quinta-feira, 16 de agosto de 2018


NOSSAS MULHERES

(UMA AULA DE TEATRO.
ou
 TRÊS MESTRES EM CENA.)







            É TEATRO a sua paixão? É ator/atriz o que você deseja ser na vida? É no, e do, palco que pretende tirar seu sustento? É ter a certeza de que você contribuirá para fazer os seus semelhantes mais felizes? Duas coisas são necessárias para isso: para as aulas teóricas, um bom curso de TEATRO, além de muita leitura e estudo. Para aprender na prática, vá ao Teatro Ipanema, o quanto antes - para ter a oportunidade de rever, depois - e assista a “NOSSAS MULHERES”, espetáculo lá em cartaz (VER SERVIÇO.). Você terá a grata satisfação de ver, em cena, três dos maiores e mais fantásticos atores brasileiros, dando uma aula de como se faz TEATRO, do que é saber representar.

            A peça está fora de qualquer curva, por sua extremíssima qualidade, o que ganha, ainda, maior destaque por se tratar de uma comédia, normalmente vista, por quem não entende de TEATRO, como uma arte menor e pouco valorizada. O que essas pessoas não sabem é que fazer comédia de qualidade é para poucos, muito poucos mesmo. E, quando digo “fazer”, quero me referir a escrever textos cômicos e saber representá-los. É tão difícil escrever como interpretar uma boa comédia. Escrever sandices, apelando para o gosto duvidoso e clichês é fácil; e horroroso. Representar estereótipos e repetir antigas fórmulas, que se pensa agradar ao público inteligente e exigente, é fácil; e insuportável. Comédia é para quem tem muito TALENTO, com todas as letras maiúsculas, e muito respeito ao público e a si mesmo.

            O pessoal envolvido na produção e montagem de “NOSSAS MULHERES” tem competência para assumir uma comédia e, para eles, todos os aplausos do mundo ainda serão poucos. O resultado é o que se pode ver no palco do emblemático Teatro Ipanema, no ano em que aquele tempo da cultura, da liberdade e da resistência comemora seus 50 anos de vida.

            O espetáculo, produzido por dois nomes da maior relevância no ato de conseguir fazer TEATRO, no Brasil, MARIA SIMAN e FREDERICO REDER, heróis da resistência, dois de nossos maiores produtores, é um dos motivos para a comemoração de 45 anos de excelentes serviços prestados ao TEATRO BRASILEIRO, 45 anos de uma brilhante carreira, 45 anos de profissão de EDWIN LUISI, que conta com a total cumplicidade, em cena, de dois outros grandes companheiros de ofício: ISIO GHELMAN e MÁRCIO VITO, sendo que este, às vezes, por outros compromissos profissionais, é substituído por EDMILSON BARROS, também um grande ator, todos sob a regência de um grande “maestro”: ANDRÉ PAES LEME.








SINOPSE:
    
Em “NOSSAS MULHERES”, a trama narra o que acontece com a cabeça de um homem, a partir das relações afetivas, e como se comporta o “olhar masculino”, nos relacionamentos amorosos e casamentos.

Além disso, o espetáculo confronta os personagens em situações limites e questiona até onde a intensidade de uma amizade pode ser cúmplice numa situação indefensável.
MAX (EDWIN LUISI) e PAULO (ÍSIO GHELMAN) são médicos, radiologista e reumatologista, respectivamente, amigos há 30 anos

No início da noite, começam um jogo de cartas, na casa de MAX, marcado para ser iniciado às 21 horas

MAX adora música clássica, os cantores mortos - os vivos não lhe interessam - e vive um relacionamento que não é, realmente, realizado com Magali, uma vez que moram em casas separadas. Ele não teve filhos. 

PAULO, mais “moderno”, é casado com Carine, a qual parece que nasceu, e vive, para dormir (O motivo, para isso, será conhecido quase ao final da peça.), e tem dois filhos, um casal.

Atrasado para o carteado, em quase uma hora, chega SIMÃO (MÁRCIO VITO / EDMILSON BARROS), completamente bêbado e dizendo ter matado a mulher, Estela, por estrangulamento, após uma briga. Ela parece ter um temperamento de difícil convivência, segundo os dois amigos do “assassino”. Este pede a MAX e PAULO que inventem uma história, para a polícia, criem um álibi para ele, que seria o principal suspeito do "crime", dizendo que o amigo chegara na hora combinada, para que conseguisse se livrar de uma condenação por feminicídio, o que os faria seus cúmplices, graças ao falso testemunho. 

Drama anunciado e as verdades começam a vir à tona. Muitas surpresas estão reservadas ao espectador, com um final bastante inesperado e assaz surpreendente.









            Por mais que me custe, procurarei ser breve nas minhas considerações, por dois motivos: estou assoberbado de trabalho, com muitas críticas a serem escritas, já que a safra atual tem sido de muito boa qualidade, e, também, porque poucas palavras bastam para enaltecer ou “detonar” um espetáculo teatral. Comigo, “detonar” jamais; enaltecer sempre, desde que a peça se faça merecedora disso, como é o caso de “NOSSAS MULHERES”: um espetáculo extraordinário, impecável, em todos os sentidos.

            Com base no “release” da peça, enviado por BARATA COMUNICAÇÃO (ASSESSORIA DE IMPRENSA), copio as palavras do seu diretor: O jogo de três homens / atores de teatro, que brincam e se divertem por várias vertentes da emoção. Apesar de não estarem em cena, durante toda a peça, as mulheres são onipresentes, quase palpáveis e responsáveis pelos sonhos, risos e choros”.

            Há uma analogia entre o jogo de cartas e o jogo posto em prática pelos três personagens, cada um, evidentemente, querendo ser o vencedor. SIMÃO tenta “dar as cartas”, mas esta tarefa é desejada pelos outros dois também. E, assim, a ação vai acontecendo, sem que se saiba até onde vai a partida.

            Com relação à referência, do diretor, à atuação das três esposas, na verdade, sua "onipresença", ainda que não materializada, é da maior importância no decorrer da trama, já que cada uma, a seu modo, também é uma jogadora daquela partida; ou melhor, vêm jogando faz tempo; jogaram sempre, na verdade.

            As três são tão importantes, que geraram o título da peça, “Nos Femmes”, no original, um raro exemplo de um excelente texto cômico, escrito pelo dramaturgo francês contemporâneo ÉRIC ASSOUS, de 62 anos, o qual ainda atua como diretor e roteirista, já tendo escrito 80 peças de radionovela, para a rádio France Inter, e para a TV, assim como roteiros para o cinema. Um autor muito versátil e consagrado em seu país, detentor de várias premiações. O texto aqui analisado foi escrito em 2015. ÉRIC ASSOUS ainda era inédito, no Brasil, até a montagem de “NOSSAS MULHERES”. No TEATRO, escreveu e dirigiu mais de 30 peças.






            O texto reúne um tema muito interessante e pertinente, tão em voga, infelizmente, no momento atual, uma arquitetura teatral perfeita e diálogos ágeis e inteligentes, com um humor refinado, sem apelações e lugares-comuns. É tudo tão agradável de se ouvir, tão envolvente e instigante, que o tempo cronológico da peça, de 80 minutos, parece se resumir a poucos deslocamentos dos ponteiros do relógio. O tempo psicológico, o interior, subjetivo ganha disparado. O público fica atento a tudo, nem pisca e espera um desfecho interessante para aquela confusão toda, qualquer que seja ele, sempre, porém, às gargalhadas.

            Os diálogos entre MAX e PAULO, antes da chegada atabalhoada de SIMÃO, nos quais o “prato” servido são as reclamações daquele, com relação ao atraso do terceiro jogador, e os comentários desabonadores, dos dois, quanto ao perfil de Estela, casada com SIMÃO, parecem conduzir a peça por um outro atalho. Tudo dá a entender que, com a chegada deste, o enredo se prenderá a cada um desfilando suas lamentações, quanto aos possíveis casamentos desastrosos. Isso quer dizer que a plateia aguardava que o “prato principal” do banquete fosse uma sucessão de críticas negativas às “NOSSAS MULHERES”. O que ocorre, então, é que isso fica como “entrada”, e o grande “manjar dos deuses” é outro, ou seja, como resolver um grande problema: SIMÃO se tornara, “sem querer”, um assassino, um uxoricida.

            Após o retumbante sucesso com “Agosto”, um drama com 11 atores de peso em cena, produzido, corajosamente, por MARIA SIMAN e ANDRÉA ALVES, numa parceria que ainda espero ver dando outros ótimos frutos, MARIA desejou produzir uma comédia de qualidade, o que resolveu fazer, agora em outra parceria, com FREDERICO REDER, após uma conversa telefônica com EDWIN LUISI, que está completando 45 anos de carreira, como já tive a oportunidade de dizer, um vitorioso naquilo que faz, ganhador de uma infinidade de prêmios de TEATRO.  






            Concordo, plenamente, com ANDRÉ PAES LEME, o diretor, quando ele diz que “É uma comédia elegante, onde a comicidade está na atuação dos atores. Ganhamos a partida cênica com este elenco talentoso e experiente de TEATRO”. Sim, ANDRÉ, o adjetivo escolhido por você foi muito bem empregado, entretanto, a “elegância” a que faz referência, muito merecidamente, recai sobre o brilho do trabalho do trio de magníficos atores, mas passa, também, antes, pelo apuro textual e por sua inquestionável correta direção. O texto permite que o ator mostre todo o seu potencial e ANDRÉ  sabe tirar partido do que cada um tem de melhor. Nesta montagem, ele imprime uma linguagem naturalista, ainda que o texto tenda para o estilo realista. ANDRÉ é um diretor muito inteligente e sensível, dos melhores que temos. O texto se presta a ser explorado de forma dramática, no sentido do exagero, e a direção conduz seus dirigidos a responder ao que o autor propõe, com o quem escreveu.

            É um enorme privilégio, uma alegria e um prazer incomensuráveis, ver três grandes atores num palco, jogando de igual para igual, recebendo aplausos em cena aberta e uma prolongada ovação, ao final do espetáculo, o que, certamente, não se deu pelo fato de a plateia, naquela noite, ser formada por convidados, todos seus amigos e admiradores, como eu. Nas sessões destinadas ao público em geral, estou certo de que a reação não foi/é/será outra, uma vez que o trio se comporta de forma impecável, quanto ao que significa interpretar um texto teatral. Seria até uma descortesia ou, no mínimo, injustiça, posicioná-los em três patamares distintos, porque todos dividem o pódio no degrau referente à primeira colocação. O texto permite, porém, que cada um tenha seus momentos de “solo”, de maior oportunidade de “aparecer”, o que todos fazem, sempre generosa e respeitosamente, com relação aos outros dois companheiros de cena.






            São três personalidades diferentes, com alguns pontos comuns. Os atores não tentam ser engraçados. Eles o são, naturalmente, em função do patético que cada um personagem carrega. O autor utiliza os três personagens para fazer denúncias e propor, aos espectadores, uma reflexão sobre as relações humanas, mais profundas do que apenas as conjugais. Para isso, os três atores se empenham ao máximo e fazem com que nunca mais nos esqueçamos de cada um, nesta montagem.






            É interessante notar que EDWIN, ISIO e MÁRCIO dominam tanto o drama como a comédia e é difícil dizer em qual das duas cada um melhor se destaca. Já os vi em memoráveis papéis dramáticos e em excelentes personagens cômicos, entretanto acho que os três estão vivendo seu melhor momento no gênero que existe para fazer rir.






            Gostaria de rever “NOSSAS MULHERES”, com EDMILSON BARROS interpretando SIMÃO, o que deve acontecer com uma outra “pegada”, visto que são atores bem diferentes, no modo de atuar, porém equivalentes na competência profissional.






            Com o propósito de contribuir para que fosse levado à cena um grande espetáculo, dos melhores em cartaz, no momento, no Rio de Janeiro, e, para mim, uma das melhores comédias a que assisti, em toda a minha vida, entra em campo a competência de MIGUEL PINTO GUIMARÃES, com uma bela cenografia, reproduzindo uma sala de estar moderna, com duas grandes estantes, onde podem ser vistos objetos de decoração e algumas samambaias de plástico, regadas pelo dono do apartamento, detalhe que ajuda a entender quem é o personagem;  uma mesa, cadeiras e um sofá, deixando bastante espaço livre para os deslocamentos dos atores. Ao fundo, uma espécie de “cortina”, ocupando todo o palco, do teto ao chão, feita com vinis, o que me intrigou bastante, tão logo adentrei o auditório, porém, um detalhe da personalidade de MAX, no texto, explica a inteligente e criativa ideia de MIGUEL.

            Junto com ele, também adentram o gramado BRUNO PERLATTO, responsável por discretos figurinos, de fino gosto, bem de acordo com a personalidade de cada um dos três amigos; RENATO MACHADO, com mais um bom trabalho de iluminação, com um detalhe de troca de luz a cada momento em que os personagens interrompem os diálogos e falam, diretamente, à plateia, o que não deve ser confundido com solilóquios; e RICCO VIANA, com uma boa trilha sonora.    



       






FICHA TÉCNICA:

Texto: Éric Assous
Tradução: Beatriz Ittah
Direção: André Paes Leme
Diretor Assistente: Anderson Aragón

Elenco: Edwin Luisi, Isio Ghelman, Márcio Vito e Edmilson Barros

Direção de Produção: Maria Siman
Iluminação: Renato Machado
Trilha Sonora: Ricco Viana
Figurinos: Bruno Perlatto
Cenografia: Miguel Pinto Guimarães
Assistente de Cenografia: Daniel Marques
Projeto Gráfico: Daniel de Jesus
Pesquisa Gráfica: Letícia Andrade
Fotos: Nana Moraes (Estúdio) e Cláudia Ribeiro (Cena)
Assessoria de Imprensa: Barata Comunicação
Comunicação e Marketing: Brain+
Produção Executiva: Fernanda Silva e Felipe Valle
Assistente de Produção: Dyogo Botelho
Gestão Financeira: Mônica Meira
Participação Afetiva: Bianca Byington (voz de Magali) e Guilherme Siman (voz do policial)
Realização: Primeira Página Produções e  Brain+










SERVIÇO:

Temporada: De 11 de agosto a 24 de setembro de 2018.
Local: Teatro Ipanema.
Endereço: Rua Prudente de Morais, 824 – Ipanema – Rio de Janeiro.
Dias e Horários: Sábados, domingos e segundas-feiras, às 20h.
Bilheteria: (21) 2267-3750 (Vendas TicketMais)
Valor dos Ingressos: R$50,00 (inteira) e R$25,00 (meia entrada).
Duração: 80 minutos.
Classificação: Livre.
Gênero: Comédia.








            O TEATRO sempre está pronto a nos reservar surpresas, agradáveis ou desagradáveis. Nem sempre os autores acertam. Nem sempre os diretores pesam a mão na medida certa. Nem sempre o elenco consegue fazer com que os personagens sejam úteis à proposta da peça. Nem sempre os elementos técnicos estão de acordo com a montagem. Em “NOSSAS MULHERES”, nada disso acontece. Ao contrário, houve um casamento perfeito, de tudo e de todos, bem diferente das relações matrimoniais dos três personagens, e o que se vê é um espetáculo limpo, sem nenhum óbice, que diverte e faz refletir. É o TEATRO cumprindo sua missão, seu objetivo. É a comédia na sua plenitude. É uma obra-prima da difícil arte de fazer rir, o que me faz recomendar a peça, com o maior empenho. Torço para que consiga rever o espetáculo, pois é assim que costumo agir, quando me encanto com um trabalho de TEATRO na maior e melhor acepção da palavra.







E VAMOS AO TEATRO!!!

OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!

COMPARTILHEM ESTA CRÍTICA, PARA QUE, JUNTOS,
POSSAMOS DIVULGAR O QUE HÁ DE MELHOR NO 
TEATRO BRASILEIRO!!!




Edwin Luisi e Maria Siman.



(FOTOS: NANA MORAES - estúdio -
e
CLÁUDIA RIBEIRO - cena.)

















































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