NUON
(POESIA, AINDA QUE
NA GUERRA.
NA GUERRA.
ou
ENCANTAMENTO,
EM MEIO À DOR.)
Com
as malas carregadas de “excesso de bagagem”, em função de tantos prêmios
conquistados, desde sua estreia, e com uma semana de atraso para o início de
sua temporada no Teatro Ipanema (VER
SERVIÇO.), em função de o caminhão que trazia o cenário e demais equipamentos
ter ficado retido na estrada, vindo de Curitiba,
por conta dos desagradáveis e inadmissíveis (É A MINHA OPINIÃO!!! RESPEITEM-NA!!!) bloqueios nas estradas do
país, finalmente, aportou, no Rio de
Janeiro, o espetáculo “NUON”,
motivo desta crítica. Anteriormente,
depois de ter estreado em Curitiba,
a peça passou por São Paulo, onde
foi muito bem recebida, como o será, pelos cariocas.
SINOPSE:
“NUON” é um espetáculo
que fala, específica e aparentemente, sobre a Guerra do Camboja e, no
entanto, fala sobre todas as guerras.
Todas as guerras são
iguais, na medida em que empurram as pessoas à perda dos valores simbólicos
que os estruturam, como indivíduos, seres civilizados e membros de uma
sociedade.
Ainda que o assunto
abordado possa sugerir uma forma épica, a encenação de “NUON” opta por um caminho intimista e constrói cenas que
evidenciam a dor das pessoas, no momento em que se dão conta de sua
impotência frente ao caos gerado por decisões políticas e sociais das quais
eles não participam.
A perda dos afetos, da
educação, da civilidade, da solidariedade humana e, principalmente, a
interrupção de sua capacidade de gerar poesia e valor simbólico. Tudo o que
constitui a ideia de humanidade fica suspenso e sucumbe à barbárie.
“NUON” aborda temas atuais. Os personagens
se encontram em situação em que estão obrigados a escolher entre viver em
meio à dor e à brutal desconstrução de suas referências ou morrer, em uma
tentativa de resgatar, ainda que por um último instante, sua humanidade.
Por meio da beleza
estética que o oriente inspira, a peça
faz uma reflexão sobre guerra, refugiados, fronteiras imigração e a perda
dos valores humanos.
A obra escolhe o
silêncio, o belo e a poesia, para falar da dor do atroz e da perda de tudo.
Seguindo um provérbio
oriental: “Contra a dor, só a beleza”.
Achei
por bem incorporar, na sinopse,
todas as informações que me chegaram às mãos, por meio do “release”, enviado por STELLA
STEPHANY (JSPONTES COMUNICAÇÃO), para facilitar a compreensão do texto, por quem ainda vai assistir à peça, e aproveito parta registrar os
vários prêmios que o espetáculo, merecidamente, conquistou,
a começar pela mais importante premiação do teatro paranaense, celeiro de grandes artistas, que é o Prêmio Gralha Azul (2016), nas
categorias Melhor Ator Coadjuvante (Marcelo Rodrigues de Oliveira), Melhor Atriz Coadjuvante (Janine de Campos e Helena Burmann Tezza), Melhor
Iluminação (Beto Bruel e Rodrigo Ziolkowski), Melhor Figurino (Eduardo
Giacomini) e Melhor Sonoplastia
(Mateus Ferrari). Nesse importante Prêmio, a montagem recebeu
onze indicações.
“NUON” é um espetáculo extremamente “sensorial”,
no sentido de mexer com as nossas emoções, os nossos sentidos, apelando,
principalmente para os da visão e da
audição. Plasticamente, é um deleite para os olhos.
Não é um
espetáculo fácil de ser compreendido, referindo-me ao texto, um tanto hermético e cuja boa parte é narrada, uma vez que,
praticamente, exige, do espectador, conhecimentos históricos, sobre a terrível Guerra do Camboja, uma guerra civil,
que assolou o país na década de 70,
tendo como ápice a ascensão do brutal regime do Khmer Vermelho, que começou como uma guerrilha comunista, liderado
por Pol Pot, entre 1975 e 1979, o que gerou um covarde genocídio, um assassinato em massa, no
qual se estima que, em quatro anos,
foram executados cerca de 1,7 a 2 milhões de pessoas, aproximadamente 25% da população da época, entre
membros do governo anterior (deposto), servidores públicos, militares, policiais, professores, vietnamitas, líderes cristãos e muçulmanos, pessoas da classe média e com boa formação escolar
Esse pesadelo,
após cinco anos de luta feroz, que trouxe enormes baixas, destruição da
economia, escassez de alimentos para a população e graves atrocidades, teve fim
em 1975. Embora fosse uma guerra civil,
ela é considerada como parte da Guerra do Vietnã (1963-1978).
Ainda que
demande conhecimentos do conflito bélico, para que sejam compreendidos detalhes do texto, como diz, porém, a
própria sinopse, “Todas as guerras são iguais...”. Sendo
assim, o espectador não consegue deixar de ficar ligado a tudo o que ocorre em
cena, pela força e beleza do texto,
assim como pelo visual e os estímulos sonoros que recebe, durante
todo o espetáculo, produzidos, ao vivo, por dois exímios músicos, BRENO
MONTE SERRAT e MATEUS FERRARI,
os quais tocam instrumentos de percussão, típicos da região em que se dá a
ação, e outros de sopro.
O fato de ter escrito o texto confere a ANA ROSA TEZZA, competente diretora, quiçá, um pouco de
facilidade, na direção do
espetáculo, tarefa desafiante, o que, nas mãos de outro diretor, poderia se tornar uma faina mais difícil e pesada. ANA soube como conduzir cada cena e
orientar seus atores, no sentido de
criar uma obra de rara beleza e poesia. A
peça é um poema cênico!!!
O elenco, quase todo se revezando em mais
de um personagem, é muito homogêneo
e consegue transmitir, com bastante propriedade, todas as nuanças que a montagem exige. Não ousaria destacar
nenhum nome, para não cometer uma injustiça. Cada um dos cinco elementos parece ter abraçado suas funções com muito esmero e dedicação, nem
sempre observados no ofício de representar.
Na verdade,
não seria exagero incluir os dois já citados músicos no elenco, uma
vez que a trilha sonora é fundamental, nesta
montagem, sublinhando, praticamente, todas as cenas, da forma mais
harmoniosa possível. Embora já tenha me referido aos dois como ótimos musicistas, acrescento um
crédito a MATEUS FERRARI, pelo fato
de ser o responsável pela riqueza da composição
musical.
A parte visual,
plástica, do espetáculo chama a atenção
pelo apuro dos elementos presentes no belíssimo figurino, assinado por EDUARDO
GIACOMINI, alguns merecedores de destaque; pelo lindo cenário, que leva a criatividade de FERNANDO MARÉS: a brilhante ideia de espalhar passarelas e pequenas
plataformas de madeira, no palco, indicando o desnivelamento no topo de uma
montanha, assim como um portal, todo trabalhado em arabescos vazados, simétricos,
uma verdadeira obra de arte; e pela encantadora e hipnotizante iluminação, a cargo de BETO BRUEL e RODRIGO ZIOLKOWSKI. Acrescente-se o virtuoso trabalho na plástica dos personagens e nas máscaras,
saído das mãos delicadas e criativas de MARIA
ADÉLIA.
FICHA TÉCNICA:
Produção: Ave Lola Trupe de Teatro
Texto e
Direção: Ana Rosa
Tezza.
Elenco: Evandro Santiago, como Arun, Kim, Sambath e
Diretor do Campo de Refugiados; Helena Tezza, como Bopha, Nuon e Ampeu Hengsaa;
Janine de Campos, como Príncipe Norodom Sihanouk, Nuon e Koylan; Marcelo
Rodrigues, como Tã e Mestre Viseth; Regina Bastos, como Nuon
Músicos: Breno Monte Serrat e Mateus Ferrari
Composição Musical: Mateus Ferrari
Figurinista:Eduardo Giacomini
Cenógrafo: Fernando Marés
Cenógrafo: Fernando Marés
Iluminação: Beto Bruel e Rodrigo Ziolkowski
Plástica do Personagem e Máscaras: Maria Adélia
Plástica do Personagem e Máscaras: Maria Adélia
Operador de Luz: Jean Carlos Sanchez
Contrarregra: Mozart Machado
Produção: Laura Tezza e Larissa de Lima
Assistente de Produção: Dara van Waalwijk van Doorn
Contrarregra: Mozart Machado
Produção: Laura Tezza e Larissa de Lima
Assistente de Produção: Dara van Waalwijk van Doorn
Cenotécnico: Anderson Quinsler
Design Gráfico: Mateus Ferrari
Design Gráfico: Mateus Ferrari
Realização: Ave Lola e as Meninas Produções
Artísticas LTDA.
Assessoria de Imprensa: JSPontes Comunicação – João Pontes e
Stella Stephany
SERVIÇO:
Temporada: De 02 de junho a 03 de julho de 2018.
Local: Teatro Ipanema.
Endereço: Rua Prudente de Morais, 824 – Ipanema – Rio de Janeiro.
Dias e Horários: De sábado a 2ª feira, às 20h30min.
Valor dos Ingressos: R$20,00 (inteira) e R$10,00 (meia entrada), na
bilheteria do Teatro Ipanema; R$24,00 (inteira) e R$12,00 (meia entrada), na
compra antecipada, pelo Site Ticket Mais.
Vendas pelo site: https://ticketmais.com.br/evento/view/26934/nuon /
Horário de Funcionamento da Bilheteria: Os ingressos são vendidos uma
hora antes de cada sessão. Aceitam-se cartões de débito e de crédito, na
bilheteria do Teatro Ipanema, de 5ª a 2ª feira.
Capacidade: 193 lugares.
Gênero: Drama.
Classificação Etária: 16 anos.
OBSERVAÇÃO: Sessões Extras: 29/06 (6ª feira) e 03/07 (3ª feira).
Para encerrar, não poderia deixar de dizer que este espetáculo é uma
grandiosa produção da AVE LOLA TRUPE DE TEATRO, com sede
própria em Curitiba, Paraná.
“A AVE LOLA ESPAÇO DE CRIAÇÃO é um local onde artistas inquietos sonham
e trabalham juntos por um fazer artístico poético e humano inserido no seu
tempo histórico.
A equipe multidisciplinar da AVE LOLA é formada por profissionais das
áreas de TEATRO, audiovisual e música, os quais mantêm uma relação amorosa com
a arte. É um grupo de pessoas, buscando preservar a noção de coletividade, por
meio de um trabalho realizado em equipe.
A AVE LOLA reúne pessoas comprometidas com um diálogo poético com a
sociedade civil, acreditando ser o belo um direito do ser humano. Nesse
sentido, tem desenvolvido um competente trabalho nas áreas de TEATRO, formação
em artes e audiovisual, conquistando, a cada dia, maior reconhecimento público.
Em sua sede, a AVE LOLA possui uma sala de TEATRO, onde realiza
temporadas de suas produções teatrais, exposições e oficinas, além de receber
companhias do Brasil e do mundo, que dialoguem com sua linguagem. Sua missão é
criar, por meio da arte, um ambiente de reflexão e diversão para artistas e
audiência. Sua visão é ser um empreendimento artístico de referência no Brasil
e no Mundo.”. (Extraído do "site" da Companhia.)
A AVE
LOLA,
assim como a grande maioria das companhias de TEATRO do Brasil, tem feito um exercício
hercúleo, para se manter viva e ativa e não mediu esforços, para, em meio ao
tumultuado momento político e social por que vem passando o país, nos
brindar com o imenso prazer de aplaudir “NUON”, merecendo, por isso, nosso respeito e agradecimento.
Não
faltam motivos, portanto, para que todos assistam a este belíssimo espetáculo,
que recomendo MUITO, e que o divulguem entre seus pares.
E VAMOS AO TEATRO!!!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO DO
BRASIL!!!
COMPARTILHEM ESTA CRÍTICA, PARA QUE,
JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR O BOM TEATRO BRASILEIRO!!!
(FOTOS:
KELLY KNEVELS
e
MARINGAS
MACIEL.)
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