“PROCESSO
DE
CONSCERTO
DO
DESEJO"
(“PRA QUE
CHORAR,
SE O SOL JÁ
VAI RAIAR,
SE O DIA VAI
AMANHECER...”
Vinícius de
Moraes)
O aviso me foi dado antes do início
da sessão: “É apenas, e ainda, um
‘processo’; a peça não está pronta”.
Imagino quando estiver, penso eu.
Falo de “PROCESSO DE CONSCERTO DO DESEJO”, espetáculo em cartaz no Teatro Poeirinha, com MATHEUS NACHTERGAELE.
Quando fui, já sabia do que tratava
a peça (ou o processo) e me preparei, psicologicamente, para sofrer com o
sofrimento alheio. Sabia que praticar a compaixão faria parte do “cardápio”. Afinal
de contas, a mãe de MATHEUS
suicidou-se, no dia do seu batizado, quando ele tinha três meses. E é dela, de Maria Cecília Nachtergaele, que ele
falaria. Seria o doloroso e fatídico fato o foco do espetáculo.
Muito ao contrário do que eu imaginava, o que vi foi
um trabalho “para cima”, uma ode ao
amor, à alegria, uma celebração à vida, por mais paradoxal que isso possa
parecer.
À custa de quê? Não sei, mas o fato é que me pareceu
que o drama ficou na memória do ator, ou melhor, do homem MATHEUS, indelével, como não poderia deixar de ser, mas ele me pareceu
muito bem resolvido, com relação a tudo. É bem provável que a arte, e, mais
precisamente, o TEATRO, tenha sido o
grande vetor para isso, sem falar nos prováveis longos anos de psicanálise, o
que seria muito natural, numa situação como aquela.
Não precisa de legenda.
A verdade é que saí do teatro leve, assim como me
pareceu MATHEUS, ao final do
espetáculo, recebendo os aplausos, longos e vibrantes, da plateia. Deve ser uma
sessão de exorcização (embora
sinônimos, neste caso, acho que o termo é mais preciso que “exorcismo”), a cada
noite, que vai pondo tudo nos seus eixos. Oxalá seja isso mesmo!
Neste espetáculo, MATHEUS retorna aos palcos, com homenagem
à mãe, a poeta Maria Cecília Nachtergaele, falecida em 1968, recitando textos dela.
Trata-se da terceira fase
deste “processo”, que foi iniciado em julho de 2015, quando o
ator e o violonista LUÃ
BELIK, que o
acompanha no espetáculo, ao lado do violinista HENRIQUE ROHRMANN, em participação
especial, apresentaram, no Festival de
Teatro de Ouro Preto e Mariana, um recital, com músicas que compuseram
juntos, poemas de autoria da poetisa e canções por ela adoradas.
Na segunda
etapa do processo, que teve oito apresentações, no Teatro Poeirinha, de 24/11/2015
a 16/12/2015, MATHEUS passou a
dizer os textos de Maria Cecília em
primeira pessoa, numa operação delicada de possessão e homenagem,
A construção deste espetáculo, segundo o ator (e diretor), acontecerá diante do público: “Preciso das pessoas, como
observadores emocionados disso tudo. Quero ir consertando meu desejo, de acordo
com essa emoção, dia após dia. Como na vida. Como no teatro. Isso só o teatro
pode nos trazer. Temos um horário alternativo, um ator, um violão, lindos
poemas e a canção. Tudo pequenininho, para a grandeza do essencial: artista e
espectador em oração profana”.
SINOPSE (segundo Matheus):
Poucas
palavras se confundem tanto, em nossa língua, quanto “concerto” e “conserto”.
Homônimos homófonos, porém heterófonos
(acrescento eu), e distintos, semanticamente falando.
Aqui, elas
se mesclam vertiginosamente. A palavra “desejo”,
em filosofia, seria a tensão em direção a um fim, de onde se espera satisfação.
Tradicionalmente,
o desejo pressupõe carência ou alguma forma de indigência: um ser que não
carecesse de nada não desejaria nada. Seria um ser perfeito, um Deus. Por isso,
a filosofia, tantas vezes, considera o desejo como característica primeira do
ser imperfeito, do ser finito.
Quero consertar meu desejo com poesia, num concerto.
Explico:
minha mãe, a poeta Maria Cecília Nachtergaele,
faleceu, quando eu era um bebê de três meses. Dela, restaram-me seus poemas,
lindos e maduros, escritos de uma jovem mulher, moderna e triste, e essa veia
que me marca a testa, quando rio ou choro muito.
Em “PROCESSO
DE CONSCERTO DO DESEJO”,
acompanhado pelo jovem violonista LUÃ BELIK, direi, finalmente, os
poemas que guardei nos olhos e na alma, como única herança dela.
O espetáculo
é simples assim: um homem (que, por acaso, é um ator) diz, no palco, as palavras escritas por sua mãe; um violão
(não por acaso, pois Maria Cecília
amava os violões) o acompanha.
É só isso, se isso for pouco.
Dispensa legenda.
Não há muito o que dizer sobre o que vi, além de que se
trata de uma aula de bom gosto, interpretação, poesia, muita emoção, sentimento
e sensibilidade.
Praticamente, nada se tem a acrescentar, em termos de
comentários, a tudo o que já foi
dito sobre MATHEUS NACHTERGAELE, um
dos maiores atores brasileiros, além de diretor. Nunca assisti a nenhum
trabalho seu, no TEATRO, no cinema ou
na TV, em que ele não se atirasse de
cabeça, até “atingir o inatingível” das profundezas abissais da emoção, com uma
intensidade raramente vista em outros atores. Acompanho sua carreira, desde os
primeiros trabalhos e, a cada um novo, mais aumenta a minha admiração por esse
profissional.
Se já é superlativo em tudo o que faz, imaginem (NÃO!!! VÃO COMPROVAR AS MINHAS PALAVRAS
“IN LOCO”) como se comporta, dizendo textos de sua mãe, todos de uma poesia
muito fina, bordados em filigranas de ouro! É um deslumbramento só!
Acrescente-se que a ideia de pôr um músico, ou melhor, um
fantástico violonista, LUÃ BELIK, de
formação clássica, pontuando todo o texto,
do primeiro ao último momento, com direito a pequenos solos, é de uma
felicidade incomensurável. Que talento de músico! Como o seu trabalho valoriza,
de forma magistral, as palavras de Maria
Cecília, pela boca de MATHEUS!
Fiquei totalmente arrebatado por esse casamento: MATHEUS + LUÃ. Como prega a Igreja
Católica, na teoria, ainda que a prática seja diferente, o casamento é
indissolúvel. MATHEUS e LUÃ também não podem se separar. Mas
não podem mesmo!!!
O espetáculo conta, ainda, com uma pequena, porém excelente,
participação especial de outro ótimo músico, HENRIQUE ROHRMANN, ao violino.
Trata-se de uma montagem muito simples, em termos de cenografia, figurinos e iluminação,
porque não poderia, nem deveria, ser de outro jeito, já que o trinômio Maria Cecília, MATHEUS e LUÃ preenchem
todas as necessidades do espectador.
Não deixem de
assistir!
O espetáculo é uma mistura de linguagens e gêneros. Não
saberia como defini-lo, e isso não tem a menor importância. Já que é um “processo”, não sei em que vai dar. Mas
já poderia parar por aqui.
Para mim, já está
pronto!
Não carece de legenda.
FICHA
TÉCNICA ARTÍSTICA:
Desejo: Maria Cecília Nachtergaele
Conscerto: Matheus Nachtergaele
Concerto: Luã Belik
Conserto: Miriam Juvino
FICHA
TÉCNICA:
Textos: Maria Cecília
Nachtergaele
Direção e
Interpretação: Matheus Nachtergaele
Violão: Luã Belik
Violino: Henrique
Rohrmann
Produção: Miriam Juvino
Corpo: Natasha
Mesquita
Voz: Célio Rentroya
Iluminação: Bruno Aragão
Artes
visuais: Cláudio Portugal e Karina Abicalil
Fotos: Marcos Hermes
Divulgação: Silvana Cardoso
(Passarim Comunicação)
Contrarregra: Cedeli
Martinusso
Realização: Pássaro da
Noite Produções
Legenda, para quê?
SERVIÇO:
Temporada:
De 12 de janeiro a 24 de fevereiro de 2016.
Dias
e Horário: Sempre às terças e quartas-feiras, às 21h.
Dias:
12, 13, 19, 20, 26 e 27 de janeiro | 2 e 3, 16 e 17, 23 e 24 de fevereiro (exceto Carnaval, nos dias 09 e 10/02)
Local:
Teatro Poeirinha - Rua São João Batista, 108 - Botafogo, RJ
Telefone: (21)
2537-8053
Preço: R$
40,00 (inteira) e R$ 20,00 (meia-entrada)
Classificação
Etária: 16 anos
Lotação
do Teatro: 60 lugares
Duração
do espetáculo: 60 minutos
Horário
da Bilheteria: De terça-feira a
sábado, das 15h às 21h. Domingo, das 15h às 19h.
Aplausos: Henrique Rohrmann, Luã Belik e
Matheus Nachtergaele.
(FOTOS:
MARCOS HERMES
e
MARCELO SÁ BARRETO
–
AG NEWS - a última.)
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