SEGREDO
DE
JUSTIÇA
(POR TRÁS DE UM ESPELHO
QUE NEM SEMPRE REFLETE
A VERDADEIRA REALIDADE.
ou
O OUTRO LADO DA JUSTIÇA.)
Qual
é o tipo de TEATRO que me arrebata,
que me faz voltar para casa em estado de graça e, imediatamente, desejar que
todas as pessoas que amo, e, até mesmo, as que não (São poucas. Afinal, não
nasci Madre Teresa de Calcutá.)
tenham a oportunidade de provar do mesmo prazer? As que amo, como um grande
presente, que bem merecem; as que não, como uma oportunidade de se tornarem
pessoas melhores. E a resposta é muito simples: é, certamente, um TEATRO feito com muito amor, garra e competência, o
que, por outro lado, não basta, se não houver uma boa ideia, uma ótima
história, uma excelente dramaturgia,
uma excepcional direção, em estupendo elenco, uma plêiade de formidáveis profissionais ligados à área técnica, de que o TEATRO não pode abrir mão. Quase acabaram
os adjetivos!!! Em suma, é preciso que a ficha
técnica seja da melhor qualidade e o desempenho em cena idem. Pensam como
eu? É isso o que desejam ver? Então, corram ao Teatro SESC Ginástico (A
temporada é curta e termina no dia 10 de fevereiro/2019), para ver “SEGREDO DE JUSTIÇA”, espetáculo baseado no livro homônimo (EXCELENTE, por sinal!!!”), da juíza e “mulher do TEATRO”, ANDRÉA
PACHÁ, que recebeu dramaturgia
de CAROLINE LAVIGNE, com orientação dramatúrgica de PEDRO
KOSOVSKI, direção de MARCO ANDRÉ NUNES, reunindo um elenco de cinco admiráveis atores, em corretíssimas interpretações: ALEXANDRE BARROS, CARMEN FRENZEL, FABIANNA
DE MELLO E SOUZA, LEANDRO
DANIEL e MATHEUS MACENA (em
ordem alfabética).
Como
é a vida pessoal de uma juíza? Como é sua maneira de enxergar o mundo, fora dos
tribunais? Como é a sua porção “gente”? E, do ponto de vista profissional, o
que se passa na cabeça dela, quando se vê diante da obrigação de emitir um
julgamento, de definir o destino de uma pessoa - a que está sendo julgada - e
de muitas outras que a cercam, amigos e familiares, muitas vezes dela dependentes? Como agir, diante de
situações que envolvem relações familiares destruídas, dilaceradas; problemas,
sociais e afetivos, surgidos com a inevitável velhice do ser humano; envolvimentos
amorosos, sonhados para se tornarem eternos, porém que, num piscar de olhos, sem
que se espere ou se deseje, somem, no ar, evaporam, acabam, indo de encontro
ao que foi idealizado; disputas, por bens materiais, guardas de terceiros;
medos, orgulhos, vinganças, desejos...? Esse é o cardápio, do dia a dia, de
quem veste uma toga e, acima de tudo, sabe respeitá-la e honrá-la, o que,
infelizmente, (GRIFO MEU!!!), no Brasil, não é o caso de muitos dos togados. ANDRÉA PACHÁ é um exemplo de magistrada, motivo de orgulho de seus pares
e amigos, como eu, quer como profissional, quer como ser humano, de primeira
grandeza.
ANDRÉA escancarou as portas de seu
coração e nos revela, em alguns livros, os bastidores dos julgamentos, das audiências
de conciliação, dos corredores dos tribunais de justiça, ao mesmo tempo que parece querer dividir conosco um pouco do
peso que carrega em seus ombros. Seus acertos? Seus erros? E o faz de uma forma
plena, utilizando uma escrita linda, clara e objetiva, tendo, como instrumento,
uma “linguagem de gente”, muito longe do jargão utilizado por seus pares, os
quais parecem não ter interesse em que ninguém os entenda. Ela é uma narradora
em potencial, parece que está diante de nós, contando suas histórias e
vivências profissionais, quando a lemos. Explica-se a fluência e “limpeza” de sua escrita pelo
fato de, além de grande conhecedora do idioma de que se utiliza, ter trabalhado
como roteirista e produtora de TEATRO,
antes de fazer brilhante carreira no Direito.
De suas obras,
só não li, ainda, “A Previdência
Injusta” e a mais recente, “Velhos
São Os Outros”, o que espero fazer muito em breve. Os demais li em um ou
dois dias, de uma só empreitada, com um prazer profundo, porque não temos vontade
de interromper a leitura.
“SEGREDO DE JUSTIÇA” é seu segundo
livro, depois do estrondoso sucesso de “A
Vida Não É Justa”, e já havia sido adaptado, há dois anos, para a TV, sendo apresentado, sempre, um caso
diferente, semanalmente, durante o programa “Fantástico”, revelando-se um dos momentos de maior “pique” na
audiência daquela atração dominical. E, no dia, seguinte, era comum serem
ouvidas conversas, debates, discussões acerca do que se viu na véspera.
“SEGREDO DE JUSTIÇA” reúne 46 textos (Apenas alguns,
evidentemente, foram aproveitados na peça.),
inspirados em histórias vivenciadas pela juíza, durante quase 17 anos de atuação em uma Vara de Família. No livro em que debutou, como escritora, o tema enfocado era “a
tragédia do fim do amor”; em “SEGREDO
DE JUSTIÇA”, a autora amplia o
leque dos sofrimentos e dos conflitos, abordando dramas que surgem a partir das
relações amorosas. Ainda que sob o
prisma da ficção, todos os dramas trazidos à tona são conflitos reais,
desfilados aos olhos da mediadora, pinçados de uma enxurrada de quase 20 mil audiências realizadas.
SINOPSE:
Baseado no livro homônimo, da Juíza ANDRÉA PACHÁ, o espetáculo tem, como ponto de partida, os personagens presentes na crônica do livro “SEGREDO DE JUSTIÇA”, lançado em 2014.
As histórias fazem refletir sobre as atuais mudanças em nossa sociedade e, consequentemente,
na justiça brasileira.
Casos de guarda compartilhada, em novas famílias, aborto e divórcios, por conta de traições virtuais, são levados à cena.
Na peça, os principais temas são compactados em cenas que
trazem, ao público, a emoção de situações tão humanas e inconcebíveis.
O que parece ficção, na verdade, faz parte da
realidade de muitos cidadãos brasileiros.
Quem sabe você não é um deles?
Fazer
a adaptação de um livro narrativo para uma peça
de TEATRO não é tarefa das mais fáceis. Essa mudança de estrutura artesanal
exige muita competência do adaptador,
um olhar fiel do que está escrito e um mergulho mais profundo nas entrelinhas,
sempre tendo, o adaptador, o cuidado
de manter todas as mensagens que o original
propõe. Por outro lado, como será um texto
a ser representado, e não lido, mas “vivido”, por atores, requer ele, o texto,
uma dinâmica especial, traduzida nos diálogos
e nas propostas contidas nas rubricas,
que possam permitir, ao diretor, um
bom trabalho e, aos atores, nada
diferente disso. Nesse sentido, foi felicíssima a jovem CAROLINA LAVIGNE, ao traduzir, numa ótima dramaturgia teatral o texto
narrativo de ANDRÉA.
Da
mesma forma, agiu MARCO ANDRÉ NUNES,
pai da dramaturga, na condução do
trabalho de dar forma ao espetáculo,
iniciando por um bom trabalho de mesa, que acabou sendo levado, de forma
dramatizada, para o palco, dando início à peça,
antes do desfile, propriamente dito, dos casos analisados. Uma ideia genial,
que merece uma explicação. Durante as primeiras reuniões do elenco com o diretor e a dramaturga,
o texto ainda era uma ideia. Discutiu-se
muito o “como iniciar a peça”;
debates, conversas, argumentações e propostas várias foram surgindo, tudo anotado
por CAROL. Depois, ela
aproveitou, para o texto final,
alguns desses momentos e, assim, surgiu a ótima
cena inicial da peça.
Essa
metalinguagem, de um grupo de TEATRO discutindo a melhor forma de transformar
o livro “SEGREDO DE JUSTIÇA” em peça teatral foi um achado genial da direção, que também acerta em todas as
soluções cênicas, de modo a ajustá-las a um único espaço físico, com boas
marcações e extraindo, de cada ator/atriz,
o seu melhor, em termos de capacidade interpretativa, uma atração à parte, no espetáculo.
É sempre muito gratificante assistir
a uma encenação que leva a chancela de MARCO
ANDRÉ NUNES, um diretor, por
assim dizer, de vanguarda, à frente de seu tempo, pelo fato de estar sempre
preocupado em
desenvolver uma linguagem cênica própria
e estar, constantemente, às voltas com uma pesquisa
acerca do trabalho do ator. “Nos últimos anos, investiga o atravessamento
entre TEATRO, música e performance”, com resultados memoráveis,
inesquecíveis, como os obtidos com o polêmico “Outside, Um Musical Noir” (2011), o idem “Cara de Cavalo” (2012), o belíssimo “A Porta da Frente” (2013), o excêntrico “Edypop” (2013), o fantástico “Laio
e Crísipo” (2015), a obra-prima “Caranguejo
Overdrive” (2015) e o desafiador “Guanabara
Canibal” (2017), todos premiados. “A ideia do diretor nesse projeto é resgatar
o antigo Teatro Fórum, dos anos 70, e, em alguns momentos, a plateia interagirá
com os atores.”, como consta no “release”,
enviado por ALESSANDRA COSTA (DUETTO ASSESSORIA DE IMPRENSA E COMUNICAÇÃO). E isso é ótimo!!! Há um determinado momento em que a plateia
tem a oportunidade de se colocar no lugar da juíza e decidir se deve ou não
condenar uma mulher que cometera um crime, bárbaro, à primeira vista, e "indefensável". Todos os dias, as reações e participações do público são as
mais diferentes possíveis, gerando calorosas discussões, por vezes, como ocorreu na sessão em que
estive presente. “O bicho pegou”, como comentamos, informalmente, eu e quase todos os
envolvidos no projeto, após o espetáculo. E que bom que pegue sempre!!!
Dois
dos idealizadores do projeto, ALEXANDRE BARROS e CARMEN FRENZEL, fazem parte do elenco,
ambos com uma cumplicidade, de amizade e profissão, há bastante tempo, o que
lhes facilita a relação profissional, em cena, a cujo ótimo trabalho vieram se
juntar FABIANNA DE MELLO E SOUZA, LEANDRO DANIEL e MATHEUS MACENA. Não há protagonistas,
não há protagonismo; cada um sabe
conquistar o seu espaço e valorizar os seus melhores momentos, oferecidos pelo texto. O resultado dessa experiência é
uma peça que flui, sem que percebamos
o tempo passar e, menos ainda, querendo que ele passe. Os cinco atores agem, em cena, com extrema naturalidade e passam muita
verdade, em qualquer momento de suas atuações, quer como os próprios atores, quer como personagens. As passagens de uma situação para outra são feitas de
uma forma tão simples e natural, que a gente tem a impressão de que estão “brincando de representar”, o que deve
ser tomado como um grande elogio para o quinteto, visto que essa “brincadeira” é das obrigações mais sérias
para quem representa num palco.
É interessante a proposta cenográfica, de MARCELO MARQUES e MARCO ANDRÉ NUNES, que leva, para o palco, uma sala de
ensaio, com poucos elementos, ocupando o espaço cênico; apenas os
estritamente necessários, como uma mesa; cadeiras; uma máquina de lavar roupas
bastante danificada, uma metáfora cenográfica, que não precisa de explicação; um
sofá, gasto pelo tempo; um cavalete com um álbum seriado, para anotações do elenco; e uma superfície, para projeções,
ao fundo. A mesma dupla assina os figurinos,
comuns, roupas do dia a dia dos atores,
acrescidas de uma peça ou outra, para a composição dos personagens.
Completam
a parte técnica da montagem RENATO MACHADO, com seu já conhecido
bom trabalho, na iluminação, e FELIPE STORINO, parceiro de tantos
outras “viagens” de MARCO ANDRÉ, na direção musical. Ambos os elementos
enriquecem o produto final da peça.
Devem
ser citados, também, os nomes de duas pessoas importantíssimas, para que as sessões
aconteçam, sem qualquer embaraço, que são os de ANA VELOSO e VERA NOVELLO,
responsáveis pela direção de produção.
FICHA TÉCNICA:
Obra Original: Andréa Pachá
Dramaturgia: Carolina Lavigne
Orientação Dramatúrgica: Pedro Kosovski
Direção: Marco André Nunes
Assistente de Direção: Isabella Raposo
Elenco: Alexandre Barros, Carmen Frenzel, Fabianna de
Mello e Souza, Leandro Daniel e Matheus Macena
Cenário e Figurino: Marcelo Marques e Marco André Nunes
Iluminação: Renato Machado
Direção Musical: Felipe Storino
Programação Visual: Daniel de Jesus
Assessoria de Imprensa: Duetto Assessoria de Imprensa e
Comunicação
Fotografia: João Júlio Mello
Direção de Produção: Ana Velloso e Vera Novello
SERVIÇO:
Temporada: De 17 de janeiro a 10 de fevereiro de 2019.
Local: Teatro SESC Ginástico.
Endereço: Avenida Graça Aranha, 187 – Centro – Rio de Janeiro.
Dias e Horários: De 5ª feira a sábado, às 19h; domingo, às 18h.
Valor dos Ingressos: R$30,00 (inteira), R$15,00 (meia entrada) e R$7,50
(associados do SESC)
Entrada Solidária: 50% de desconto sobre as tarifas, mediante a
doação de 1kg de alimento não perecível, que será destinado ao programa “Mesa
Brasil Sesc RJ”.
Duração: 90 minutos.
Classificação Etária: 14 anos.
Gênero: Drama.
Muito
mais que um mero motivo de entretenimento, “SEGREDO DE JUSTIÇA” propõe
que reflitamos, de forma empática, antes de darmos o “nosso veredito”,
lembrando-nos, sempre, de que, ao apontar um dedo para alguém, temos três
apontados para nós e um para cima, exatamente o mais importante, para Aquele
a quem cabe o julgamento maior.
RECOMENDO,
COM BASTANTE EMPENHO, O ESPETÁCULO, que bem merece uma temporada maior, em
outro Teatro, do Rio de Janeiro, além visitar outras praças.
E VAMOS AO
TEATRO!!!
OCUPEMOS TODAS AS
SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!
A ARTE EDUCA E
CONSTRÓI!!!
RESISTAMOS!!!
COMPARTILHEM ESTE
TEXTO, PARA QUE, JUNTOS,
(FOTOS: JOÃO JÚLIO MELLO.)
GALERIA PARTICULAR:
(FOTOS: GILBERTO BARTHOLO
e
JORGE CAETANO.)
GALERIA PARTICULAR:
(FOTOS: GILBERTO BARTHOLO
e
JORGE CAETANO.)
Com a querida Andréa Pachá.
Com os queridos Marco André Nunes e Carolina Lavigne.
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