quarta-feira, 19 de junho de 2019


LUZ
NAS
TREVAS

(UM BRECHT SERÁ,
PARA SEMPRE,
UM BRECHT.)




            Apesar da falta de tempo e do excesso de trabalho, consegui encontrar uma oportunidade para escrever umas rápidas impressões sobre o espetáculo “LUZ NAS TREVAS”, que muito me agradou, em cartaz no Armazém da Utopia (Armazém 6, da zona portuária do Rio de Janeiro (VER SERVIÇO).

            A peça é mais uma montagem da COMPANHIA ENSAIO ABERTO, que costuma ocupar locais não convencionais, para exibir seus trabalhos, e foi escrita há exatos 100 anos, em 1919, pelo consagrado dramaturgo alemão BERTOLT BRECHT, sempre tão atual. O texto surgiu sob a influência de “that great Munich clown Karl Valentin”.

            A peça foi escrita num período de grande recessão econômica, na Alemanha, pós-Primeira Guerra, mas seu tema, além de muito atual, pode, também, ser considerado universal.









SINOPSE:

A narrativa apresenta PADUK (LEONARDO HINCKEL), um antigo cliente do bar da SRA. HOGGE (TUCA MORAES), que, um dia, foi expulso do bordel, por não ter dinheiro para pagar a conta.

Indignado com o ocorrido, ele decide ganhar dinheiro, arruinando a prostituição local, iluminando a rua do prostíbulo, para afastar os clientes.

Depois de algumas contendas, o texto nos revela uma surpresa em seu final.








            Uma sinopse tão curta, extraída do “release” da peça, enviado por FLÁVIA TENÓRIO (LEAD COMUNICAÇÃO), extrapolando o sentido do vocábulo “sinopse” (resumo, relato breve), não é suficiente para o leitor ter uma ideia real do espetáculo a que assistirá, entretanto, por outro lado, estimula o espectador em potencial a procurar conferir, logo, a encenação, a qual, fugindo à formatação do TEATRO tradicional, do palco italiano, traz a atmosfera dos cabarés alemães do início do século XX. Isso, porque o Armazém da Utopia foi transformado num cabaré, no qual o público (máximo de 100 pessoas), é convidado, pela produção, a chegar uma hora antes do início da ação e fica acomodado no meio, enquanto as cenas se dão à sua volta, em pequenos palcos, praticáveis ou em passarelas. Essa ideia é muito interessante, uma vez que os espectadores vivem a experiência de, também, participar do espetáculo, sem que este seja interativo, o que é muito desagradável, na grande maioria das vezes, a meu juízo, mas que, aqui, só não é mais agradável, por causa do desconforto das cadeiras. Para mim, pelo menos. Mas é por pouco tempo e por uma boa causa.

O bar, que faz parte do cenário, desenvolvido por LUIZ FERNANDO LOBO, o qual também dirige o espetáculo e tem uma pequena participação, como um “barman”, é verdadeiro e atende aos “clientes”, serviço feito por atrizes / garçonetes, que, ao mesmo tempo, são as “meninas” do bordel. “A ideia é transportá-los (o público) para o bordel da SRA. HOGGE”, diz o diretor, objetivo, certamente, atingido. Isso, também de certa forma, paradoxalmente, porém funcionando bem, vai de encontro ao método proposto por BRECHT, do “distanciamento”, segundo o qual “o objetivo é tornar claro, ao espectador, que ele está frente a uma obra de arte, de que a representação teatral é uma ilusão”. Mas, no final, tudo dá certo.




Extraído do já citado “release”: “Em ‘LUZ NAS TREVAS’, BRECHT cria uma parábola, denunciando as articulações contraditórias do sistema capitalista: através da prostituição e das doenças venéreas, o que está em jogo é a exploração”. A exploração do homem pelo homem, aliás, é um tema frequente nas obras do consagrado dramaturgo.

O espectador atento perceberá, no protagonista, relações estreitíssimas com “autoridades” muito próximas a nós, não só no Brasil, mas também em outras partes do mundo. Quantas pessoas como ele, PADUCK, não surgem, às vezes, de um ostracismo abissal, para se revelarem, ou se dizerem ser, “paladinos da justiça”, com discursos bem elaborados, porém totalmente mentirosos, “fakes”, para sermos bem modernos, com a promessa de, no papel de “salvadores da pátria”, acabar com tudo o que há de errado, no país, com verdadeiras “fórmulas mágicas”, consertá-lo, livrar a sociedade do mal que a corrompe, moralizar e defender os bons costumes da família brasileira, com “Deus acima de todos”, sem esquecer “O Brasil acima de tudo.”? Como um visionário, BRECHT nos mostra exatamente isso, a triste realidade que estamos vivendo no Brasil de hoje.

            PADUCK age, aparentemente, por vingança, pelo fato de ele, um freguês tão antigo, ter sido exposto à sociedade, quando do momento de sua expulsão do cabaré, por não pagar o que devia. Pensa numa estratégia, em princípio – repito: aparentemente -, para se vingar, instalando, na rua da casa de tolerância, bem próximo a ela, um grande refletor. Iluminando a via pública - pensava ele -, os clientes não iriam querer mais ir lá, por medo de serem vistos naquele antro. Isso estava levando os negócios da SRA. HOGGE (TUCA MORAES) à ruína.






Enquanto isso, para completar, PADUCK monta, com o apoio e o patrocínio da Prefeitura local, bem em frente ao cabaré, uma barraca, onde exibia uma exposição sobre doenças venéreas, obviamente “contraídas nas relações promíscuas com aquelas mulheres impuras”, as mesmas com as quais, antes, ele se relacionava. Assim, ele vai ganhando muito dinheiro, cobrando ingressos de quem se interessava em ver a tal exposição, contando com um ajudante, anônimo, salvo engano, (JOÃO RAPHAEL ALVES).

            Seria, ao que tudo leva a crer uma mera vingança, porém, acima disso, estava o interesse em ganhar dinheiro, renegando o seu passado, o que fazia antes.

            O que deseja, na verdade, BRECHT, com este texto, é provocar reflexões, no público, acerca do que pode ser considerado moral, imoral ou amoral, de acordo com um determinado ponto de vista e considerando os interesses próprios dos indivíduos, colocados acima dos que seriam de uma coletividade.

            Primeiro, a SRA HOGGE parte para uma briga contra o desafeto, que não se deixa abater e continua na sua luta de "salvação" do povo daquela cidade (Não há uma localização exata, na peça.). E a cafetina, só perdendo, só levando prejuízo, até o momento em que dá o troco, com uma proposta, digamos, “indecente”, porém, "lógica", propondo, ao homem, que ele desista daquele negócio, uma vez que já enriquecera, liberando sua volta, como frequentador assíduo da “casa de prazeres” e sócio. Antes, porém, fê-lo entender que, chegaria um momento em que, sem o cabaré, terminaria a motivação e o interesse das pessoas pela exposição. E ele percebe que, já rico, pode deixar de lado seus mais “moralizadores objetivos” e voltar à esbórnia, o que seria, uma outra forma de lucro, além, é claro, de aumentar seu patrimônio, como um dos donos do local.

Há, visivelmente, no título da peça, uma intenção do autor de, por meio de uma dupla metáfora. Em primeiro lugar, a luz é para clarear as mentes dos que vivem nas trevas.  E essa decodificação é bem ampla. Também pode receber a leitura de que a luz, instalada por PADUCK, pode revelar quem, realmente, ele é, o tipo de oportunista e explorador, personagem tão às fartas na nossa sociedade, principalmente na política.



  


Moral e lucro rimam? Nem na poesia nem nesta história.

Confesso que o espetáculo superou as minhas expectativas. O texto, que, infelizmente, não conhecia, ainda, é excelente, assim como a direção e a atuação do elenco, com realce para o protagonista, PADUCK, vivido por LEONARDO HINCKEL, e TUCA MORAES (SRA. HOGGE). Ainda se destaca, no papel de uma jornalista, LUIZA MORAES, também uma das “meninas” do bordel. Completam o elenco, em participações menores, porém corretas, GILBERTO MIRANDA (PÁROCO) e ANA MOURA, LETÍCIA VIANA, NATÁLIA GADIOLLI, NADY OLIVEIRA e TAYARA MACIEL, as prostitutas, além, como já disse, de LUIZ FERNANDO LOBO (BARMAN).

Colaboram para a boa montagem a cenografia (espaço cênico), de LUIZ FERNANDO LOBO; os figurinos, de BETH FILIPECKI e RENALDO MACHADO; a iluminação, de CÉSAR DE RAMIRES; e a maquiagem e preparação corporal, de LUIZA MORAES.

Há de se louvar o grande esforço físico do elenco, para grandes deslocamentos, em cena, assim como para projetar a voz, num espaço imenso, sem tratamento acústico. De qualquer local em que o espectador esteja alocado, consegue ouvir, com nitidez, todas as falas dos atores.



 






FICHA TÉCNICA:

Texto: Bertolt Brecht
Tradução: Geir Campos
Direção Artística: Luiz Fernando Lobo
Assistente de Direção: Anna Carolina Magalhães

Elenco (por ordem alfabética): Gilberto Miranda, João Raphael Alves, Leonardo Hinckel, Letícia Viana, Luiz Fernando Lobo, Luiza Moraes, Nady Oliveira, Natália Gadiolli, Tayara Maciel e Tuca Moraes.

Espaço Cênico: Luiz Fernando Lobo
Iluminação: César de Ramires
Figurino: Beth Filipecki e Renaldo Machado
Maquiagem e Preparação Corporal: Luiza Moraes
Direção de Produção: Tuca Moraes
Produção Executiva: Cida de Souza
Ciência do Novo Público: João Raphael Alves e Agnes de Freitas
Programação Visual: Marcos Apóstolo e Marcos Becker
Cenotécnico: Dodô Giovenetti
Gerente Operacional: Roberta Mello












SERVIÇO:

Temporada: De 27 de abril a 30 de junho de 2019.
Local: Armazém da Utopia (Armazém 6, Cais do Porto do Rio de Janeiro).
Telefones: (21) 2516-4893 / (21) 98909-2402 (WhatsApp) 📲📞.
VLT: Parada Utopia / AquaRio.
Dias e Horários: 6ªs feiras e sábados, às 20h30min; domingos, às 19h30min.
Abertura da casa e do bar às 19h30min (às 6ªs feiras e sábados) e às 18h30min (aos domingos).
Valor dos Ingressos: www.sympla.com.br/CompanhiaEnsaioAberto R$40,00 (inteira) / R$20,00 (meia entrada).
Ingressos antecipados: R$30,00 (inteira) / R$15,00 (meia entrada)*- desconto para compras com até 72h de antecedência ou até acabar a cota.

*POLÍTICA DE TROCAS DE DATAS DE INGRESSOS ANTECIPADOS: Trocas de datas são aceitas somente até 48 horas antes da sessão. Não realizamos troca de ingressos com data de sessão vencida.

Para agendamento de grupos (escolas, projetos sociais, associações etc.) entre em contato através do WhatsApp (21) 98909-2402.

Classificação Etária: 14 anos.
Capacidade: 100 lugares.
Duração: 60 minutos.
Gênero: Comédia dramática.

ASSESSORIA DE IMPRENSA: LEAD Comunicação - Flávia Tenório e Karine Santos 
(21) 2222-9450 | (21) 99348-9189
leadcom@terra.com.br     /     leadcomunicacao.com







            

           Recomendo o espetáculo. Primeiro, porque BRECHT sempre será BRECHT e, em segundo lugar, porque a montagem é muito bem cuidada.


E VAMOS AO TEATRO!!!

OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO 
DO BRASIL!!!

A ARTE EDUCA E CONSTRÓI!!!

RESISTAMOS!!!

COMPARTILHEM ESTE TEXTO, PARA QUE,
JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO BRASILEIRO!!!


(FOTOS: FRANCISCO PRONER,
CHICO LIMA, VÍTOR VOGEL e
RENAM BRANDÃO.)




























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