LUPITA
(E VIVA LA MUERTE!
E VIVA LA VIDA TAMBIÉN!
E VIVA O TEATRO
INFANTOJUVENIL!!!)
Levando-se em conta a quantidade de peças a que
assisto, por semana, a qualidade, infelizmente, quase sempre duvidosa, da
maioria dos espetáculos infantojuvenis e minhas outras ocupações, quando
me proponho a escrever sobre uma montagem voltada para os pequenos, é
porque ela variou, na minha escala de avaliação, de BOA a OBRA-PRIMA.
No caso desta, sobre a qual me proponho a escrever uma apreciação crítica,
não tenho a menor dúvida em classificá-la, dentro do seu nicho, no topo da
minha escala: OBRA-PRIMA.
A peça em questão chama-se “LUPITA” e está
em cartaz no Centro Cultural OI Futuro (OI Futuro Flamengo) (VER SERVIÇO.).
Se, na maioria das vezes, saio triste e frustrado de um Teatro
– mas não deixo de ir ao máximo que me é possível-, após ter assistido a
uma peça infantojuvenil, por outro lado, quando me deparo com uma encenação
de altíssimo nível, cuidadosamente produzida, visando a oferecer um espetáculo
da melhor qualidade a um público que está em formação (Eles serão os
espectadores do futuro.) e a seus acompanhantes adultos também, sem
subestimar sua inteligência e bom gosto, aplaudo-a com todo o meu vigor e
entusiasmo, e isso me faz acreditar que ainda existem artistas que
respeitam os pequenos e se preocupam em preservar o BOM TEATRO INFANTOJUVENIL.
Foi com muita alegria que vibrei e me emocionei com “LUPITA” e é com o
mesmo entusiasmo que escrevo sobre o espetáculo.
A
peça, além de belíssima, é, no mínimo, de uma “ousadia” incomensurável,
uma vez que a autora do texto, e, também, sua diretora, FLÁVIA
LOPES, teve a coragem de tocar num tema que sempre foi, é e continuará
sendo um grande tabu, que é a morte. É muito difícil entender e aceitar
o fato de que, um dia, todos deixarão e existir. Falar de morte entre, ou para,
adultos, já é bastante complicado. E quando o público-alvo são as crianças,
pré-adolescentes e adolescentes? Mas, para tudo, há um jeito, e FLÁVIA
foi buscar, como inspiração, a cultura mexicana, na qual a morte é
encarada de forma totalmente oposta à nossa maneira de vê-la e senti-la.
Diferenças culturais; apenas isso.
Antes
de dar início à minha modesta análise crítica, com relação a “LUPITA”,
julgo ser necessário e importante, para o espetáculo seja bem entendido,
falar um pouco sobre a maneira como o povo mexicano encara a morte e se
apropria dela, para, paradoxalmente, valorizar e celebrar a vida. Para tanto,
vali-me de uma profunda pesquisa – espero não ser enfadonho – tomando
por base, principalmente, a Wikipédia, com cortes e adaptações, além de
outras fontes.
Guardadas
as devidas proporções, porém com bastante semelhança, podemos dizer que a festa
dos mexicanos, no dia 2 de novembro, “Dia de Finados”, para nós, “El
Dia de los Muertos”, para eles, nos remete ao carnaval brasileiro,
por mais que isso possa parecer estranho ou absurdo, para quem ainda não tinha
conhecimento desse fato. No México, morte é sinônimo de festa, um dado
da cultura mexicana que vem, provavelmente, de um sincretismo entre crenças
católicas e mesoamericanas, remontando à era pré-colombiana, antes, portanto,
da chegada dos espanhóis, o que se pode comprovar por meio de vasto material
arqueológico encontrado em escavações de cerca de 3.000 anos.
SANTA MUERTE é uma figura sagrada, venerada no México,
representada por um esqueleto, para lembrar às pessoas,
principalmente as ricas e “poderosas”, da alta sociedade, que todos somos mortais,
enfeitado com adereços, como terços e rosários, elementos do catolicismo. Ela
vem vestida com um longo manto (Imaginem um esqueleto sob um manto!),
carregando um ou mais objetos, normalmente uma foice e um globo. Aquela simbolizando o instrumento que ceifa vidas; este, para mostrar,
talvez, que ela está em qualquer parte do planeta e ninguém dela escapa. A
morte é “democrática”. (Tentando ser engraçado. Só tentando.) Por ser
clandestino, até pouco tempo, o culto à SANTA MUERTE se dava, por meio
de preces e outros rituais, dentro das casas, às escondidas. A partir das duas
últimas décadas, ou um pouco mais atrás, ainda que sem a aprovação do Vaticano,
a veneração à “SANTA” tornou-se
mais pública, especialmente na Cidade do México. Esse culto, no país, está firmemente entranhado nas tradições das classes
baixas e marginalizadas do México e, a
cada dia, aumenta o número de fiéis à SANTA MUERTE, talvez por uma
questão, também, de “subveter” a ordem, desobedecer ostensivamente. É uma celebração
que honra os falecidos; existe, para que todos cultuem as lembranças dos seus
mortos, com alegria, valorizando os bons momentos que privaram com eles.
Santa Muerte.
La Catrina.
É uma das festas mexicanas mais
animadas. Reza a lenda que os mortos vêm visitar seus parentes. Ela é festejada
com comida, bolos, festa, música e doces preferidos dos falecidos; os das
crianças são as caveirinhas de açúcar. Segundo a crença popular, nos dias 1º
e 2 de novembro, os mortos têm permissão divina para visitar parentes e
amigos, motivo pelo qual as pessoas enfeitam suas casas com flores, velas e
incensos, e preparam as comidas preferidas dos que já partiram, além de fazerem
máscaras de caveira, vestirem roupas com esqueletos pintados ou se fantasiarem de
“morte”. Famílias inteiras vão aos cemitérios, com cerveja e
comida, que são decoradas com muitas flores de outono, bem coloridas e
semelhantes ao girassol. Há, inclusive, familiares que contratam “mariachis”
(Explicação mais adiante.) e trios especializados em ir cantar nas tumbas, para
“animar” o ambiente. (Seriam uma espécie das nossas carpideiras, ao
contrário. Eles cantam com alegria; elas com tristeza.).
Encarado de forma mórbida,
pela maioria das culturas, o dia de venerar os mortos, no México,
representa o momento de “reencontrar” os que já se foram, sem nenhum
medo. Acredita-se que todos retornam do além, para uma visita regada a comida,
bebida e dança, sobre as lápides dos cemitérios. As celebrações começam em 1º
de novembro, quando se comemora o “Dia de Todos os Santos”. De
acordo com a crença local, nesse dia, as almas das crianças retornam. É por
isso que as ruas são tomadas por uma meninada, que não tem medo de maquiagem
carregada e fantasias de personagens um tanto assustadores. Levadas pelas mãos
dos pais, imitam vampiros, múmias, bruxos e personagens de filmes de terror.
Muito parecido com a festa do “Halloween”, o “Dia das Bruxas”.
No dia seguinte, quando as almas dos mais velhos voltam a esta dimensão, os
adultos repetem o ritual.
Não há festa completa sem
alguns itens “de primeira necessidade”, para os mexicanos. O mais onipresente
deles é o altar (Os dois que existem, no cenário da peça, ocupando as duas
laterais do palco, são verdadeiras obras de arte. Sobre eles, falarei no
momento oportuno,). Construído em três níveis, está sempre perto de uma
janela, “para facilitar a entrada dos mortos”. Os copos d’água servem para
acalmar a longa viagem dos espíritos, que se guiam pelo perfume de uma flor de
pétalas alaranjadas, a “cempasúchil”, também
conhecida como “cravo-de-defunto”, de um amarelo intenso. Para
agradar aos homenageados, comidas e bebidas de sua preferência também são
ofertados, além de velas, plantas e fotos. Os altares não são erguidos apenas
nas casas. Em lojas, museus e, até mesmo, em escritórios, uma mesa é sempre
destinada às oferendas. As ruas e os monumentos, especialmente estátuas e
bustos, são cercados por cruzes, velas e flores. Tal como acontece no Brasil,
por ocasião das festas juninas, os espaços são enfeitados com bandeirinhas
típicas, geralmente feitas em papel de seda. A diferença é que, no México,
esse material é recortado em grafias alusivas a caveiras, imagem-símbolo de
toda a festança, com perfurações, formando desenhos. Esses orifícios no papel,
acreditam os fiéis, permitem que as almas passem através da celulose. Em todos
os lugares, é possível encontrar o “pan de muertos” (“pão dos mortos”),
geralmente assado em formato de coração, jacaré ou borboleta, e recoberto por
uma camada de açúcar cristalizado.
Nesse período, os brindes
mais comuns são as caveirinhas de açúcar, também feitas de chocolate ou
amaranto, um tipo de grão, baseadas no esqueleto de uma mulher, batizada de LA
CATRINA, envergando um chapéu pomposo e distintivo da alta sociedade,
lembrando que a morte anula qualquer diferença social. Em trajes e materiais
diferentes, as miniaturas da musa controversa dominam as lojas de presentes do
país e é difícil voltar para casa sem uma caveirinha na bagagem. As “catrinas”
também inspiram fantasias e concursos.
Uma outra semelhança com o
nosso carnaval é que, como aqui, nem os políticos e as pessoas que ocupam a
vida pública escapam da “brincadeira” e das críticas. As caveiras políticas
tratam de criar epitáfios ou rimas que ironizam a situação do país. No México,
em vez de flertar com a melancolia, seus habitantes andam de mãos dadas com o
grande mistério que começa quando a vida se extingue.
Como, em toda festa, não
pode faltar música, ao celebrar a vida, por meio da morte, uma presença
marcante, nos eventos, é a dos “mariachis”, um grupo de músicos,
formado, geralmente (o mais típico), por até oito violinos, duas
trombetas e, pelo menos, um violão, incluindo uma “vihuela”
estridente e um baixo acústico, chamado “guitarrón”. Os músicos
não apenas tocam, mas, também, cantam. “Mariachi” também significa um
tipo de música típica mexicana, que remonta a, pelo menos, o século XVIII,
passando por evoluções, até os nossos dias.
As crianças estão familiarizadas
com o tema. Por
isso há até desenhos animados que explicam o “Dia dos Mortos”. Elas
também recebem um presente por esta data, chamado de “calaverita” (caveirinha).
Dando início, propriamente, à análise
da peça, não posso deixar de começar falando da estupenda produção do
espetáculo. Não houve economia, em nada; pelo menos, no que concerne a talento,
bom gosto e criatividade. Ouso dizer que é uma das mais ricas,
se não a mais, não sob o ponto de vista econômico, produções voltadas
para o público infantojuvenil que já vi até hoje. É uma daquelas em que,
por mais que se tente encontrar, com o auxílio de uma gigantesca lupa, um erro,
um excesso ou uma ausência, será perda de tempo, porque tudo é perfeito e
funciona a contento.
SINOPSE:
Para evitar
que a DONA MUERTE dançasse com o seu avô (MÁRCIO NASCIMENTO),
durante a tradicional festa do “Dia dos Mortos”, o que significaria que
ele seria o próximo a ser levado por ela, LUPITA (MARISE NOGUEIRA), uma
agitada menina de 10 anos, imagina uma mirabolante rota de fuga, para
escapar com ele, que, além de seu avô, é seu melhor amigo, para bem
longe do vilarejo de SAN MIGUEL DEL CORAZÓN, no interior do México, o fictício lugar em que se passa a
história.
Inspirada na
cultura e nas cores mexicanas, a montagem, de formas animadas, se
utiliza de máscaras, bonecos, objetos manipulados, projeções e luz negra,
interagindo com as linguagens do TEATRO, da palhaçaria, da música
e da poesia, para falar do tema mais misterioso da vida, e o mais temido:
a morte.
O texto flui naturalmente
e vai, desde seu início, prendendo a atenção do público. Assisti à peça
no dia de sua estreia, 29 de fevereiro (2020), e revi-a no segundo
sábado da temporada, 7 de março, por dois motivos: em primeiro
lugar, porque adorei o espetáculo; em segundo, para observar detalhes
– e olha que são muitos - que não tive a oportunidade de anotar, quando fui
apresentado a “LUPITA”. Nas duas vezes, fiz algo que gosto muito de
praticar, quando estou na plateia de um espetáculo infantojuvenil: observar
as reações dos pequenos. Vi olhinhos atentos, brilhantes, curiosos,
embevecidos, e “ouvi um silêncio” quase sepulcral, em ambas as vezes. Todos
muito atentos ao que viam e ouviam. Ninguém assustado. Tudo o que eu escrevi, lá em cima, sobre o
que representa a morte, na cultura mexicana, está no texto,
de uma maneira simplificada, quase didática, e, ao mesmo tempo, de forma lúdica
e poética, traduzida pelos diálogos e detalhes, na encenação, inseridos
pela diretora. A história é contada em dois planos: por meio de diálogos
e de trechos narrativos, feitos por LUPITA, no proscênio.
Segundo FLÁVIA LOPES, autora
e diretora da peça – texto extraído do “release”
que me foi enviado por LYVIA RODRIGUES (AQUELA QUE DIVULGA – ASSESSORIA DE
IMPRENSA) – “‘LUPITA’ é uma história sobre o amor. A minha
motivação nasceu do meu olhar sobre a própria vida, das perdas que vi e vivi.
Da dificuldade em ver adultos lidando com situações de dores e perdas com suas
crianças. Como artista e professora de TEATRO, é importante poder criar um
espetáculo teatral que me atravesse e possa exercer em cena um tema tão
delicado. ‘A vida tem dessas coisas’ e é sobre essas coisas que precisamos
falar”. Ao falar de sua motivação para escrever a
peça, FLÁVIA funciona como uma porta-voz de todos nós, que já
vivenciamos, uma ou muitas vezes, a dor da perda de um parente, um amigo, um
ente querido...
Para dar forma a seu texto, FLÁVIA
bebeu em muitas excelentes fontes: o programa do Chaves/Chapolin, as
novelas mexicanas, os contos e lendas indígenas mexicanos, as músicas e as
obras de artistas como Frida Kahlo e Diego Rivera e do artesão Pedro
Liñares Lópes (1906 – 1992), que criou, no século XX, os
folclóricos alebrijes, figuras
feitas de papelão, camadas de papel machê e tiras de de jornal, pintadas com
cores quentes, berrantes, as quais representam algum animal fantástico. Além disso, contou com uma consultora
da pedagoga Alessandra Gracio, professora de educação infantil no México,
e também retirou elementos de conversas com famílias mexicanas.
Com o objetivo de chamar a atenção
dos que me leem, acerca das fortes pinceladas de poesia, utilizadas, na peça,
para justificar e explicar o sentido da morte, depois de muito me questionar,
se deveria ou não fazê-lo, optei por não privá-los de umas boas linhas
retiradas do excelente “release” a que já me referi.
“Em
um México imaginário, a menina LUPITA, de 10 anos, faz parte de uma
família muito parecida com tantas outras famílias. Ela vive com a sua mãe e seu
avô, que também é o seu melhor amigo. LUPITA a adora ouvir as histórias dele,
principalmente de quando ele era bem pequeno, do tamanho de um botão, que cabe
na palma da mão. Com seu avô, ela aprendeu a ouvir e a contar histórias.
Aprendeu, também, que tudo é música - até o silêncio - e que ‘nada é
impossível, para quem tem imaginação’. A sua jornada começa com a tradicional
festa do ‘Dia Dos Mortos’, que acontece, todos os anos, no Vilarejo de San
Miguel del Corazón, mas que, naquele ano, seria diferente e mais especial, por
ser o primeiro ano da partida de seu avô. A encenação é uma viagem pela memória
de LUPITA, quando o público se torna cúmplice de suas lembranças, entre
presente e passado.
Antes
de ‘virar passarinho’, o avô de LUPITA a presenteia com um livro em branco,
para que ela escreva suas próprias histórias, a partir de sua memória e
imaginação. Dito e feito, a menina desenha uma mirabolante rota de fuga, para
escapar com seu avô, evitando, desta forma, que a DONA MUERTE dance com ele,
durante os festejos do ‘Dia dos Mortos’.
Não
foi possível evitar o inevitável, mas, para aceitar o desejo de seu avô, de
seguir o curso da vida, foram necessárias muitas folhas, para que a pequena
heroína descobrisse que ‘o amor nunca morre’ e que ela e seu avô estarão unidos,
para sempre, nas memórias e nas histórias que viveram juntos.”.
A extensa lista de nomes, dos mais
conceituados profissionais de TEATRO, que consta na ficha técnica da
peça já seria suficiente para atrair qualquer pessoa à plateia. É muita
gente competente envolvida no projeto, numa profunda comunhão de
empenhos, para que a excelência fosse atingida, como, de fato, ocorre.
Não sendo necessário acrescentar nenhum
comentário ao excelente texto de FLÁVIA LOPES, falemos dela na função
de diretora do espetáculo. O fato de ser a própria dramaturga
já lhe confere liberdade total para dirigir a peça. Creio que essa concepção
artística já deve ter começado a se formar, em sua mente, à medida que ia
escrevendo cada cena, o que foi sendo, depois, aprimorado com o concurso dos
outros artistas de criação, os quais foram sendo agregados ao “audacioso”,
no bom sentido, projeto. A direção é impecável, seja pelas
marcações, seja pela exploração exata de cada detalhe do texto, seja
pela condução do trabalho dos atores, seja por todas as soluções
empregadas em cada cena, contando, repito, com a participação e colaboração de
seus outros criadores. É bastante interessante e providencial a cena que abre o espetáculo,
quando um trio de “mariachis” adentra o auditório, cantando e
interagindo com o público. Ali já começa a se formar a cumplicidade que deve
existir entre palco e plateia, e que permanece até o fechar do pano. Várias
outras cenas de destaque poderiam ser citadas, como a do “voo de LUPITA
com seu avô” ou a “viagem de barco dos dois”, mais a da aparição de CATRINA,
a do aprisionamento do pássaro Ilo e sua imediata soltura, a de quando o
avô vira passarinho e voa para o céu...
FLÁVIA é uma referência e
unanimidade, no universo do TEATRO INFANTO JUVENIL, tendo fundado importantes
companhias (Os Sanzussô – Povo de Teatro, a Cia. Dos Bondrés e o
Atelier Gravulo) e conquistado muitos prêmios e indicações a,
como dramaturga, diretora e atriz, além de atuar em peças
“para adultos” e de exercer suas pesquisas na linguagem de TEATRO de Formas
Animadas, Palhaçaria, Bufonaria e Comicidade.
Grande admirador que sou da cultura
mexicana, que conheço “in loco”, um apaixonado por ela, em
todos os seus representantes artísticos e culturais (Viva Frida Kallo! Viva
Diego Rivera! Viva el México!) e em tudo, de uma forma geral, fiquei
extasiado, tão logo adentrei a plateia e vi o magnífico cenário, já
exposto. Não tenho a menor dúvida de que CARLOS ALBERTO NUNES merece, no
mínimo, indicações a prêmios de TEATRO, por esse fantástico trabalho. No
fundo do palco, apenas um tecido, esticado, para receber projeções. O espaço
cênico, propriamente dito, é completamente livre, entretanto o que se vê, na boca
de cena e no proscênio é de fazer chorar, de emoção. Nas duas
laterais do palco, indo do chão ao limite da altura da referida boca, há dois
altares, como os descritos, alguns parágrafos acima, “et similiter”
(da mesma forma), sem faltar um detalhe, inclusive fotos dos “nossos entes
queridos falecidos”; no caso, de artistas que contribuíram para
construir e escrever a história do TEATRO INFANTOJUVENIL no Brasil,
sendo que, ao final de cada sessão, um deles é homenageado, com seu nome
lembrado e a projeção de sua imagem, no fundo do palco, enquanto todos do elenco
o reverenciam, ao som dos aplausos da plateia. Muito emocionante!!! No
dia da estreia, o homenageado foi Ilo Krugli; na segunda vez em que vi a
peça, foi Monica Botafogo Selig (Que lindo gesto de
homenagem!). São duas peças deslumbrantes, que eu não pensaria duas vezes
em adquirir, pelo menos uma, para decoração em minha casa. Não estou exagerando
mesmo, pois é uma obra de arte. Ligando os dois, pelo alto, uma espécie
de portal, feito com centenas das já citadas flores dos mortos (“cempasúchil”,
também conhecida como “cravo-de-defunto”, de um amarelo intenso), no
qual há quatro máscaras da SANTA MUERTE. Esta também aparece, em forma
de estátuas, não em tamanho natural, mas bem grandes, nas duas laterais do
palco. Também gostaria de ter uma na minha decoração de casa. E não estou
exagerando – repito. Arrumados, no proscênio, mais propriamente, na ribalta,
conjuntos de velas e arranjos florais, muito coloridos. A cenografia se
estende à plateia, na forma de cordões com bandeirolas e gambiarras,
com pequenas lâmpadas coloridas, como se estivéssemos num quintal ou em um
ambiente externo da vila, num daqueles dias de festa. Um deleite total para
os olhos! E tudo totalmente relacionado ao tema explorado na
peça.
NUNES
assina, também, os figurinos, da mesma forma, dignos de indicações a prêmios
de TEATRO, por sua beleza e fino acabamento, reproduções fiéis do trajes
típicos do povo mexicano do interior, peças ricas em detalhes de aplicações e
bordados, todas, como não poderia deixar de ser, exageradas nas cores. O traje
vestido pela SANTA MUERTE, ou CATRINA, por exemplo, na cena em
que ela aparece, para dançar com o avô de LUPITA, é,
simplesmente, genial, realçado pela luz negra, que faz parte do conjunto
de iluminação, próximo elemento a ser apreciado. Antes, porém, um “viva”
às máscaras e adereços confeccionados, a muitas mãos, para o espetáculo
(Observar na ficha técnica.).
Um espetáculo como este exige
uma luz vibrante, colorida, aprofundada na paleta de cores, imposições,
sabiamente, seguidas por ANA LUZIA MOLINARI DE SIMONI. A luz negra
não é muito utilizada, em TEATRO, porém, aqui, tinha que aparecer, para
ajudar na criação de cenas nas quais os atores manipuladores,
completamente vestidos de preto, não poderiam ser vistos, e os bonecos e
objetos manipulados tinham de ganhar um grande realce, em tintas fosforescentes,
o que é totalmente alcançado. Fora isso, todas as cenas ganham cores e
intensidades afinadas, ajustadas às exigências da narrativa cênica.
Quanto
ao elenco, todos, revezando-se - a maioria dos atores - em mais
de um personagem, várias vezes, com rapidíssimas trocas de figurinos,
se entregam, de corpo, alma e coração, às figuras que representam, de sorte que
o conjunto do trabalho me leva a sugerir, se houvesse, em algum prêmio de TEATRO
carioca (Acho que há num deles, apenas, mas não estou certo.) a categoria “elenco”,
que este grupo fosse indicado. MARISE NOGUEIRA está excelente, como a protagonista.
LUPITA é o diminutivo de Guadalupe, nome muito comum, no México
e na Espanha, em homenagem à Virgem de Guadalupe, Nossa Senhora de Guadalupe (Nuestra Señora de
Guadalupe), Padroeira do México e da América. MÁRCIO NASCIMENTO, como sempre
perfeito no que faz, é um delicioso avô (É tratado, apenas, como “avô”, anônimo, de propósito, por parte
da autora, para marcar bem o arquétipo.), daqueles que todos
queriam ter. Como não tive a oportunidade de conhecer nenhum dos meus dois, que
faleceram antes de eu vir ao mundo, enxergo, no personagem de MÁRCIO,
o “vô” com o qual sempre sonhei e que procuro ser, para os meus três
netos. Aquele avô me emocionou demais. Nos papéis coadjuvantes –
não me canso de repetir: os personagens; não os atores – aplaudo, com o
mesmo entusiasmo como aplaudi neta e avô, ALINE MOROSA
(ROSÉLIA, irmã gêmea de ROSITA, e MARIACHI DOM CARMELO), CAIO
PASSOS (ANGELINA e MARIACHI MURILO), GABRIELLY VIANNA (ROSITA,
irmã gêmea de ROSÉLIA, e MARIACHI BOLAÑOS, uma merecida homenagem a
Roberto Bolaños, o eterno Chaves / Chapolin Colorado.) e MARIA
ADÉLIA (MÃE DE LUPITA – não identificada por um nome próprio, também para
marcar o arquétipo; sempre chamada de “mamita” - e CATRINA). Um
detalhe que ficou marcado, para mim: a caracterização da mãe lembra
muito a figura de Frida Kallo, uma das grandes paixões da minha vida.
Como
poderão constatar abaixo, e eu já me referi a isso, a ficha técnica
é extensíssima, porém não posso omitir alguns nomes, os quais, com seu talento
e profissionalismo, também contribuem para o sucesso deste impecável
espetáculo, como, por exemplo, de todos os que participaram da confecção
dos muitos adereços e dos bonecos, habilmente manipulados (Verificar
na FICHA TÉCNICA.), assim como o de GUILHERME FERNANDES,
importantíssimo, na criação dos videografismos, que ilustram, correta,
precisa e lindamente, muitas das cenas; o de VERÔNICA MACHADO, na preparação
de voz; o de MONA MAGALHÃES, responsável pela criação da perucaria;
e dois nomes, responsáveis pela ótima direção musical: KARINA NEVES
e JONAS HOCHERMAN, os quais nos brindam com uma trilha sonora,
contendo peças do cancioneiro mexicano, incluindo várias vinhetas com
gravações de “mariachis”, sem falar no emblemático “Cielito Lindo”,
uma espécie de “hino da despedida”, escrita em 1882,
por Quirino Mendoza y Cortés (“Ay, ay,
ay, ay, / Canta y no llores, / Porque cantando se alegran,
/ Cielito lindo, los corazones.” – “Ai, ai, ai, ai, / Canta e não chores,
/ Porque cantando se alegram, / Cielito lindo, os coraçõs.”). No Brasil, esse refrão ganhou outra versão: “Ai,
ai, ai, ai, / Está chegando a hora, / O dia já vem raiando, / Meu bem, tenho que
ir embora.”.
FICHA TÉCNICA:
Dramaturgia e
Direção: Flávia Lopes
Assistente de Direção:
Tatiane Santoro
Direção
Musical: Karina Neves e Jonas Hocherman
Atuação:
Atores\Personagens (por ordem alfabética):
Aline Marosa -
Rosélia e Mariachi Don Carmelo
Caio Passos -
Angelina e Mariachi Murilo
Gabrielly
Vianna - Rosita e Mariachi Bolaños
Márcio
Nascimento - Avô
Maria Adélia –
Mãe e Catrina
Marise
Nogueira - Lupita
Cenografia e Figurinos: Carlos
Alberto Nunes
Cenógrafa e Figurinista
Assistente: Arlete Rua
Estagiária de Figurino
e Adereços: Duda Costa
Estagiária de Cenografia
e Adereços: Letty Lessa
Costureiras: Carla
Costa e Meraki Ateliê
Cenotécnico: Marcos
Souza
Iluminação: Ana
Luzia Molinari de Simoni
Iluminador Assistente: João
Gioia
Montagem: Juca
Baracho e João Gioia
Estrutura de Bonecos: Márcio
Newlands
Finalização de
Bonecos: Maria Adélia e Luciana Maia
Alebrijes,
Lupitinha e Pássaros: Maria Adélia e Luciana Maia
Máscaras: Flávia
Lopes, Maria Adélia e Marise Nogueira
Videografismo: Guilherme
Fernandes
Preparação
vocal: Verônica Machado
Assistente de Preparação
Vocal: Tamara Innocente
Oficina de Canto:
Taiana Machado e Roberta Jardim
Perucas: Mona
Magalhães
Músicos de Estúdio:
Renata Neves -
violino e viola
Pedro Franco -
violão e bandolim
Aquiles Moraes
- trompete
Gravação e
sonoplastia: Yuri Villar
Operação de
som: Paulo Mendes
Operação de
luz: João Gioia
Operação de
vídeo: Guilherme Fernandes
“Designer
gráfico”: Guilherme Fernandes
Assessoria de
imprensa: Lyvia Rodrigues (Aquela que Divulga)
Mídias
Sociais: Guilherme Fernandes
Fotógrafo:
Rodrigo Menezes
Coordenação
Administrativa Financeira: Estufa de Ideias
Assistente de
produção: Luciano Lima
Produção
executiva: Fernando Queiroz
Direção de
Produção: Bárbara Galvão, Carolina Bellardi e Fernanda Pascoal (Pagu Produções
Culturais)
SERVIÇO:
Temporada: De 29
de fevereiro a 12 de abril de 2020.
Local: Centro
Cultural Oi Futuro (OI Futuro Flamengo).
Endereço: Rua
Dois de Dezembro, 63 – Flamengo – Rio de Janeiro (Próximo à estação Largo do
Machado, do metrô).
Telefone: 3131-3060.
Dias e Horários: Sábados
e domingo, às 16h.
Valor dos ingressos:
R$30,00 (inteira) e R$15,00 (meia entrada).
Classificação
Etária: Livre.
Duração: 60 minutos.
Lotação do Teatro: 63
pessoas.
Gênero: Teatro
Infantojuvenil.
(Obra “El Jarabe en
Ultratumba”, de José Guadalupe Posada)
No fechamento desta crítica,
é importante que se dê um crédito ao OI Futuro, na pessoa de Roberto
Guimarães, seu Gerente-Executivo de Cultura, por ter acreditado
tanto neste vitorioso projeto e por tantos outros espetáculos de
altíssimo nível, que vêm sendo apresentados naquele espaço, desde sua
criação.
Agora, só me cabe uma pergunta: O que está faltando para que você corra ao Centro Cultural OI
Futuro, e se deixar emocionar, voltar a ser criança, com esta excelente
montagem, que RECOMENDO MUITO?!
Dia de estreia. (Eu, na ponta esquerda, segunda fila.)
(FOTOS: RODRIGO MENEZES )
E VAMOS AO TEATRO!!!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!
A ARTE EDUCA E CONSTRÓI!!!
RESISTAMOS!!!
COMPARTILHEM ESTE TEXTO,
PARA QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO BRASILEIRO!!!
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