“HAIRSPRAY
– O MUSICAL”
ou
(COM OS PÉS NO
PROFISSIONALISMO.)
ou
(ISTO NÃO É UMA CRÍTICA
COM AS MINHAS DIGITAIS.)
Começo esta crítica, justificando o último
subtítulo. Não era para eu escrever sobre este espetáculo, porque
não gosto de ser superficial nas minhas observações, como serei obrigado a agir
aqui – “Curto, mas não grosso”; muito pelo contrário. -, quando me
proponho a dissertar sobre alguma montagem teatral, entretanto, vários
motivos me levam a fugir às minhas características. E não é porque o musical
encerrou sua meteórica temporada, na última 4ª feira, 8 de dezembro
(2021), até porque há uma esperança (Creio que já uma certeza.) de que ele
voltará, em janeiro, para mais uma curta temporada, em função do enorme sucesso
que fez, lotando o Teatro Prudential, e sendo ovacionado, nas suas poucas apresentações. Também não é apenas para que fique o registro de sua existência numa
crítica a um espetáculo que, a despeito de ser uma montagem acadêmica,
“está com um pezinho” na categoria, ou no patamar, “TEATRO profissional”.
É
que o final do ano está se aproximando, eu estou muito cansado, bastante
decepcionado com algumas coisas no panorama teatral carioca, as pessoas
não estão mais a fim de ler nada, menos, ainda, crítica de TEATRO... Mas
eu resolvi escrever, porque não ficaria em paz com a minha consciência, se não o
fizesse.
Sempre prestigiei o CEFTEM, desde sua primeira montagem, e
não seria desta vez que eu deixaria de assistir a mais uma das montagens
acadêmicas deles. O nome CEFTEM, para quem não sabe, significa CENTRO
DE ESTUDOS E FORMAÇÃO EM TEATRO MUSICAL, uma escola voltada para a formação
de profissionais para o TEATRO MUSICAL, e já o fez em grande escala,
apesar de seu pouco tempo de existência. A escola reúne os melhores
profissionais especializados no gênero, com o intuito de formar artistas
altamente qualificados e capazes de atuar, com excelência, nos três segmentos
artísticos que estruturam o TEATRO MUSICAL: canto, dança e
interpretação. E atende desde os iniciantes, aqueles que descobriram que
têm interesse ou vocação para o TEATRO MUSICAL, bem como os
profissionais que desejam trabalhar nesse segmento, almejando aprofundar e
agregar valores ao cenário teatral do país.
Sua missão é “promover arte e cultura, em especial o TEATRO
MUSICAL, através da formação de profissionais altamente qualificados”.
Sua visão é “ser a mais completa instituição dedicada ao ensino
especificamente voltado para o TEATRO MUSICAL”. Seus valores
estão focados no “agir e educar de forma ética, mantendo o foco, a
progressão humana e artística”.
A consagrada atriz dos grandes musicais, CLÁUDIA RAIA, é
uma grande entusiasta e incentivadora do CEFTEM e é dela uma frase que
muito me toca e que tem tudo a ver com essa escola: “Não me falem só de
talento, e sim de estudo, dedicação e comprometimento
com o seu ofício.”.
O talento nasce com o indivíduo, já existe, entretanto precisa ser
trabalhado, lapidado, como um diamante bruto, para se tornar uma joia de grande
valor. E é aí que entra o CEFTEM, para pôr em prática a segunda parte da
frase de RAIA: “...estudo, dedicação e comprometimento com o seu
ofício.”. Eles estão lá para isso.
E por que um centro de estudos específico para TEATRO MUSICAL? Simplesmente,
porque, já há algum tempo, um pouco mais de duas décadas, no Brasil, esse gênero teatral “vem ganhando maior atenção e firmando sua estabilidade...
Essa crescente credibilidade tem gerado uma série de efeitos positivos,
principalmente a profissionalização do setor, que inclui não só atores, com a
habilidade de interpretar, cantar e dançar, mas também figurinistas,
cenógrafos, músicos, produtores, dentre outros que se beneficiam com a
efervescente geração de oportunidades de trabalho, oferecendo uma estrutura que
permite remunerar e manter estes profissionais”. Quantitativamente, ainda estamos bem distantes do que se produz lá fora, porém, em termos de qualidade,
temos material, de sobra, para competir com eles. Falta-nos dinheiro, gente que acredite em aplicar nesse negócio.
A equipe do CEFTEM é formada por REINER TENENTE, fundador
e diretor artístico e pedagógico; JOANA MENDES, sócia, diretora
financeira e produção; JOÃO FONSECA, orientador artístico; FLÁVIO
FUSCO, consultor em “marketing”; e JOÃO CASTRO, administração.
Gosto muito da proposta do musical “HAIRSPRAY” (Assisti a ele, em
montagens profissionais, dentro e fora do Brasil.), acho-o bem
alegre e divertido, embora seja, também, bastante “didático” e
útil, para mais uma fonte de denúncia contra o inadmissível e inaceitável
racismo e preconceito contra os negros – tema tristemente, sempre muito
atual -, e gostaria de já ter ido ao Teatro Prudential na sessão de
estreia, porém, infelizmente, por questões pessoais, só pude ir no dia da
última apresentação.
Não farei comentários profundos sobre cada elemento da montagem, como é meu costume fazer, mas direi o que julgo necessário para ativar, em cada um dos que me leem, o
desejo de assistir à peça quando, e se, ela voltar ao cartaz.
Antes, porém, preciso dizer que, na minha modesta opinião, em TEATRO
MUSICAL, para alguém ser considerado “BOM”, não se pode partir de 100%
e dividir esse percentual nas três áreas: canto, dança e interpretação.
Penso que, em TEATRO MUSICAL, quem que ser considerado “BOM”
precisa ser “300%,” ou seja, 100%, o melhor possível, em
cada uma daqueles “dons”. Não adianta querer compensar uma área,
agregando mais número a outra, ou outras. Um exímio dançarino tem que o
ser, também, como cantor e intérprete. Se não for assim, não dá certo.
O público nota e não gosta. “Fulano canta muito bem, mas é um péssimo
ator e ‘arranha’ na dança.”. Ou invertem as aptidões.
Ainda que pobre, em recursos
financeiros, o que vai criar limitações nos cenários, nos figurinos,
na luz, na ausência de músicos ao vivo no palco (É tudo feito em “playback”,
muito bem gravado, diga-se de passagem.), a montagem é ótima e os
trabalhos para a montagem começaram em 2019, antes da pandemia, e tiveram de ser
interrompidos, retornando, via Zoom e, posteriormente, de forma
presencial, muitos meses depois.
SINOPSE:
A história de “HAIRSPRAY” se
passa em Baltimore (Estados Unidos) no ano de 1962 e tem como
protagonista TRACY TURNBLAD, uma grande garota, com um grande penteado e
um coração maior ainda, que tem duas paixões na vida: a dança e o THE CORNY
COLLINS SHOW, um programa musical da televisão, que é a verdadeira
sensação.
Mesmo sendo fora dos padrões locais,
ela prova o seu talento e conquista uma vaga fixa de dançarina no programa.
TRACY torna-se uma
celebridade do dia para noite.
A identificação do público é imediata
e ela começa a ameaçar a hegemonia de AMBER VON TUSSLE, a estrela e
filha da produtora do “show”.
A rivalidade entre as duas fica ainda
mais acirrada, quando elas decidem disputar o mesmo garoto.
TRACY ainda vai parar na
cadeia, ao incentivar uma manifestação contra a segregação racial.
Seu pai tem de hipotecar a loja da
família, e sua mãe, deprimida, está desistindo de viver.
Mas, por ser uma comédia musical
romântica, as cortinas são fechadas após um “happy end”.
Tendo à frente o competentíssimo VICTOR MAIA, que dirigiu e
coreografou (Que coreografia!) o musical, todos foram muito
guerreiros, para levar à cena um espetáculo quase (faltou pouco) profissional, MUITO
MELHOR QUE ALGUMAS PEÇAS QUE SÃO PREMIADAS POR AÍ. VICTOR não economizou nas denúncias e nos protestos, velados ou não, contra o racismo e a gordofobia.
Reproduzo algumas palavras de REINER
TENENTE, que fez a coordenação pedagógica desta versão do musical,
sobre a proposta que o CEFTEM nos apresenta “Nesta versão,
queremos apresentar uma produção marcada pela excelência e qualidade, atributos
adequados a um musical de THOMAS MEHHAN. Desde a concepção da versão
brasileira, feita, com excelência, por MIGUEL FALABELLA, passando pelas etapas
de coordenação, desenho de som, cenografia, figurino, iluminação e montagem, o
espetáculo expressa toda a sua força cênica, que transformou a adaptação
brasileira num sucesso em 2009. Nossa montagem reúne totais condições, para se
transformar num produto cultural de grande sucesso, contribuindo, sobremaneira,
para o enriquecimento da cena cultural carioca.”. E eu acrescento,
sem nenhum medo de errar: conseguiram.
Os cenários são modestos, sim,
porém os poucos elementos utilizados em cena dão conta de distinguir os espaços
em que se dão as variadas cenas e o público percebe isso, entende e gosta. E
compreende o motivo de tal simplicidade, sim. O importante é que funciona, mesmo,
às vezes, lembrando montagens de final de ano, feitas por estudantes, em suas
escolas. Isso não apaga o brilho do espetáculo.
Os figurinos me surpreenderam,
em função da questão econômica, que é o terror desse tipo de produção.
Todos estão adequados aos personagens. Algumas peças devem ser do dia a
dia dos atores e atrizes, pertencem a seus guarda-roupas pessoais,
quero crer, mas há outras especialmente confeccionadas para a peça.
Todos os figurinos funcionam, e isso é o que interessa. Isso também não
apaga o brilho do espetáculo.
A iluminação, que depende do
equipamento do Teatro, foi muito bem aproveitada e apenas notei algmas ligeiras
falhas, acredito que mais por deslizes de quem estava operando a luz do que pelo
desenho de luz, propriamente dito. Isso, das mesma forma, não apaga,
denotativa e conotativamente, o brilho do espetáculo.
Se não há verba para se pagar a
músicos, para que estes toquem ao vivo, o que custa muito caro, paga-se, de uma
só vez, a excelenetes profissionais e grava-se um “playback” de alta qualidade
que funciona a contento, dando-nos, por vezes, a impressão de que havia músicos
ocultos por trás do cenário de fundo. Isso também não apaga o brilho do
espetáculo e ajuda muito nas interpretações das ótimas canções que formam a
trilha sonora de “HAIRSPRAY”.
O musical tem uma coreografia,
excelente, original, criada por JERRY MITCHELL, e nós temos VICTOR MAIA, para
acrescentar o toque de "brasilidade", com as "pitadinhas dos nossos condimentos". É
ótima a coreografia final desta versão.
FICHA TÉCNICA:
Baseado no filme escrito e dirigido
por John Waters
Texto: Thomas Meehan e Mark O'Donnell
Músicas: Marc Shaiman
Letra: Marc Shaiman e Scott Wittman
Coreografia Original: Jerry Mitchell
Coreografia Adaptada: Victor Maia
Versão Brasileira: Miguel Falabella
Direção Geral: Victor Maia
Assistente de Direção: Ariane Rocha e
Larissa Landim
Direção Musical: Tony Lucchesi
Coordenação Pedagógica: Reiner
Tenente
Direção de Produção: Joana Mendes
Produção Executiva: Duda Salles
Cenografia: Rodrigo Melo e Avner
Proba
Figurino: Alborina Paiva
Iluminação: Victor Maia e Thayssa Carvalho
Visagismo: Kaike Rocha e Caio Godard
Fotos: Paulo Aragon
Assessoria de Imprensa: Ribamar Filho
ELENCO (Em ordem alfabética; são dois
elencos alternantes.): Alborina Paiva, Alex Cabral, André Marinho, Ariane
Rocha, Avner Proba, Bela Quadros, Carol Donato, Cris Mont, Elis Loureiro,
Gabriel Barbosa, Giovanna Sassi, Hellen Cabral, Isadora Foeppel, Larissa
Fernandes, Larissa Venturini, Léo Araujo, Léo Villar, Lucia Sanuto, Luiza
Lewicki, Marcelo Vittória, Maria Antônia Ibraim, Maria Clara Soledade, Mickael
Ramos, Nathan Leitão, Pedro Mondaine, Priscila Araújo, Renata Pinheiro, Roberta
Galluzzo, Rodrigo Melo, Ruan Guimarães, Sara Chaves, Suellen Lima, Valléria
Freire
Elenco que atuou no dia
em que assisti ao musical (Se voltar ao cartaz, pretendo rever a peça
com o outro elenco.):
E, para terminar, quero prestar minha
homenagem e meu agradecimento ao fabuloso naipe de ARTISTAS (Eu assim já os
considero.) que pisaram as tábuas naquela noite, acrescentando que de 80%
a 90% deles estão preparados para subir num palco profissionalmente. Não
vou citar nomes, porque não conheço todos, mas tenho os meus destaques e acrescento que eu os contrataria,
sem pestanejar, após audições, para saber a quem deveria caber um determinado personagem.
Só para isso, seriam submetidos a audições.
Parabéns ao CEFTEM, a REINER TENENTE, a JOANA MENDES, a VICTOR MAIA, a TONY LUCHESI e a todos os amigos de lá, envolvidos no projeto!
E VAMOS AO TEATRO,
COM TODOS OS CUIDADOS!!!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO
DO BRASIL,
COM TODOS OS CUIDADOS!!!
A ARTE EDUCA E CONSTRÓI, SEMPRE!!!
RESISTAMOS, SEMPRE MAIS!!!
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