IRMÃOZINHO
QUERIDO
(UMA BELA METALINGUAGEM
DO TEATRO PELO TEATRO.
ou
UMA “BATALHA” PELO AMOR
E POR UM PROTAGONISMO.)
Um
nome respeitado, no TEATRO brasileiro,
como tradutor, autor teatral, diretor, crítico teatral e roteirista do cinema e
da TV, FLAVIO MARINHO chega aos 31
anos de atividades artísticas, com um longo e representativo currículo,
assinando o texto e a direção do espetáculo “IRMÃOZINHO
QUERIDO”, em cartaz no Teatro SESC
Ginástico (VER SERVIÇO.), que já vem colhendo as melhores considerações,
por parte da crítica e do público, o que é mais importante.
A
peça é apresentada, no SERVIÇO, como uma comédia, gênero que contém, por excelência, implicitamente, críticas,
pessoais e sociais. Quando, porém, em grande quantidade, desembocando num final
que flerta, ainda que de leve, com o cheiro de tragédia, a classificação
genérica do texto poderia ser
rotulada como uma tragicomédia,
talvez o que melhor coubesse ao espetáculo
em tela. Nem tanto, mas não devemos desprezar os versos do grande poeta e compositor
Billy Blanco: “O que dá pra rir dá pra chorar /
Questão só de peso e medida”.
SINOPSE:
LÉO (LEONARDO FRANCO) e RAUL
(MARCOS BREDA) são dois irmãos bem diferentes: LÉO é divorciado, ator
e autor de TEATRO, talentoso, inteligente, autocentrado e bem sucedido. RAUL é casado, pai de dois filhos, dono
de uma cadeia de lojas de eletrodomésticos ("ROBERTÃO", se não me equivoco), um sujeito generoso e
solidário.
O relacionamento entre os
dois, que já não era saudável, se complica, quando RAUL descobre que LÉO está ensaiando uma peça,
intitulada, justamente, “IRMÃOZINHO QUERIDO”.
RAUL não gosta nada da ideia, uma vez que não queria ter sua vida
devassada no palco, como acontecera, dez anos atrás, quando da encenação de
outro texto de LÉO, intitulado “Família
Pouco Família”, no qual a intimidade da família de ambos era exposta,
publicamente, com todas as suas mazelas, o que gerou o rompimento dos dois e
seu afastamento por uma década. Disposto a impedir a
realização da peça, RAUL invade o ensaio, para um ajuste de
contas com o irmão, que, por sua vez, está determinado a seguir em frente.
No meio da contenda
familiar, sem ter nada a ver com o problema entre os irmãos, está a diretora MUNIZ (ALICE BORGES), que acaba
virando, involuntariamente, juíza de um embate, repleto de lembranças e antigos
ressentimentos.
“IRMÃOZINHO QUERIDO” é uma comédia que passeia pelas contradições,
amor e rivalidade da relação entre irmãos.
Num
breve esforço de memória, tentando me lembrar de todos os textos teatrais anteriores, escritos por FLAVIO MARINHO, acredito ser este o meu favorito, aquele no qual, a
meu ver, ele consegue mergulhar mais fundo numa temática, por demais,
interessante e que desperta a atenção de qualquer pessoa, tenha ela um irmão ou
não.
A
literatura universal está cheia de exemplos de histórias em que o foco recai
sobre a rivalidade entre irmãos, a começar pelo bíblico episódio do assassinato
de Abel, por seu irmão Caim, primogênito de Adão e Eva. E de onde pode surgir essa rivalidade? Qual a sua origem e que
proporções ela pode atingir? E suas consequências?
O
texto desta peça, do início ao fim, destaca um embate fraterno acerca de acusações
mútuas de quem era o preferido do pai ou da mãe, acarretando uma sombra para o
outro. Até que ponto essas acusações são procedentes? Os exemplos e "justificativas" apresentados por LÉO
e RAUL existiram, de verdade, ou
servem como “muletas”, para responsabilizar alguém por possíveis fracassos e
perdas?
Com
muita sabedoria, FLAVIO põe em xeque,
e testa, passando aos espectadores tal função, os limites tênues entre o exercício
da fraternidade e da rivalidade. O autor/diretor
provoca, em quem assiste ao espetáculo,
um constante questionamento a respeito do papel de um irmão na vida de cada um.
“A
partir da rivalidade entre irmãos, a peça fala, através de um olhar
bem-humorado e amoroso, sobre o limite tênue que separa a verdade da
mentira e de como a passagem do tempo atua sobre nossas lembranças”
(extraído do “release”, envidado por
JOÃO PONTES e STELLA STEPHANY – JSPONTES
COMUNICAÇÃO).
Com
um texto descomplicado, que flui com
muita facilidade, utilizando diálogos
ágeis e provocativos, tocando no âmago do espectador, FLAVIO não perde a oportunidade de, também, provocar uma discussão
sobre até que ponto uma pessoa pode invadir a privacidade de outrem,
apropriando-se de sua vida, de detalhes íntimos, em nome de uma criação artística.
De
forma inteligente e simples, o texto
mostra o óbvio, que sempre pode ser retomado, sem cair na mesmice. Refiro-me à
difícil arte de viver, de se relacionar, num grupo social, seja entre irmãos,
como na peça, seja entre pais e
filhos, amantes, amigos, colegas de trabalho... “Viver é perigoso”, já
dizia Guimarães Rosa, e a peça ratifica isso.
Neste
ótimo texto, FLAVIO, dentro da metalinguagem
eleita, abusa, no melhor sentido da palavra, de referências ao universo do TEATRO brasileiro, algumas delas
captadas somente por quem transita por esse “métier”, mas a plateia acompanha as gargalhadas de quem entendeu
ou se identificou com tais referências. E ainda presta uma linda homenagem a um
dos nomes mais representativos do nosso TEATRO,
a atriz e diretora, falecida em 2004,
Myrian Muniz, ao batizar uma personagem da peça, a diretora teatral, vivida por ALICE BORGES, com seu inesquecível e
consagrado nome.
FLAVIO MARINHO acerta no texto e na direção, esta bem leve, deixando os atores muito à vontade, num clima de representação bem naturalista.
Tudo em cena soa real, dentro de um ensaio de uma peça, interrompido por alguém, um estranho ao meio, que não deveria
estar ali, naquele instante, muito menos pelo propósito da “visita”, de “impor
uma censura” e de “lavar roupa suja”, provocando um desfile de mágoas, acusações
e ressentimentos.
Dentro
da proposta de encenação, FLAVIO, que também assina a ambientação cenográfica, optou, muito
acertadamente, por manter o palco nu, “no osso”, sem rotunda e tapadeiras,
deixando à mostra a geografia cênica que não é, habitualmente, revelada à
plateia, incluindo um detalhe interessantíssimo da cena final, que não revelo,
para não dar “spoiller”. Como objetos cenográficos, estes se resumem
à presença de três cadeiras, uma das quais no modelo “diretor” (mais para
cinema); quatro refletores, apoiados em tripés; um pequeno móvel, um
aparador, sobre o qual estão café, biscoitos e outros objetos; uma arara, com
algumas peças de roupas, quase não utilizadas em cena; e uma escada alta,
aberta, pronta a ser utilizada, o que não acontece, porém; é apenas um elemento
decorativo para a ambientação.
Os
figurinos, definidos por NEY MADEIRA, vestem, harmoniosamente,
os três personagens, seguindo-lhes
as características.
PAULO CESAR MEDEIROS assina mais uma de
suas acertadas iluminações.
Contribuem, também, para o acerto desta montagem, os trabalhos de ÂNGELA
DE CASTRO, na preparação vocal, ainda
FLAVIO MARINHO, na escolha da trilha sonora, e BETO CARRAMANHOS, responsável pelo visagismo.
Reservo o destaque final para o excelente trio de atores que dão vida
aos personagens, cada um ratificando
seu já reconhecido talento, em carreiras de grande sucesso.
ALICE
BORGES, que estreou, ainda criança, em 1977
e já atuou em 34 peças, além de
trabalhos para o cinema e a TV, é dona de uma veia cômica que
sempre funcionou bem em qualquer personagem
que já viveu. Aqui, não é diferente. Sua MUNIZ
consegue arrancar gargalhadas do público, até quando trata de seus problemas
familiares, com os filhos pequenos e uma certa Ingrid, talvez sua assistente
ou produtora, numa outra direção teatral, uma peça infantil, os quais vivem ligando
para ela, atrapalhando o ensaio e levando-lhe mais e mais problemas. Sua personagem faz um contraponto com a
dureza imposta pelos dois irmãos, em seus textos,
se bem que RAUL, o personagem de BREDA, este com quase 40
anos de carreira, dedicados ao TEATRO,
ao cinema e à TV, também consegue nos fazer rir, talvez mais de nervoso, pelo patético
de suas intervenções e exigências e, também, quando sua vida conjugal é trazida
à tona. LEONARDO, com mais de 30 anos de carreira, como seus dois
colegas de palco, atuando no TEATRO,
no cinema e na TV, também nos diverte bastante, por sua dose de ironia e sarcasmo,
diante da tentativa de imposição, por parte de RAUL, de embargar aquela montagem.
Ambos se saem incrivelmente bem e eu seria leviano, se incensasse mais um do
que os outros. Estou falando de um trio de atores
premiadíssimos, cujos trabalhos, no
espetáculo ora analisado, estão no mesmo excelente nível de interpretação,
um elemento enriquecedor da peça.
FICHA TÉCNICA:
Texto: Flavio Marinho
Direção: Flavio Marinho
Diretora Assistente: Juliana Medella
Elenco: Marcos Breda, Alice Borges e
Leonardo Franco
Ambientação Cenográfica: Flavio Marinho
Figurinos: Ney Madeira e Dani Vidal
Iluminação: Paulo César Medeiros
Preparação Vocal: Ângela de Castro
Trilha Sonora: Flavio Marinho
Fotografia: Beti Niemeyer
Design Gráfico: Igor Ribeiro
Produção Executiva e Direção de Cena:
Marcus Vinícius de Moraes
Assistente de Produção: Fábio Araújo
Prestação de Contas: Madia Barata
Contabilidade: Guararapes Contabilidade
Assessoria Jurídica: Roberto Silva
Direção de Produção e Administração: Fábio
Oliveira
Realização: Marinho D’Oliveira Produções
Artísticas Ltda e SESC RIO
Assessoria de Imprensa: JSPontes
Comunicação - João Pontes e Stella Stephany
SERVIÇO:
Temporada: De 25 de outubro a 18 de
novembro de 2018.
Local: Teatro SESC Ginástico.
Endereço: Avenida Graça Aranha, 187, Centro
– Rio de Janeiro.
Telefone: (21) 2279-4027.
Dias e Horários: De 5ª feira a sábado, às
19h; domingo, às 18h.
Valor dos Ingressos: R$30,00; R$15,00
(meia-entrada); e R$7,50 (associados SESC).
Horário de Funcionamento da Bilheteria: De 3ª
feira a domingo, das 13h às 20h.
Capacidade: 513 lugares.
Classificação Etária: 12 anos.
Duração: 90 minutos.
Gênero: Comédia
“IRMÃOZINHO QUERIDO” é um espetáculo que pode tocar em feridas,
mas é bem divertido e provoca uma reflexão no público. Tenho a certeza de que
muitos deixam o Teatro SESC Ginástico
com a determinação de reatar laços fraternais, de abrir seus corações e resgatar
uma história de amor por um irmão, perdido no tempo e tão importante para
qualquer pessoa.
Trata-se
de um espetáculo que vale muito a
pena ser visto, recomendação que faço
com o maior prazer, por seu merecimento e pelo que ele pode trazer de
construtivo para o espectador.
E VAMOS AO TEATRO!!!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO DO
BRASIL!!!
A ARTE EDUCA E CONSTRÓI!!!
RESISTAMOS!!!
COMPARTILHEM ESTA CRÍTICA, PARA QUE, JUNTOS,
POSSAMOS DIVULGAR O QUE HÁ DE MELHOR NO
GALERIA PARTICULAR
(FOTOS: GILBERTO BARTHOLO.)
Aplausos.
Com Leonardo Franco.
Com Alice Borges.
Nenhum comentário:
Postar um comentário