quinta-feira, 15 de maio de 2014


O GRANDE CIRCO MÍSTICO

 

 

(A MAGIA DO CIRCO SUPERA A DOR DA GUERRA

ou

PONHA UMA PITADA DE FANTASIA NA DURA REALIDADE DA VIDA.)

 

 

 


 

 

            O circo está presente no imaginário de qualquer pessoa; ontem, muito mais que hoje, infelizmente, já que as gerações mais novas são atraídas por outras formas de lazer e as “autoridades” governamentais não se sensibilizam, nem um pouco, para divulgar, apoiar e levar ao público essa forma tão ingênua e pura de diversão. 

No espetáculo que motiva esta resenha, a vilã da peça, CHARLOTE, diz, em certo momento, achar que apenas ela não deva gostar de circo.  Naquele universo de gente em cena, a personagem deve representar, percentualmente, na vida real, os que não apreciam a arte circense.

Particularmente, minha relação com o circo é muito grande, já que meus pais se conheceram nele.  Não como artistas circenses, o que me daria grande orgulho, mas como assíduos espectadores.  Meu pai ainda arriscava cantar, em concursos de calouros, que as antigas lonas ofereciam.  E ganhava, quase sempre.  Minha infância e a de meus irmãos foram marcadas por muitas idas aos circos, dos mais mambembes, montados em terrenos baldios do subúrbio, até as grandes produções, nacionais e internacionais, espalhadas pela cidade. 

Eu amo o circo e, até hoje, fico bastante emocionado, quando vou a um.  Viro criança e sou apaixonado por palhaços, verdadeiros anjos, enviados por Deus, para deixar a Terra menos triste.

            Perdão pela digressão, mas, se ela o incomodou, a mim fez um bem enorme.

           

Mas falemos de um espetáculo que está em cartaz no Theatro NET Rio, uma superprodução da sempre competente MARIA SIMAN (Primeira Página Produções Culturais) com a produtora associada ISABEL LOBO.  Trata-se de O GRANDE CIRCO MÍSTICO.

 

 


 

 

            Assisti ao espetáculo duas vezes: a primeira foi numa chamada sessão “vip”, numa segunda-feira (28 de abril), e outra na última sexta-feira (9 de maio).  Tive uma má impressão, na primeira, e saí do teatro triste e muito frustrado, pois não encontrei o que esperava, em função de ser apaixonado pela trilha do espetáculo e pelo balé, do qual a peça se originou e ao qual assisti duas vezes, em 1983, no Maracanãzinho.  Cheguei a trocar informações com amigos do ramo, aos quais confidenciei muitos “furos” que me desagradaram na peça.  E o fiz com a convicção de que estava corretíssimo, no que fui seguido por alguns, em determinadas observações.

 

MAS NÃO PODIA ACEITAR, DE FORMA ALGUMA, QUE O ESPETÁCULO NÃO FOSSE BOM.

 

Alguma coisa estranha havia acontecido.  Pensei na tensão do elenco, naquele dia, diante de tantas pessoas que são profundas conhecedoras de TEATRO e, especialmente, de musicais; pensei nos litros de adrenalina que jorravam de todos no palco; pensei na grande responsabilidade que cada artista e técnico carregava em seus ombros...  Talvez essa grande preocupação pudesse ser a causa de uma atuação que, para mim, ficou a desejar.

           

Eu poderia ter omitido, nesta modesta resenha, tudo o que disse nos três parágrafos anteriores, porém tenho certeza de que agi corretamente, pois isso só fará realçar e valorizar tudo o que vou dizer, após a segunda vez em que vi o espetáculo:

A-DO-REI!!!

            Descobri o grande mistério daquela estreia “vip”.  O problema era duplo: as falhas técnicas ocorreram, sim, como é admissível em qualquer estreia, mas, principalmente, o problema era eu.  Acho que eu estava no lugar errado, na hora errada.  E, como considero muito interessante e verdadeira uma frase do filósofo Immanuel Kant – “O SÁBIO PODE MUDAR DE OPINIÃO; O IGNORANTE, NUNCA.” -, ainda que não me considere um sábio, porém sabendo que não sou ignorante, aqui estou para fazer a “mea maxima culpa”. 

Continuo, sim, com a sensação de que poderia ter encontrado “mais”, todavia considero O GRANDE CIRCO MÍSTICO um ótimo espetáculo.

 

 


 

 

            O musical, com dramaturgia de NEWTON MORENO e ALESSANDRO TOLLER, é inspirado no poema O GRANDE CIRCO MÍSTICO, de 1938, da autoria de Jorge de Lima, publicado no livro A Túnica Inconsútil.  Foi baseado nesse mesmo poema que, em 1982, o Balé do Teatro Guaíra montou um espetáculo de dança, com canções, encomendadas, de Edu Lobo e Chico Buarque, com roteiro de Naum Alves de Souza, contando a história de amor entre um aristocrata e uma bailarina de circo.

            Os autores do texto, em livre adaptação, criaram uma situação em que o maior vilão da trama, que separa os dois amantes, é a guerra, embora, materialmente, a grande inimiga do casal de amantes seja CHARLOTE (ISABEL LOBO), noiva prometida e “arranjada” para FREDERICO, o protagonista, vivido pelo estreante GABRIEL STAUFFER. 

            Não é o melhor texto de NEWTON MORENO, que brilhou em, por exemplo, As Centenárias, Maria do Caritó e Jacinta, mas agrada bastante, embora, por vezes, me pareça pecar um pouco por algumas pitadas de dramalhão e também por sua grande extensão.  Penso que caberia, e seria possível, um pequeno “enxugamento de algumas gorduras”.  Desnecessariamente, o texto é um pouco longo.  Mas isso não compromete o trabalho dramatúrgico, a ponto de classificá-lo com ruim.  Gostei do texto, com as ressalvas anteriores.

            Com relação à direção, insisto numa opinião que já tenho formada há algum tempo: considero JOÃO FONSECA um dos melhores diretores de TEATRO do Brasil, entretanto prefiro-o dirigindo espetáculos que não sejam musicais, como todos os que dirigiu na companhia Os Fodidos Privilegiados, R&J de Shakespere – Juventude Interrompida (obra-prima) e Não Sobre Rouxinóis, apenas para citar alguns.  Não creio que seja dirigindo musicais que JOÃO mais se destaca, porém não tenho a menor dúvida de que este CIRCO é sua melhor assinatura como diretor, à frente de tal gênero.  É excelente o seu trabalho, contando, evidentemente, com o apoio de outros profissionais, que, de forma direta, interferem na direção, como é o caso, por exemplo, de PAULA SANDRONI  (assistência de direção) e LEONARDO SENNA (direção de movimentos circenses).  Gostei muito, JOÃO, mas acho que você não precisaria desfilar com aquele galhinho de arruda na orelha, como na primeira vez em que assisti à peça (é só para descontrair).  Você não precisa de sorte; um galhinho de arruda não é nada, diante do seu enorme talento.

            Falar das canções de Edu e Chico é totalmente desnecessário, especialmente das que formam a trilha de O GRANDE CIRCO MÍSTICO.  Algumas destas tornaram-se “hits”, por serem de uma exagerada beleza, como é o caso de Beatriz, Meu Namorado, Valsa Brasileira, Salmo, Sobre Todas as Coisas e Meia-Noite.  Quase chego às lágrimas, ao ouvir qualquer uma delas bem interpretada.  A trilha utilizada no balé foi registrada num lindo e antológico disco; oxalá a produção da peça também venha a fazê-lo.

            A direção musical é de ERNANI MALETTA, responsável por essa parte nos espetáculos do fantástico Grupo Galpão.  No meu primeiro contato com este CIRCO, não gostei muito dos arranjos e, hoje, tenho a consciência de que foi por estar tão acostumado aos originais do disco, gravado quando do lançamento do balé e que ouço muito até hoje.  Agora, RETIFICO, completamente, a minha primeira impressão.  É ótimo o trabalho de direção musical, tanto para os arranjos das canções interpretadas na íntegra como para as várias inserções.  Inclui-se, nesta rubrica, a preparação vocal coletiva, sob a orientação de FELIPE HABIB.  Entendo, porém, que ambos, ERNANI e FELIPE, deveriam cobrar um pouco mais dos atores, quanto ao canto.  Alguns deslizes incomodam e desvalorizam as letras e as melodias de algumas canções ou trechos delas.

            É muito boa a coreografia de TÂNIA NARDINI, com destaque para a cena em que a bailarina “cavalga” seus dois cavalos-humanos.  É uma cena antológica, para a qual contribuem LETÍCIA COLIN, que faz a protagonista, BEATRIZ, e dois atores coadjuvantes, LEO ABEL e DOUGLAS RAMALHO, os quais apresentam um belíssimo trabalho de expressão corporal, transformando-se em dois garbosos equinos.  O exercício de corpo desses dois atores/dançarinos é deslumbrante.  O conjunto da cena fica na memória visual de qualquer espectador.  É daquelas cenas de que a pessoa se lembrará pelo resto de sua vida.

 

 

(Foto: Leo Aversa)

O deslumbramento da cena da bailarina e seus “cavalos”.

 

 

            O espetáculo agrada por vários motivos, contudo grande parte do seu sucesso reside no aspecto plástico da peça: cenografia e figurinos.

            A cenografia é de um dos mais festejados cenógrafos do momento: NELLO MARRESE.  Sempre presente nos trabalhos de JOÃO FONSECA, há uma simbiose perfeita entre os dois.  Os vários cenários que NELLO criou para este espetáculo são de uma beleza ímpar e de uma sucessão de detalhes, que provocam arroubos de admiração no público, como os dois grandes contêineres verticais, que, quando abertos, se transformam, cada um deles, numa casa e num camarim/relicário da MULHER BARBADA.  Este, então, é um deslumbramento.  Lindas e muito criativas as duas resoluções que o cenógrafo encontrou para os toldos do circo: o anterior à guerra e o posterior a ela.  É difícil descrevê-los, e este é um dos motivos que me levam a indicar a quem me lê uma conferência, “in loco”, do que digo.

            Num projeto da envergadura de O GRANDE CIRCO MÍSTICO, não poderia faltar o trabalho, sempre lindo e colorido, de CAROL LOBATO, nos figurinos.  Figurino circense dá margem – ou panos para manga - a muita imaginação e criatividade, o que transborda da cabeça de CAROL.  E o resultado disso é uma mistura de cores, tons, texturas, formas, bordados que nos deixam extasiados.  Muita delicadeza, beleza, harmonia, bom gosto, pinceladas de ingenuidade e pureza, agregados a cada roupa imaginada por CAROL e delicadamente costurada por sua eficiente equipe.  São um espetáculo à parte os figurinos deste CIRCO.

            Dentre tantos competentes profissionais que cuidam da iluminação dos palcos, foi convidado, para dar forma a um desenho de luz, LUIZ PAULO NENEN, que, mais uma vez, brilha (sem trocadilhos) no seu trabalho, a despeito da deliciosa brincadeira que o ADMINISTRADOR do circo faz com o iluminador, quando, numa cena, ao solicitar um foco sobre um determinado componente da trupe, reclama da “incompetência” do profissional e diz que “deveriam ter chamado o Aurélio”, numa alusão carinhosa a outro grande profissional do ramo, Aurélio de Simoni.  Parabéns, NENEN!

 


Reiner Tenente e Fernando Eiras.

 

            Bom o desenho de som, de FERNANDO LAURIA.  Melhor na segunda vez em que estive no NET Rio.  Creio que houve algumas correções, desde a estreia.  Funciona bem.  Em poucas cenas, porém, quando há música ao fundo e vários atores falam ao mesmo tempo, falha um pouco a equalização (não sei se seria o termo correto).  Mas nada que não possa ser resolvido.  Fica aqui o alerta.

            Não imaginei que um grande ator, como LEOPOLDO PACHECO, pudesse se destacar tanto em outro setor do TEATRO, como é o caso do visagismo.  É dele a responsabilidade de transformar, no aspecto visual, os atores e dançarinos em artistas circenses, o que faz de forma muito satisfatória.  Grande e agradável surpresa.

            Não posso deixar de fazer uma referência ao lindo e rico, sob todos os aspectos, programa do espetáculo, marca registrada das produções de MARIA SIMAN.  Acho muito importante que o espectador leve para casa, gratuitamente ou pagando por ele, um objeto que materialize a lembrança de um grande momento em sua vida, como pode ser uma ida ao teatro.  Não só é lindo, do ponto de vista plástico, estético, este programa, como também contém ricos depoimentos de pessoas envolvidas no projeto.

            Vamos ao elenco, deixando bem claro que, quando da minha primeira vez neste CIRCO, alguns me decepcionaram um pouco, pelo que conheço de seus trabalhos anteriores, acompanhando-os bem de perto.  Na volta ao CIRCO, vi outro espetáculo.  Faz-se necessário, também, dizer que cantar as melodias de EDU LOBO não é tarefa fácil nem é para amadores.  E, em especial, é muito elaborada a partitura de O GRANDE CIRCO MÍSTICO, que é um “musical”.  E o adjetivo não foi dado a este  gênero teatral pela beleza da sonoridade do vocábulo; é outro o motivo.  Em “musical”, exige-se que se cante, e muito bem. 

            FERNANDO EIRAS (ADMINISTRADOR) – Ótimo ator.  Achei, a princípio, o personagem meio histriônico, caricato, e isso me incomodou um pouco.  Depois, com um “toque” de um amigo, crítico profissional (Existe a “profissão de crítico”?), percebi que o tom da interpretação do ator estava bem inserido na proposta do espetáculo, principalmente quando vislumbrei, no personagem, semelhanças com uma das minhas paixões, o personagem D. Quixote.  E tive a confirmação disso, quando, ao final de uma canção da trilha original da peça, ele agrega um trecho de uma das canções do inesquecível musical O HOMEM DE LA MANCHA (Dulcineia / Dulcineia...).  Faz um bom trabalho, mas deveria se dedicar um pouco mais às canções.

 

 


 

 

            LETÍCIA COLIN (BEATRIZ) – Bela figura feminina, boa atriz, ótima cantora, marcante presença no palco, esbanja talento na pele da protagonista.  Dispensa um pouco da iluminação artificial, pois já carrega consigo uma luz própria, que a favorece em cena.  É muito gratificante admirá-la, representando e cantando, desde que a vi, pela primeira vez, esbanjando talento em O DESPERTAR DA PRIMAVERA.  Até hoje, lembro-me, com detalhes, de sua irretocável Ilse.  Foi muito bem escalada para o papel, que defende com muita graciosidade e leveza.

            GABRIEL STAUFFER (FREDERICO) – Jovem ator, que faria um dos papéis secundários, foi alçado à condição de protagonista, pelo olho clínico de JOÃO FONSECA, após o ator convidado para fazer o médico aristocrata ter deixado o elenco, durante os ensaios.  GABRIEL se sai bem melhor atuando do que cantando, por sua pequena extensão vocal, mas não chega a desapontar neste “métier”, principalmente se considerarmos o grau de dificuldade para interpretar as canções da peça.  Ele parece ter consciência de suas limitações como cantor e procura ir até onde consegue, sem forçar nada, explorando bem seus limites.  Tem uma boa presença em cena: um belo porte e um lindo timbre de voz.  Deve se dedicar muito às aulas de canto, o que fazem, sempre, sem parar, os melhores astros e estrelas de musicais, no Brasil e no mundo inteiro.  Com dedicação a esse aprimoramento vocal, certamente, em pouco tempo, atingirá o estrelato.

 

 


O par romântico: Beatriz (Letícia Colin) e Frederico (Gabriel Stauffer)

 

 

            ISABEL LOBO (CHARLOTE) – É a vilã e armadora de toda a trama.      

            ANA BAIRD (MULHER BARBADA) – É a parte mística da peça, cigana, que prevê o futuro da trupe e da vida de BEATRIZ.  Ela, que, em outros musicais, cantou muito bem, destaca-se, neste espetáculo, melhor na representação de sua personagem que em seus solos.  Mas consegue dar o seu recado.

            REINER TENENTE (CLOWN) – É o lirismo personificado em cena.  Personagem lindo, a atuação do ator é comovente e muito verdadeira.  Não precisa dizer que me emocionou muito.  Gosto demais do trabalho dele, neste espetáculo e em outros em que já o vi atuando.  Não se pode dizer que a minha paixão por palhaços é que me leva a não economizar elogios ao ator; é sua atuação, mesmo, que é de grande qualidade.

 

 


Reiner Tenente, “roubando” uma cena.

 

           

Completam o elenco PAULA FLAIBANN (LILY BRAUN), MARCELO NOGUEIRA (BANQUEIRO, FREDERICO PAI e SOLDADO), FELIPE HABIB (AMIGO, SOLDADO DA TRINCHEIRA, ENFERMEIRO e PALHAÇO QUE INTERAGE COM A PLATEIA), RENAN MATTOS (DIMITRI e SOLDADO INIMIGO), THADEU TORRES (GAROTO, SOLDADO DA TRINCHEIRA e MULHER DO CABARÉ), LEONARDO SENNA (GENERAL e SOLDADO INIMIGO), JULIANA MEDELLA (MULHER DA NÉVOA, ENFERMEIRA e MULHER DO CABARÉ), LEO ABEL (OFICIAL INIMIGO, CAVALO, VELHO e SOLDADO DA TRINCHEIRA), NATASHA JASCALEVICH (ANJO, ENFERMEIRA e MULHER DO CABARÉ), DOUGLAS RAMALHO (CAVALO, SOLDADO DA TRINCHEIRA e SOLDADO INIMIGO), LUCIANA PANDOLFO (ENFERMEIRA e MULHER DO CABARÉ) e BEATRIZ LUCCI (substituta eventual).  Destes, impressionaram-me muito FELIPE HABIB, THADEU TORRES, LEO ABEL, NATASHA JASCALEVICH e DOUGLAS RAMALHO, pela versatilidade em cena.

 

 


A doce e hilária figura do Clown “mudo”, de Felipe Habib.

 

           

Para que uma superprodução, como O GRANDE CIRCO MÍSTICO, ganhe vida e autonomia, há um batalhão de profissionais nos bastidores, todos da maior importância, para que o pano se abra e o público possa se deliciar com um belo espetáculo.  Por curiosidade, contei: 20 profissionais, na equipe de cenário; 10, na de iluminação; 20, na de figurino; 3, na de visagismo; 6, na de comunicação; 10, na de som; 7, na de palco; 16, na da Primeira Página; 14, na de música; 7, na de direção; e 5, na de músicos: JOÃO BITTENCOURT (maestro, arregimentação, piano, teclado e acordeão), YURI VILLAR (saxofones tenor e soprano, flauta e flautim), JONAS HOCHERMAN CORRÊA (trombone e tuba), LUCIANO CAMARA (violão, guitarra e baixolão) e GEÓRGIA CAMARA (bateria, percussão e vibrafone).  Excelente atuação da banda!  É impossível não valorizar um espetáculo que emprega dezenas de competentes profissionais!

 

Algumas observações que merecem destaque, positivo (a maioria) e negativo (poucos) no espetáculo:

 

1)      Sem qualquer ligação ao espetáculo, convém citar aqui um pequeno detalhe: Vi a peça, pela segunda vez, no dia da morte (ou do enterro?) do cantor Jair Rodrigues, que mereceu uma homenagem do Theatro NET Rio, no telão, antes de se abrir a cortina, aplaudida, espontaneamente, por todos da plateia.  Bela homenagem da administração do teatro e dos espectadores.

2)      Achei genial a ideia de pôr um palhaço com uma sanfona, para abrir os dois atos, no proscênio, interagindo com a plateia, comunicando-se, porém sem falar.  Se a ideia é ótima, melhor ainda é a atuação do ator FELIPE HABIB.  Entretém, sem aborrecer, o público.  Funciona muito bem.

3)      É absolutamente lindo, de uma beleza ímpar o camarim/relicário, da MULHER BARBADA.  Quero vê-lo de perto, na próxima vez em que for rever o espetáculo, e conferir cada uma das dezenas (ou centenas?) de informações icônicas nele presentes.  Um verdadeiro achado da cenografia.  Uma verdadeira obra de arte!

4)      Interessante é o detalhe de a MULHER BARBADA apresentar o enredo do espetáculo, se bem que isso até se tornaria desnecessário, pela maneira como é desenvolvida, linearmente, a trama.

 

 


Ana Baird e sua Mulher Barbada.

 

 

5)      Ótima foi a solução encontrada para que se erguessem as duas “lonas” do cenário.  São toldos estilizados e bem diferentes um do outro, o que se explica, na peça: um antes da guerra e outro após, além dos diferentes nomes do circo.

6)      É muito bom o número inicial, de apresentação da trupe.  Alegre, dinâmico, tarefa facilitada para a direção, em função da canção de fundo, Na Carreira.

7)      Longe de ser uma novidade, em musicais, gosto muito da ideia de se colocar os atores e dançarinos tocando algum instrumento em cena.  Isso vem ocorrendo, com certa frequência, nos últimos musicais encenados no Rio, e contribui bastante para a sua originalidade.

8)      Tão interessante quanto o aspecto anterior, há de se louvar o fato de quase todos os atores e dançarinos executarem, de forma parcimoniosa, é claro, pequenos números circenses, incluindo os personagens principais.

9)      Muito criativa a cena da domadora (MULHER BARBADA) com os leões numa “jaula”.  Ótima coreografia.

10)  Nunca é demais repetir que o número de BETARIZ e seus dois “cavalos” é algo que não se consegue remover da retina.

11)  Bem interessante a marcação utilizada pelo diretor, para fazer com que BEATRIZ, ao cair dos cavalos, vá ao encontro dos braços de FREDERICO.  Bela cena!

12)  Ao anunciar o início da guerra e expulsar a trupe, fazendo-a desmontar o circo, o general diz, da mais arrogante forma possível, que a guerra, sim, e não o circo, é o maior espetáculo da Terra, o que incomoda boa parte da plateia, a qual passa a compartilhar com as vítimas o drama daqueles pobres artistas mambembes.  Mérito para a atuação dos atores envolvidos na cena.

13)  É muito tocante e terna a cena de despedida de FREDERICO, que vai para a guerra, e BEATRIZ, os dois consumando uma relação sexual, muito delicada e sutil, ambos no tecido para acrobacias aéreas, ao som de Meu Namorado, a dupla cantando e com o acompanhamento dos artistas da companhia, tocando instrumentos, e a participação da MULHER BARBADA, no vocal.  Ótima vocalização para uma belíssima cena.

14)  É muito marcante a transformação do cenário do circo para o campo de guerra, com bancos e mesas de ripas dispostos de maneira desarrumada, simulando destruição.

15)  Outra cena bem bonita é aquela em que FREDERICO, já engajado na guerra, canta O GRANDE CIRCO MÍSTICO, fazendo malabarismos com granadas, em meio a soldados feridos.

 

 


Malabarismo com granadas (limonada com os limões que a vida nos dá).

 

 

16)  Uma outra cena capaz de arrancar lágrimas da plateia ocorre quando o ADMINISTRADOR, utilizando um fantoche, tenta fazer sorrir um menino que perdera os pais e um dos braços na guerra.  O texto da cena é muito bonito.  Mais ainda é a participação de BEATRIZ, convidando, e convencendo, o infortunado mutilado a dançar com ela e a seguir com a trupe.  Muito lindo!

17)  A cena, quase solo, de LILY BRAUN é boa e, sobre ela, faço dois destaques.  A atuação do ator THADEU TORRES, como uma das mulheres do cabaré (ou, para outros, um travesti), e a coreografia da cena.  Ainda quanto a ela, devo admitir que o momento em que a personagem, uma prostituta, na tentativa de seduzir o jovem FREDERICO, deixava à mostra os fartos seios não era compatível com a proposta da peça, ainda que tivesse a ver com a cena.  Fiquei muito incomodado com aquilo, que achei de muito mau gosto, mas tive a deliciosa surpresa, na segunda vez, de ver que tal situação havia sido suprimida da cena.  Parabéns à direção!  É isso aí: aprendendo, reconhecendo erros, corrigindo-os e tentando, sempre, a perfeição.

18)  Um dos melhores momentos do excelente ator REINER TENENTE é quando ele interpreta a VALSA DOS CLOWNS, acompanhado de vários palhaços.  Se o espectador fechar os olhos, corre o risco de flutuar (apesar do exagero, permito-me a imagem poética, tão compatível com a cena).

19)  Merece destaque o efeito especial utilizado para mostrar os tiros atingindo o corpo do CLOWN.  Por que tirar de você, que me lê, o prazer da surpresa?  Vá conferir.

20)  Muito bom o cenário do cemitério, na abertura do 2º ato.  Bem criativo.

 

 


Emoção na morte do Clown.

 

 

21)  A canção SALMO, interpretada por ANA BAIRD, perdeu um pouco de sua beleza, em função de falhas técnicas na interpretação.  Como leigo, porém dono de um excelente ouvido, creio que a solução seria descer um pouco o tom da canção, para que a cantriz pudesse interpretá-la com perfeição, o que seria capaz de fazer, com toda a certeza.

22)  Simples e interessante foi a solução encontrada para a entrada dos aviões em cena.  Funciona muito bem.  Sugiro que, no lugar de dois aviões, entrassem quatro ou cinco.  Ficaria mais bonito, plasticamente, imagino eu, e poderia causar mais impacto.

23)  É muito bonita a cena em que o ADMINISTRADOR consegue sair do estado depressivo e alucinatório em que se encontrava, pós-guerra, para se reencontrar com a magia do mundo circense.  Muito bom o trabalho do elenco e, principalmente, de FERNANDO EIRAS.

24)   

 


A vida continua.  Voltemos à alegria do Circo!

 

 

25)  Não poderia ter sido melhor a ideia de fazer representar as duas filhas gêmeas dos protagonistas sob a forma de duas bonecas de madeira, articuladas, brilhante e sincronicamente, manipuladas por duas atrizes.  A plasticidade da cena supera tudo nela.

26)   

 


Plasticidade e beleza.

 

 

27)  A grande jogada da direção, de, seguindo o texto, fazer entrar em cena todos (ou quase) os que trabalham nas coxias, com narizes de palhaço, para passar uma mensagem de otimismo, que vai encerrar o espetáculo, é simplesmente uma jogada de mestre.  Aquelas pessoas, naquela situação, representam todos os que estão na plateia e fazem parte do “circo da vida”.  Funciona muito bem no espetáculo.

 

 

Por tantos muitos acertos e alguns poucos erros, O GRANDE CIRCO MÍSTICO é um espetáculo que não pode deixar de ser visto, mais por adultos do que por crianças, pelo conjunto da obra.

 

 

 

E VIVA O CIRCO!!!

 

 

 

 

joao fonseca 2

João Fonseca (diretor)

 

 


Aplausos na estreia vip.

 

              


Minha primeira vez neste CIRCO.

 

 


Minha segunda vez neste CIRCO, com a querida Maria Siman.

 

 

 


Um beijinho “de nariz’, para celebrar a nossa amizade.

 

 

 

 

(FOTOS: PRODUÇÃO/DIVULGAÇÃO, LEO AVERSA, MARISA SÁ e GILBERTO BARTHOLO)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

3 comentários:

  1. Realmente um espetáculo para se ver e rever. Excelente crítica!

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  2. Lindo texto, Gilberto. Tenho similar opinião na maioria dos aspectos. Achei o espetáculo muito bom, mas tal como você, penso que o roteiro merecia uma enxugada. A partir de determinado momento me deu uma cansada, mas ni final retomou o fôlego. Um espetaculo lindíssimo e de encher os olhos diante de tanta beleza cênica. Direção de arte, figurinos e coreografias impecáveis.

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  3. Adorei seu texto. Pelo visto preciso ir a esse CIRCO pela 2ª vez!

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