SALAMALEQUE
e
CARTAS
LIBANESAS
(UM
MERGULHO PROFUNDO,
E
MUITO AFETIVO,
DE
UMA “BRIMA” E UM “BRIMO”
NAS
GAVETAS DOS ANTEPASSADOS.)
Dois
belíssimos espetáculos fizeram uma temporada relâmpago, no SESC Copacabana (Sala Multiuso) e, infelizmente, já saíram de
cartaz. Como um meteoro, passaram numa velocidade que mal permitiu serem vistos
por mais pessoas, porém, também, como um cometa, deixaram um rastro de luz, que
permanecerá brilhando, por muito tempo, aos olhos dos privilegiados, como eu,
que tiveram a oportunidade de ver e aplaudir,
muito, os dois.
Estou
falando de “SALAMALEQUE” e de “CARTAS LIBANESAS”, sobre os quais,
mesmo já fora de cartaz, eu não poderia deixar de falar, sob pena de não ficar
bem com a minha consciência, de crítico e apreciador do que é bom e belo.
Os
dois espetáculos têm vários pontos em comum: foram baseados em cartas de
antepassados; não são produções recentes; ambos já foram indicados a vários prêmios,
tendo conseguido alguns; foram apresentados no exterior; tratam de uma temática muito próxima, pois falam da
memória de seus antepassados e os reverenciam; têm o povo sírio-libanês como
alvo das memórias; são monólogos; são extremamente bem interpretados e
dirigidos; são produções da CIA. TEATRAL
DAMASCO. E o mais importante: são
dois ótimos espetáculos!!!
SALAMALEQUE
SINOPSE:
Entre pastas de grão de bico, água
aromatizada com ervas e pão com zátar, ELIZETE
(VALERIA ARBEX) recebe o público, na cozinha da sua infância.
Os espectadores, convidados a “sentar-se
à mesa”, são conduzidos, através da memória da personagem, a compartilhar das
histórias, dos aromas dos pratos e bebidas preparados na hora, e das cores e
melodias do universo árabe.
Enquanto conta suas histórias, ELIZETE vai preparando uma típica ceia
árabe, que será degustada pelo público ao final da peça.
Passarei
a sintetizar alguns dos trechos doa rico “release”,
que me chegou, por meio da competente assessoria
de imprensa (JSPontes – João e Stella), que, de certo, ajudarão, àqueles
que não tiveram a oportunidade de assistir ao espetáculo, na sensação de imaginá-lo
utilizando os cinco sentido, principalmente a visão, o olfato e o paladar, já
que trata de uma peça “sensorial”.
O trabalho, resultado de cinco anos de
pesquisa da atriz VALÉRIA ARBEX e da
CIA. TEATRAL DAMASCO, foi criado a
partir de 68 cartas de amor, trocadas entre um casal de imigrantes sírios, na
década de 1930, Nicolau Antônio
Arbex e Nadime Neif Name, avós
de VALÉRIA e imigrantes árabes, que
tiveram suas vidas cruzadas, após a chegada ao Brasil. “NADINE e NICOLAU ainda não se
conheciam, pessoalmente, e se preparavam para um tradicional casamento, arranjado
pelas famílias, o chamado ‘acordo de bigodes’, quando estavam prometidos um ao outro,
durante o período de noivado até a véspera do casamento”. Além do conteúdo das referidas cartas, VALÉRIA, em sua pesquisa, também entrevistou árabes e descendentes destes, nas regiões da SAARA, no Rio de Janeiro, e da Rua 25 de Março, em São Paulo, conhecidamente dois polos de negociantes árabes, tendo colhido interessantes relatos, incorporados, direta ou indiretamente, ao texto da peça.
Toda a
encenação se dá numa cozinha, onde a atriz prepara os pratos, durante a apresentação,
para serem servidos, ao público, numa típica ceia árabe, ao final do
espetáculo.
O monólogo
tenta, e consegue, trazer, ao presente, uma época passada, marcada pela forte
imigração do povo árabe e seus vizinhos, jogando um foco sobre os seus rituais
e sua cultura, de uma forma bem poética, mostrando, com o máximo de realismo
possível, a verdade sobre aqueles povos, desmitificando imagens negativas sobre
eles. “A encenação passa ao público uma experiência de acolhimento e
tolerância ”, diz ALEJANDRA SAMPAIO, autora da
dramaturgia, ao lado de KIKO MARQUES.
Ao mesmo
tempo, a peça propõe uma oportuna “reflexão sobre a questão da imigração nos
dias de hoje , quando há tantos
refugiados - em especial sírios - em busca do acolhimento de uma nova terra, para
viver e criar seus descendentes, mas confrontados com a inabilidade de parte
significativa do planeta em lidar com esta questão’. Aqui, o aspecto da
(in)tolerância cria corpo.
De acordo com a
atriz e idealizadora do projeto, VALÉRIA
ARBEX, “SALAMALEQUE” “é uma colcha de
retalhos de histórias que ouvi, da memória de minha família, da pesquisa
gastronômica e histórica que fiz”. É uma reverência aos imigrantes, é
um caminho de volta à minha origem, um reencontro. Por meio de uma relato franco da
personagem, ELIZETE, neta de sírios, pretendemos desmitificar uma imagem
equivocada sobre o povo árabe, muitas vezes, associado à intolerância”.
O
espetáculo traz uma dramaturgia leve,
que provoca uma integração total entre a atriz
e a plateia, muito por conta do carisma
e do talento de VALÉRIA ARBEX, da
sua naturalidade, na interpretação, do tanto de amor e de verdade que ela impõe
ao seu trabalho, muito bem dirigido,
a quatro mãos, por KIKO MARQUES e DENISE WEINBERG, dois premiados
profissionais em seus ofícios.
Merece
destaque o cenário realista, de CHRIS AIZNER, que reproduziu a cozinha
de uma típica casa árabe, com muito apuro, não deixando passar um detalhe na direção de arte. Ele também é
responsável pelo singular figurino
da peça.
GUILHERME BONFANTI caprichou na iluminação, e a música típica árabe esteve muito bem representada pela boa trilha sonora original, dos irmãos SAMI BORDOKAN e WILLIAM BORDOKAN, que compuseram músicas inspiradas nas canções do
folclore sírio-libanês do começo do século XX, utilizando instrumentos típicos
e originais, como alaúde, derbaki e nai (percussão e flauta árabes,
respectivamente).
Curiosamente,
o espetáculo, que já ganhou vários prêmios, desde sua estreia, em 2013, no Viga Espaço Cênico, em São
Paulo, mantendo, desde lá, sempre, várias temporadas, inclusive com
apresentações no exterior, é apresentado, na rubrica “gênero”, não como “comédia”, “drama” ou outro qualquer; é
apresentado como um “encontro”. De
que com o quê? Ou com quem?
Sendo,
como já tive a oportunidade de dizer, um espetáculo “sensorial”, é possível falar que se trata de um encontro com cheiros e sabores e com a memória afetiva dos descendentes
dos povos árabes.
Sem
dúvida alguma, um belíssimo e emocionante espetáculo, que merecia uma extensa
temporada, e não apenas três semanas em cartaz. Oxalá (Ou seria melhor dizer Alá ou Allah?) possa surgir uma oportunidade
para uma nova e mais longa temporada no Rio de Janeiro, que pudesse atender,
principalmente, à imensa colônia sírio-libanesa que conosco convive e que amamos
tanto!
Em
tempo: o espetáculo me lembrou outro grande, recente, com o qual guarda muita
semelhança, e que também me emocionou bastante, nas três vezes a que assisti a
ele. Refiro-me a “BRIMAS”,
igualmente premiado e magnificamente representado por Beth Zalcman e Simone Kalil,
também responsáveis pelo texto, com direção de Luiz Antônio Rocha.
FICHA
TÉCNICA:
Realização e Coordenação Artística: Cia.Teatral Damasco
Dramaturgia: Alejandra Sampaio e Kiko
Marques
Direção: Denise Weinberg e Kiko Marques
ATRIZ: VALÉRIA ARBEX
Cenografia e Figurinos: Chris Aizner
Trilha Sonora Original: Sami Bordokan e
William Bordokan
Iluminação: Guilherme Bonfanti
Glossário Árabe-Português: Mamede Jarouche
Consultoria Gastronômica: Graziela Scorvo
Tavares
Fotos: Lenise Pinheiro
Projeto Gráfico e Ilustrações: Aida
Cassiano
Idealização do Projeto: Valéria Arbex
Cenotécnico: Mateus Fiorentino
Produção: Patrícia Gordo
Técnico de Som e Luz: Ricardo Barbosa
Apoio: SESC Rio
Assessoria de Imprensa: JSPontes
Comunicação – João Pontes e Stella Stephany
"CARTAS
LIBANESAS"
SINOPSE:
O enredo é ambientado no início do século XX, em São Paulo.
A peça conta a história de MIGUEL MAHFUZ (EDUARDO MOSSRI), um
jovem mascate libanês, que chega ao Brasil, em 1914, fugindo da Primeira
Guerra Mundial, com o intuito de prosperar financeiramente e, logo, voltar
ao Líbano, onde deixou sua esposa
grávida.
Após anos de trabalho e sofrimento,
descobre-se apaixonado pela nova terra e decide convencer a mulher a vir morar
com ele no novo país.
Em 2009, o ator EDUARDO MOSSRI, descobriu, por acaso, várias cartas que sua avó recebia do seu avô, imigrante
libanês, o qual tentava ganhar a vida no Brasil, no início do século XX.
Reunido esse material, EDUARDO
apresentou-o a JOSÉ EDUARDO VENDRAMINI,
dramaturgo, encenador, pesquisador e professor premiado, também descendente de
libaneses, que as reuniu, juntando-as a uma pesquisa de relatos verídicos de
outros imigrantes libaneses, no Brasil,
para construir o texto da peça, um
monólogo, que, antes de chegar ao Rio de
Janeiro, fez um enorme sucesso em São
Paulo, duas das cidades brasileiras com uma considerável comunidade árabe,
muito maior, inclusive, entre nativos e descendentes, que a própria população
local do Líbano.
Segundo
o excelente ator EDUARDO MOSSRI, “A peça é a história de um mascate,
contada por um ator mascate, que resgata suas próprias histórias, para refletir
sobre a imigração. É uma ode de amor e gratidão a todos aqueles que imigraram e
enriqueceram nossa identidade cultural.”.
Como ator, EDUARDO, além de muitos espetáculos
de sucesso realizados no Brasil, também já nos representou no exterior, com
outros espetáculos, em Santiago
de Compostela e Lugo, na Espanha, e no Museu da Lousa, no Porto,
Portugal, além de ter ampliado seus
estudos de interpretação em Londres.
Esse currículo justifica a brilhante presença do ator em cena e sua total
entrega ao personagem, por competência profissional e por envolvimento
emotivo/afetivo. É dono de um carisma e de uma simpatia a toda prova, postos em
prática, desde antes de iniciar o espetáculo, quando pergunta a cada um dos
presentes seu sobrenome (para, de uma forma muito carinhosa, fazer uso deles no
final do espetáculo); algumas vezes, a pergunta vem acompanhada de um ligeiro “papinho”,
com direito a um largo, belo e sincero sorriso do ator.
Segundo
o diretor do espetáculo, que
valoriza muito os sons contidos na
peça, “Quero que a voz do EDUARDO
exista na mesma intensidade que a trilha. Nesta encenação, a música e os sons
terão o mesmo volume e importância que a voz falada, uma história contada, principalmente,
pelo som”. E isso ele consegue, por parte do ator e da ótima trilha sonora original, de GREGORY SLIVAR.
Como
cenário, de RENATO BOLLELI, apenas uma enorme arca, do mascate, que o ator movimenta
em cena, com grande esforço físico, apesar de seu considerável porte físico. Ao
mesmo tempo, é o grande objeto que contém as quinquilharias e as novidades do
Oriente, vendidas pelo ambulante, e que, também, guarda os segredos de uma família
e de uma cultura milenar e, ainda, tão pouco conhecida e divulgada entre nós.
Para completar a proposta de poucos elementos cenográficos, uma espécie de
ribalta, misturada a ralos ramos de cedro, a árvore símbolo do Líbano, no formato de um semicírculo,
torres de luz, ao fundo, e um pedestal com um microfone de modelo bem antigo.
É
impecável o figurino, criado pelo
consagrado estilista FAUSE
HATEN, também de ascendência libanesa: um terno de linho, de fino corte, em
cores claras, um exemplo da elegância masculina do início do século XX.
A
iluminação, de MARCELO LASSARATTO, é bem discreta e acompanha as cenas naquilo em
que elas merecem ser mais ou menos postas em foco.
Embora um
pouco recente, pois estreou em 2015, a peça já
participou, a convite, de festivais internacionais de TEATRO, no Marrocos e em
Beirut, além de alguns outros
brasileiros, conquistando prêmios e muitos aplausos e críticas positivas, tanto
dentro como fora do país.
Embora
ambas as peças tenham ocupado, por tão pouco tempo a Sala Multiuso do SESC Copacabana, não me furto a dizer que dignificaram
e honraram aquele espaço, sendo dois dos melhores espetáculos ali apresentados
nos últimos tempos.
Por
oportuno, sinto-me inclinado a repetir o que já falei sobre “SALAMALEQUE”:
Sem dúvida
alguma, um belíssimo e emocionante espetáculo, que merecia uma extensa
temporada, e não apenas três semanas em cartaz. Oxalá (Ou seria melhor dizer Alá ou Allah?) possa surgir uma oportunidade
para uma nova e mais longa temporada no Rio de Janeiro, que pudesse atender,
principalmente, à imensa colônia sírio-libanesa que conosco convive e que amamos
tanto!
FICHA
TÉCNICA:
Texto: José Eduardo Vendramini
Direção: Marcelo Lazzaratto
ATOR: EDUARDO MOSSRI
Cenário: Renato Bolleli
Iluminação: Marcelo Lazzaratto
Trilha Sonora: Gregory Slivar
Figurinos: Fause Haten
Assistente de Direção: Wallyson Motta
Preparação Vocal: Rodrigo Mercadante
Visagismo: Nael Kassees
Fotós: Felipe Stucchi e Nanah D'Luize
Produção: Eduardo Mossri
Apoio: SESC Rio
Realização: Cia. Teatral Damasco
Assessoria de Imprensa: JSPontes
Comunicação – João Pontes e Stella Stephany
Tanto
numa como na outra, o público se sente abraçado, virtualmente, por VALÉRIA e EDUARDO, representando um abraço entre povos diferentes e de
culturas tão diversas, mas que se entendem como irmãos.
E viva o amor
entre os povos!
E que cessem,
de uma vez por todas, as guerras e a xenofobia!
E que o TEATRO possa ser um dos vetores, para
que isso aconteça!
E viva o TEATRO!
(FOTOS: LENISE PINHEIRO,
FELIPE STUCCHI
e
NANAH D'LUIZE)
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