NAVALHA
NA
CARNE
(É PRECISO RESISTIR, COMO EM
1967!!!)
ou
(DONA TÔNIA (MARIINHA)
AINDA
VIVE.
ou
PAGAR E COBRAR,
PARA SER
“FELIZ”.
ou
UMA LINDA E MERECIDA HOMENAGEM
A
TÔNIA CARRERO.)
Com 18 anos recém-completados, em setembro
de 1967, ganhei de presente, dos meus pais, o dinheiro destinado à compra
de um ingresso para uma peça, sobre
a qual muito se falava, de um “dramaturgo
maldito”, muito corajoso, e que escrevia para o povo, no sentido de
escrever simples, sobre o dia a dia, sobre pessoas comuns, numa linguagem
acessível a qualquer um, escolado ou não. Nua
e crua. A peça era “NAVALHA NA CARNE” e o autor, PLÍNIO MARCOS, com apenas 32
anos, na época, e que já começava a ser conhecido, e muito discutido,
provocando amor ou ódio, por outros textos,
tão “fortes” quanto “NAVALHA...”,
como “Barrela”, escrita em 1958, com apenas 23 anos, cuja encenação só fui conhecer bem mais tarde, e “Dois Perdidos Numa Noite Suja”, na
inesquecível montagem carioca, a
primeira, salvo engano, também em 1967,
estreada no dia 3 de outubro,
curiosamente, no requintado Teatro
Maison de France, dirigida por Fauzi
Arap, tendo este e Nélson Xavier,
nos papéis de Tonho e Paco, respectivamente. Depois dessa
temporada, seguiu-se outra, no Teatro
Gláucio Gill, até fevereiro de 1968.
Essas duas peças me marcaram para
sempre. Assisti às duas montagens
mais de uma vez. De lá para cá, até estes nossos dias “de chumbo” (Já vimos
esse filme e não gostamos. Era em preto e branco e o mocinho morria no final.),
eu e PLÍNIO, vivemos um “casamento
platônico”, sem que ele disso soubesse. Não chegamos a nos conhecer,
pessoalmente. Aliás, lamento muito nunca ter tido a oportunidade de lhe dizer,
cara a cara: “Você é um gênio!”. Mas
tantos o fizeram por mim, e ainda o fazem, hoje, em pensamento. Já passa, portanto, de meio século a minha
paixão declarada por um dos nossos maiores dramaturgos:
PLÍNIO MARCOS de Barros, falecido em
1999 e que tanta falta nos faz,
hoje, nesta nossa luta por liberdade de expressão e respeito à diversidade
humana, contra uma “ditadura legítima e democrática (?), paradoxalmente
eleita”.
Em pleno regime de exceção, imposto
pela maldita ditadura militar de 1964 –
FOI GOLPE, SIM!!! - (“Página infeliz
da nossa história...” – Chico Buarque de Holanda.), PLÍNIO ousou, com muita coragem e bravura, desafiar os “gorilões”
de plantão, questionando o que havia de mais podre no regime e mergulhando nos
porões da alma humana, daqueles menos favorecidos, dos marginalizados, na intenção
de retirar, dos olhos de uma burguesia acomodada (pleonasmo), as vendas que a
impediam de enxergar uma realidade em chagas e fazê-la ter a consciência de que
a Terra poderia ser azul, como
revelou, em 1961, o cosmonauta russo
Yuri Gagarin, mas que a vida não era
cor de rosa.
É impressionante como um homem que,
academicamente, só havia concluído o curso
primário pudesse ter a visão de mundo que PLÍNIO tinha e, autodidata, em dramaturgia,
tenha deixado uma extensa lista de obras
dramáticas (quase 30 peças), a
grande maioria de grande sucesso, além de muitos
livros e 4 peças infantis (uma inacabada)!
Pasmem!!! PLÍNIO MARCOS é comparável, nesse sentido, ao grande compositor Cartola, um estupendo poeta, “de poucas
letras”. A prova do grande talento de PLÍNIO
é que, além do enorme sucesso que seus textos
sempre fazem, no Brasil, suas peças já foram traduzidas para outros
idiomas (inglês, espanhol, francês e
alemão) e representadas em várias cidades onde se falam essas línguas. “NAVALHA NA CARNE” e “Dois Perdidos Numa Noite Suja” são os
seus textos mais encenados e dos
mais conhecidos e apreciados, ainda que, na minha modesta opinião, outros a
esses dois se equivalham. Algumas de suas peças
também receberam versões para o cinema.
Se eu me propusesse a falar, com
detalhes, sobre a vida e a obra de PLÍNIO MARCOS, esta crítica
ficaria muito longa. Fico, então, com a proposta de dissecar a “NAVALHA...”, mais propriamente, a montagem que está encerrando temporada
na Arena do SESC COPACABANA (VER
SERVIÇO.), mas que já está agendada para estrear no Teatro Gláucio Gill, em 11
de maio próximo (VER SERVIÇO.). Não
esperem, porém, para ver na segunda
temporada; ou assistam à peça
nas duas, como eu fiz e voltarei a fazer!
SINOPSE:
NEUSA SUELI (LUÍSA THIRÉ) é uma prostituta decadente e explorada por VADO (ALEX NADER), seu cafetão. Moram
numa pensão de décima categoria, um verdadeiro pardieiro. Em meio a brigas e
desavenças, ela vai às ruas, para ganhar dinheiro, enquanto VADO sai com outras mulheres e passa a
vida sossegado, sem trabalhar, na vagabundagem.
O
que eles não esperavam era que VELUDO
(RANIERI GONZALEZ), um homossexual que trabalha como faxineiro, na pensão,
roubasse todo o dinheiro de cima do criado-mudo do quarto dos dois, enquanto NEUSA SUELI estava fora, “fazendo a
vida”, e VADO dormia, vadiando.
Ao
retornar da rua, chegando de seu trabalho, entrando no quarto insalubre que
habita, NEUSA SUELI encontra seu
explorador, VADO, muito irritado e
agressivo, por não ter encontrado o dinheiro que ela “deveria ter deixado para
ele” e que a meretriz jurava tê-lo feito, ao sair, para ganhar a vida, deixando-o sobre
o já citado móvel.
A
prostituta, consequentemente, é intimada, por VADO, a dizer onde estava o tal dinheiro e o proxeneta inicia uma
calorosa discussão com a amante, cobrando-lhe o que “lhe era de direito”.
O
casal passa a investigar o principal suspeito do “sumiço da grana”, VELUDO, a única pessoa com acesso ao
aposento. Ele é, então, chamado ao quarto, para esclarecer sobre o roubo.
Após
acirrada discussão entre os três, VELUDO,
depois de violentamente agredido por VADO,
assume a autoria do furto, “justificando” o seu ato como uma “necessidade”,
pois precisava de dinheiro para “comprar amor”, para dá-lo a um rapaz, como
pagamento pelos seus “préstimos sexuais”. Promete, contudo, devolver a grana,
quando recebesse seu salário mensal e consegue fugir das garras do violento VADO.
A
briga revela preconceitos e ignorância, intolerância e humilhações,
agressividade e desamor, poder e subserviência.
Depois
de desvendado o mistério do roubo, NEUSA
SUELI dá todo o seu dinheiro para o cafetão, já que este ameaçava ir
embora, sumir da vida daquela mulher-objeto.
NEUSA SUELI tranca o quarto e esconde a chave, ameaçando seu amante com uma
navalha, caso este insistisse em se recusar a manter relações sexuais com ela.
VADO consegue
levar NEUSA SUELI na conversa, seduz
a prostituta, recupera a chave e abandona-a, solitária, no quarto imundo, frio
e impessoal, o seu microuniverso.
“NAVALHA NA CARNE” conta, num tempo curto, de uma madrugada, a história de três personagens marginais, ou marginalizados, que falam dos seus
cotidianos, suas condições de “vida” (?), deixando à vista as cicatrizes
marcadas pelo tempo e expondo, cada um deles, o seu nível de conduta, para
atingir a “felicidade”.
Os
três encarnam a existência subumana, marginalizada, a qual, normalmente, é
varrida para debaixo do tapete.
Extraído do “site” oficial da peça: “NAVALHA NA CARNE” conta a história de três
pessoas, cujas diferenças e visões distintas do mundo corroboram para que haja
conflitos em apenas um ato, trazendo uma tonicidade existencial, ao falar de três
marginalizados. A força, porém, do texto extrapola o âmbito do extrato social
ao qual pertencem os personagens, elevando o texto a uma sensível discussão de
questões inerentes ao ser humano, independentemente da classe social ou da época
à qual pertençam.”.
O texto de “NAVALHA...” obedece ao estilo pliniano, de uma dramaturgia violenta, marginal, realista, cruel, amada,
respeitada e disputada por toda a classe
artística do TEATRO, atores e diretores. Todos desejam montar PLÍNIO; um currículo de um ator/atriz ou diretor/a não estará completo, se não houver uma montagem de um se seus textos, pelo menos. Acaba se tornando
um sonho de consumo e uma realização profissional.
A
peça foi encenada, pela primeira
vez, em São Paulo
(1967), após uma luta ferrenha por sua liberação, uma vez que a nojenta e burra Censura Federal, um
câncer para a CULTURA, não queria
liberá-la, para ser levada ao palco. À frente da batalha contra os censores, os
(falsos) “guardiões da moral da família
brasileira”, estavam a própria TÔNIA
CARRERO, Walmor Chagas e Cacilda Becker (Que trio inesquecível e saudoso!!!), principalmente, além de
outros artistas e intelectuais. Na verdade, a sua
liberação se deu graças à insistência de TÔNIA
e ao descrédito do ignorante general/censor,
que duvidou de que uma mulher como ela, linda, culta e de alta estirpe,
conseguisse viver a personagem feminina
da peça. Não levou fé o idiota. Ainda bem, porque TÔNIA se propôs à desconstrução de um estereótipo já construído, em
função de papéis anteriores, de uma mulher lindíssima e que só fazia personagens ricas e felizes, e
construiu uma NEUSA SUELI como
poucas atrizes conseguiriam fazer.
Na primeira montagem, na capital paulista,
o elenco era formado por Ruthnéia de Moraes (NEUSA SUELI), Paulo Villaça (VADO) e Edgard Gurgel Aranha (VELUDO), com direção de Jairo Arco e
Flexa. Depois da montagem carioca,
que contou com brilhantes e inesquecíveis interpretações de TÔNIA (NEUSA SUELI), Nélson Xavier (VADO) e Emiliano Queiroz
(VELUDO), sob a direção de Fauzi Arap, o
texto voltou a ser censurado,
pela ditadura militar, depois de fatídico AI-5, e só pôde ser encenado 13 anos depois.
São incontáveis
as montagens da peça. Assisti a várias, feitas por profissionais, estudantes de TEATRO e amadores, porém todos os meus
mais calorosos aplausos vão para a de TÔNIA
e a atual, dirigida, brilhantemente,
por GUSTAVO WABNER e tendo, no elenco, LUÍSA THIRÉ (NEUSA SUELI), ALEX
NADER (VADO) e RANIERI GONZALEZ
(VELUDO).
A
propósito, a atual montagem, no título, vem acompanhada por uma espécie
de subtítulo: “UMA HOMENAGEM A TÔNIA CARRERO”. Trata-se de um projeto de sua neta, LUÍSA THIRÉ, que começou em março de 2018, para comemorar os 95 anos da atriz, completados em 23 de agosto de 2017. TÔNIA
faleceu no dia 3 de março de 2018 e
a peça estreou, em São
Paulo, no dia 23
de agosto de 2018, quando a atriz
completaria 96 anos. Fez um
estupendo sucesso, cumpriu apresentações em Niterói (RJ) e nos festivais
de Pernambuco e Curitiba, neste ano; agora, está à disposição dos cariocas. Inclui
uma exposição sobre a grande diva do TEATRO BRASILEIRO – “ETERNA TÔNIA” - no “foyer”
da Arena do SESC Copacabana, com curadoria de LUÍSA THIRÉ e ambientação
de SÉRGIO MARIMBA, também
responsável pelo cenário da peça. Antes do início do espetáculo, o espectador é brindado com
um vídeo, de cinco a seis minutos, narrado por Carlos Arthur Thiré, também neto da homenageada, com ótimos
depoimentos da própria e de PLÍNIO,
sobre a peça (“A arte, nas mãos dos poderosos, constrange mais do que as armas.” –
PLÍNIO MARCOS.).
TÔNIA
CARRERO foi uma mulher à
frente do seu tempo, das mais respeitadas e admiradas no país, por sua exagerada beleza, seu contagiante carisma e seu indiscutível talento. Para ela, “NAVALHA...” lhe daria, por meio de uma
personagem “gauche”, a oportunidade de provar que também era uma
intérprete de forte potencial dramático, como o fez e continuou fazendo, até o
seu abandono dos palcos. Convenceu os mais céticos.
Sobre o texto, muito bem construído, diga-se de
passagem, por meio de diálogos simples,
curtos e contundentes, chegando a chocar os mais puritanos, predominando,
como não poderia deixar de ser, o linguajar chulo do trio de personagens, podemos dizer que ele
encerra, de forma bem verossímil, um quadro do submundo universal (A peça
faz sentido em qualquer ponto do planeta Terra.
O tema é universal e atual; atemporal, ficaria melhor). Ou falar de violência contra a mulher, de homofobia,
da supremacia de opressores contra
oprimidos não é prato principal nas mídias de hoje, em qualquer parte do
mundo? Ou a exploração sexual também
não existe em todas as esquinas das pequenas e grandes cidades? Ou o “bas-fond”
só existe na literatura, na imaginação dos escritores? Ou pobreza, miserabilidade e
marginalidade existem apenas na
ficção? No fundo, no fundo, a solidão é
o grande tema da peça. Ao mesmo tempo, “NAVALHA
NA CARNE”, título metafórico, dúbio, expressivo e muito bem escolhido pelo autor, é um texto visceral, violento, realista e... poético. Mais do que uma visão metafórica, enxergamos, em cena, uma
alegoria gigante de opressor sobre oprimido, em embates,
nos quais os papéis daquele e deste são trocados, cena a cena. Ora VADO pisoteia NEUSA SUELI, humilhando-a de todas as formas, física e/ou
moralmente; ora é ela quem tripudia sobre o acuado e frágil VELUDO; ora é VADO, sempre dando as cartas, quem pisa, com todo o seu peso, sobre
os dois mais fracos. Nos confrontos, entram em cena a força física do mais forte
sobre o mais fraco, a sedução, como moeda de barganha, assim como a autopiedade
e a total falta de empatia.
GUSTAVO
WABNER, que, há algum tempo, vem trabalhando na assistência de direção de consagrados diretores, como Sérgio
Módena, Gabriel Vilella e Naum Alves de Souza, tem a
oportunidade, em sua primeira assinatura, como diretor, em seu primeiro voo, como encenador, de mostrar o quanto aprendeu com seus mestres e optou
por uma encenação despudoradamente realista, exigindo o máximo de verdade
dos atores, os quais respondem à
altura de tal exigência. Segundo o diretor,
tal opção se deve ao fato de o realismo
propiciar, ao espectador, “um maior entendimento, maior clareza, sobre
o universo que o dramaturgo retrata”. E segue: “Nosso grande desafio foi tentar
descobrir os silêncios, não cair na armadilha do grito, e, assim, descobrir as
camadas e a humanidade dos personagens. Tentamos descobrir, também, alguma
leveza e, quem sabe, até, alguma poesia”. Percebe-se uma total
obediência do diretor ao texto, acrescida de interessantes
pitadas pessoais, que enriquecem, sobremaneira, o trabalho. Os sentimentos de
raiva, ira, ódio, que consomem o interior de cada personagem, principalmente VADO,
são externados, de forma explosiva, em cenas muito verdadeiras, violentas, que,
a despeito de qualquer técnica empregada pelos atores, no trabalho de interpretação,
podem render-lhes ferimentos físicos. É tudo muito real, muito impressionante.
É um espetáculo tenso, que prende a
atenção do espectador, desde a primeira cena, e desperta-lhe uma ansiedade
incontida, por saber até onde os três personagens
conseguirão sustentar aquela situação.
É extremamente satisfatório o rendimento do elenco. Cada um dos três apostou todas as fichas em seus personagens. LUÍSA, ALEX e RANIERI mergulharam, profundamente, nos
estereótipos que representam. Ela não passa de uma mulher que respira, mas não
vive, totalmente sem esperança, incapaz de alimentar sonhos, refém de uma
rotina miserável, completamente submissa à tirania de seu homem. Um retrato
simbólico de tantas neusas suelis
que, diariamente, sofrem violências e humilhações, de toda sorte, por parte de seus maridos,
noivos, namorados, quando não são assassinadas por eles. É excelente o trabalho
de LUÍSA THIRÉ, a qual, por vezes –
sem exagero de minha parte – me fez enxergar TÔNIA, sob as luzes dos refletores.
VADO
também é um grande ponto positivo na carreira de ALEX NADER, um ator visceral, o que já provou em espetáculos anteriores a este. Seu VADO foi construído à luz de muito
estudo e observação de tudo o que já se disse a respeito da figura dos
exploradores de mulheres. O ator convence, plenamente, o público na pele de seu
personagem, violento e debochado,
insensível e egocêntrico, cabotino e arrogante, machão e cafajeste...
RANIERI
GONZALEZ, até então, desconhecido para mim, salvo engano, carrega nas
tintas, na composição do homossexual, o que, absolutamente, deve ser
considerado como uma crítica negativa. Ao contrário, parece-me que o personagem deve ser mostrado, mesmo, como
ele o faz, exageradamente afetado e demonstrando uma fragilidade, como se uma
mulher fosse. É inevitável que provoque risos, vez por outra, com suas falas e
trejeitos, o que pode ser decodificado, talvez, como uma espécie de
preconceito, por parte de alguns espectadores, a despeito de, por outro lado,
seu comportamento ser totalmente esdrúxulo e, portanto, fora dos padrões
estabelecidos por uma sociedade preconceituosa. Aplausos também para o trabalho
desse ator.
Os criadores responsáveis pelos elementos
técnicos da montagem, todos profissionais do mais alto gabarito e premiados,
foram muito felizes em seus projetos,
individuais, porém interligados. Um só serve e satisfaz em função do outro.
Falo de cenografia, figurinos, iluminação, trilha sonora,
direção de movimento e visagismo.
A propósito, extraído do “release” da peça, enviado por BARATA
COMUNICAÇÃO, com cortes e adaptações: “A equipe criadora (...) imaginou o quarto
de pensão, onde se desenvolve toda a ação dramatúrgica, como se ele existisse,
onde tudo o que acontece fosse possível, realmente, ocorrer. Representamos o
quarto da pensão da maneira mais natural. Na hora em que a NEUSA SUELI abre a
torneira, sai água de verdade. A luz que existe nesse quarto de pensão é uma
iluminação possível de existir, não há liberdades estéticas; há um neon, que reflete
no quarto, pela janela, que vaza pela fresta da porta. Na trilha, não há música
que venha de fora do quarto. Há um rádio/cd, fisicamente presente, na cena. Ele
é usado, para trazer todos os momentos musicais do espetáculo. Quando o rádio
toca na peça, ele toca de verdade. Quando há a trilha incidental, são barulhos
que existem na vizinhança: um caminhão que passa, a sirene da polícia, um cão
que late etc.. A ideia do diretor é que neste “quarto/ringue”, os três
personagens sejam invadidos por tudo o que acontece ao redor”.
SÉRGIO
MARIMBA projetou e construiu um cenário
perfeito, para a peça, não só nas
dimensões e formato do quarto, como também com relação a tudo o que existe
dentro dele. Trata-se de uma estrutura que se abre, triangularmente, para a plateia,
e esse formato me pareceu bem simbólico, se considerado o triângulo formado
pelos personagens, não, exatamente, amoroso. É impressionante o nível de
detalhamento, com relação ao que se poderia chamar de direção de arte. Todos os objetos e peças em cena têm uma função e
são a prova mais contundente de um refinado trabalho de pesquisa do cenógrafo, o qual, dentro da proposta realista da direção, faz até
com que, como já foi dito, de uma torneira, numa pia, jorre água de verdade. Os
traços de desgaste e deterioração do ambiente são impressionantes. Trabalho
merecedor de prêmios.
Os figurinos, propostos por um craque, MARCELO MARQUES, caem como uma luva para cada personagem. Todas as peças foram escolhidas, minuciosa e
acertadamente, pelo figurinista. Junto
com o ótimo trabalho de visagismo,
de ROSE VERÇOSA, eles são responsáveis
pela perfeita identidade visual de cada
estereótipo.
Em consonância com a cenografia, e para mais valorizá-la, PAULO CESAR MEDEIROS executa, nesta peça, um de seus mais marcantes
trabalhos, como iluminador, dosando
intensidades e cores, atentando para detalhes que podem passar despercebidos ao
espectador comum, porém serão sempre observados e aprovados por quem assiste ao
espetáculo com uma visão e
conhecimento mais técnicos. O detalhe do neon, na fachada do prédio, que fica
parcialmente visível, quando a janela está aberta é um deles. Mais importante,
nesta montagem, que a presença da luz é a ausência ou precariedade dela,
o que está totalmente de acordo com a proposta
da direção.
Os detalhes da direção musical, a cargo de MARCELO
ALONSO NEVES, já foram comentados, em algum dos parágrafos acima, no que
diz respeito à sonoplastia, a sons incidentais. Só me resta
acrescentar que se trata de um excelente
trabalho, faltando falar do aspecto brega das canções escolhidas para a trilha
sonora, a cara dos personagens e
da peça.
Para fechar os comentários sobre a parte técnica, faz-se necessária uma
menção elogiosa ao desafiador trabalho de direção
de movimento, assinado por SUELI
GUERRA, responsável pelos deslocamentos dos atores em cena e de uma “coreografia”,
para os embates físicos, de forma que LUÍSA,
ALEX e RANIERI passem muita verdade, com o cuidado de não se ferirem em cena.
FICHA TÉCNICA:
Texto: Plínio Marcos
Direção: Gustavo Wabner
Elenco: Luísa Thiré, Alex Nader e Ranieri
Gonzalez
Cenário: Sérgio Marimba
Figurinos: Marcelo Marques
Iluminação: Paulo Cesar Medeiros
Direção Musical: Marcelo Alonso Neves
Direção de Movimento: Sueli Guerra
Preparação Vocal: Ana Frota
Visagismo: Rose Verçosa
Fotografia e Design: Victor Hugo Cecatto
Vídeo: Carlos Arthur Thiré, Marcelo Duque e
Luísa Thiré
Direção de Produção: Celso Lemos
Supervisão de Produção: Norma Thiré
Assessoria de Imprensa: Barata Comunicação
Idealização: Luísa Thiré
SERVIÇO:
Temporada: De 11 de abril a 28 de abril de
2019.
Horários: De quinta-feira a domingo, às 19h.
Classificação Indicativa: 16 anos.
Duração: 75min.
Ingresso: R$30,00 (inteira), R$15,00 (meia
entrada) e R$7,50 (associados SESC).
Local: Sesc Copacabana - Arena.
Endereço: Rua Domingos Ferreira, 160 –
Copacabana, Rio de Janeiro / RJ.
Telefone: (21) 2548-1088.
Gênero: Drama.
EXPOSIÇÃO ETERNA TÔNIA:
Período: De 13 de abril a 28 de abril de 2019.
Horários: de terça-feira a domingo, das 10h
às 21h.
Classificação Indicativa: Livre.
Ingresso: GRATUITO.
Local: “Foyer” do Teatro Arena do Sesc
Copacabana.
Endereço: Rua Domingos Ferreira, 160 –
Copacabana, Rio de Janeiro / RJ.
Telefone: (21) 2548-1088
ATENÇÃO!!!
A
partir do dia 11 de maio, até o dia 03 de junho, segunda temporada carioca, no
Teatro Gláucio Gill, de 6ª feira a 2ª feira,
às 20h.
Desde sua estreia, no ano passado, em São
Paulo, eu aguardava, ansiosamente, a oportunidade de
conferir esta montagem, na certeza de
que ela me agradaria muito, porém confesso, com muita alegria e, também,
orgulho, dos nossos artistas, que
ela superou, em muito, tudo o que eu esperava dela. Merecia, mesmo, portanto, uma
segunda temporada; quiçá, outras.
Recomendo,
com o maior empenho, esta peça e, em especial, parabenizo, LUÍSA THIRÉ, pela idealização do projeto, e GUSTAVO
WABNER, pela coragem de debutar, como diretor,
com este clássico de PLÍNIO MARCOS,
fazendo-o com muita competência, o que já o credencia a assumir outras direções. Só não gostaria de perder o bom
ator, que ele também é.
(FOTOS: VICTOR HUGO CECATTO.)
E VAMOS AO TEATRO!!!
OCUPEMOS TODAS AS
SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!
A ARTE EDUCA E
CONSTRÓI!!!
RESISTAMOS!!!
COMPARTILHEM ESTE
TEXTO, PARA QUE, JUNTOS,
POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO
BRASILEIRO!!!
GALERIA PARTICULAR:
Com Luísa Thiré.
Com Alex Nader.