A
PRÓXIMA
ESTAÇÃO
–
UM
ESPETÁCULO
PARA
LER
(E PARA RIR...
...E PARA CHORAR...
...E PARA SE APLAUDIR
MUITO!!!)
Não
é a primeira vez que escrevo uma crítica
sobre um espetáculo que já saiu de
cartaz. E nem será a última, visto que me falta tempo para escrever sobre todas
as peças de que gosto, durante o
tempo em que estão sendo apresentadas. Infelizmente. O fato é que só pude
assistir ao excelente espetáculo em
pauta na última semana em que esteve em cartaz, numa curtíssima temporada, no
Mezanino do SESC Copacabana (até o dia
24 de fevereiro de 2019), e não tive tempo hábil, para fazer o registro do
quanto fiquei apaixonado por ele.
Confesso
que, quando recebi o convite, acompanhado pelo “release”, enviado por BIANCA
SENA (ASTROLÁBIO – ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO), fiquei um pouco intrigado e
apreensivo, uma vez que, apesar de considerar o ator CACÁ CARVALHO um
dos maiores representantes do nosso TEATRO,
custava-me acreditar que poderia ser interessante ficar ouvindo alguém “ler uma peça”. Não fora convidado para
uma “leitura dramatizada”, mas para assistir a “um espetáculo para ler”. Convite inusitado, no mínimo. Em que
daria isso? O verbo “LER” estaria
sendo utilizado denotativa ou conotativamente? Quem leria? Seria “LER”, no sentido de decodificar, entender,
a plateia, sentir o espetáculo, ou
seria alguém, no caso, um ator, CACÁ, quem leria um texto teatral? O que eu não poderia,
absolutamente, era deixar de conferir essa proposta, a qual, por mais “estranha”
que pudesse parecer, tinha tudo para ser muito interessante, já que o nome de CACÁ CARVALHO fazia parte da ficha
técnica.
A
peça foi escrita pelo premiado autor italiano MICHELE SANTERAMO e
encenada, no início de 2015, na Itália pelo próprio autor, com excelente repercussão
crítica. Na trajetória de vidas de dois
personagens, o casal VIOLETA e MASSIMO, vamos nos preparando para
saber “o que pode acontecer nos próximos sessenta anos e como nossas vidas
terão de se adaptar às mudanças que as escolhas de hoje irão produzir”.
SINOPSE:
Em um espetáculo “para
ler”, CACÁ CARVALHO está no
palco e dialoga com a projeção das
imagens de CRISTINA GARDUMI.
Lê, de uma maneira
toda especial, a história de VIOLETA
e MASSIMO, um casal, cheio de
ironias, poesias, conflitos, que vive junto por 50 anos.
Vivem até o ano de 2065, em desentendimento com o mundo e o
tempo vivido.
As imagens cumprem o papel de dar fisicalidade aos personagens, os quais se comunicam
através da voz de CACÁ.
Sinto uma certa
dificuldade para classificar, didaticamente,
o que vi, naquela noite, o que não faz a menor diferença. Sei, porém, que se
trata de algo inesquecível, um trabalho de profunda riqueza, sensibilidade e técnica,
capaz de prender a atenção do espectador do início ao fim e de provocar aquele
desejo de “quero mais”, quando tudo
termina.
O
que vemos, em cena, é, de acordo com o que se pode ler no “release” já mencionado, “o homem e sua crise em viver - foco de
interesse artístico de CACÁ CARVALHO -, centrada no casal VIOLETA e MASSIMO;
juntos, repassam o curso de suas vidas em seis estações, marcadas por
intervalos de uma década, ao longo de 50 anos, de 2015 a 2065. O espetáculo
pontua as alterações deste percurso comum aos dois, os pequenos e grandes
embates do relacionamento, as modificações de seus desejos, a expressão da
ternura, a maneira como eles se divertem, a inata delicadeza e as adaptações
que terão de enfrentar, impostas pelo novo modo de vida de um futuro fictício,
no qual pulsações profundas, desejos e paixões se deslocam no tempo. Para
tratar do futuro, contendo o tempo presente, o autor concebeu o texto teatral
para, como explicita o subtítulo, ser lido. CACÁ CARVALHO sobe ao palco,
acompanhado de dois protagonistas, criados pela artista plástica e ‘performer’
italiana CRISTINA GARDUMI, a partir do estudo do texto de SANTERAMO. Para
traduzir, em desenhos, a história de 50 anos de vida de VIOLETA e MASSIMO, CRISTINA
criou criaturas humanas animalizadas, ou animais humanizados, com traços de
extrema delicadeza, unindo gestualidade teatral, emoções e profundos impulsos.”. (Extraído do "release".)
Não se veem, em
cena, em forma concreta, dois personagens
no corpo pleno de um mesmo ator,
mas, sim, ouvem-se dois personagens, saindo da boca de um grande ator, na forma das falas que compõem os diálogos. Cada um,
do casal, com suas características de entonação, inflexão, ritmo, sensibilidade
e intenções, com o detalhe principal, e imprescindível, de as vozes irem se
transformando, à medida que os protagonistas
envelhecem, ao longo de cinco décadas.
Um trabalho filigranado, que só um(a)
grande ator/atriz, da magnitude de
um CACÁ CARVALHO ou de uma FERNANDA MONTENEGRO, seriam capazes de
dar conta. No caso desta, com sua recente “performance”
“Nelson Por Ele Mesmo”, era uma
leitura enxertada de muitos elementos, mas não
se tratava de uma história, traduzida em diálogos. Era uma pura narrativa.
De igual valor, porém uma proposta completamente diferente.
Enquanto dá
conta dos diálogos, “lidos”, da forma mais expressiva
possível, para ajudar a situar o público e para ilustrar o que está sendo dito,
“legendas
acompanham os desenhos projetados em um painel, e desempenham um papel
fundamental, para que se estabeleça o jogo teatral: Projetadas com legendas,
são lidas pelo espectador, criando um fluxo de diálogo entre o espectador, a
página escrita e a mediação evocativa da voz do ator”. (Extraído do “release”.)
Paradoxalmente, podemos dizer que se
trata de um espetáculo de TEATRO sem atores, porém com personagens,
quase materializados. Se fecharmos os olhos, como fiz, por duas ou três vezes,
somos capazes de ver, além de ouvir, VIOLETA
e MASSIMO, na forma física, um tanto
quanto esdrúxula, como nos foram apresentados, entretanto inseridos num cenário, que podemos imaginar, num
exercício inquestionável, do ator,
de provocação e procura de interação com a plateia, mesmo que essa possa não ter
sido a intenção dos criadores da peça.
Embora, para o grande público, CACÁ CARVALHO tenha se tornado popular,
graças a um personagem, muito
carismático, vivido num folhetim televisivo, em 1998, teve poucas outras participações na TV, visto que sua formação é
de palco e é nele que vem mostrando, há cerca de quatro décadas, seu enorme talento. Foram muitos os
sucessos, como a inesquecível montagem de “Macunaíma” (1978), dirigida por Antunes Filho; “O Homem com a Flor na Boca” (1994); “Partido” (1999), convidado pelo Grupo Galpão; “A Poltrona Escura” (2003),
“O Homem Provisório” (2007), inspirado
na obra de Guimarães Rosa; “umnenhumcemmil (2013); e “2 X 2 = 5 - O Homem
do Subsolo” (2015);
isso do que me lembro sem muito pesquisar. Como se vê, CACÁ é um ator que desafia
os desafios.
É tudo muito simples, aparentemente,
neste trabalho. Parece que tudo se resume a uma pessoa, num palco, lendo, e um “pobre”
cenário: uma estante para partituras, onde se apoiam as folhas do texto e uma tela, na qual alguém faz
projeções; e outra pessoa, que se encarrega de inserir sons e canções. O fato,
porém, é que a sincronização disso tudo, das falas com as imagens e os sons
paralelos emitidos, é algo que requer muito ensaio e entrosamento dos
envolvidos. Caso contrário, o espetáculo
não seria irrepreensível, como é.
O ator e o diretor foram
minuciosos, bastante detalhistas, na evolução dos personagens, a cada década vivida e vencida. Tudo o que ocorre, de
verdade, na vida em comum de um casal é retratado em cena, os momentos bons e
os difíceis, sempre em busca da tentativa de fugir à rotina, tão cantada e
decantada, num casamento, principalmente nos relacionamentos longevos.
FICHA
TÉCNICA:
(De uma ideia de Luca Dini e
Michele Santeramo)
Texto e
Direção: Michele Santeramo
Tradução: Cacá Carvalho
Elenco: Cacá Carvalho
Ilustrações: Cristina
Gardumi
Coordenação Artística:
Márcio Medina
Assistente de Direção na
Itália: Erica Artei
Colaboração Artística:
Roberto Bacci
Músicas Originais: Sergio
Altamura, Giorgio Vendola e Marcello Zinn
Sonorização e Projeção:
Kako Guirado e Tiago Mello
Operação de vídeo, Som e Luz:
Michelle Bezerra
Fotografia: Lenise Pinheiro
Produção Executiva: Thaís
Venitt
Produção Geral: Núcleo
Corpo Rastreado/ Gabi Gonçalves
Fiquei profundamente emocionado com
a história do casal e com o modo como CACÁ
CARVALHO vai conduzido a narrativa, cheia de diálogos humanos, sinceros,
contundentes, engraçados, por vezes, e, acima de tudo, com a verdade e emoção
colocadas, pelo grande ator, em cada
uma das palavras sopradas ao vento, para que a saboreemos, da forma mais
prazerosa possível.
Lamento por aqueles que não tiveram
a oportunidade de assistir ao espetáculo
e fico na esperança de que os DEUSES DO
TEATRO intercedam, para que, no mínimo, uma outra temporada aconteça no Rio
de Janeiro. Estarei presente na reestreia, certamente, e muito feliz.
(FOTOS:
LENISE PINHEIRO.)
E VAMOS AO TEATRO!!!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!
A ARTE EDUCA E CONSTRÓI!!!
RESISTAMOS!!!
COMPARTILHEM ESTE TEXTO, PARA QUE, JUNTOS,
POSSAMOS DIVULGAR O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO BRASILEIRO!!!
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