A
GUERRA
NÃO TEM ROSTO DE MULHER
(RELATOS DE UMA DOR
QUE NÃO É
“PRIVILÉGIO”
DE APENAS UM DOS SEXOS.)
Embora
eu estivesse assoberbado, com muitos compromissos, tendo de pensar em sobre
quais peças deveria escolher, a fim de escrever minhas críticas, vi-me, de
repente, diante de um grande dilema, uma verdadeira “escolha de Sofia”, com tanto material bom, à espera de ser
apreciado, porém não poderia deixar de reservar um tempo para expressar minha
grande alegria, ainda que forma meio superficial, por falta de tempo, ao
assistir a “A GUERRA NÃO TEM ROSTO DE
MULHER”, um espetáculo irretocável, em cartaz no Teatro Poeira (VER SERVIÇO), que, infelizmente, não conta com muito
espaço, na mídia, para sua divulgação. Resolvi, modestamente, contribuir, para
que ele ganhe um pouco mais do destaque que merece e consiga atrair mais pessoas,
ainda, àquele simpático espaço de Botafogo.
Num
momento em que tanto se discute o empoderamento feminino, a igualdade entre
homens e mulheres e o papel destas na sociedade moderna, eis que três
excelentes atrizes, CAROLYNA AGUIAR, LUISA THIRÉ e PRISCILA ROZEMBAUM – excelentes mesmo - ocupam um palco, para
sucessivos relatos, envolvendo mulheres que decidiram ir para o “front”, com o objetivo de defender sua
pátria, até a morte, se preciso fosse, e provar que não foram talhadas para
serem apenas “recatadas e do lar”.
A peça, que não segue uma linha
cronológica nem se concentra num só fato, além de ser atemporal e universal,
apesar de o livro ter sido escrito a partir de entrevistas (a autora também é jornalista) feitas com mulheres que participaram
da 2ª Guerra Mundial, e não definir
o espaço onde os fatos se dão, é uma adaptação
teatral, a oito mãos, do livro da escritora bielorrussa SVETLANA
ALEKSIÉVITCH, nascida em 1948,
vencedora do Prêmio Nobel de Literatura, de 2015, que
narra histórias de mulheres sobreviventes de guerra.
Participaram da transposição, da
literatura para a linguagem teatral, além das três atrizes que formam o elenco,
MARCELLO BOSSCHAR, que dirige o espetáculo. Dos 200 depoimentos do livro, foram
selecionados 40. Basicamente, o texto da peça é narrativo; há muito pouco de diálogos.
A ideia de “guerra” não nos reporta, de jeito algum, à imagem de salto alto e
batom. Coturnos, nos pés, e poeira, lama e sangue, no rosto barbado. Essa é a
cara da guerra. Toda a literatura que se propõe a mostrar os bastidores das
batalhas, seus horrores e absurdos, sempre mostram homens – comandantes e
comandados –, dando a vida por uma causa, na maioria das vezes, tão estúpida e
inaceitável como a própria guerra. Vem, então, uma mulher e nos apresenta a um
outro lado da guerra, nem um pouco diferente do que envolve apenas o macho, mas
com sutilezas e peculiaridades que só existem no universo da fêmea, a qual se
sente “violentada” e humilhada, quando, por exemplo, é obrigada a usar cueca e
a ver o sangue de sua menstruação deixando rastros pelo chão, misturando-se ao
sangue das feridas.
SINOPSE:
A história das guerras costuma ser contada sob o
ponto de vista masculino: soldados e generais, algozes e libertadores.
Trata-se, porém, de um equívoco e de uma injustiça.
Se, em muitos conflitos, as mulheres ficaram na retaguarda, em outros,
estiveram na linha de frente.
É esse capítulo de bravura feminina que SVETLANA ALEKSIÉVITCH reconstrói num livro, absolutamente
apaixonante e forte, transposto para o TEATRO.
Quase um milhão de mulheres lutaram no Exército Vermelho, durante a Segunda
Guerra Mundial, mas a sua história nunca fora contada antes.
SVETLANA ALEKSIÉVITCH deixa que as vozes dessas mulheres ressoem, de
forma angustiante e arrebatadora, em memórias que evocam frio, fome, violência
sexual e a sombra onipresente da morte.
Extraído do “release”,
enviado por PEDRO NEVES (FACTORIA
COMUNICAÇÃO) “Apesar do valor histórico e documental em cena, a proposta da direção
foi a de privilegiar o humano. Todas as referências de tempo e lugar foram
retiradas da adaptação (...). O palco estará desnudo e as imagens serão todas
compostas através da coreografia e do movimento das intérpretes. A ideia é que
elas conduzam o público, neste profundo mergulho, pelos horrores da guerra, mas
também o faça entrar em contato com os eventos cotidianos no ‘front’ e nas
batalhas. Do alistamento das jovens – que não faziam ideia do que iria
acontecer com elas – ao anúncio do fim da guerra, vão passar, pelo palco,
histórias de perdas, lutas e superações, mas também histórias de amor, amizade
e afeto”.
Sim, foi isso mesmo o que eu vi; foi atingido, completamente, o objetivo
da ótima direção, de MARCELLO BOSSCHAR.
Sim, eu e, acredito,
todos os que estavam na plateia demos as mãos ao excelente trio de atrizes e
nos deixamos conduzir por meandros escuros, ao som de bombas e explosões,
rajadas de armas pesadas, gritos de dor e de horror, que, por vezes, nos
assustam de fato. A ficção se aproxima, ao máximo, da realidade. E tudo isso apenas
(Por que “apenas”?) contando com um texto denso, e interpretações muito verdadeiras, emoção à flor da pele, sem que
houvesse necessidade de cenários ou figurinos especiais.
Por cenário (?), entendamos um palco nu.
Figurinos? Três macacões, estlilizando
uniformes militares, assinados por KIKA
LOPES.
Como grandes reforços e elementos fundamentais, para a plasticidade do
espetáculo, a linda luz, de AURÉLIO DE SIMONI e a coreografia, fruto da preparação corporal, a cargo de CAROLYNA AGUIAR.
FICHA TÉCNICA:
Dramaturgia
Coletiva: Carolyna Aguiar, Luisa Thiré, Marcello Bosschar e Priscila Rozembaum
Elenco: Carolyna Aguiar, Luisa Thiré e Priscila Rozembaum
Iluminação: Aurélio de Simoni
Figurino: Kika Lopes
Trilha Sonora: Marcello Bosschar
Preparação Corporal: Carolyna Aguiar
Preparação Vocal: Sônia Dumont
Programação Gráfica: Carol Montenegro
Arte Plástica: Vânia Mignone
Divulgação: Factoria Comunicação
Fotografia: Mílton Montenegro
Produção Executiva: Bárbara Montes Claros
Direção de Produção: Celso Lemos
Figurino: Kika Lopes
Trilha Sonora: Marcello Bosschar
Preparação Corporal: Carolyna Aguiar
Preparação Vocal: Sônia Dumont
Programação Gráfica: Carol Montenegro
Arte Plástica: Vânia Mignone
Divulgação: Factoria Comunicação
Fotografia: Mílton Montenegro
Produção Executiva: Bárbara Montes Claros
Direção de Produção: Celso Lemos
SERVIÇO:
Temporada: De 01 de julho a 27 de agosto de 2017.
Local: Teatro Poeira
Endereço: Rua São João Batista, 104 – Botafogo – Rio de Janeiro.
Telefone: (21) 2537-8053
Telefone: (21) 2537-8053
Dias e Horários: De 5ª feira a sábado, às 21h; aos domingos, às 20h.
Valor dos Ingressos: R$60,00 (inteira) e R$30,00 (meia entrada).
Site de Vendas de Ingressos: www.tudus.com.br
Horário de Funcionamento da Bilheteria: De 3ª feira a sábado, das 15h
às 21h; domingo, das 15h às 19h.
Classificação Etária: 14 anos
Gênero: Drama.
Todos os relatos são pungentes e com
uma riqueza de detalhes, que nos fazem enxergar cada cena, sentir, na própria
pele, o horror por que passaram aquelas heroicas combatentes.
Não vá ao Teatro Poeira para se divertir e sair de lá alegre, pronto a
encarar uma pizza e um chopinho. Você até poderá fazê-lo, mas acho um pouco
difícil sair do Teato da mesma
forma como entrou ou, pelo menos, com o mesmo espírito com que cruzou a
portaria do Poeira.
É TEATRO para pensar.
TEATRO
que mexe com as nossas emoções.
TEATRO
que denuncia e alerta.
TEATRO
de excelente qualidade, que eu indico, com o maior empenho.
E, para terminar, devemos ter em
mente que “A GUERRA NÃO TEM ROSTO DE
MULHER” nem de homem. Ela é amorfa e sem sentido.
(FOTOS: MÍLTON MONTENEGRO.)
Parabéns pela crítica super detalhada! O AUTO DO REINO DO SOL é maravilhoso!
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