terça-feira, 2 de dezembro de 2014


GALÁPAGOS
 
 
 
 
(UMA “VIAGEM INSÓLITA”)
 
 
 
 
 
 
           
Mais um texto da talentosíssima jovem dramaturga RENATA MIZRAHI está em cartaz, no momento, no Teatro III do Centro Cultural Banco do Brasil, do Rio de Janeiro, onde ficará em cartaz até o dia 14 de dezembro.
 
            Embora longe de ser o melhor texto de RENATA (OS SAPOS e SILÊNCIO, até agora, são os meus preferidos, com destaque para o último), GALÁPAGOS também tem o seu valor, como texto e como espetáculo.  Recomendo, sem pestanejar.
 
            Pode-se dizer que se trata de um trabalho coletivo, já que a sinopse e o argumento foram esboçados, há três anos, pela dupla de atores, idealizadores do projeto, PAULO GIANNINI e KADU GARCIA.  Posteriormente, foi acrescida a costura de RENATA, que também participara do argumento.  Finalmente, tudo recebeu o fino acabamento da diretora ISABEL CAVALCANTI, num trabalho a oito mãos, que contou com muita pesquisa.
 
            A peça foi contemplada com o Prêmio Funarte Myriam Muniz e selecionada pelo Programa de Fomento à Cultura Carioca (Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro).
 
            O TEATRO é uma das artes que mais dependem do coletivo.  Não importa se o elenco é formado por dezenas de atores e figurantes ou se estamos diante de um monólogo, o certo é que, por trás de tudo, esconde-se um exército de profissionais, que, afinados, buscando um só objetivo, têm toda a chance de atingir o sucesso.  Essa reunião de quatro pessoas em torno de uma ideia, um texto, uma direção, uma concepção só faz agregar valores a um bom espetáculo, como GALÁPAGOS.
   
Notam-se, em todos os aspectos da peça, traços, pinceladas, influências do teatro  de Edward Albee e Harold Pinter, o que, por si só, já é demonstração de bom gosto. Amalgamam-se, em cena, o real e o absurdo, o palpável e o volátil, o sério e o lúdico, o provável e o improvável, como a amizade dos dois personagens.
 
 
 
(Foto: Dalton Valério)
Kadu Garcia e Paulo Giannini.
           

 
 
SINOPSE:
 
Durante sucessivos encontros, dois homens, com estilos de vida completamente diferentes, reconhecem ter algo em comum: um abismo entre o que são e o que representam ser.  CARLOS (PAULO GIANNINI) é um artista plástico renomado, rico, excêntrico; VANDER (KADU GARCIA) é um funcionário de uma multinacional, um homem de hábitos simples, classe média baixa, pai de três filhos e que leva uma vida pacata.  Os dois travam um duelo cômico e emocionante com suas verdades, suas idiossincrasias, seus sonhos, seus medos...
 
Os encontros se dão num decadente bar, que só conta com a frequência dos dois, que lá vão, todos os dias e à mesma hora, com o mesmo objetivo: ver e ouvir uma cantora, que, apesar de brilhante, não consegue arrebanhar um público razoável.  Essa personagem só existe em áudio, interpretada pela excelente atriz e, melhor ainda, cantora SIMONE MAZZER.  Os dois homens são aficionados pela cantora.
 
VANDER insiste em puxar conversa com CARLOS, que sempre o rechaça, até que, aos poucos, vão descobrindo uma identificação, por conta de seus abismos existenciais.
 
CARLOS é deficiente visual e, diante da “indesejável” presença e insistência de VANDER, que não lhe permite aproveitar, ao máximo, o prazer de ouvir sua diva, também se faz, surdo e mudo, por vezes, concentrando-se naquilo que lhe causa prazer, a voz da cantora.
 
Por trajetórias diferentes, ambos estão em momentos de vida muito parecidos, querendo, ou melhor, precisando, ambos, mudar – TUDO -, o que poderia acontecer por meio de uma viagem a Galápagos, cuja primeira parada deverá ser dentro de si mesmos, com o objetivo de ordenar e orientar suas vidas.
 
 
 
 
 
 
 Neste lugar, os dois homens de mundos completamente distintos descobrem suas semelhanças
Vander e Carlos.
 
 
 
Gostei muito do espetáculo e passo a fazer alguns comentários importantes sobre ele:
 
1)      Um texto de RENATA MIZARAHI já se basta como adjetivo.  O “de RENATA MIZRAHI” é o melhor qualificativo para qualquer texto.
 
2)      A química, a cumplicidade entre a dupla de atores é comovente.  Com experiências em trabalhos anteriores, PAULO e KADU trocam passes, em tabelinha, durante toda a peça e, invariavelmente, ficam cara a cara com um goleiro invisível, que bem pode ser a cantora anônima.  E é gol na certa, e de placa.
 
3)      Muito competente o trabalho de direção, de ISABEL CAVALCANTI.  Tudo indica que ela permitiu a cada ator construir livremente seu personagem e só se deu o trabalho de fazer alguns alinhavos, perfeitos, no sentido de emoldurar as ações de cada um, realçando a situação de falso embate entre eles.
 
4)      AURORA DOS CAMPOS assina mais um brilhante trabalho de cenografia.  Desta vez, sem muitos detalhes, que caracterizam sua obra, optou por uma cenografia mais “clean”: apenas um longo balcão de bar, de acesso por dois lados, sobre o qual estão distribuídos garrafas de bebidas e muitos copos, além de bancos altos, típicos de uma casa noturna.  Ao fundo, uma cortina vermelha e, sobre o balcão, três luzes pendentes.
 
5)      RENATO MACHADO é o responsável por uma bela iluminação, de pouca intensidade, uma espécie de meia-luz, como pede o ambiente físico e o clima das situações.
 
6)      Discretos e corretos são os figurinos, de BRUNO PERLATTO.
 
7)      Excelente a trilha original, de FELIPE STORINO.  O “set list”, interpretado por SIMONE MAZZER, é de primeiríssima qualidade e muito bom gosto.
 
 
 
 
 Kadu Garcia e Paulo Giannini intepretam Vander e Carlos
Amigos ou, simplesmente, “viajantes”?
 
 
 
 
 
FICHA TÉCNICA:
 
Texto – Renata Mizrahi
Direção – Isabel Cavalcanti
Elenco – Paulo Giannini e Kadu Garcia
Cenografia – Aurora dos Campos
Iluminação – Renato Machado
Figurino – Bruno Perlatto
Trilha Original– Felipe Storino
Design Gráfico – Roberta de Freitas
Fotografia – Dalton Valério e Débora Setenta
Assistente de direção - Renata Mizrahi
Assistente de Cenografia – Ana Machado
Consultoria de movimento para o personagem Carlos - Moira Braga
Produção Executiva – Thamires Trianon
Direção de Produção – Paulo Giannini e Kadu Garcia
Realização – Saravá Cacilda Projetos Culturais
Direção de Produção - Criada pelos sócios Kadu Garcia e Paulo Giannini, atores/produtores que trabalham em parceria desde 2001, a Saravá Cacilda Projetos Culturais tem como objetivo dar continuidade a esta sociedade, desenvolvendo e realizando projetos de qualidade artística e comprometidos com a formação de plateias.
 
 
 
 
Cenário de Aurora dos Campos.
 
 
 
 
SERVIÇO:
 
Local: Centro Cultural Banco do Brasil – CCBB – Teatro III - Rua Primeiro de Março, 66 – Centro – Rio de Janeiro
Temporada: Até 14 de dezembro
Horários: quarta a domingo, às 19h30min
Ingressos: R$10 (inteira) e R$5 (meia-entrada)
Sessões com intérprete de libras: dias 19, 23, 26 e 30 de novembro; 3, 7, 10 e 14 de dezembro.
Classificação: 14 anos
Duração do espetáculo: 70 minutos
 
 
 
 
 
(FOTOS: DALTON VALÉRIO e DÉBORA SETENTA)

Um comentário: