quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

ARIGÓ

(A SAGA DE UM HERÓI DESCONHECIDO.
ou
UM SONHO NA CABEÇA E UM DESTINO NAS MÃOS.)




            Muitas vezes, agrada-me um espetáculo teatral, gostaria muito de poder dedicar-lhe uma crítica, porém, por falta de tempo, não consigo escrever sobre todos. Algumas vezes, mesmo a peça já tendo cumprido sua temporada, sinto-me inclinado, quando me sobra alguma folga, na agenda, a escrever sobre ela, como estou fazendo agora, com relação a “ARIGÓ”, um solo que estava em cartaz no Teatro Maria Clara Machado (Planetário da Gávea) e sobre o qual penso que merecia uma temporada maior, num Teatro mais bem cuidado e mais bem localizado.









            “ARIGÓ” é um espetáculo muito interessante (Confesso que não esperava tanto. E isso é bom, quando acontece.), baseado na história dos “soldados da borracha”, personagens reais da Segunda Guerra Mundial, montagem viabilizada em função de uma campanha, via “crowdfunding”, a qual continua no ar, no site https://www.vakinha.com.br/vaquinha/espetaculo-arigo, visando a uma nova temporada, no Rio de Janeiro, e a viagens, que já estão sendo negociadas pela produção, “com a cara e a coragem”, sem patrocínios.




    

        O texto é assinado por EZEQUIEL VASCONCELLOS, que, também é o ator da peça, cujo trabalho eu não conhecia e de quem me tornei um admirador; um mineiro, de Brumadinho, hoje, radicado no Rio de Janeiro. Este é seu primeiro monólogo.  






O tema escolhido pelo dramaturgo foi uma abordagem de algo que faz parte, quase esquecida, da história do Brasil. ZECA, como é tratado pelos amigos, mergulha no  universo dos “soldados da borracha” (os “arigós”), homens que migraram, para o norte do Brasil, na década de 1940, para trabalhar na indústria da borracha, focada, então, na exportação, para fins bélicos, durante a Segunda Guerra Mundial. A peça teve sua estreia nacional em Belo Horizonte, no Teatro João Ceschiatti – Palácio das Artes.








SINOPSE:

O espetáculo "ARIGÓ" conta a jornada do jovem LÁZARO (EZEQUIEL VASCONCELLOS), que, após perder seu irmão mais velho, se vê diante da missão de cuidar da sua família, na aridez do sertão brasileiro.

Com a proposta de ir para o   norte do país e integrar a Força Armada, com o intuito de contribuir no fornecimento da borracha, para a Segunda Guerra Mundial, LÁZARO alista-se no Exército Brasileiro, contra a vontade dos pais, e embarca, em uma aventura, para a Amazônia, com a promessa de que, ao fim da guerra, retornaria, aposentado, como soldado.

Sonhando ser reconhecido como herói, por sua família e por sua pátria, o jovem se submete a condições precárias e imensos desafios, desde a viagem de navio até os perigos da floresta.

No campo subjetivo, LÁZARO trava suas próprias lutas internas, durante sua jornada, levando-o a rever seus sonhos e sua história.

Nessa saga, o protagonista passa por momentos de perigo e outros que ficariam indeléveis na sua memória afetiva.









Para dar forma à dramaturgia, ZECA se apoiou na sua própria experiência de migrante, ele que, ainda criança, saiu, com a família, do interior de Minas Gerais rumo a Rondônia, onde travou contato com os locais, dos quais passou a ouvir as antigas histórias sobre os “arigós”. Ficou sabendo, por exemplo – e creio que eu e todos da plateia também -, que houve uma certa participação do Brasil, na Segunda Guerra Mundial, ao apoiar os Estados Unidos da América, no fornecimento da borracha amazônica, para a Guerra. Tomou conhecimento de que, em 1942, dezenas de milhares de homens deixaram suas casas e famílias, rumo ao norte do Brasil, para servir a seu país. Um exército de homens, os quais ficaram conhecido como os “soldados da borracha”.






O espetáculo é carente de recursos técnicos e grandes aparatos, com relação aos elementos de criação, o que acaba sendo, perfeitamente, compensado pelo tripé de sustentação de um bom espetáculo de TEATRO: texto, direção e interpretação.






O texto, como eu já imaginava, depois de ter lido o "release", a mim enviado por FELIPE PORTO, um dos produtores do espetáculo, é, basicamente, narrativo, com algumas raras inserções de rápidos diálogos, nos quais o ator interpreta seus interlocutores. Tem uma linguagem bem simples, fácil de ser assimilada, envolvente, não permitindo que o espectador divague e deixe de se interessar pela história e de acompanhar a brava jornada do herói.






MARCELO MORATO, que já havia trabalhado com ZECA, faz um bom trabalho de direção, se considerados o fato de a peça ser um monólogo, no qual o foco das atenções converge para a história, em si, e o trabalho do ator, a maneira como ele narra os fatos. Então, generosa e acertadamente, o diretor não pensou em aparecer mais que o intérprete, como, por vezes, percebemos, em algumas montagens, e permitiu que ZECA e LÁZARO fossem, como deveria mesmo ser, os protagonistas da peça, limitando-se, a meu juízo, a orientar o ator em certos detalhes de movimentação e voz, bastante inteligentes e interessantes.









Fique muito comovido e agradecido a EZEQUIEL (ZECA é mais fácil e mais afetivo, principalmente depois que conhece a pessoa, como eu conheci.) pela oportunidade que me deu de tomar conhecimento do seu trabalho, realmente, de primeira grandeza. Sua interpretação é bastante expressiva, visceral, convincente e extremamente emocionante. Há, da parte dele, uma entrega completa ao personagem, da primeira à última cena, sem permitir que haja qualquer “barriga", durante os 60 minutos de duração daquela “viagem”. Destacam-se, na sua interpretação, a expressão corporal, para a qual contribuiu LAVÍNIA BIZOTTO, na direção de movimento, e o trabalho de voz, quando ele mistura o delicioso sotaque do "mineirim" com sons estranhos, como tiques nervosos ou algo parecido.






ZECA é o responsável pela concepção cenográfica, muito, mas muito mesmo, simples, porém contundente: um banco tosco e algo que se assemelha a um fogão a lenha, feito com latas, além de alguns rudes objetos de cena. O piso, circular, é de um linóleo, da cor da terra, com um pouco dela espalhado, para dar mais realismo aos fatos narrados.






O ator usa um figurino, assinado por TAINÁ MESMO, muito “chão”, muito “raiz”: uma calça cáqui, muito “surrada”, e uma camisa mais clara, meio areia, feita de um tecido semelhante a linho, também gasta, pelo tempo. Um “paramento” adequado ao personagem.






A iluminação, concebida por GABRIEL PRIETO, varia de intensidade, mas se fixa, basicamente, na luz neutra, sem quase uso de cores, a não ser nas cenas em que alguns matizes entram para valorizá-las.









FICHA TÉCNICA:

Texto: Ezequiel Vasconcellos
Direção: Marcelo Morato
Assistente de Direção: Luca Matteo

Atuação: Ezequiel Vasconcelos

Concepção Cenográfica: Ezequiel Vasconcelos
Figurino e Visagismo: Tainá Mesmo
Iluminação: Gabriel Prieto
Direção de Movimento: Lavínia Bizotto
Operação de Luz: Wladimir Alves
Mixagem e Colaboração Musical: Léo Tucherman
Sonoplastia e Operação de Som: Agnes Lobo
Identidade Visual e Design Gráfico: Felipe Porto
Fotos: Márcio Honorato 
Direção de Produção: Felipe Porto | Plataforma.art
Produção Executiva: Isabella Beatriz, Marcela Esteves e Masaaki Nakao.
Mídias Sociais: Isabella Beatriz











            Por vários motivos, todos alheios à minha vontade, só pude assistir à peça na última semana da temporada e senti que “ARIGÓ” é daqueles espetáculos sobre os quais a gente – eu, pelo menos –, após o término da sessão, fica pensando: Por que não assisti a essa peça antes?.






            Faço votos de que a brava e corajosa produção do espetáculo, tendo FELIPE PORTO, capitaneando a embarcação, consiga, pelo mesmo, uma nova temporada, no Rio de Janeiro! São os meus sinceros desejos.






            Não preciso dizer que recomendo a peça, se, e quando, ela voltar à cena.








(FOTOS: MÁRCIO HONORATO.)








E VAMOS AO TEATRO!!!

OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!

A ARTE EDUCA E CONSTRÓI!!!

RESISTAMOS!!!

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PARA QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO BRASILEIRO!!!




CENSURA NUNCA MAIS!!!

















































































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