“A HISTÓRIA
É UMA ISTÓRIA”
ou
(MILLÔR
SENDO MILLÔR.)
ou
(“O HOMEM É
O ÚNICO ANIMAL
QUE RI.”)
Sempre é meu desejo escrever sobre todas as peças a
que assisto e das quais gosto (Se não me agradam, se não me dizem nada,
ignoro-as apenas, com muita tristeza.), porém vivo numa luta constante contra o tempo. Esta peça,
da qual gostei bastante, não estava programada para merecer uma crítica,
por total falta de tempo. Se meu dia tivesse 48 horas... Mas o que posso
fazer? Ficar me culpando, por não ter escrito sobre ela? Isso nunca! Durmo
menos, trabalho mais, mas o prazer de poder escrever tudo de bom que o espetáculo
me proporcionou supera e compensa tudo. Ainda mais quando se trata de escrever sobre uma
COMÉDIA, gênero tão desacreditado, desprestigiado, no Brasil,
e, geralmente, com textos de mau gosto, sem a menor graça, ou apelativos, e,
pior, ainda, quando são mal montados. Uma BOA COMÉDIA, como esta é um “oásis
no deserto”.
Será uma análise que foge ao meu padrão, de dar um “mergulho
abissal”, com toda a parafernália que esse tipo de “mergulho”
requer, mas procurarei traduzir, em palavras, os motivos que me levaram a me
sacrificar, em termos de tempo e de vida pessoal, para dar forma a esta crítica.
Fui ao Teatro 2, do SESC Tijuca, para assistir,
a convite de MARIO CAMELO (PRISMA ASSESSORIA DE IMPRENSA), a uma COMÉDIA
do velho e bom MILLÔR FERNANDES, um de seus textos clássicos e
bastante encenado, desde a primeira vez, em 1976, “A HISTÓRIA É UMA
ISTÓRIA”, que, de saída, já recomendo.
SINOPSE:
“A HISTÓRIA É UMA ISTÓRIA” aborda a evolução do homem, de forma
crítica e reflexiva, com a derrubada dos mitos, questionando os ídolos e
ridicularizando os “grandes” feitos da humanidade, contados pela
ótica dos excluídos, explorados e derrotados.
MILLÔR FERNANDES faz isso com muito sarcasmo e acidez, mantendo, sempre, o velho
e bom humor, instigante e inteligente.
O poder de atração do espetáculo tem sua maior
força no encontro com o espectador, diante do reconhecimento de seu
próprio processo histórico.
Esta montagem se propõe a trabalhar a partir de um
texto narrativo e de conteúdo político-filosófico e trata de temas
atuais, como corrupção e exploração do sexo, tudo com muito
sarcasmo e ironia, alimentados pelo impagável humor milloriano.
A peça, ao contrário do que muitos podem pensar, é
uma ode à humanidade e suas pequenezas!
É uma vontade enorme de refletir sobre o homem!
O Homem tende a acreditar em todos os fatos
relatados pelos historiadores, porém muitos o fazem de forma meio cética, uma
vez que quem escreve a História não estava presente, na hora em
que o fato histórico se deu. E, como “quem conta um conto aumenta um
ponto”, nunca se pode ter a certeza da veracidade daqueles fatos. Isso
é bem diferente – que fique bem claro - de não acreditar na CIÊNCIA,
aquilo que pode, e é, provado. Chega de negacionistas estúpidos; aliás
uma redundância!!!
Sobre este seu tão festejado texto,
uma COMÉDIA muito inteligente, como tudo o que ele escrevia, e seus
pensamentos, construída em cima de fatos históricos e colocando em questão a
posição do homem na sociedade, MILLÔR, falecido em 2012, dizia
que se trata de “um pequeno apanhado de ideias, razoavelmente, idiotas,
ou, relativamente, tolas, que se foram formando em mim, em volta de mim, acima
de mim, e por aí afora, nestes últimos quatro ou cinco mil anos”.
Fato é que tudo o que MILLÔR escreveu, principalmente
este texto, com algumas adaptações, abarcando as mazelas do momento que
estamos vivendo no Brasil, numa “nau sem rumo”, nas
mãos do pior indivíduo da face da Terra que poderia comandar tal
embarcação, nunca perde a sua contemporaneidade. Quem
assina esta nova montagem é o competente e premiado diretor ERNESTO
PICCOLO, que contou com KATTIA HEIN, como sua assistente direção.
Diz o “release”, que CAMELO me enviou, que “a
comédia ‘histórico-histérica’ traz, ao palco, de forma descontraída e cheia de
ironia, uma linha do tempo, que começa na pré-história e segue até os dias
atuais, abordando a evolução do homem, de forma crítica e reflexiva”.
É, exatamente, isso, o que vemos no aconchegante e intimista espaço do Teatro II, do SESC
Tijuca. E, para ressaltar a contemporaneidade do texto, PICCOLO,
o nosso querido NECO, afirma: “Um espetáculo feérico, como propôs
o mestre MILLÔR FERNANDES. Uma retrospectiva da história, cheia de humor e
aventuras, num ritmo alucinante. Um deleite que não perde a força nem a
atualidade”. Não há como não concordar com o diretor. No que ele
chama de “ritmo alucinante”, então, com a maior certeza, já que o trio
de atores é exigido, fisicamente, ao extremo, movimentando-se freneticamente,
terminando cada sessão “aos cacos”, mas felizes, pelo excelente
trabalho executado.
É completamente desnecessário falar mais qualquer coisa sobre a delícia de texto, que arranca gargalhadas do público durante todo o espetáculo. Novidade alguma: COMÉDIA boa é para isso mesmo: texto, direção e elenco afinadíssimos. Melhor, então, é passar a falar da direção, da forma mais “enxuta” possível. Além da imensa inventividade do diretor, fruto de uma mente muito fértil e aberta, capaz de "tirar, da manga ou da cartola", soluções simples e muito interessantes, para cada momento histórico, merece um crédito especial o trabalho do elenco. NECO propôs uma maneira vertiginosa mesmo, de forma bem proposital, para contar a história da Humanidade, sintetizada em 60 minutos, e isso requer um dinamismo e um preparo físico de atletas, para BRUNO AHMED, BRUZO SUZANO e PAULA BARROS.
O trio de atores tem um desempenho excelente e bastante nivelado, por cima, demonstrando grande entrosamento, merecendo um louvor maior o ator BRUNO SUZANO, o qual, ficamos sabendo, após a sessão, ensaiou o espetáculo em apenas três semanas, enquanto seus colegas de cena já vinham trabalhando no projeto há bastante tempo. É bom que se diga que o texto é longo e só funciona como um “jogo de pingue-pongue”, no qual “um saca e outro defende”, ou como num jogo de futebol, em que a jogada vai sendo construída, dos pés de um jogador aos de outro, até a bola “morar no ninho da coruja”. Gostei muito mesmo do trio. Eu só conhecia o trabalho de BRUNO SUZANO, se a memória não me falha, mas, de agora em diante, topo, com muito gosto, rever qualquer um dos três, em outras produções.
Como estamos
vivendo “tempos bicudos” e como, dinheiro, para se fazer TEATRO,
sempre “não existe”, se ficarmos na dependência do poder público, em detrimento de fortunas roubadas, desviadas
dos cofres públicos e do que deveria ser gasto em prol da população, ou
aplicada indevidamente, em outros projetos, que rendem votos, a montagem
é bem modesta, mas, nem por isso, não deixa de ser muito interessante.
O cenário, de DIOGO VENTURIERI, se resume a cabides, onde estão pendurados acessórios que ajudarão a caracterizar os personagens históricos evidenciados, três baús, dentro dos quaais também estão acondicionados outros objetos de cena, e três banquinhos.
Os atores
vestem peças básicas, quase uma “roupa de baixo” e vão acrescentando, a elas, os detalhes, acessórios, que cada personagem exige, em sua composição.
Por várias vezes, algo tão simples, adereços de carnaval, comprados na “Casa
Turuna” ("Dá um Google", se não entender.). É tudo muito
criativo, descomplicado, entendível, transparente e facilmente identificável;
de bom gosto, contudo. MARCELA TREIGER é a responsável pelos figurinos.
GABRIEL PRIETO
não criou uma luz sofisticada, porque a peça a dispensa. Ele foi
parcimonioso e preciso, como se fazia necessário ser, no seu desenho de luz,
que funciona perfeita e adequadamente.
A peça
exige, para contribuir com o seu dinamismo, uma sonoplastia, que reúne trechos
de canções a muitos e diversos sons, o que contribui bastante, no
reforço ao humor. O responsável por isso é CYRANO DALES, que
também assina a direção musical.
Um profissional da
maior importância, nesta montagem, é ANTÔNIO NEGREIROS, responsável
por tudo o que se movimenta em cena, ou seja, os atores, aplicando o seu
talento numa excelente direção de movimento.
FICHA TÉCNICA:
Texto: Millôr Fernandes
Direção: Ernesto Piccolo
Assistência de Direção: Kattia Hein
Direção de Movimento: Antônio Negreiros
Elenco (por ordem alfabética): Bruno
Ahmed, Bruno Suzano e Paula Barros
Cenografia: Diogo Venturieri
Figurinos: Marcela Treiger
Iluminação: Gabriel Prieto
Diretor Musical e Sonoplastia: Cyrano
Sales
Direção de Produção: Bruno Ahmed e
Paula Barros
Produção Executiva: Ricardo Fernandes
Assistente de Produção: Paula Trovão e
Aline Monteiro
“Design”: Igor Ribeiro
Fotografia: Delmiro Júnior e Victor Senra
Idealização: Bruno Ahmed e Paula Barros
Realização: B&A Empreendimentos e
Cultura
SERVIÇO:
Temporada: de 05 a 29 de maio de 2022.
Local: Teatro II - Sesc Tijuca.
Endereço: Rua Barão de
Mesquita, 539, Tijuca - Rio de Janeiro.
Telefone: (21)4020-2101.
Dias e Horários: de quinta-feira a
sábado, às 19h; domingo, às 18h.
Bilheteria - Horário de
Funcionamento: de terça-feira a domingo, das 9h às 19h.
Valores dos Ingressos: R$30,00
(inteira), R$15,00 (meia entrada), R$7,50 (Credencial Plena) e Grátis (PCG).
Duração: 60 minutos.
Capacidade: 44 lugares.
Indicação Etária: 16 anos.
Gênero: COMÉDIA.
Sou um dos maiores entusiastas,
incentivadores e admiradores da COMÉDIA, porque ainda acredito que “rir
é o melhor remédio”, principalmente quando aprendemos a rir de nós
mesmos. A COMÉDIA, como já repeti, várias vezes, é um gênero teatral
de extrema complexidade, para poder funcionar, seja para quem escreve,
dirige ou interpreta. Nada mais terrível do que estar sentado numa plateia,
assistindo a algo que se propunha a ser uma COMÉDIA, porém não tem a menor
graça; não critica, não propõe reflexões nem evidencia nossos defeitos. Por
outro lado, nada mais gostoso do que assistir a uma boa COMÉDIA,
exatamente o contrário do que acabei de dizer, o que encontramos, à farta, na peça
aqui analisada.
Paula Barros.
Bruno Ahmed
Bruno Suzano.
Prestigiem o
trabalho dessa equipe e boas gargalhadas para todos!
FOTOS:
DELMIRO JÚNIOR
e
VICTOR SENRA
E VAMOS AO TEATRO,
COM TODOS OS
CUIDADOS!!!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS
DE ESPETÁCULO
DO BRASIL,
COM TODOS OS
CUIDADOS!!!
A ARTE EDUCA E
CONSTRÓI, SEMPRE!!!
RESISTAMOS, SEMPRE
MAIS!!!
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TEXTO,
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