O PAPAGAIO
(UMA MODESTA FESTA EM
FAMÍLIA, MAS...
...BEM COMEMORADA.
...BEM COMEMORADA.
ou
“A VOZ TAMBÉM ENVELHECE”,
MAS
O TALENTO NÃO.)
Parece
que foi ontem, que um galã mexia com os corações das mocinhas e senhoras na TV,
com seu jeito romântico, de bom menino; do filho, que toda mãe queria ter; do
genro, que toda sogra procurava. Mas lá se vão 50 anos de carreira e MARCELLO
PICCHI pode ser encontrado, ao vivo e em cores, com as marcas do tempo,
ainda que em boa forma física, guardando traços do belo rapaz, com o mesmo
talento para representar, comemorando, em família, sua bela trajetória, no TEATRO e na TV.
MARCELLO está em cartaz com o monólogo “O PAPAGAIO”, no Teatro Cândido Mendes (VER SERVIÇO), escrito e dirigido por seu
filho, o também ator e escritor THIAGO
PICCHI.
THIAGO levou, para o palco, quatro de
seus contos, bastante adaptados, com acréscimos, cortes e alterações de algumas
passagens, com o objetivo de torná-los mais teatrais. Eles estão presentes em
dois de seus livros, “O Papagaio e Outras Músicas” e “A Arte
de Salvar um Casamento”.
Os contos utilizados na peça foram
“O Papagaio”, que dá título ao espetáculo,
“O Marquês do Pombal”, “Sorria” e “O Leilão”. O que os quatro têm em comum é a abordagem do tema “solidão”. Está em jogo não apenas a solidão, como sentimento ou estado de
espírito, mas a forma inusitada como os personagens, todos bem maduros, velhos,
convivem com ela.
Segundo THIAGO, ele ficou bastante comovido (eu também teria ficado; aliás, estou; comovido e profundamente triste),
quando uma professora de voz lhe disse que desenvolve um trabalho com pessoas
da terceira idade, as quais apresentam problemas na voz, por não utilizá-la,
por não terem a oportunidade de fazer uso dela, como se o ato de falar
atrofiasse, por desuso. São pessoas que não têm família, amigos, parentes
vivos, que não usufruem das mídias sociais, que têm, apenas, a “companhia” da
TV, para lidar com a solidão.
E eu acrescento que tenho
conhecimento de que esse exército de pessoas é muito maior do que possamos imaginar.
THIAGO se apropriou de alguns de seus personagens dos livros e os colocou,
em cena, numa ordem diferente da encontrada nas publicações, de modo que houvesse
um fluxo dramático, e tentou ligar uma história à outra, sem que cada uma
perdesse a sua independência, fazendo pequenas referências de uma na outra.
Este é o primeiro texto que escreveu
para o chamado “teatro adulto”.
O texto de THIAGO, que bebeu na fonte do realismo
fantástico, ainda que parta de vivências tão naturais e corriqueiras, é de excelente
qualidade. Fatos do cotidiano servem de motivação aos personagens, para uma
busca, que não se sabe certa e garantida, mas representa uma porta para novas
possibilidades, dentre as quais - espera-se - haverá algo melhor a ser vivido.
Agrada-me
muito esse tipo de texto. Sou fã dos
escritores que enveredaram por essa seara do surrealismo literário, que tanto instiga e desenvolve o nosso
potencial de imaginar, até conseguir “ver”.
Para mim, o texto é o ápice da peça, o que há de melhor nela, além de outros
elementos elogiáveis. Aprecio o estilo literário de THIAGO e gostei bastante das adaptações, que funcionam muito bem, nos
quatro monólogos, pela boca de MARCELLO
PICCHI.
Para
MARCELLO, afastado, há algum tempo,
dos focos dos refletores, fazer este espetáculo corresponde a um desafio
inédito, já que, pela primeira vez, está sozinho no palco. Fazer monólogo não é
para os fracos!
São quatro
contos, protagonizados por personagens que se sentem presas em um cotidiano
sufocante. Para elas, urge se libertar e voar para outra realidade possível, nem
tão real assim, talvez. Daí a escolha do título, “O PAPAGAIO”, uma ave que, na peça, um dia, fugiu de seu
“cativeiro” e voou, em busca de liberdade, de oxigênio, que lhe garantisse a
vida. São pessoas levadas a transcender o real, para, assim, vivê-lo
plenamente.
O espetáculo,
bastante leve e agradável de ser visto, tem, aproximadamente, 50 minutos, com uma encenação simples e
sem grandes efeitos visuais, cujo foco recai sobre o poder imagético das
palavras.
Os elementos técnicos, como cenário, figurino, iluminação e trilha sonora, por exemplo, são bem
simples e discretos, secundários, cedendo o destaque ao texto
e à interpretação, funcionando
todos, porém, a contento.
"A opção por
espaços menores e que possibilitem a proximidade física entre ator e público visa a potencializar a sensorialidade da experiência de
cada espectador". (Retirado do "release".)
SINOPSE:
1) Cantor
lírico, aposentado, tem, como único amigo, o papagaio da vizinha, ao qual, de sua janela, vive
tentando “ensinar” trechos de algumas óperas. Um dia, a vizinha o informa do
desaparecimento do papagaio. Uma janela se abre na vida do cantor...
2) Idoso é
contratado, pela prefeitura, para realizar trabalho misterioso.
3) Um casal
de irmãos, já idosos, se provoca incessantemente. A irmã morre e as provocações
cessam. Só por um instante...
4) Recluso,
por anos, em seu apartamento, um homem se apaixona pela mão de uma mulher, que
exibe joias a serem leiloadas em programa de TV.
MARCELLO PICCHI
celebra 50 anos de carreira,
interpretando personagens que encontram maneiras surpreendentes de lidar com a
solidão.
Extraído do “release”, enviado pela produção da
peça (GABRIELA VASSELAI): “Um
papagaio verde e amarelo foge da gaiola. Mais do que um bicho de estimação, a
ave era o elemento que dava suporte ao relacionamento entre um cantor de ópera,
solitário, e sua vizinha. O que fazer, quando este único elo se rompe?
Em ‘O
PAPAGAIO’, os textos partem de situações cotidianas, que acarretam eventos
extraordinários, mas sem que a figura sobrenatural se imponha. Não são
fantasmas ou soluções do tipo “deus ex machina”*, que vêm para resolver os impasses, e sim
situações em que a própria realidade torna-se objeto de questionamento pelo
público”.
(*Expressão latina, que significa,
literalmente, “Deus surgido da máquina”,
e é utilizada para indicar uma solução inesperada, improvável e mirabolante,
para terminar uma obra ficcional.
O termo refere-se ao surgimento de um(a)
personagem, um artefato ou um evento inesperado, artificial ou improvável,
introduzido, repentinamente, numa trama ficcional, com o objetivo de resolver
uma situação ou desemaranhar um enredo.
O uso do termo surgiu no teatro grego
clássico, no qual muitas peças terminavam com um deus sendo, metaforicamente,
baixado por um guindaste, até o local da encenação, para, então, “amarrar”
todas as pontas soltas da história.
A expressão é usada, hoje, para
indicar um desenvolvimento de uma história que não leva em consideração sua
lógica interna e é tão inverossímil, que permite, ao autor, terminá-la com uma
situação improvável, porém mais palatável.
Em termos modernos, “deus ex machina” também pode descrever uma pessoa ou
uma coisa que, de repente, aparece e resolve um problema aparentemente
insolúvel. – WIKIPÉDIA, com adaptações.)
Ainda
do “release”: “Embora as personagens do
espetáculo sejam levadas a situações-limite, não se trata de uma ode à distopia.
Todos conseguem encontrar novos caminhos, ainda que, para isso, precisem forçar
os limites da nossa realidade palpável. Navegar já não basta; voar é preciso.
(...) Com o propósito de despertar uma estranheza inquietante no espectador, o
texto mobiliza e convida que ultrapassemos os limites humanos e a lógica.”
Neste
espetáculo, o foco mais intenso recai na palavra.
Em cena, fisicamente, apenas o ator e alguns raros elementos cenográficos.
Por
ser um monólogo, o espetáculo exige
muito do diretor e do ator, já que tal gênero teatral
carrega, consigo, uma tendência à monotonia. A palavra “monólogo”, geralmente, reporta à ideia de algo monótono, “insosso”, o que não é verdade. Há “monólogos” e monólogos.
Aqueles podem funcionar, mesmo, como soníferos, porque não foram bem montados,
por quaisquer motivos. Estes, ao contrário, prendem a atenção do espectador,
graças a um bom texto e trabalho de direção e de interpretação. “O PAPAGAIO”
se enquadra neste tipo.
THIAGO não procurou inventar a roda e,
ao que parece, deixou MARCELLO bem à
vontade, em cena, com marcações bem naturais e permitindo que o ator desenvolvesse, naturalmente, seu
potencial de interpretação.
MARCELLO se houve muito bem,
interpretando personagens bem diferentes, inclusive femininos, imprimindo, a
cada um, uma marca distinta, fácil, para a plateia, de serem identificados e
analisados. Merece um crédito a mais, pelo fato de estar realizando o espetáculo com um dos braços imobilizado, fruto de um tombo uma semana antes da estreia.
Em 50 anos de carreira, MARCELLO PICCHI já viveu os mais
diferentes personagens e conquistou, além de prêmios, o reconhecimento do público,
que o está prestigiando neste seu primeiro trabalho-solo, o melhor presente,
para comemorar o jubileu de ouro, como bom profissional da arte de representar.
FICHA TÉCNICA:
Texto e Direção: Thiago Picchi
Elenco: Marcello Picchi
Cenário: Carlos Alberto Nunes
Figurino: Arlete Rua
Iluminação: Raphael Cassou
Trilha Sonora: Beto Ferreira.
Trabalho Vocal: Hílton Prado Antonella
Programação Visual: Leo Viana Design
Fotografia: Jeydsa Félix
Produção: Gabriela Vasselai.
SERVIÇO:
Temporada: De 2 a 31 de maio de 2017.
Local: Teatro Cândido Mendes.
Endereço: Rua Joana Angélica, 63 –
Ipanema – Rio de Janeiro.
Dias e Horários: Às 3ªs e 4ªs feiras, às
20h.
Valor do Ingresso: R$40,00 (inteira) e
R$20,00 (meia-entrada).
Classificação Etária: 14 anos.
Gênero: Drama.
Se
você procura um bom espetáculo, no horário alternativo, pra preencher sua
necessidade de alimentar a alma de alegria e emoção, “O PAPAGAIO” é uma boa pedida.
(FOTOS: JEYDSA FÉLIX.)
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