REDEMUNHO
(POESIA EM FORMA DE TEATRO.
OU
AMOR + GARRA + COMPETÊNCIA =
TEATRO DA MELHOR QUALIDADE.)
Como é GRATIFICANTE ir a um Teatro,
para ver TEATRO DE VERDADE!
TEATRO
feito com amor, garra, dedicação e ajuda de amigos, sem patrocínios ou benesses
de qualquer tipo, a não ser a já dita ajuda de amigos.
Um espetáculo belíssimo, de uma
delicadeza, sensibilidade, competência...
Um texto magnífico, de RONALDO CORREIA DE BRITO.
Direção impecável, de ANDERSON ARAGÓN.
Um trio de excelentes atores: ALEXANDRE DANTAS, ANA
CARBATTI e CLAUDIA VENTURA, cada um em seu melhor momento no palco;
isso é dito por quem acompanha, há muito, o trabalho deles, ou seja, EU.
Um trabalho SEM QUALQUER DEFEITO (já nem vou gastar mais adjetivos; tudo é superlativo nesta montagem): ALFREDO DEL-PENHO (direção
musical); SUELI GUERRA (direção
de movimento - acho que a melhor dela, que já vi); DÓRIS ROLLEMBERG (cenário);
FLÁVIO SOUZA (figurinos); ANDERSON RATTO (desenho de luz - a melhor luz que vi este ano, até agora)...
A temporada é muito curta. NÃO PERCAM POR NADA!!!
Saí do Teatro Rogério Cardoso (Casa de Cultura Laura Alvim), muito feliz e
emocionado.
Se
existisse “sinopse de crítica teatral”,
o texto acima, que foi postado por
mim, tão logo cheguei a casa, em total estado
de graça, após ter assistido ao espetáculo “REDEMUNHO”, seria uma. Praticamente, não há mais nada a dizer, mas
vou me estender e ele será o embrião desta crítica.
REDEMUNHO = “Gíria tradicional do orador de Minas
Gerais, que pretendia dizer ‘redemoinho’ ou ‘rodamoinho’”.
O título da peça pode parecer “estranho”, mas tem tudo
a ver com ela. Desde que inicia, o texto
nos envolve num rodopiar de emoções sucessivas e surpreendestes. Ele é a
transposição, para o palco, de quatro contos do premiado escritor
cearense RONALDO CORREIA DE
BRITO, publicados em seu livro “Faca”, de 2003.
De acordo com o “release” da peça, enviado por JSPONTES
COMUNICAÇÃO (JOÃO e STELLA), “Através de suas ‘memórias inventadas’,
como o autor se refere às suas narrativas, o leitor – e agora o espectador - é transportado
para as ruínas de um Sertão Nordestino mítico, que já não existe mais”.
É
inacreditável como um escritor do talento de CORREIA DE BRITO não seja tão conhecido e lido no Brasil, ainda que
já tenha conseguido espaço no exterior, além de tantos prêmios! Coisas do Brasil!
Para compor o espetáculo, foram selecionados quatro dos contos do livro “Faca”:
“A
Escolha”, “Redemunho”, “Cícera Candoia” e “Mentira
de Amor”.
Ainda extraído do “release”: “(...) emergem relatos de origens arcaicas e personagens
trágicos, os quais convidam a
investigar aqueles segredos próprios do ser humano, de qualquer época ou lugar.
Visitada pela literatura regionalista, esta terra remota e desconhecida ganha
uma dimensão mítica, transformando-se no território dos terrores mais íntimos e
antigos do Homem, quando o regional dá lugar ao universal.
Em sua versão teatral, os contos receberam tratamento
contemporâneo, por meio da linguagem narrativa em cena. Sem fazer
uso de qualquer artifício, que pretenda transpor para discurso direto a joia
narrativa dos contos, o que o público ouvirá são as palavras escolhidas, uma a
uma, pelo autor...”.
SINOPSE:
Em um tempo arcaico, quase
mitológico, quatro histórias se
tocam no centro de um redemoinho de fatalidades. As histórias desenham destinos
que não podem ser evitados, colocando suas personagens centrais no momento
inexorável de sua caminhada em direção ao trágico.
OS CONTOS:
"REDEMUNHO" reúne mãe e filho, dois últimos
remanescentes da, outrora, nobre família Cavalcante
de Albuquerque. Em total decadência, vivem apegados a valsas, árvores
genealógicas e um piano centenário, mas acabam sendo levados a desenterrar uma
antiga e dolorosa rixa do passado.
Em "CÍCERA CANDOIA", CIÇA se vê aprisionada aos cuidados de
uma mãe entrevada, enquanto todos estão partindo, em fuga da seca. Ambas se
sentem “despertencidas” da vila em que vivem, por conta de uma
peleja familiar, que culminou na morte do pai, e observam a terra secar de
gente. Agora, CIÇA tem que decidir
pela sua vida ou pela morte das duas.
"MENTIRA DE AMOR" relata o cotidiano de uma mulher,
aprisionada pelo próprio marido e afogada na culpa pela morte de sua filha mais
nova. Vive num mundo imaginário, criado a partir dos ruídos que escuta, vindos
da rua. Um dia, chega à cidade um circo, que, aos poucos, desperta nela emoções
e desejos nunca vividos. Ela entende que é chegada a hora de cumprir seu
destino e romper esse silêncio de anos em sua vida.
"A ESCOLHA" conta a história de ALDENORA e LIVINO, casados e assombrados pelo fantasma do primeiro casamento
dela com LUIZ SILIBRINO, o qual
retorna, depois de dezoito anos. ALDENORA,
agora, deve escolher entre a gratidão e a paixão.
FICHA TÉCNICA:
Texto:
Ronaldo Correia de Brito
Direção:
Anderson Aragon
Elenco:
Alexandre Dantas, Ana Carbatti e Claudia Ventura
Direção
Musical: Alfredo Del-Penho
Direção
de Movimento: Sueli Guerra
Cenografia:
Doris Rollemberg
Figurinos:
Flávio Souza
“Design”
de Luz: Anderson Ratto
Fotos:
Silvana Marques
Programação
Visual: Humberto Costa – Mais Programação Visual
Produção
Executiva: Christina Carvalho
Direção
de Produção: Ana Carbatti Produções e Artes e CiaFaláCia Produções
Assessoria
de Imprensa: JSPontes Comunicação – João Pontes e Stella Stephany
SERVIÇO:
Temporada: De
10 de março até 02 de abril de 2017.
Local: Teatro Rogério Cardoso (Casa
de Cultura Laura Alvim).
Endereço:
Avenida Vieira Souto, 176 – Ipanema – Rio de Janeiro.
Telefone: (21)
2332-2015.
Dias
e Horários: 6ª feira e sábado, às 20h; domingo, às 19h.
Duração:
80 minutos.
Valor
dos Ingressos: R$40,00 e R$20,00 (meia entrada).
Capacidade:
40 espectadores.
Gênero:
Drama.
Classificação
Indicativa: 16 anos
Embora
eu não conheça os contos na íntegra, mas já esteja à cata do livro, sei que
eles foram transpostos para o palco, praticamente, na íntegra, com o
objetivo de interferir o mínimo possível na beleza e contundência dos textos de CORREIA DE BRITO. Todas as rubricas e descrições das cenas são ditas
por quem interpreta o/a personagem em questão.
Fiquei, profundamente, encantado com
o estilo do autor (seu vocabulário, sua sintaxe, suas construções frasais, suas
histórias) o que me permite, sem nenhum exagero, guardadas as devidas
proporções, sentir, no ar, um perfume de Guimarães
Rosa, um aroma dos cordelistas e de outros consagrados autores brasileiros,
que põem, em suas frases, o olor da terra molhada do sertão, quando a chuva dá
o ar de sua graça, e o cheiro de mato.
O lirismo, quando necessário, cede espaço
aos espinhos de algumas palavras que ferem, tudo a tempo e hora, num equilíbrio
que nos conduz no rodopio proposto. O
texto é belíssimo!!!
Trata-se de um espetáculo bem
intimista, minimalista até, o que justifica o fato de ter sido montado para
pequenas plateias e em formato de arena, sendo que, quando não estão atuando –
e até, mesmo, em atuação – os atores permanecem sentados, no meio do público,
criando uma intimidade e cumplicidade, que facilitam a troca de emoções. Acertou
na mosca a direção, não só por isso,
mas, também, por todo o conjunto da obra, com destaque para duas, dentre
tantas, cenas, quais sejam a do banho de chuva, em forma de arroz, que o
personagem de ALEXANDRE DANTAS toma,
e toda a longa cena, de CLAUDIA VENTURA,
no monólogo relativo ao circo.
O elenco demonstra ter mergulhado, profundamente, no universo do
interior e nas referências da obra do autor. Cada um tem seus momentos de solo
e, quando atuam em dupla ou trio, um enriquece o trabalho do outro; há uma
grande troca de energia e de talento. Que
belo trio de atores!!!
Como se trata de um espetáculo “franciscano”, tudo teve de ser feito
com uma verba curtíssima, e a solução, para se chegar a um espetáculo de
tamanha qualidade, foi contar com a colaboração de alguns de nossos melhores
profissionais de TEATRO e sua
criatividade. Isso está presente no lindo e simples cenário, de DÓRIS ROLLEMBERG
e nos singelos figurinos, de FLÁVIO SOUZA.
A luz, de ANDERSON RATTO
é, disparadamente, a melhor que vi este ano e das mais bonitas e bem feitas,
nos últimos tempos, assim como é de emocionar o belíssimo trabalho de direção de movimento de SUELI GUERRA, talvez, como já afirmei,
o melhor de sua carreira.
ALFREDO DEL-PENHO assina uma
ótima direção musical, tendo
preparado uma sugestiva e adequada trilha
sonora.
Se você está procurando uma sugestão
de uma boa peça, daquelas que nos marcam, não deixe de assistir a “REDEMUNHO”.
Tenho a certeza de que vai me agradecer pela sugestão.
(FOTOS:
SILVANA MARQUES.)
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