O
ÚLTIMO DELÍRIO DE
VAN
GOGH
(QUEM GARANTE QUE
TENHA SIDO?
ou
UM ENCONTRO COM
A ALMA DE UM
PINTOR / POETA.)
Fico
bastante aborrecido, incomodado mesmo, quando tenho o interesse despertado para
um espetáculo teatral e, por
diversos motivos, não encontro uma data, na minha tumultuada e concorrida
agenda, para poder conferir o trabalho. Assim aconteceu com o monólogo “O ÚLTIMO DELÍRIO DE VAN GOGH”, que, no ano passado, fez a apresentação de algumas cenas, ainda em processo de criação, mas não consegui ver a montagem, o que me
gerou um sentimento de frustração. Duplo: porque “perdi” uma peça teatral, que eu gostaria de ter
visto, e porque o tema girava em torno de um dos meus pintores preferidos.
Para
a minha alegria, a peça entrou cartaz, no Teatro Rogério Cardoso (Casa de Cultura Laura Alvim) (VER SERVIÇO.) e, ontem (4 de abril de 2018), finalmente,
consegui uma brecha, na agenda, para assistir ao espetáculo.
Antes
de entrar nos comentários sobre a peça,
creio ser interessante, até para se entender o conflituoso texto, de JIDDU SALDANHA,
que também dirige o espetáculo, conhecer
um pouco da vida e da obra do grande artista do pincel, patrimônio cultural
universal, com material adaptado do
Wikipédia.
VINCENT
WILLEM VAN GOGH foi um
pintor holandês, que viveu no século XIX, de 30 de março de 1853 a 29 de julho de 1890. Considerado uma
das figuras mais famosas e influentes da história da arte ocidental, criou mais de dois mil trabalhos, em pouco
mais de uma década, incluindo por
volta de 860 pinturas a óleo, a maioria dos quais durante seus dois últimos anos de vida.
Suas obras abrangem paisagens, naturezas-mortas, retratos e autorretratos, caracterizados
por cores dramáticas e vibrantes, além de pinceladas impulsivas e expressivas,
que contribuíram para as fundações da arte moderna.
Usava e abusava do azul e do amarelo.
Trabalhou como
vendedor de arte, quando jovem, e viajou, frequentemente, porém entrou em depressão, depois de ter sido
transferido para Londres. Voltou-se para a religião e passou um tempo como
missionário protestante, na Bélgica.
Enfrentou problemas de saúde e solidão, até
começar a pintar, em 1881, mudando-se para a casa de seus pais. Seu irmão mais jovem, Theo, o apoiou financeiramente, e
os dois mantiveram uma duradoura correspondência.
Seus primeiros
trabalhos consistiam em naturezas-mortas e representações de camponeses. VAN GOGH mudou-se, em 1886, para Paris, e
se encontrou com vanguardistas, dentre os quais seu grande amigo Paul Gauguin, os quais
estavam se opondo à sensibilidade impressionista.
Ele criou uma nova abordagem para naturezas-mortas e
paisagens, à medida que produzia suas obras, com suas pinturas ficando com
cores mais vivas, enquanto desenvolvia um estilo que se consagrou, por completo,
em 1888, na sua estadia em Arles. Durante esse
período, VAN GOGH também ampliou
seus temas, para englobar oliveiras, ciprestes,
campos de trigo e girassóis.
Ele sofria de episódios psicóticos e
alucinações, temendo por sua estabilidade mental e, frequentemente,
negligenciando sua saúde física, não comendo direito e bebendo muito. Sua
amizade com Gauguin terminou em uma
briga, durante a qual, com uma lâmina, possivelmente de uma navalha (na peça há tal indicação), VAN GOGH, em um ataque de raiva, cortou
parte de sua própria orelha esquerda. Na peça, é o momento em que, extasiado,
ele diz conhecer, “pela primeira vez”, a cor vermelha e se lamentar por não a
ter conhecido anteriormente.
Ele passou um
tempo internado em hospitais psiquiátricos, incluindo um período em Saint-Rémy-de-Provence. Aparentemente
recuperado, mudou-se para o vilarejo de Auvers-sur-Oise.
Sua depressão, porém, continuou e ele disparou um revólver contra seu peito em 27 de julho de 1890, morrendo de seus
ferimentos, dois dias depois, muito moço, aos 37 anos de idade.
VAN GOGH não obteve sucesso durante sua
vida, sendo considerado um louco e um fracassado. Não conseguia vender seus
quadros, mesmo com todas as tentativas do irmão Theo. Só foi mundialmente reconhecido depois de sua morte. Ele
ficou famoso depois de seu suicídio, existindo, na imaginação pública, como a
quintessência do gênio incompreendido, o artista no qual se misturavam
discursos sobre loucura e criatividade artística. Sua reputação começou a
crescer no início do século XX,
quando começou a alcançar grande sucesso comercial, popular e de crítica nas
décadas seguintes ao seu desaparecimento, sendo lembrado, atualmente, como um
pintor importante e trágico, cuja personalidade problemática tipifica os ideais
românticos do artista torturado.
A fonte primária
mais compreensiva sobre a vida e obra de VINCENT
VAN GOGH é a correspondência trocada entre ele e seu irmão mais novo, Theo Van Gogh, na qual se baseia o texto da peça. Foram centenas
de cartas, trocadas entre os dois, de
1872 a
1890. Nelas, revela-se a duradoura amizade entre eles, e a maior parte do
que se conhece sobre os pensamentos e teorias de arte do pintor, devidamente
explorados pelo autor do monólogo.
Theo trabalhava como comerciante de
arte e ofereceu suporte financeiro e emocional ao irmão, dando-lhe, também,
acesso a figuras influentes do mundo artístico. Guardou todas as
correspondências que VAN GOGH lhe
enviou, enquanto este, por outro lado, manteve apenas algumas das cartas que
recebeu. As missivas de VAN GOGH
eram eloquentes e expressivas, tendo sido descritas, também, como carregadas de
uma "intimidade de diário" e semelhantes a uma autobiografia. Existem,
aproximadamente, seiscentas cartas
de VAN GOGH para Theo e cerca de quarenta,
deste para aquele.
Um detalhe curioso,
bizarro e quase folclórico, na vida do pintor está ligado ao fato de VAN GOGH ter dado, de presente, a um de
seus médicos, um quadro, a que chamou de "Retrato do Doutor Félix Rey", porém o agraciado com o mimo não gostou
da obra e a usou para consertar um galinheiro, antes de passá-la adiante.
Theo afirmou que as últimas palavras do
irmão foram "A tristeza vai durar para sempre".
As obras de VAN GOGH estão entre as mais caras do
mundo e expostas em museus os mais afamados. Existe, em Amsterdam, o Museu VAN GOGH,
inaugurado em 1973, dentro do qual
tive a oportunidade de passar um dia inteiro, depois de ter experimentado o
sofrimento de quase duas horas numa fila, sob uma garoa muito fria e maltratado
por um vento cortante. Mas valeu a pena!!! Tudo, porém, combinava com o que eu
iria ver lá dentro, Foi um dos dias mais emocionantes e inesquecíveis da minha
vida. O Museu tornou-se o segundo
mais popular dos Países Baixos,
atrás, apenas, do Museu Nacional, e costuma receber, regularmente, mais de 1,5 milhão de visitas por ano e alcançou,
em 2015, seu recorde de visitantes: cerca de 1,9 milhão, 85% dos quais vindos de outros países. Faço parte dessa estatística.
SINOPSE:
“O ÚLTIMO DELÍRIO DE VAN
GOGH” é um espetáculo
solo, inspirado nas cartas do pintor VINCENT VAN
GOGH ao seu irmão Theo, sobre a
venda malsucedida de suas obras, resultando num surto, que traz à tona conceitos
e pensamentos aparentemente absurdos e alucinados.
O
texto foi construído no processo de
criação cênica e dialoga, diretamente, com a interação artística, entre o ator RAFAEL MANNHEIMER e o autor
e diretor JIDDU SALDANHA.
Sozinho,
num quarto frio, VAN GOGH, recebe a
notícia de que o irmão Theo só conseguira
vender um único quadro seu. Delirante, com fome, com frio e sentindo-se
completamente nu e desprotegido, entra em um surto inesperado e mergulha,
profundamente, em sua própria essência, buscando uma razão para “ressurgir
das próprias cinzas”.
Ele
escreve, durante a peça, uma carta a Theo,
que, talvez, nunca tenha chegado às mãos do destinatário.
Embora
tudo o que envolva a montagem, desde o local, um antigo porão, de pé baixo,
passando pela falta de linearidade, proposital, do texto, com passagens mais caóticas, externando o que se passava na alma
do artista, chegando aos elementos
técnico-físicos, aqui todos agrupados numa só rubrica, direção de arte, crie um ambiente meio claustrofóbico, essa
sensação vai desaparecendo, tão logo o ator
começa o seu trabalho, em princípio, como se estivesse concedendo uma entrevista,
em que os entrevistadores somos a plateia, ainda que as perguntas já estejam no
próprio texto e vão sendo
respondidas pelo protagonista, à sua
maneira.
Apesar do que
foi dito no parágrafo anterior, o espetáculo é bonito, agradável de se ver,
envolvente, emocionante e nos mostra um ator com muitas possibilidades técnicas,
totalmente mergulhado no personagem.
É de causar surpresa
e admiração o trabalho de visagismo,
feito por ÉRIKA FOGAÇA, que
transforma o ator RAFAEL MANNHEIMER
no pintor VINCENT VAN GOGH. É impressionante a semelhança
física entre os dois, ampliada pelos trabalhos de maquiagem, cabelo e figurino, que entram na composição
física do personagem. E que trabalho de corpo RAFAEL atingiu!!!
Com relação ao
figurino, talvez seja o que mais
chama a atenção do espectador, tão logo este adentra a sala e dá com a imagem
do pintor, trabalhando num quadro inacabado. Como VAN GOGH tinha uma grande fixação pela cor azul, a roupa do ator, composta por uma calça,
uma camisa e um paletó, é predominantemente nessa cor, em variados tons, com
uma ponta ou outra de outro matiz, uma estamparia, pintada, à feitura de um
quadro do pintor. O figurino é uma extensão
de VAN GOGH. Uma obra de arte!
Uma
única pessoa assina a direção de arte,
que abrange cenografia, desenho de luz e figurino. Tudo recebe a assinatura de ALEXANDRA ARAKAWA, sendo que as pinturas nas roupas do ator foram
feitas pelo artista plástico e “designer” DUDA SIMÕES.
É
interessante esse detalhe de três
elementos técnicos terem uma ligação, para se chegar a um efeito plástico. O cenário se resume a um tripé, com uma tela ainda inacabada, numa
das extremidades do espaço cênico, e
uma poltrona, na outra. Por falar em espaço
cênico, optou-se por um corredor. As cadeiras ficam dispostas nas duas
laterais compridas da sala, criando uma intimidade e uma cumplicidade muito
grande e expressiva entre ator e plateia.
Tudo, na direção de arte, faz lembrar
o universo vangoghiano, um ambiente
insalubre, com dezenas de cartas amassadas, espalhadas pelo chão.
A
luz é muito simples, toda branca,
com pouca intensidade, predominando quase que uma luz de serviço.
Saí
do Teatro, sentindo falta de uma música, que não existe, mas cheguei à conclusão
de que sua ausência é uma sábia decisão do diretor,
que faz um excelente trabalho com o ator.
FICHA TÉCNICA:
Texto e Direção de Cena: Jiddu Saldanha
Elenco: Rafael Mannheimer
Direção de Arte (Desenho de Luz, Cenografia e
Figurino): Alexandra Arakawa
Visagismo (Cabelo e Maquiagem): Érika Fogaça
Cenotécnica: Jéssica Guimarães
Luz e Produção Executiva: Camille Klecz
Designer Gráfico e Pintura de Cenário e Figurino:
Duda Simões
Assessoria de Imprensa: Duetto Comunicação
Realização: Cia de Artes EM CriAção
Apoio Institucional: Casa
De Cultura Laura Alvim
Apoio: Duetto
Comunicação E Orquestra Digital
SERVIÇO:
Temporada: De 27 de março a 18 de abril de
2018
Local: Teatro Rogério Cardoso (Casa de Cultura Laura Alvim)
Endereço: Av. Vieira Souto, 176 – Ipanema – Rio de Janeiro
Telefone: (21) 2332-2015
Dias e Horários: 3ªs e 4ªs feiras, às 19h
Classificação Etária: 12 anos
Gênero: Drama
Lotação: 53 lugares
Duração: 50 minutos
Valor dos Ingressos: R$30,00 (inteira);
R$15,00 (meia entrada); R$10,00 (Lista Amiga / Classe Artística / Estudantes de
Teatro e Artes Plásticas)
Bilheteria aberta a partir das 16h.
Recomendo
o espetáculo, cuja temporada só comporta mais duas apresentações, infelizmente,
na próxima semana, e já adianto que o texto
tem seu valor, mas a grande atração se volta para o brilhante trabalho de RAFAEL MANNHEIMER.
Não sei se a frase
foi dita pelo próprio VAN GOGH ou se
saiu da cabeça do autor do texto,
mas a verdade é que fiquei bastante encantado por ela: “OS SERES HUMANOS SÃO OS PIGMENTOS DE DEUS.”.
A
muito própria a montagem da peça n um espaço dentro da Casa de Cultura Laura
Alvim, que abre suas portas para expressões artísticas ligadas ao TEATRO e às Artes Plásticas.
E VAMOS AO TEATRO!!!
OCUPEMOS TODAS AS
SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!
COMPARTILHEM ESTA CRÍTICA,
PARA DIVULGAR O TEATRO BRASILEIRO!!!
(FOTOS:
ALBERTO MAURÍCIO
e
ALEXANDRA
ARAKAWA.)
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