Cenografia: Morgan Large
Direção Musical: Vânia Pajares
Coreografia: Floriano Nogueira
Versão Brasileira: Victor Mühlethaler
Figurino: Lígia Rocha, Marco Pacheco
e Jemima Tuany
Visagismo: Feliciano San Roman
“Design” de Luz: Ben
Jacobs
“Design” de Som: Gastón
Briski
Fotos: João Caldas Fº
SERVIÇO:
Apresentado por Ministério do Turismo e Comgás.
Patrocínio Master: Porto.
Patrocínio: Vivo.
Apoio: Prosegur.
Hotelaria Oficial: Radisson Blu São
Paulo.
Apoio Institucional: Secretaria de
Infraestrutura e Meio Ambiente e Governo do Estado de São Paulo.
Uma produção: Atelier de Cultura.
Realização: Secretaria Especial de
Cultura, Ministério do Turismo e Governo Federal.
Temporada: de 07 de julho até 28 de agosto de 2022.
Local: Parque Villa-Lobos - Entrada pelo portão Cândido Portinari.
Endereço: Aveniuda Queiroz Filho, nº 1365 - Alto de
Pinheiros - São Paulo – SP.
Obs.: A localização da megaestrutura
já está disponível nos principais aplicativos de deslocamento, como Waze, Google
Maps, Uber e 99, bastando digitar “Evita Open Air”, na busca.
Dias e Horários: quinta-feira, às 20h; sexta-feira, às 20h; sábado, às 15h00 e às 19h30min; aos domingo, às 15h e às 19h30min.
Valor dos Ingressos: de R$50,00 a R$300,00. À venda pelo bit.ly/ingressosevita
Bilheteria Física (sem taxa de conveniência): Instituto Artium -
Rua Piauí, 874 – Higienópolis (De quarta a sexta-feira, entre 12h e 18h; aos sábados e
domingos, entre 10h e 18h).
Observação: A partir de 01/07, no local do
espetáculo.
Capacidade da estrutura: 1.545 pessoas.
Duração: 110 minutos mais 15 minutos
de intervalo.
Classificação Indicativa: Livre.
Gênero: TEATRO MUSICAL
Estacionamento terceirizado, pago, no
local.
Entrada próxima à Estação Villa-Lobos
- Jaguaré da Linha 9 Esmeralda.
Todas as sessões contam com
acessibilidade física e acessibilidade de conteúdo, com intérprete de Libras e
serviço de audiodescrição.
Cliente Porto tem 30% de desconto.
Desconto não cumulativo a outros descontos, limitado a 04 ingressos por CPF,
válido para todas as sessões disponíveis, exceto na Plateia Silver. Consulte o
passo a passo, para a ativação do desconto no "site" de vendas.
Cliente Vivo Valoriza tem 30% de desconto. Desconto não cumulativo a outros descontos, limitado a 04 ingressos por CPF, válido para todas as sessões disponíveis, exceto na Plateia Silver. Consulte o passo a passo, para a ativação do desconto no "site" de vendas.
Desconto meia-entrada: É obrigatória a
apresentação do documento previsto em lei, que comprove a condição de
beneficiário.
Não me canso de afirmar duas coisas: a primeira é que pode haver quem goste tanto de musicais como eu, porém não mais; a segunda é de que o ARTISTA BRASILEIRO, aqui, no caso, os que atuam em musicais, não ficam nada a dever aos estrangeiros. Não se trata de ufanismo; é a palavra de quem, modestamente, entende do assunto e já teve a oportunidade de conferir, em outros países, a encenação de musicais de renome.
Vou acrescentar uma terceira: “EVITA OPEN AIR”, parafraseando o poeta, “é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito”. E é assim que termino esta crítica, escrita em três dias de profunda dedicação, pesquisa e sentimento de dever cumprido.
FOTOS:
JOÃO CALDAS Fº
GALERIA PARTICULAR:
(Fotos: Leonardo Soares Braga e Gilberto
Bartholo.)
Inveja! Adoraria assistir essa obra!
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