PERFUME
DE
MULHER
(AGRADÁVEIS ODORES TEATRAIS.)
Depois
de três adiamentos, todos alheios à minha vontade, finalmente, consegui
assistir a um espetáculo pelo qual
ansiava bastante: “PERFUME DE MULHER”,
em cartaz no Teatro PetroRio das Artes
(VER SERVIÇO.). É a primeira montagem
mundial, para o TEATRO, de uma história
que percorreu a seguinte trajetória: livro
> tela > palco. O espetáculo
é uma idealização do ator, produtor, roteirista e diretor SILVIO GUINDANE, que adquiriu os direitos da obra, para
transformá-la numa peça teatral, e,
também, a protagoniza.
Para os que me
conhecem, é sabido que não sou cinéfilo. Vou pouco ao cinema, embora o
considere uma bela arte, e, muito raramente, me encanto com algum filme. Não li
o livro, porém assisti à versão cinematográfica
de “PERFUME DE MULHER”, no início
dos anos 90 - 1992, para ser mais exato - e dela guardava poucas lembranças,
ainda que me lembre de, na época, ter gostado do filme, de cuja história,
agora, nem me lembrava mais. Dois detalhes, porém, ficaram guardados na minha
retina e, indelevelmente, registrados na minha memória afetiva; a brilhante
atuação de Al Pacino, um dos meus
favoritos atores (Seu trabalho, na fita, lhe rendeu seu primeiro Oscar e o Globo de Ouro, como melhor
ator.), e a “cena do tango”. Até
hoje, forçando a memória, “vejo” um pouco daquele momento, que me arrebatou.
SINOPSE:
FAUSTO (SILVIO GUINDANE) é um militar reformado, que se entregou à solidão, depois de ter ficado cego, num acidente, enquanto estava no Exército. Ele vive isolado, num quarto escuro, na casa da tia, em Turim.
Com viagem marcada, para passar um
final de semana em outra cidade, ela resolveu colocar um anúncio, no jornal,
para contratar alguém que tomasse conta do sobrinho, durante sua ausência. O
jovem CICCIO (EDUARDO MELO) é o
único candidato que apareceu para a vaga.
Depois de um estranhamento inicial, o
militar tentou expulsar o rapazinho. CICCIO,
porém, decidiu ficar e enfrentar aquele desafio.
A partir de então, ele
descobriu os planos de FAUSTO para
os próximos dias: viajar, de trem, por sete dias, para Gênova, Roma e Nápoles. Seu desejo era o de vivenciar
momentos inesquecíveis, uma grande celebração, antes de pôr fim à sua vida.
No roteiro, viagem de
trem, hospedagem em um hotel luxuoso, passeio de Ferrari, uma noite com uma prostituta, sempre degustando as
melhores bebidas. Dias e noites de intenso prazer, antes do seu “grand finale”.
FAUSTO, no entanto, não esperava reencontrar SARA (GABRIELA DUARTE), seu grande amor, nem contava com a
sabedoria de CICCIO, fatos que
promoveram uma grande reviravolta em seus planos.
Para mim, é
sempre motivo de muita curiosidade, ver, no TEATRO, como são feitas as adaptações de livros e filmes.
Instiga-me bastante essa quase magia de transformar uma história, traduzida numa
mídia que conta com tantos recursos técnicos, como o cinema, sob a ótica de
outra. Acho que era o que mais me moveu, logo que tomei conhecimento da peça e recebi o convite para assistir a
ela. Essa curiosidade se acentuou, quando soube que a direção estava a cargo de um diretor
de cinema, por excelência, que, de vez em quando, dirige um espetáculo teatral: WALTER LIMA JR.. Vale a pena registrar
que, muito longe de ser considerado um amante do cinema, dou preferência a filmes nacionais e, desse diretor, marcaram-me, sobremaneira, “Menino de Engenho”, “Brasil Ano 2000” (Genial! Tenho o vinil, com a trilha sonora, que adoro.), “A
Lira do Delírio”, “Chico Rei”, “Ele, o Boto” e “A Ostra e o Vento” (Admiráveis interpretações de Lima Duarte, Fernando Torres e Leandra Leal).
Sabendo-se que
o cinema pode valer-se de inúmeras locações, de estúdio e externas, e que tudo,
no TEATRO, tem de acontecer sobre um
palco, limitado num espaço físico, creio ser uma tarefa difícil a adaptação de
um filme para uma peça teatral, de
boa qualidade, preservando-se, o máximo possível, o que se vê na telona, como é
o caso da peça em análise.
E lá fui eu,
cercado de expectativas, como sempre, boas. E não me decepcionei com o que vi.
Muito pelo contrário; gostei bastante da encenação,
que mistura paixão, sedução, emoção, um pouco de mistério, também, e, como
“ninguém é de ferro”, humor, leve e, por vezes meio cáustico, para contar a
história de um tenente-coronel, que não vê, denotativa e conotativamente
falando, mais sentido na vida, desde que ficou cego, e está se preparando para
morrer. Antes, porém, como já dito na sinopse, contida no “release”,
enviado por FABÍOLA BARBOSA (PALAVRA –
ASSESSORIA EM COMUNICAÇÃO), ele resolve fazer uma viagem, na companhia de
um “cuidador”, e acaba reencontrando o grande amor de sua vida, de quem,
covardemente, desistira, depois do acidente que lhe tirou a visão. Toda a trama
se passa na Itália.
A história
pode ser considerada uma ode à amizade e à superação, pois, “Até
conhecer CICCIO, o melhor amigo do solitário FAUSTO é sua garrafa de uísque.
Quando os dois se encontram, a vida de ambos dá uma reviravolta. Surge uma
amizade surpreendente, que resiste às diferenças de idades e rotina. O que
sobra em um, falta no outro.” (Extraído do “release”.). “No primeiro contato, o velho militar
expulsa o estudante, mas o garoto não desiste e, aos poucos, desvenda as
amarguras e escolhas de Fausto.”. (Idem).
O texto ganhou forma pelas mãos de PEDRO BRÍCIO, SÍLVIO GUINDANE e WALTER
LIMA JR., responsáveis por uma boa
adaptação, que conta a história de uma forma enxuta e clara.
Experiente
homem de cinema, LIMA JR. encontrou
soluções muito interessantes para as cenas em ambiente externo, com destaque
para o famoso “test drive”, numa Ferrari,
sonho de consumo de FAUSTO, fazendo
uso de projeções, o que não é nada tão original assim, em TEATRO, mas é um recurso que, quando bem utilizado, como nesta peça, funcionam muito bem.
O elenco comporta-se de maneira muito satisfatória,
com destaque, evidentemente, para SÍLVIO
GUINDANE, nem tanto pelo fato de interpretar um protagonista, mas por este ser cego (Recuso-me a usar o “politicamente
correto” “deficiente visual”.), o que todos sabemos ser bastante difícil de ser
representado por alguém que enxerga. SÍLVIO
se sai muito bem, embora, talvez, exagere um pouco nos movimentos da cintura
para cima, meio “bambo”, quando, perece-me, a indecisão maior de equilíbrio,
para um cego, deva ser da cintura para baixo. Mas isso é apenas um detalhe, que,
em nada, desabona sua boa atuação. A estrutura psicológica do personagem ajuda o ator, facilita-o, na utilização de alguns recursos que põem em evidência
seu protagonismo. FAUSTO é uma homem sedutor e amargurado,
que tem a necessidade de se mostrar forte, impor-se aos outros, abusando
de um autoritarismo, que torna quase insuportável uma convivência salutar com
ele. Também se apresenta com um ser melancólico, cínico, irônico, farto da
rotina em que é obrigado a viver, por suas limitações. Isso faz dele um homem
arrogante e, até mesmo, cruel. “Aproveita de
sua condição “privilegiada” (cegueira) para zombar da dissimulação e do
fingimento da sociedade, com desdém pelas convenções de compaixão, das quais
também é refém. Esse caráter ambíguo, de admiração e repulsa por um personagem, de uma grandiosidade, que, por vezes, nos faz até esquecer sua limitação física,
mas que também é desagradável, amargo e sarcástico, reflete sua personalidade
conflituosa, mas, ao mesmo tempo, carismática.”. (Extraído de um comentário de fonte desconhecida.). Além
de mulherengo, vive mergulhado no álcool. Como é quase natural, entre os que
apresentam algum tipo de deficiência física, sua cegueira acentuou-lhe os outros
sentidos, sobretudo o apurado olfato.
GABRIELA
DUARTE cumpre sua parte, na trama,
com correção e parcimônia, na pele de SARA,
uma jovem apaixonada por FAUSTO, a
qual não se conforma com a sua enfermidade. Ela demonstra conhecer bem o
temperamento do protagonista, parecendo nunca ter perdido a esperança de que
ele voltaria, um dia, para, juntos, viverem o grande amor idealizado e
interrompido pela explosão de uma granada. Ainda que um pouco insegura, a
personagem se julga muito importante na vida de seu grande amor, como se ela
fosse indispensável à sobrevivência deste, uma sua metade, no dia a dia do
militar. GABRIELA também interpreta a prostituta MIRKA, numa cena inesquecível,
quando os dois dançam um tango, muito bem coreografado, diga-se de passagem.
Fiquei extremamente feliz com a atuação do jovem e
incipiente ator EDUARDO MELO, que
interpreta CICCIO, o “cuidador” e
fiel escudeiro de FAUSTO, naquela viagem.
EDUARDO compôs muito bem o seu
personagem, num contraponto com o de SÍLVIO.
Ao contrário de FAUSTO, que se
sobressai por sua experiência, uma suposta, por ele, invulnerabilidade,
segurança, e todos os adjetivos já expressos, dois parágrafos acima, CICCIO reúne, inexperiência,
ingenuidade, insegurança, doçura, afabilidade, mas, também, vai aprendendo a
enfrentar o “Todo-Poderoso-FAUSTO”, “comendo pelas beiradas", não se permitindo
ser mais uma vítima nas mãos do patrão. À medida que a viagem segue seu curso,
o jovem vai aprendendo lições de vida, como saber distinguir entre aparência e
realidade, amor e fraude, palavras e ações.
Completa o competente
elenco SAULO RODRIGUES, em dois personagens: o PADRE FAUSTO e a “drag queen” MARILYN MAZZONI, com ótimo rendimento
nos dois papéis.
Dos elementos técnicos, JOSÉ DIAS faz um bom trabalho de cenografia, muito importante na encenação
de uma peça adaptada de um filme; CÁSSIO BRASIL desenhou figurinos bem ajustados aos personagens, todos de bom gosto; e DANIEL GALVÁN trabalhou uma
interessante iluminação, que privilegia,
em determinadas cenas, as sombras, com muito acerto.
FICHA TÉCNICA:
Baseado na obra de
Ruggero Maccari e Dino Risi
Idealização: Sílvio Guindane
Idealização: Sílvio Guindane
Dramaturgia: Pedro Brício, Sílvio Guindane e Walter Lima
Jr.
Direção Artística: Walter Lima Jr.
Assistente de direção: Isabel Guerón
Direção Artística: Walter Lima Jr.
Assistente de direção: Isabel Guerón
Elenco: Sílvio Guindane, Gabriela Duarte,
Eduardo Melo e Saulo Rodrigues
Direção de Arte e Cenografia: José Dias
Figurino: Cássio Brasil
Iluminação: Daniel Galván
Figurino: Cássio Brasil
Iluminação: Daniel Galván
Projeção Videográfica: Dado Marietti
Cenotécnico: Anderson Dias
Direção de Produção: Gustavo Nunes
Fotos: Jairo Goldflus e Dalton Valério
Designer: Márcio Oliveira
Designer / Manutenção: Julliana Costa
Prestação de Contas: Helber Santa Rita
Produção Executiva: Valéria Alves e Luiz Claudio Gomes
Produtores Associados: Gustavo Nunes e Sílvio Guindane
Produção: Vira Lata Produções e Turbilhão de Ideias Entretenimento
Patrocínio: Renner, FURNAS
Copatrocínio: PetroRio
Apoio: Carolina Herrera
Cenotécnico: Anderson Dias
Direção de Produção: Gustavo Nunes
Fotos: Jairo Goldflus e Dalton Valério
Designer: Márcio Oliveira
Designer / Manutenção: Julliana Costa
Prestação de Contas: Helber Santa Rita
Produção Executiva: Valéria Alves e Luiz Claudio Gomes
Produtores Associados: Gustavo Nunes e Sílvio Guindane
Produção: Vira Lata Produções e Turbilhão de Ideias Entretenimento
Patrocínio: Renner, FURNAS
Copatrocínio: PetroRio
Apoio: Carolina Herrera
SERVIÇO:
Temporada: De 03 de janeiro a 27 de fevereiro de 2019.
Local: Teatro PetroRio das Artes.
Endereço: Rua Marquês de São Vicente, 52 – Gávea – Rio de Janeiro
(Shopping da Gávea – 3º piso).
Telefone da Bilheteria: (21) 2540-6004.
Dias e Horários: De 5ª feira a sábado, às 21h; domingo, às 20h.
Valor do Ingresso: às 5ªs feiras, R$80,00 (inteira) e R$40,00 (meia
entrada); de 6ª feira a domingo, R$90,00 (inteira) e R$45,00 (meia entrada);
Ingressos Populares (?): R$50,00 (inteira) e R$25,00 (meia entrada).
Duração: 90 minutos.
Classificação Etária: 14 anos.
Capacidade do Teatro: 417 lugares.
Gênero: Drama.
Talvez o que de mais importante o texto deseje mostrar seja o que um ser
humano é capaz de fazer, para ocultar seus verdadeiros sentimentos, por medo ou
orgulho, sob uma falsa capa de força, segurança e independência. No fundo, FAUSTO tem consciência de sua fragilidade
e precisa saber como se comportar na relação com os que com ele convivem e dos
quais ele depende. A maneira agressiva e, ao mesmo tempo, até, compreensível,
de rejeitar os sentimentos de compaixão e piedade transborda para uma igual
rejeição do amor e do afeto que alguém demonstre, sinceramente, por ele.
A
viagem de sete dias, metaforicamente, representa, a meu juízo, uma “viagem
interior”, do personagem, em busca
de uma identidade, de si próprio, a auto-aceitação e, acima de tudo, da capacidade
de “enxergar” o sentimento do respeito e da afeição que os outros demonstram
por ele. Com isso, FAUSTO acabou por
criar o personagem FAUSTO. Resta
saber quando se está diante de um ou de outro. Ou é um só, o tempo todo?
Assistindo à peça, fique atento a
esse detalhe.
A temporada carioca vai até 24 de fevereiro.
Na sequência, “PERFUME DE MULHER”
segue em turnê pelo país, de março a junho: São Paulo, Campinas, São José do Rio Preto, Porto Alegre, Vitória e Fortaleza. Em
setembro, estreia em Portugal.
Recomendo bastante o espetáculo!!!
(FOTOS:
JAIRO GOLDFLUS
e
DALTON
VALÉRIO)
E VAMOS AO
TEATRO!!!
OCUPEMOS TODAS AS
SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!
A ARTE EDUCA E
CONSTRÓI!!!
RESISTAMOS!!!
COMPARTILHEM ESTA CRÍTICA, PARA QUE, JUNTOS,
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