quarta-feira, 20 de janeiro de 2016


“PROCESSO

DE

CONSCERTO

DO

DESEJO"

 

 

 

(“PRA QUE CHORAR,

SE O SOL JÁ VAI RAIAR,

SE O DIA VAI AMANHECER...”

Vinícius de Moraes)

 

 

Conscerto do Desejo

 

 

            O aviso me foi dado antes do início da sessão: “É apenas, e ainda, um ‘processo’; a peça não está pronta”.

 

Imagino quando estiver, penso eu.

 

            Falo de “PROCESSO DE CONSCERTO DO DESEJO”, espetáculo em cartaz no Teatro Poeirinha, com MATHEUS NACHTERGAELE.

 

            Quando fui, já sabia do que tratava a peça (ou o processo) e me preparei, psicologicamente, para sofrer com o sofrimento alheio. Sabia que praticar a compaixão faria parte do “cardápio”. Afinal de contas, a mãe de MATHEUS suicidou-se, no dia do seu batizado, quando ele tinha três meses. E é dela, de Maria Cecília Nachtergaele, que ele falaria. Seria o doloroso e fatídico fato o foco do espetáculo.

 

Muito ao contrário do que eu imaginava, o que vi foi um trabalho “para cima”, uma ode ao amor, à alegria, uma celebração à vida, por mais paradoxal que isso possa parecer.

 

À custa de quê? Não sei, mas o fato é que me pareceu que o drama ficou na memória do ator, ou melhor, do homem MATHEUS, indelével, como não poderia deixar de ser, mas ele me pareceu muito bem resolvido, com relação a tudo. É bem provável que a arte, e, mais precisamente, o TEATRO, tenha sido o grande vetor para isso, sem falar nos prováveis longos anos de psicanálise, o que seria muito natural, numa situação como aquela.

 

 

 


Não precisa de legenda.

 

 

A verdade é que saí do teatro leve, assim como me pareceu MATHEUS, ao final do espetáculo, recebendo os aplausos, longos e vibrantes, da plateia. Deve ser uma sessão de exorcização (embora sinônimos, neste caso, acho que o termo é mais preciso que “exorcismo”), a cada noite, que vai pondo tudo nos seus eixos. Oxalá seja isso mesmo!  

 

            Neste espetáculo, MATHEUS retorna aos palcos, com homenagem à mãe, a poeta Maria Cecília Nachtergaele, falecida em 1968, recitando textos dela.

 

Trata-se da terceira fase deste “processo”, que foi iniciado em julho de 2015, quando o ator e o violonista LUÃ BELIK, que o acompanha no espetáculo, ao lado do violinista HENRIQUE ROHRMANN, em participação especial, apresentaram, no Festival de Teatro de Ouro Preto e Mariana, um recital, com músicas que compuseram juntos, poemas de autoria da poetisa e canções por ela adoradas.

Na segunda etapa do processo, que teve oito apresentações, no Teatro Poeirinha, de 24/11/2015 a 16/12/2015, MATHEUS passou a dizer os textos de Maria Cecília em primeira pessoa, numa operação delicada de possessão e homenagem,

A construção deste espetáculo, segundo o ator (e diretor), acontecerá diante do público: “Preciso das pessoas, como observadores emocionados disso tudo. Quero ir consertando meu desejo, de acordo com essa emoção, dia após dia. Como na vida. Como no teatro. Isso só o teatro pode nos trazer. Temos um horário alternativo, um ator, um violão, lindos poemas e a canção. Tudo pequenininho, para a grandeza do essencial: artista e espectador em oração profana”.

 



 
SINOPSE (segundo Matheus):
Poucas palavras se confundem tanto, em nossa língua, quanto “concerto” e “conserto”. Homônimos homófonos, porém heterófonos (acrescento eu), e distintos, semanticamente falando.

Aqui, elas se mesclam vertiginosamente. A palavra “desejo”, em filosofia, seria a tensão em direção a um fim, de onde se espera satisfação.

Tradicionalmente, o desejo pressupõe carência ou alguma forma de indigência: um ser que não carecesse de nada não desejaria nada. Seria um ser perfeito, um Deus. Por isso, a filosofia, tantas vezes, considera o desejo como característica primeira do ser imperfeito, do ser finito.

Quero consertar meu desejo com poesia, num concerto.
Explico: minha mãe, a poeta Maria Cecília Nachtergaele, faleceu, quando eu era um bebê de três meses. Dela, restaram-me seus poemas, lindos e maduros, escritos de uma jovem mulher, moderna e triste, e essa veia que me marca a testa, quando rio ou choro muito.
 
Em “PROCESSO DE CONSCERTO DO DESEJO”, acompanhado pelo jovem violonista LUÃ BELIK, direi, finalmente, os poemas que guardei nos olhos e na alma, como única herança dela.

O espetáculo é simples assim: um homem (que, por acaso, é um ator) diz, no palco, as palavras escritas por sua mãe; um violão (não por acaso, pois Maria Cecília amava os violões) o acompanha.
 
É só isso, se isso for pouco.
 




 


Dispensa legenda.

 



Não há muito o que dizer sobre o que vi, além de que se trata de uma aula de bom gosto, interpretação, poesia, muita emoção, sentimento e sensibilidade.


Praticamente, nada se tem a acrescentar, em termos de comentários, a tudo o que já foi dito sobre MATHEUS NACHTERGAELE, um dos maiores atores brasileiros, além de diretor. Nunca assisti a nenhum trabalho seu, no TEATRO, no cinema ou na TV, em que ele não se atirasse de cabeça, até “atingir o inatingível” das profundezas abissais da emoção, com uma intensidade raramente vista em outros atores. Acompanho sua carreira, desde os primeiros trabalhos e, a cada um novo, mais aumenta a minha admiração por esse profissional.


Se já é superlativo em tudo o que faz, imaginem (NÃO!!! VÃO COMPROVAR AS MINHAS PALAVRAS “IN LOCO”) como se comporta, dizendo textos de sua mãe, todos de uma poesia muito fina, bordados em filigranas de ouro! É um deslumbramento só!


Acrescente-se que a ideia de pôr um músico, ou melhor, um fantástico violonista, LUÃ BELIK, de formação clássica, pontuando todo o texto, do primeiro ao último momento, com direito a pequenos solos, é de uma felicidade incomensurável. Que talento de músico! Como o seu trabalho valoriza, de forma magistral, as palavras de Maria Cecília, pela boca de MATHEUS! Fiquei totalmente arrebatado por esse casamento: MATHEUS + LUÃ. Como prega a Igreja Católica, na teoria, ainda que a prática seja diferente, o casamento é indissolúvel. MATHEUS e LUÃ também não podem se separar. Mas não podem mesmo!!!


O espetáculo conta, ainda, com uma pequena, porém excelente, participação especial de outro ótimo músico, HENRIQUE ROHRMANN, ao violino.


Trata-se de uma montagem muito simples, em termos de cenografia, figurinos e iluminação, porque não poderia, nem deveria, ser de outro jeito, já que o trinômio Maria Cecília, MATHEUS e LUÃ preenchem todas as necessidades do espectador.


Não deixem de assistir!


O espetáculo é uma mistura de linguagens e gêneros. Não saberia como defini-lo, e isso não tem a menor importância. Já que é um “processo”, não sei em que vai dar. Mas já poderia parar por aqui.

Para mim, já está pronto!




 


Não carece de legenda.










FICHA TÉCNICA ARTÍSTICA:

Desejo: Maria Cecília Nachtergaele
Conscerto: Matheus Nachtergaele
Concerto: Luã Belik
Conserto: Miriam Juvino
 
FICHA TÉCNICA:
 
Textos: Maria Cecília Nachtergaele
Direção e Interpretação: Matheus Nachtergaele
Violão: Luã Belik
Violino: Henrique Rohrmann
Produção: Miriam Juvino
Corpo: Natasha Mesquita
Voz: Célio Rentroya
Iluminação: Bruno Aragão
Artes visuais: Cláudio Portugal e Karina Abicalil
Fotos: Marcos Hermes 
Divulgação: Silvana Cardoso (Passarim Comunicação)
Contrarregra: Cedeli Martinusso
Assessoria de Imprensa: A Gente Se Fala Produções (www.agentesefala.com.br)
Realização: Pássaro da Noite Produções
 
 

 

 




Legenda, para quê?

 




SERVIÇO: 


Temporada: De 12 de janeiro a 24 de fevereiro de 2016.
Dias e Horário: Sempre às terças e quartas-feiras, às 21h.
Dias: 12, 13, 19, 20, 26 e 27 de janeiro | 2 e 3, 16 e 17, 23 e 24 de fevereiro (exceto Carnaval, nos dias 09 e 10/02)
Local:  Teatro Poeirinha - Rua São João Batista, 108 - Botafogo, RJ
Telefone: (21) 2537-8053 
Preço: R$ 40,00 (inteira) e R$ 20,00 (meia-entrada)
Classificação Etária: 16 anos
Lotação do Teatro: 60 lugares
Duração do espetáculo: 60 minutos
Horário da Bilheteria: De terça-feira a sábado, das 15h às 21h. Domingo, das 15h às 19h.
 


 


 


Aplausos: Henrique Rohrmann, Luã Belik e

Matheus Nachtergaele.

 

 

 

 

 

(FOTOS: MARCOS HERMES
e
MARCELO SÁ BARRETO

– AG NEWS - a última.)

 

 

 

 

 

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