O
MISANTROPO
(TEXTO DE MOLIÈRE, INÉDITO,
NO BRASIL,
EM EXCELENTE MONTAGEM.)
Os
brasileiros amantes do bom TEATRO
somos fãs, incondicionais, da genialidade de MOLIÈRE, que já teve grande parte de sua vasta obra encenada entre
nós, por alguns dos nossos melhores diretores, com os personagens interpretados
pela nata dos atores e atrizes deste país.
“O MISANTROPO” (“Le Misenthrope”), no entanto, é uma de suas peças que não
tínhamos tido, ainda, o prazer e o privilégio de ver encenada. Agora, essa
oportunidade ímpar nos chega de São
Paulo, onde o espetáculo cumpriu uma longa e vitoriosa temporada, sucesso
de público e de crítica.
A
comédia foi escrita há, exatamente, 341
anos (1666) e é impressionante como é atual e toca nas “mutretas oficiais”,
praticadas pelos corruptos que dizem governar o Brasil e legislar sobre o povo
brasileiro. A contemporaneidade do texto
é vista a olho nu. Até a citação dos “homens
de preto”, que estariam à procura de um infrator, está em cena.
O
original francês foi traduzido e
adaptado, para esta montagem, por WASHINGTON
LUIZ GONZÁLES, sob a direção do
premiado e reconhecido encenador MÁRCIO
AURÉLIO.
Reproduzindo
parte do “release” da peça, enviado
por JULIE DUARTE (BARATA COMUNICAÇÃO), “A
comédia do dramaturgo francês desnuda conceitos filosóficos de visão de mundo e
da humanidade, questiona o comportamento social, ditado por convenções
comportamentais esvaziadas de sentido, moral e ética, na Versalhes de Luís XIV.
Nesta montagem, esses questionamentos são transportados para o Brasil atual,
onde o jogo do poder está fundamentado nas aparências e nos interesses
particulares dos que movem a máquina da governabilidade, alheios aos
princípios, mas preso aos fins”.
SINOPSE:
É dia de festa no
apartamento de cobertura de CELIMENE
(PAULA BURLAMAQUI), uma viúva alegre e rica.
Amigos, familiares e
amores dessa dama da sociedade se reúnem, para confraternizar, beber, dançar,
comer e… “praticar o esporte preferido da época”: falar da vida alheia!
Nesse ambiente festivo, ALCESTE (WASHINGTON LUIZ), o misantropo, vê-se confrontado pela sua
visão de mundo e as convenções sociais dos convidados presentes e de sua amada
anfitriã.
E, como tudo pode
acontecer numa grande festa, o cinismo e a incoerência do que chamamos “bom
comportamento” vão se revelando, fazendo-nos reavaliar, sob o olhar preciso da
comédia, nossas próprias atitudes e comportamentos sociais.
Segundo
os dicionaristas, chamamos de “misantropo”
o indivíduo que odeia a humanidade ou sente aversão às pessoas; o oposto de “filantropo”. Também pode ser quase
equivalente ao sentido de “ermitão”,
uma vez que também é aplicável àquele que prefere a solidão, não tem vida
social, não gosta da convivência com outras pessoas. No caso da peça em tela, a
segunda acepção se aproxima mais do protagonista.
Falar
de MOLIÈRE é, praticamente,
dispensável, por se tratar de um dos nomes mais representativos do TEATRO universal, considerado “O Pai da Comédia”. Seu verdadeiro nome
era Jean-Baptiste Poquelin (Paris, 15 de janeiro de 1622 — Paris, 17 de Fevereiro de 1673).
Além de dramaturgo, foi, também, ator
e diretor, considerado um dos
mestres da comédia satírica. Teve um papel de
destaque na dramaturgia francesa, dando início, praticamente, a um estilo
original, próprio, do TEATRO francês.
MOLIÈRE usou as suas obras para criticar os costumes da
época. É considerado, indiretamente, o fundador da Comédie-Française.
É dos dramaturgos mais famosos de todos os
tempos e viveu no século XVII,
convivendo com toda a frivolidade cortesã da corte de Luís XIV. Frequentou-a, na verdade, sendo, portanto, um atento
observador dos defeitos morais da sociedade francesa do seu tempo. Captou-lhe
os tiques, as fraquezas morais, as modas da classe dirigente, a “entourage” que
vivia à sua custa. Sentia-se uma ilha: ele, cercado de hipocrisia por todos os
lados. As suas peças são, em sua grande maioria, comédias satíricas, que visam,
de modo direto e ferino, aos costumes sociais, quase sempre, muito censuráveis.
Em “O MISANTROPO”, a figura central é um
homem, ALCESTE (WASHINGTON LUIZ), que
chega a ser “inconveniente”, por seu extremado comportamento antissocial e
crítico da humanidade. Para ele, todos tinham os mais profundos defeitos e ele
mesmo não conseguia enxergar dois dos seus, que o punham em negativa evidência,
que eram o excesso de sinceridade e, o que ele achava uma questão de honra, não
fazer concessões a quem quer que fosse, em hipótese alguma. Considerava-se
superior a tudo e a todos.
O
original foi escrito em cinco atos, entretanto a ótima tradução e adaptação, de WASHINGTON
LUIZ, conseguiu condensá-lo em apenas um, de cerca de 90 minutos, o suficiente para nos divertir à farta e tocar,
profundamente, nas feridas expostas e precisando de um tratamento.
É
admirável - como o são todos - este texto
de MOLIÈRE, que parece ter caído nas
mãos certas, para se fazer conhecido entre nós. Não me refiro, apenas, à forma
como o texto nos chega,
excepcionalmente adaptado, com elementos próprios da nossa atual realidade
político-social, mas também à inteligente
e criativa direção de MÁRCIO AURÉLIO,
o qual partiu para uma estética puxada para o “carnavalesco”, no que, a meu
juízo, acertou em cheio. O espetáculo tornou-se leve e dinâmico.
Confesso
que, logo na primeira cena, com a entrada dos atores, sob a execução de um
“sambão”, animado por uma bateria de escola e samba, diante de, apenas, algumas
cadeiras de acrílico, na arena, temi pelo que vinha. Pensei que enfrentaria
alguma forma de “heresia”, que pudesse fazer MOLIÈRE se debater no túmulo. Fiquei muito assustado com aquele “novo”, que sempre incomoda um pouco,
de início, mesmo a quem vai ao TEATRO
todos os dias, praticamente, como eu, e está acostumado a ver de um tudo, em
matéria de “novidades”, a maioria de
gosto duvidoso. Mas não demorou muito, para eu entrar no jogo da direção e compreender-lhe a intenção e
a linha adotada para contar a história. Adorei!!!
O espectador, após aquele impactante início, fica atento
para quaisquer outras “novidades”.
Para ser sincero, chega a ansiar por elas. Mas o que mais atrai mesmo, no
espetáculo, é o texto e as verdades
nele ditas, sob a forma de ironias, sarcasmos e deboches rasgados. Os
personagens, principalmente o protagonista, falam por nós, não têm o menor
pudor em julgar o próximo e falar aquilo que, no fundo, muitas vezes, é o que
desejamos dizer. E fazer.
Falar
mais do texto torna-se
desnecessário. O mesmo se aplica à excelente direção, cabendo apenas acrescentar que os propositais exageros
gestuais e afetações vocais dão um toque especial à composição dos personagens.
É muito interessante a parte final da peça, em que os atores se alternam, entre
personagens e narradores, para agilizar e dinamizar o que poderia ser enfadonho
e prolongado, se representado como no original. Isso aguça a atenção do público
para o desfecho da peça.
O
elenco está muito bem preparado para
encarar uma comédia, o que não é
fácil, como julgam muitos, tem uma ótima atuação, homogênea, muito bem
nivelada, o que me faz optar por não fazer nenhum comentário individual, a fim
de não incorrer em injustiças.
Obedecendo à
ordem alfabética, os méritos vão para ALEXANDRE
BACCI (ACÁCIO), EDUARDO REYES (FILINTO), JOCA ANDREAZZA (ORONTE), PAULA
BURLAMAQUI (CELIMENE), REGINA FRANÇA (ARICENE), RENATA MAIA (ELIANE) e WASHINGTON LUIZ (ALCESTE).
FICHA TÉCNICA:
Texto: Molière
Tradução e Adaptação: Washington Luiz Gonzáles
Encenação: Márcio Aurélio
Assistente de Encenação Lígia Pereira
Elenco (em ordem alfabética): Alexandre Bacci
(Acácio), Eduardo Reyes (Filinto), Joca Andreazza (Oronte), Paula Burlamaqui
(Celimene), Regina França (Aricene), Renata Maia (Eliane), Washington Luiz (Alceste)
Cenário: Márcio Aurélio
Figurino: Márcio Aurélio e André Liber Mundi
Iluminação: Márcio Aurélio e Kadu Moratori
Sonoplastia: Márcio Aurélio
Preparação Vocal: Marcelo Boffat
Preparação Corporal: Marize Piva
Assistente de Produção: Roberta Viana
Direção de Produção: Rosí Fer
Produção: Criola Filmes Idealização Ó Artes e Espetáculos
Assessoria de Imprensa: Barata Comunicação
SERVIÇO:
Temporada:
De 13 de abril a 7 de maio de 2017.
Local:
Sesc Copacabana – Arena.
Endereço:
Rua Domingos Ferreira, 160, Copacabana, Rio de Janeiro – RJ.
Informações:
(21) 2547-0156.
Dias
e Horários: De 5ª feira a sábado, às 20h30min; aos domingos, às 19h.
Valor
dos Ingressos: R$25,00 (inteira); R$12,00 (meia-entrada); R&6,00 (associados
do SESC).
Horário
de Funcionamento da Bilheteria: De 3ª feira a domingo, sendo de 3ª feira a
sábado, das 13h às 21h, e, aos domingos, das 13h às 20h.
Duração:
90 min.
Recomendação
Etária: 12 anos
Gênero:
Comédia
Muito
distante de concordar com quem pensa que não se deve fazer intervenções
pessoais em textos clássicos, acho
que o TEATRO é uma arte que vive da
renovação, da reinvenção, do saber ser criativo sobre o que já foi criado, de
fazer e refazer, sem descaracterizar, completamente, uma obra original. Achei
extremamente válida esta leitura de “O
MISANTROPO” e torço para que a curta temporada, no SESC Copacabana, possa ter prosseguimento, em outros teatros do Rio de Janeiro. O lucro maior será de
quem puder assistir a esta deliciosa surpresa teatral, numa época tão difícil,
para o TEATRO e para as artes, em
geral, no Brasil “odebrechtiano”. (Eu não disse “brechtiano”.)
Recomendo o espetáculo e muito feliz
ficarei, se puder encontrar um tempo, na minha agenda, para poder revê-lo.
(FOTOS: DIVULGAÇÃO.)
Muito bom recebermos essa crítica vinda de você, Gilberto! Obrigada e a expectativa é mesmo podermos apresentar "O Misantropo" ao maior número de público carioca. EVOÉ!
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