“MENINAS
E
MENINOS”
(DEPOIS DA CURVA,
Numa atitude bastante corajosa, KIKO MASCARENHAS e
MARIA EDUARDA DE CARVALHO fazem uma ocupação artística, de dois
meses, coisa rara, hoje em dia, no Teatro Poeirinha, com dois monólogos.
De 3ª a 5ª feira, é a vez de MARIA EDUARDA apresentar “MENINAS
e MENINOS”; de 6ª feira a domingo, é KIKO quem ocupa aquele
simpático espaço, com “TODAS AS COISAS MARAVILHOSAS”. Por ora, falarei
apenas sobre “MENINAS E MENINOS” (VER SERVIÇO.), a única, das duas, a
que assisti até agora.
Antes de qualquer primeira palavra sobre o espetáculo,
é preciso fazer justiça ao nome de DIEGO TEZA, por seu precioso trabalho
de curadoria, garimpando, entre dramaturgos do mundo inteiro,
nomes que, realmente, dignificam a profissão e merecem ser conhecidos do público
brasileiro. DIEGO já vem fazendo isso, há alguns anos, e todos os textos
por ele descobertos e encenados no Brasil fizeram grande sucesso, de
público e de crítica, uma prova cabal de seu “faro” para esse tipo de descobertas.
Desta vez, TEZA nos apresenta DENNIS KELLY,
um dramaturgo britânico, de 48 anos, que, além de escrever para o
TEATRO, também faz grande sucesso como roteirista de TV e cinema.
KELLY é coautor do festejado “Matilda – O Musical”, escrito
em 2010, que conquistou vários prêmios. Embora não seja um dramaturgo
quase desconhecido em palcos brasileiros, mas não inédito, este texto
o é.
O espetáculo “MENINAS E MENINOS” teve sua estreia
mundial em 2018, no The Royal Court Theatre, em Londres, e
chega, portanto, bem “fresquinho” ao Brasil e num momento muito propício
a passar a sua mensagem.
SINOPSE:
A protagonista
do texto é uma mulher, de idade não especificada, que conta, ao público
a história da sua vida.
Abordando,
corajosamente e com muito humor, questões delicadas como sexo, maternidade e
machismo, a personagem vai desenhando um novo perfil feminino, que, ao
longo de séculos, tem lutado para se libertar das amarras patriarcais e
experimentar um jeito completamente original de tornar-se mulher no mundo
atual.
O trauma e as
vicissitudes da vida também são o foco de "MENINAS E MENINOS",
em que MARIA EDUARDA descortina, em cena, a relação da mulher
contemporânea com seu trabalho, filhos, marido e angústias, reforçando a
célebre citação de Simone de Beauvoir: "Não se nasce mulher.
Torna-se mulher".
Uma história de vida todos temos, umas mais interessantes,
ricas e plenas que outras, entretanto, talvez, todas as histórias de vida pudessem
ser transformadas num bom texto de TEATRO, na dependência de quem
as escreveria. DENNIS KELLY executa essa tarefa com muita propriedade, e
DIEGO TEZA, ainda que eu não conheça o original, parece-me ter feito uma bela tradução e
adaptação, para o público brasileiro. A narrativa, nesta obra, é ficcional,
embora ela nos deixe a impressão de que o autor escreveu sobre fatos
reais. Na verdade, ele criou uma história de vida, ou de vidas, envolvendo personagens
saídos de sua imaginação, mas que bem poderiam ser os nossos vizinhos de
porta.
Ninguém espere ir ao Poeirinha para mera
distração. A peça nos prega uma grande peça, nos seus minutos finais,
daquelas que nos deixam perplexos. E é nisso que reside, a meu juízo, o valor
maior do texto, de sua engrenagem. Somos enganados, no bom sentido. E
muito bem enganados.
Imagine-se passeando num campo bucólico, passos leves,
pensamentos positivos, alegria total, em comunhão com a natureza exuberante, experimentando
o cheiro de uma relva fresca e úmida, ouvindo pássaros canoros, tropeçando,
sim, aqui e ali, numa pedrinha, que não chega a machucar, esperando só o surgimento dos Sete Anões, voltando para casa, cantando, e, de repente, apenas
após uma advertência da atriz, de que você deve se preparar para algo
terrível, do nada, tudo se transforma numa terrível tempestade, de raios
assustadores, riscando a placidez do céu, e trovões pavorosos, invadindo,
agressivamente, os seus ouvidos, numa experiência que deixa o espectador, no
mínimo, incomodado, pelo final do relato da personagem, algo que nos
leva a refletir e a procurar encontrar uma razão e uma resposta para as mais
diversas possibilidades de reação de um ser humano, diante de um grande revés
em sua vida. Também é um alerta para que jamais tenhamos a certeza de que
conhecemos, de fato, as pessoas com as quais convivemos, na mais íntima
relação.
A peça é um grande desafio para a jovem atriz MARIA
EDUARDA DE CARVALHO e exige muito dela, do ponto de vista emocional. O texto leva-a a dar uma guinada de 360° graus no seu trabalho de interpretação, na sua
emoção, completamente inesperado pela plateia, a qual reage à altura do drama
vivido pela personagem. E isso se dá de uma forma muito “natural”,
porque, a julgar pela seriedade do fato narrado, a atriz faz a
transição, demonstrando sua dor interior, porém numa dose sem exageros, sem
apelar para recursos dramáticos que caracterizam um momento de desespero.
Talvez essa contenção se dê por conta do grau de patético e quase inacreditável, que existe num certo gesto paterno.
Talvez essa contenção se dê por conta do grau de patético e quase inacreditável, que existe num certo gesto paterno.
Tudo vai sendo dito em tom confessional, muito próximo ao
público, como uma conversa entre pessoas que já se conhecem há bastante tempo.
Essa deve ter sido a intenção da dupla de bons diretores, KIKO
MASCARENHAS e DANIEL CHAGAS, perfeitamente assimilada e desenvolvida
pela atriz. O tempo vai passando, ao longo dos 70 minutos de “conversa" e o grau de intimidade, de cumplicidade, entre palco e plateia vai se impondo,
por mérito de MARIA EDUARDA, que consegue atrair a atenção de todos.
Assim como o outro monólogo, que faz parte desta ocupação,
os direitos de apresentação de ambos, no Brasil, foram comprados por KIKO
MASCARENHAS, com o objetivo de comemorar seus 35 anos de carreira nos
palcos, “num esforço coletivo, sem patrocínio, em prol de valorizar a
Cultura em um dos momentos mais delicados do Brasil”, como está no “release”,
enviado por DOBBS SCARPA (ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO).
Para atingir o bom nível do espetáculo, a produção
se cercou de bons artistas de criação, os quais, cada um deles, com sua
específica participação, contribuem para o saldo positivo da peça. Falo
de MAURO VICENTE FERREIRA, que pensou numa cenografia bem “leve”,
pueril, com dezenas e dezenas de bichinhos de pelúcia e outros brinquedos,
espalhados num quarto desarrumado de crianças, sobre vários tapetinhos
redondos, de tamanhos e texturas diversos, além de algumas caixas de papelão,
vazias, para “organizar aquela bagunça” (Isso só será bem entendido por quem
assistir à peça.); falo de LUCIENE NICOLINO, responsável pela direção
de arte; falo de TEREZA NABUCO, que criou um figurino bem
simples, uma roupa do dia a dia, para a personagem, porque, talvez,
dentro da proposta da peça, seja o que menos importe; falo de VILMAR
OLOS (iluminação e ambientação); e falo de MARCELLO H, bem
parcimonioso na trilha sonora, suficiente para “criar climas”.
FICHA TÉCNICA:
Texto: Dennis Kelly
Tradução e Versão: Diego
Teza
Direção: Kiko Mascarenhas
e Daniel Chagas
Atuação: Maria Eduarda de
Carvalho
Cenografia: Mauro Vicente
Ferreira
Direção De Arte: Luciene
Nicolino
Figurino: Tereza Nabuco
Iluminação / Ambientação:
Vilmar Olos
Trilha Sonora: Marcello H
Fotos Luciana Mesquita
Mídia Digital: Urgh
Programação Visual: Equipe
Novo Traço
Direção de Produção:
Radamés Bruno
Produção Executiva:
Viviane Procópio
Assistência de Produção:
Thaís Pinheiro
Equipe de Produção: Jandy
Vieira e Igor Dib
Realização: Br Produtora e
Km Procult
Operação De Som / Luz: Priscila Jacintho
Assessoria De Comunicação: Dobbs Scarpa
SERVIÇO:
Temporada: De 04/06 a 25/07 de 2019.
Local: Teatro Poeirinha.
Endereço: Rua São João
Batista, 104 – Botafogo – Rio de Janeiro.
Telefone: (21) 2537-8053.
Dias e Horários: De 3ª a 5ª feira, às 21h.
Horário de Funcionamento
da Bilheteria: De 3ª feira a sábado, das 15h às 21h; domingo, das 15h às 19h.
Valor dos ingressos:
R$50,00 (inteira) e R$25,00 (meia entrada).
Ingressos online
www.tudus.com.br
Informações www.teatropoeira.com.br
Redes Socias:
Instagram: @meninasemeninosteatro;
Twitter: @mninasemninos;
Facebook: @meninasemeninosteatro
Instagram: @meninasemeninosteatro;
Twitter: @mninasemninos;
Facebook: @meninasemeninosteatro
Duração: 70 minutos.
Indicação Etária: 14 anos.
Gênero: Comédia Dramática.
“MENINAS E MENINOS” não é uma peça “digestiva,
descartável”, após a qual uma “pizza e um chopinho caem bem”. É um texto
bem denso, que provoca muitas reflexões e mexe bastante com os sentimentos das
pessoas. Preparem-se para “apanhar e aprender com a vida”, e não deixem de
assistir a este correto espetáculo!
E VAMOS AO TEATRO!!!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!
A ARTE EDUCA E CONSTRÓI!!!
RESISTAMOS!!!
COMPARTILHEM ESTE TEXTO, PARA QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO BRASILEIRO!!!
(FOTOS: LUCIANA MESQUITA.)
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