VAMOS
COMPRAR
UM POETA
(UMA “ODE”
AO AMOR, À ARTE
E À CULTURA.)
DUDA MAIA, consagrada coreógrafa, diretora de
movimento e diretora de TEATRO, resolveu, um dia, montar uma trilogia
de peças infantojuvenis, a que deu o título de “TRILOGIA DO AMOR - Três
Histórias de Amor para Crianças”, que, na verdade, agradam, em cheio,
também, aos adultos, e partiu para um grande projeto, contando com seu
“braço direito”, BRUNO MARIOZZ, diretor de produção.
Primeiro, veio com “A Gaiola”, um musical,
baseado no livro homônimo de Adriana Falcão, um dos belos espetáculos,
no gênero, a que já assisti, em toda a minha vida, e que ganhou vários prêmios
e indicações a outros. Depois, “Contos Partidos de Amor”, inspirado na obra
de Machado de Assis, com texto, mais “cabeça”, de Eduardo Rios.
Machado não merecia coisa diferente. Outra beleza! Agora, fecha o ciclo com “VAMOS
COMPRAR UM POETA”, texto original de AFONSO CRUZ, com adaptação
dramatúrgica de CLARICE LISSOVSKY. Nos dois últimos, a música
também está presente.
O espetáculo aqui analisado
está em cartaz no Teatro II, do Centro Cultural Banco do Brasil
(CCBB) (VER SERVIÇO.). De acordo com o “release” da peça,
enviado por ROBERTA MATTOSO (ROMA – COMUNICAÇÃO & IMPRENSA), “A
ousada proposta (Refere-se à TRILOGIA.) tem como objetivo principal criar um diálogo entre
crianças e adultos, através de histórias que tratam dos afetos humanos”.
Não resta a menor dúvida de que o objetivo pretenso é totalmente alcançado.
“As três peças partiram da adaptação de três obras literárias, sendo
dois autores nacionais e um português.”.
A dramaturgia,
escrita por CLARICE LISSOVSKY, é uma a adaptação de um texto
original, livro, do autor português AFONSO CRUZ e “narra
a chegada de um POETA à casa de uma família comum. Nesse lar, moram um pai (...), uma mãe (...), uma menina (...) e um menino (seu irmão) (...). O POETA ensina os pequenos a
observar borboletas, compor os próprios poemas e aprender a dar abraços. A
montagem cria uma divertida reflexão sobre a nossa capacidade de invenção,
fazendo um importante paralelo entre cultura e economia. É uma homenagem à
cultura, em um espetáculo que mistura poesia, música e dança”.
SINOPSE:
Uma menina
esperta e curiosa, MENINA (LETÍCIA MEDELLA), que gosta de entender o
sentido das coisas.
Um menino, MENINO
(LUAN VIEIRA), que adora fazer contas.
Um pai, que só
pensa em lucrar, e uma mãe, que organiza, todos os dias, os trabalhos
domésticos, ambos interpretados, em meteóricas aparições, por LUAN e
LETÍCIA, respectivamente.
A história se
passa num lugar (imaginário, não definido) em que, em vez de terem animais
domésticos, de estimação, as famílias têm o hábito de “criar” artistas, em suas casas, tê-los perto de si.
Dessa forma,
compram músicos, escritores, atores, bailarinos e outros “fazedores de arte”,
inclusive poetas.
O que acontece,
quando um POETA (SÉRGIO KAUFFMANN) chega, para morar com essa família?
Observar
borboletas, criar poemas e aprender a dar abraços são algumas pérolas da nossa
história.
Um musical
infantojuvenil que ressalta a importância da cultura, dentro e fora
de casa.
Repararam, na sinopse, que os
personagens em cena são anônimos, o que, muito corretamente, faz abrir
um leque de reflexões e possibilidades. É um “faz-de-conta” que não nos
sugere, realmente, a compra de um artista, mas que tenhamos um ou, de
preferência, vários na nossa vida; no coração, principalmente. A peça
prega o amor às artes, de uma forma geral, representada, no caso, pela poesia,
e, como diz a última linha da sinopse, “ressalta a importância da
cultura, dentro e fora da casa”. Os únicos, apenas, na história,
que são citados nominalmente, mas como seres “despersonalizados”, são uma
menina, de quem o irmão gosta, a BB9,2, e um amigo da MENINA, o 76C.
É extremamente pertinente, a
mensagem central do texto, num momento em que, por total infelicidade nossa, a CULTURA, no Brasil,
passou a ser tão desprezada, vilipendiada, demonizada, pelos (des)governantes,
nas três esferas administrativas, os quais, por questões ideológicas, políticas
e religiosas – todo fundido numa palavra só: IGNORÂNCIA –, além de não
incentivarem o desenvolvimento cultural do município, do estado e do país,
ofendem e maltratam os artistas, em geral, principalmente “o povo do TEATRO”,
numa prova cabal de que desejam manter, sob suas rédeas, um povo ignorante,
formado de seres não-pensantes, para que possam se perpetuar em seus desmandos
e falcatruas.
Perdão, mas o conteúdo do desabafo supra estava
me sufocando!!!
A chegada de um POETA a uma
família “convencional” representa uma porta que se abre para os sonhos, para que
se possa enxergar a beleza da vida, do universo, nas coisas mais simples, e
para se praticar a empatia e, acima de tudo, o amor, sentimento mais nobre
entre os homens.
O texto é lírico e divertido,
ao mesmo tempo, com uma proposta que atinge os pequenos e os adultos, seus
acompanhantes. Pode parecer, de início, um pouco hermético, porém isso não é
verdadeiro, uma vez que as crianças, via de regra, “têm uma percepção
sensorial muito mais aguçada que a do adulto”, já que este, ao longo do
seu crescimento e formação, vai perdendo, aos poucos, a ingenuidade, a
capacidade de sonhar, de imaginar, de sentir e valorizar o abstrato, o impalpável. Os
adultos não devem, e não podem, subestimar a inteligência das crianças, como
afirma a diretora, DUDA MAIA, com o que concordo plenamente, em gênero e
número. E
continua DUDA, dizendo que (a criança) “do seu jeito, decodifica o que lhe é mostrado e, com isso, cria um diálogo saudável e necessário com os adultos”. Com base no que, ainda,
acrescenta a diretora, o projeto da TRILOGIA “(...) fomenta
esse diálogo e, ao mesmo tempo, espalha histórias de amor, amizade, respeito e
liberdade (...), me dá uma certeza absoluta de que a ARTE é um caminho
indiscutível para uma sociedade mais justa e desenvolvida”. E quem pode
dizer o contrário? A ARTE salva. E o TEATRO, mais ainda!!!
A proposta do texto é mais
que interessante e louvável, uma vez que é de bem pequeno que se deve ensinar,
às crianças, o valor e a importância da ARTE e da CULTURA na
formação de um indivíduo, de um cidadão. Por meio delas, aprende-se a respeitar
e a valorizar o próximo, aprende-se que um povo só pode ocupar o seu espaço, na
história da humanidade, se preservar e puser em prática a sua ARTE,
para atingir uma CULTURA plena e soberana.
Quem conhece o estilo de direção
de DUDA MAIA, tão singular, é capaz de, mesmo sem conhecer a ficha
técnica, saber que ela dirige a peça, por poder identificar
certos detalhes de marcação e direção de movimento, sempre
empregados e explorados, por DUDA, em suas montagens. Ela
explora, ao máximo, os movimentos, o trabalho de corpo de seus atores, os
quais respondem, harmoniosamente, tal como a mestra deseja.
O trio de atores tem um desempenho
muito bom, demonstrando um profundo envolvimento com o texto e sua
proposta. Não cito destaques, porque cada um responde, na marca, no mesmo
patamar, por seu personagem. Já um admirador do trabalho dos três,
principalmente o de LUAN e LETÍCIA, os quais conheço mais de
perto, por conta desta peça, só faço ampliar minha admiração por seus
talentos.
A montagem é bem simples, sem
grandes parafernálias técnicas, porém o pouco que foi utilizado ganha destaque,
pela criatividade, pelo bom gosto e pela funcionalidade. Há um ótimo texto,
uma ótima direção e um ótimo elenco, base para qualquer sucesso,
no TEATRO. Para que este ganhe relevo, entram, obviamente, outros
elementos, como a cenografia, os figurinos, a iluminação e
a trilha sonora, por exemplo. Nesta peça, não há grande
sofisticação nem custos, a meu juízo, porém, na simplicidade, reside um teor
de beleza, de singeleza, que fazem a diferença.
A base do cenário, de um grande
profissional, ANDRÉ CORTEZ, são três gangorras, as quais ora estão
coladas umas às outras, ora são separadas e colocadas, pelos próprios atores,
em posições diferentes. À volta delas e sobre elas, as ações acontecem, de
forma bem dinâmica.
Os figurinos, de KIKA
LOPES, são bem lúdicos e coloridos, à exceção do que veste o POETA, uma
roupa clara, quase branca, significando, pelo que me permito arriscar, num
palpite, a pureza da poesia e dos que lidam com ela, na sua construção: os poetas.
A iluminação é assinada pelo “craque”
RENATO MACHADO, o qual cria momentos de sombra e/ou pouca luz, o que,
paradoxalmente, chamam mais a atenção – pelo menos, para mim, assim foi – do que
as cenas que recebem uma iluminação mais intensa. Um detalhe bastante
interessante são os pontos de luz, em formas de pequenas luminárias, que vão
surgindo, no palco, pendendo do teto, representando as estrelas que o POETA
“passa a dividir com os dois irmãos”.
Há uma ótima trilha sonora
original, composta por RICCO VIANA, também autor dos arranjos.
As belas e/ou divertidas letras das canções têm um profundo toque
poético, ajudam a contar a história e foram escritas, a seis mãos, por CLARICE
LISSOVSKY, JULIANA LINHARES e RICCO VIANA.
O desenho
de som, programado e posto em prática por VITOR OSÓRIO, permite uma
total e perfeita captação de tudo o que é produzido sonoramente.
Também
entram na equipe desta produção, para somar, PATRÍCIA CLARKSON (identidade
visual) e AGNES MOÇO (preparação vocal).
FICHA TÉCNICA:
Texto Original: Afonso
Cruz
Adaptação Dramatúrgica:
Clarice Lissovsky
Direção: Duda
Maia
Diretora
Assistente: Juliana Linhares
Intérpretes
Criadores: Letícia Medella, Luan Vieira, Sérgio Kauffmann
Trilha Sonora Original
e Arranjos: Ricco Viana
Letras das Canções:
Clarice Lissovsky, Juliana Linhares e Ricco Viana
Cenário: André
Cortez
Figurino: Kika
Lopes
Iluminação:
Renato Machado
Desenho de
Som: Vitor Osório
Identidade
Visual: Patrícia Clarkson
Preparação
Vocal: Agnes Moço
Fotos: Renato Mangolin
Direção de
Produção: Bruno Mariozz
Produção: Palavra
Z Produções Culturais
Idealização: Camaleão
Produções Culturais
SERVIÇO:
Temporada: De
12 de outubro a 08 de dezembro de 2019.
Local: Centro
Cultural Banco do Brasil – Rio de Janeiro - Teatro II.
Endereço: Rua Primeiro de Março,
66 – Candelária – Centro – Rio de Janeiro.
Telefone: (21)
3808.2020.
Dias e
Horários: Sábados e domingos, às 11h e às 16h.
Valor dos Ingressos: R$30,00 (inteira) R$15,00 (meia entrada).
Capacidade: 153
lugares.
Duração: 60
minutos.
Classificação Indicativa: Livre
– Indicado para maiores de 5 anos.
Gênero: Teatro
Infantojuvenil
Os
pais, quase sempre, ficam na dúvida, quanto à escolha de um espetáculo, quando
pensam em levar seus filhos ao TEATRO. Isso é mais que natural e importante,
uma vez que há muitas produções, infelizmente, desprezíveis e, se a criança for apresentada a espetáculos infantojuvenis de
baixa qualidade, montados sem o devido respeito que o público infantil merece,
ela não há de gostar e, muito menos, vai manifestar o desejo de voltar a um Teatro. Isso é muito sério. É preciso que as crianças assistam a espetáculos de
alta qualidade, para que, por meio deles, comecem a manifestar seu interesse
pelo TEATRO, formando o seu público adulto, mais tarde.
Garanto
que todos haverão de se encantar com esta linda produção, vão conhecer e aprender novos valores,
vão se divertir e, certamente, vão entender o que é o verdadeiro TEATRO
INFANTOJUVENIL, uma porta que se abre para a formação de futuras plateias.
Recomendo,
por tudo já exposto, com bastante ênfase, este espetáculo, na certeza de que os
pais ou quaisquer adultos que acompanharão as crianças, ao CCBB, também vão
experimentar uma sensação de alegria e prazer.
E VAMOS AO
TEATRO!!!
OCUPEMOS TODAS AS
SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!
A ARTE EDUCA E
CONSTRÓI!!!
RESISTAMOS!!!
COMPARTILHEM ESTE
TEXTO,
CENSURA NUNCA
MAIS!!!
(FOTOS: RENATO
MANGOLIN.)
(GALERIA PARTICULAR.)
Com a querida amiga Letícia Medella.
Com o querido amigo Luan Vieira.
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