O
GRANDE CIRCO MÍSTICO
(A
MAGIA DO CIRCO SUPERA A DOR DA GUERRA
ou
PONHA
UMA PITADA DE FANTASIA NA DURA REALIDADE DA VIDA.)
O
circo está presente no imaginário de qualquer pessoa; ontem, muito mais que
hoje, infelizmente, já que as gerações mais novas são atraídas por outras
formas de lazer e as “autoridades” governamentais não se sensibilizam, nem um
pouco, para divulgar, apoiar e levar ao público essa forma tão ingênua e pura
de diversão.
No espetáculo
que motiva esta resenha, a vilã da peça, CHARLOTE,
diz, em certo momento, achar que apenas ela não deva gostar de circo. Naquele universo de gente em cena, a
personagem deve representar, percentualmente, na vida real, os que não apreciam
a arte circense.
Particularmente,
minha relação com o circo é muito grande, já que meus pais se conheceram
nele. Não como artistas circenses, o que
me daria grande orgulho, mas como assíduos espectadores. Meu pai ainda arriscava cantar, em concursos
de calouros, que as antigas lonas ofereciam.
E ganhava, quase sempre. Minha infância
e a de meus irmãos foram marcadas por muitas idas aos circos, dos mais
mambembes, montados em terrenos baldios do subúrbio, até as grandes produções,
nacionais e internacionais, espalhadas pela cidade.
Eu amo o circo
e, até hoje, fico bastante emocionado, quando vou a um. Viro criança e sou apaixonado por palhaços, verdadeiros
anjos, enviados por Deus, para deixar a Terra menos triste.
Perdão
pela digressão, mas, se ela o incomodou, a mim fez um bem enorme.
Mas falemos de
um espetáculo que está em cartaz no Theatro
NET Rio, uma superprodução da sempre competente MARIA SIMAN (Primeira Página Produções Culturais) com a produtora
associada ISABEL LOBO. Trata-se de O GRANDE CIRCO MÍSTICO.
Assisti
ao espetáculo duas vezes: a primeira foi numa chamada sessão “vip”, numa
segunda-feira (28 de abril), e outra na última sexta-feira (9 de maio). Tive uma má impressão, na primeira, e saí do
teatro triste e muito frustrado, pois não encontrei o que esperava, em função
de ser apaixonado pela trilha do espetáculo e pelo balé, do qual a peça se
originou e ao qual assisti duas vezes, em 1983, no Maracanãzinho. Cheguei a trocar informações com amigos do
ramo, aos quais confidenciei muitos “furos” que me desagradaram na peça. E o fiz com a convicção de que estava
corretíssimo, no que fui seguido por alguns, em determinadas observações.
MAS NÃO PODIA ACEITAR, DE FORMA ALGUMA, QUE
O ESPETÁCULO NÃO FOSSE BOM.
Alguma coisa
estranha havia acontecido. Pensei na
tensão do elenco, naquele dia, diante de tantas pessoas que são profundas
conhecedoras de TEATRO e, especialmente,
de musicais; pensei nos litros de adrenalina que jorravam de todos no palco;
pensei na grande responsabilidade que cada artista e técnico carregava em seus
ombros... Talvez essa grande preocupação
pudesse ser a causa de uma atuação que, para mim, ficou a desejar.
Eu poderia ter
omitido, nesta modesta resenha, tudo o que disse nos três parágrafos anteriores,
porém tenho certeza de que agi corretamente, pois isso só fará realçar e
valorizar tudo o que vou dizer, após a segunda vez em que vi o espetáculo:
A-DO-REI!!!
Descobri
o grande mistério daquela estreia “vip”.
O problema era duplo: as falhas técnicas ocorreram, sim, como é
admissível em qualquer estreia, mas, principalmente, o problema era eu. Acho que eu estava no lugar errado, na hora
errada. E, como considero muito
interessante e verdadeira uma frase do filósofo Immanuel Kant – “O SÁBIO
PODE MUDAR DE OPINIÃO; O IGNORANTE, NUNCA.” -, ainda que não me considere
um sábio, porém sabendo que não sou ignorante, aqui estou para fazer a “mea maxima culpa”.
Continuo, sim,
com a sensação de que poderia ter encontrado “mais”, todavia considero O GRANDE CIRCO MÍSTICO um ótimo
espetáculo.
O
musical, com dramaturgia de NEWTON
MORENO e ALESSANDRO TOLLER, é
inspirado no poema O GRANDE CIRCO
MÍSTICO, de 1938, da autoria de Jorge
de Lima, publicado no livro A Túnica
Inconsútil. Foi baseado nesse mesmo
poema que, em 1982, o Balé do Teatro
Guaíra montou um espetáculo de dança, com canções, encomendadas, de Edu Lobo e Chico Buarque, com roteiro de Naum
Alves de Souza, contando a história de amor entre um aristocrata e uma
bailarina de circo.
Os
autores do texto, em livre adaptação, criaram uma situação em que o maior vilão
da trama, que separa os dois amantes, é a guerra, embora, materialmente, a
grande inimiga do casal de amantes seja CHARLOTE
(ISABEL LOBO), noiva prometida e “arranjada” para FREDERICO, o protagonista, vivido pelo estreante GABRIEL STAUFFER.
Não
é o melhor texto de NEWTON MORENO,
que brilhou em, por exemplo, As Centenárias,
Maria do Caritó e Jacinta, mas agrada bastante, embora,
por vezes, me pareça pecar um pouco por algumas pitadas de dramalhão e também
por sua grande extensão. Penso que
caberia, e seria possível, um pequeno “enxugamento de algumas gorduras”. Desnecessariamente, o texto é um pouco longo. Mas isso não compromete o trabalho
dramatúrgico, a ponto de classificá-lo com ruim. Gostei do texto, com as ressalvas anteriores.
Com
relação à direção, insisto numa
opinião que já tenho formada há algum tempo: considero JOÃO FONSECA um dos melhores diretores de TEATRO do Brasil, entretanto prefiro-o dirigindo espetáculos que
não sejam musicais, como todos os que dirigiu na companhia Os Fodidos Privilegiados, R&J
de Shakespere – Juventude Interrompida (obra-prima) e Não Sobre Rouxinóis, apenas para citar alguns. Não creio que seja dirigindo musicais que JOÃO mais se destaca, porém não tenho a
menor dúvida de que este CIRCO é sua
melhor assinatura como diretor, à frente de tal gênero. É excelente o seu trabalho, contando,
evidentemente, com o apoio de outros profissionais, que, de forma direta,
interferem na direção, como é o caso, por exemplo, de PAULA SANDRONI (assistência de
direção) e LEONARDO SENNA (direção
de movimentos circenses). Gostei
muito, JOÃO, mas acho que você não
precisaria desfilar com aquele galhinho de arruda na orelha, como na primeira
vez em que assisti à peça (é só para
descontrair). Você não precisa de
sorte; um galhinho de arruda não é nada, diante do seu enorme talento.
Falar
das canções de Edu e Chico é totalmente desnecessário,
especialmente das que formam a trilha de O
GRANDE CIRCO MÍSTICO. Algumas destas
tornaram-se “hits”, por serem de uma exagerada beleza, como é o caso de Beatriz, Meu Namorado, Valsa
Brasileira, Salmo, Sobre Todas as Coisas e Meia-Noite. Quase chego às lágrimas, ao ouvir qualquer
uma delas bem interpretada. A trilha
utilizada no balé foi registrada num lindo e antológico disco; oxalá a produção
da peça também venha a fazê-lo.
A
direção musical é de ERNANI MALETTA, responsável por essa
parte nos espetáculos do fantástico Grupo
Galpão. No meu primeiro contato com
este CIRCO, não gostei muito dos
arranjos e, hoje, tenho a consciência de que foi por estar tão acostumado aos
originais do disco, gravado quando do lançamento do balé e que ouço muito até
hoje. Agora, RETIFICO, completamente, a minha primeira impressão. É ótimo o trabalho de direção musical, tanto para os arranjos das canções interpretadas
na íntegra como para as várias inserções.
Inclui-se, nesta rubrica, a preparação
vocal coletiva, sob a orientação de FELIPE
HABIB. Entendo, porém, que ambos, ERNANI e FELIPE, deveriam cobrar um pouco mais dos atores, quanto ao canto. Alguns deslizes incomodam e desvalorizam as
letras e as melodias de algumas canções ou trechos delas.
É
muito boa a coreografia de TÂNIA NARDINI, com destaque para a cena
em que a bailarina “cavalga” seus dois cavalos-humanos. É uma cena antológica, para a qual contribuem
LETÍCIA COLIN, que faz a protagonista,
BEATRIZ, e dois atores coadjuvantes,
LEO ABEL e DOUGLAS RAMALHO, os quais apresentam um belíssimo trabalho de
expressão corporal, transformando-se em dois garbosos equinos. O exercício de corpo desses dois
atores/dançarinos é deslumbrante. O
conjunto da cena fica na memória visual de qualquer espectador. É daquelas cenas de que a pessoa se lembrará
pelo resto de sua vida.
O deslumbramento da cena da
bailarina e seus “cavalos”.
O
espetáculo agrada por vários motivos, contudo grande parte do seu sucesso reside
no aspecto plástico da peça: cenografia
e figurinos.
A
cenografia é de um dos mais
festejados cenógrafos do momento: NELLO
MARRESE. Sempre presente nos
trabalhos de JOÃO FONSECA, há uma simbiose
perfeita entre os dois. Os vários
cenários que NELLO criou para este
espetáculo são de uma beleza ímpar e de uma sucessão de detalhes, que provocam
arroubos de admiração no público, como os dois grandes contêineres verticais,
que, quando abertos, se transformam, cada um deles, numa casa e num
camarim/relicário da MULHER BARBADA. Este, então, é um deslumbramento. Lindas e muito criativas as duas resoluções
que o cenógrafo encontrou para os toldos do circo: o anterior à guerra e o
posterior a ela. É difícil descrevê-los,
e este é um dos motivos que me levam a indicar a quem me lê uma conferência, “in
loco”, do que digo.
Num
projeto da envergadura de O GRANDE CIRCO
MÍSTICO, não poderia faltar o trabalho, sempre lindo e colorido, de CAROL LOBATO, nos figurinos. Figurino circense
dá margem – ou panos para manga - a muita imaginação e criatividade, o que
transborda da cabeça de CAROL. E o resultado disso é uma mistura de cores,
tons, texturas, formas, bordados que nos deixam extasiados. Muita delicadeza, beleza, harmonia, bom
gosto, pinceladas de ingenuidade e pureza, agregados a cada roupa imaginada por
CAROL e delicadamente costurada por
sua eficiente equipe. São um espetáculo
à parte os figurinos deste CIRCO.
Dentre
tantos competentes profissionais que cuidam da iluminação dos palcos, foi convidado, para dar forma a um desenho de luz, LUIZ PAULO NENEN, que, mais uma vez, brilha (sem trocadilhos) no
seu trabalho, a despeito da deliciosa brincadeira que o ADMINISTRADOR do circo faz com o iluminador, quando, numa cena, ao
solicitar um foco sobre um determinado componente da trupe, reclama da
“incompetência” do profissional e diz que “deveriam ter chamado o Aurélio”, numa alusão carinhosa a
outro grande profissional do ramo, Aurélio
de Simoni. Parabéns, NENEN!
Reiner Tenente e
Fernando Eiras.
Bom
o desenho de som, de FERNANDO LAURIA. Melhor na segunda vez em que estive no NET Rio. Creio que houve algumas correções, desde a
estreia. Funciona bem. Em poucas cenas, porém, quando há música ao
fundo e vários atores falam ao mesmo tempo, falha um pouco a equalização (não
sei se seria o termo correto). Mas nada
que não possa ser resolvido. Fica aqui o
alerta.
Não
imaginei que um grande ator, como LEOPOLDO
PACHECO, pudesse se destacar tanto em outro setor do TEATRO, como é o caso do visagismo. É dele a responsabilidade de transformar, no
aspecto visual, os atores e dançarinos em artistas circenses, o que faz de
forma muito satisfatória. Grande e
agradável surpresa.
Não
posso deixar de fazer uma referência ao lindo e rico, sob todos os aspectos, programa do espetáculo, marca
registrada das produções de MARIA SIMAN. Acho muito importante que o espectador leve
para casa, gratuitamente ou pagando por ele, um objeto que materialize a lembrança
de um grande momento em sua vida, como pode ser uma ida ao teatro. Não só é lindo, do ponto de vista plástico,
estético, este programa, como também contém ricos depoimentos de pessoas
envolvidas no projeto.
Vamos
ao elenco, deixando bem claro que, quando da minha primeira vez neste CIRCO, alguns me decepcionaram um
pouco, pelo que conheço de seus trabalhos anteriores, acompanhando-os bem de perto. Na volta ao CIRCO, vi outro espetáculo.
Faz-se necessário, também, dizer que cantar as melodias de EDU LOBO não é tarefa fácil nem é para
amadores. E, em especial, é muito
elaborada a partitura de O GRANDE CIRCO
MÍSTICO, que é um “musical”. E o
adjetivo não foi dado a este gênero
teatral pela beleza da sonoridade do vocábulo; é outro o motivo. Em “musical”, exige-se que se cante, e muito
bem.
FERNANDO EIRAS (ADMINISTRADOR) – Ótimo
ator. Achei, a princípio, o personagem
meio histriônico, caricato, e isso me incomodou um pouco. Depois, com um “toque” de um amigo, crítico
profissional (Existe a “profissão de crítico”?), percebi que o tom da
interpretação do ator estava bem inserido na proposta do espetáculo,
principalmente quando vislumbrei, no personagem, semelhanças com uma das minhas
paixões, o personagem D. Quixote. E tive
a confirmação disso, quando, ao final de uma canção da trilha original da peça,
ele agrega um trecho de uma das canções do inesquecível musical O HOMEM DE LA MANCHA (Dulcineia / Dulcineia...). Faz um bom trabalho, mas deveria se dedicar um
pouco mais às canções.
LETÍCIA COLIN (BEATRIZ) – Bela figura
feminina, boa atriz, ótima cantora, marcante presença no palco, esbanja talento
na pele da protagonista. Dispensa um
pouco da iluminação artificial, pois já carrega consigo uma luz própria, que a
favorece em cena. É muito gratificante
admirá-la, representando e cantando, desde que a vi, pela primeira vez,
esbanjando talento em O
DESPERTAR DA PRIMAVERA. Até hoje, lembro-me, com detalhes, de sua
irretocável Ilse. Foi muito bem escalada para o papel, que
defende com muita graciosidade e leveza.
GABRIEL STAUFFER (FREDERICO) – Jovem
ator, que faria um dos papéis secundários, foi alçado à condição de
protagonista, pelo olho clínico de JOÃO
FONSECA, após o ator convidado para fazer o médico aristocrata ter deixado
o elenco, durante os ensaios. GABRIEL se sai bem melhor atuando do
que cantando, por sua pequena extensão vocal, mas não chega a desapontar neste
“métier”, principalmente se considerarmos o grau de dificuldade para
interpretar as canções da peça. Ele
parece ter consciência de suas limitações como cantor e procura ir até onde
consegue, sem forçar nada, explorando bem seus limites. Tem uma boa presença em cena: um belo porte e
um lindo timbre de voz. Deve se dedicar
muito às aulas de canto, o que fazem, sempre, sem parar, os melhores astros e
estrelas de musicais, no Brasil e no mundo inteiro. Com dedicação a esse aprimoramento vocal,
certamente, em pouco tempo, atingirá o estrelato.
O par romântico:
Beatriz (Letícia Colin) e Frederico (Gabriel Stauffer)
ISABEL LOBO (CHARLOTE) – É a vilã e
armadora de toda a trama.
ANA BAIRD (MULHER BARBADA) – É a parte
mística da peça, cigana, que prevê o futuro da trupe e da vida de BEATRIZ. Ela, que, em outros musicais, cantou muito
bem, destaca-se, neste espetáculo, melhor na representação de sua personagem
que em seus solos. Mas consegue dar o
seu recado.
REINER TENENTE (CLOWN) – É o lirismo personificado em cena. Personagem lindo, a atuação
do ator é comovente e muito verdadeira.
Não precisa dizer que me emocionou muito. Gosto demais do trabalho dele, neste
espetáculo e em outros em que já o vi atuando.
Não se pode dizer que a minha paixão por palhaços é que me leva a não
economizar elogios ao ator; é sua atuação, mesmo, que é de grande qualidade.
Reiner Tenente,
“roubando” uma cena.
Completam o
elenco PAULA FLAIBANN (LILY BRAUN), MARCELO NOGUEIRA (BANQUEIRO, FREDERICO PAI
e SOLDADO), FELIPE HABIB (AMIGO, SOLDADO DA TRINCHEIRA, ENFERMEIRO e PALHAÇO QUE INTERAGE COM A PLATEIA), RENAN MATTOS (DIMITRI e SOLDADO INIMIGO), THADEU TORRES (GAROTO,
SOLDADO DA TRINCHEIRA e MULHER DO CABARÉ),
LEONARDO SENNA (GENERAL e SOLDADO INIMIGO), JULIANA MEDELLA (MULHER DA NÉVOA, ENFERMEIRA e MULHER DO CABARÉ), LEO ABEL
(OFICIAL INIMIGO, CAVALO, VELHO e SOLDADO
DA TRINCHEIRA), NATASHA JASCALEVICH
(ANJO, ENFERMEIRA e MULHER DO
CABARÉ), DOUGLAS RAMALHO (CAVALO,
SOLDADO DA TRINCHEIRA e SOLDADO
INIMIGO), LUCIANA PANDOLFO
(ENFERMEIRA e MULHER DO CABARÉ)
e BEATRIZ LUCCI (substituta eventual). Destes, impressionaram-me muito FELIPE HABIB, THADEU TORRES, LEO ABEL,
NATASHA JASCALEVICH e DOUGLAS RAMALHO, pela versatilidade em
cena.
A doce e hilária
figura do Clown “mudo”, de Felipe Habib.
Para que uma
superprodução, como O GRANDE CIRCO
MÍSTICO, ganhe vida e autonomia, há um batalhão de profissionais nos
bastidores, todos da maior importância, para que o pano se abra e o público
possa se deliciar com um belo espetáculo.
Por curiosidade, contei: 20
profissionais, na equipe de cenário; 10,
na de iluminação; 20, na de
figurino; 3, na de visagismo; 6, na de comunicação; 10, na de som; 7, na de palco; 16, na da
Primeira Página; 14, na de música; 7, na de direção; e 5, na de músicos: JOÃO BITTENCOURT (maestro,
arregimentação, piano, teclado e acordeão), YURI VILLAR (saxofones tenor
e soprano, flauta e flautim), JONAS
HOCHERMAN CORRÊA (trombone e tuba), LUCIANO CAMARA (violão,
guitarra e baixolão) e GEÓRGIA
CAMARA (bateria, percussão e
vibrafone). Excelente atuação da
banda! É impossível não valorizar um espetáculo que emprega dezenas de
competentes profissionais!
Algumas
observações que merecem destaque, positivo
(a maioria) e negativo (poucos)
no espetáculo:
1)
Sem qualquer ligação ao espetáculo, convém citar aqui
um pequeno detalhe: Vi a peça, pela segunda vez, no dia da morte (ou do
enterro?) do cantor Jair Rodrigues,
que mereceu uma homenagem do Theatro NET
Rio, no telão, antes de se abrir a cortina, aplaudida, espontaneamente, por
todos da plateia. Bela homenagem da
administração do teatro e dos espectadores.
2)
Achei genial a ideia de pôr um palhaço com uma sanfona,
para abrir os dois atos, no proscênio, interagindo com a plateia,
comunicando-se, porém sem falar. Se a
ideia é ótima, melhor ainda é a atuação do ator FELIPE HABIB. Entretém, sem
aborrecer, o público. Funciona muito
bem.
3)
É absolutamente lindo, de uma beleza ímpar o camarim/relicário,
da MULHER BARBADA. Quero vê-lo de perto, na próxima vez em que
for rever o espetáculo, e conferir cada uma das dezenas (ou centenas?) de
informações icônicas nele presentes. Um
verdadeiro achado da cenografia. Uma verdadeira
obra de arte!
4)
Interessante é o detalhe de a MULHER BARBADA apresentar o enredo do espetáculo, se bem que isso
até se tornaria desnecessário, pela maneira como é desenvolvida, linearmente, a
trama.
Ana Baird e sua Mulher Barbada.
5)
Ótima foi a solução encontrada para que se erguessem as
duas “lonas” do cenário. São toldos
estilizados e bem diferentes um do outro, o que se explica, na peça: um antes
da guerra e outro após, além dos diferentes nomes do circo.
6)
É muito bom o número inicial, de apresentação da trupe. Alegre, dinâmico, tarefa facilitada para a
direção, em função da canção de fundo,
Na Carreira.
7)
Longe de ser uma novidade, em musicais, gosto muito da
ideia de se colocar os atores e dançarinos tocando algum instrumento em cena.
Isso vem ocorrendo, com certa frequência, nos últimos
musicais encenados no Rio, e contribui bastante para a sua originalidade.
8)
Tão interessante quanto o aspecto anterior, há de se
louvar o fato de quase todos os atores e dançarinos executarem, de forma parcimoniosa,
é claro, pequenos números circenses, incluindo os personagens principais.
9)
Muito criativa a cena da domadora (MULHER BARBADA) com os leões numa “jaula”. Ótima coreografia.
10) Nunca
é demais repetir que o número de BETARIZ
e seus dois “cavalos” é algo que não se consegue remover da retina.
11) Bem
interessante a marcação utilizada pelo diretor, para fazer com que BEATRIZ, ao cair dos cavalos, vá ao
encontro dos braços de FREDERICO. Bela cena!
12) Ao
anunciar o início da guerra e expulsar a trupe, fazendo-a desmontar o circo, o
general diz, da mais arrogante forma possível, que a guerra, sim, e não o
circo, é o maior espetáculo da Terra, o que incomoda boa parte da plateia, a
qual passa a compartilhar com as vítimas o drama daqueles pobres artistas
mambembes. Mérito para a atuação dos
atores envolvidos na cena.
13) É
muito tocante e terna a cena de despedida de FREDERICO, que vai para a guerra, e BEATRIZ, os dois consumando uma relação sexual, muito delicada e
sutil, ambos no tecido para acrobacias aéreas, ao som de Meu Namorado, a dupla cantando e com o acompanhamento dos artistas
da companhia, tocando instrumentos, e a participação da MULHER BARBADA, no vocal.
Ótima vocalização para uma belíssima cena.
14) É
muito marcante a transformação do cenário do circo para o campo de guerra, com
bancos e mesas de ripas dispostos de maneira desarrumada, simulando destruição.
15) Outra
cena bem bonita é aquela em
que FREDERICO , já
engajado na guerra, canta O GRANDE CIRCO
MÍSTICO, fazendo malabarismos com granadas, em meio a soldados feridos.
Malabarismo com
granadas (limonada com os limões que a vida nos dá).
16) Uma
outra cena capaz de arrancar lágrimas da plateia ocorre quando o ADMINISTRADOR, utilizando um fantoche,
tenta fazer sorrir um menino que perdera os pais e um dos braços na
guerra. O texto da cena é muito
bonito. Mais ainda é a participação de BEATRIZ, convidando, e convencendo, o
infortunado mutilado a dançar com ela e a seguir com a trupe. Muito lindo!
17) A
cena, quase solo, de LILY BRAUN é
boa e, sobre ela, faço dois destaques. A
atuação do ator THADEU TORRES, como
uma das mulheres do cabaré (ou, para outros, um travesti), e a coreografia da
cena. Ainda quanto a ela, devo admitir
que o momento em que a personagem, uma prostituta, na tentativa de seduzir o
jovem FREDERICO, deixava à mostra os
fartos seios não era compatível com a proposta da peça, ainda que tivesse a ver
com a cena. Fiquei muito incomodado com
aquilo, que achei de muito mau gosto, mas tive a deliciosa surpresa, na segunda
vez, de ver que tal situação havia sido suprimida da cena. Parabéns à direção! É isso aí: aprendendo, reconhecendo erros,
corrigindo-os e tentando, sempre, a perfeição.
18) Um
dos melhores momentos do excelente ator REINER
TENENTE é quando ele interpreta a VALSA
DOS CLOWNS, acompanhado de vários palhaços.
Se o espectador fechar os olhos, corre o risco de flutuar (apesar do exagero,
permito-me a imagem poética, tão compatível com a cena).
19) Merece
destaque o efeito especial utilizado para mostrar os tiros atingindo o corpo do
CLOWN. Por que tirar de você, que me lê, o prazer da
surpresa? Vá conferir.
20) Muito
bom o cenário do cemitério, na abertura do 2º ato. Bem criativo.
Emoção na morte do
Clown.
21) A
canção SALMO, interpretada por ANA BAIRD, perdeu um pouco de sua
beleza, em função de falhas técnicas na interpretação. Como leigo, porém dono de um excelente
ouvido, creio que a solução seria descer um pouco o tom da canção, para que a
cantriz pudesse interpretá-la com perfeição, o que seria capaz de fazer, com
toda a certeza.
22) Simples
e interessante foi a solução encontrada para a entrada dos aviões em cena. Funciona muito bem. Sugiro que, no lugar de dois aviões,
entrassem quatro ou cinco. Ficaria mais
bonito, plasticamente, imagino eu, e poderia causar mais impacto.
23) É
muito bonita a cena em que o ADMINISTRADOR
consegue sair do estado depressivo e alucinatório em que se encontrava, pós-guerra,
para se reencontrar com a magia do mundo circense. Muito bom o trabalho do elenco e,
principalmente, de FERNANDO EIRAS.
24)
A vida continua. Voltemos à alegria do Circo!
25) Não
poderia ter sido melhor a ideia de fazer representar as duas filhas gêmeas dos
protagonistas sob a forma de duas bonecas de madeira, articuladas, brilhante e
sincronicamente, manipuladas por duas atrizes.
A plasticidade da cena supera tudo nela.
26)
Plasticidade e beleza.
27) A
grande jogada da direção, de, seguindo o texto, fazer entrar em cena todos (ou
quase) os que trabalham nas coxias, com narizes de palhaço, para passar uma
mensagem de otimismo, que vai encerrar o espetáculo, é simplesmente uma jogada
de mestre. Aquelas pessoas, naquela
situação, representam todos os que estão na plateia e fazem parte do “circo da
vida”. Funciona muito bem no espetáculo.
Por tantos muitos acertos e alguns poucos
erros, O GRANDE CIRCO MÍSTICO é um espetáculo que não pode deixar de ser
visto, mais por adultos do que por crianças, pelo conjunto da obra.
E VIVA O
CIRCO!!!
João Fonseca (diretor)
Aplausos
na estreia vip.
Minha primeira vez
neste CIRCO.
Minha segunda vez
neste CIRCO, com a querida Maria Siman.
Um beijinho “de
nariz’, para celebrar a nossa amizade.
(FOTOS: PRODUÇÃO/DIVULGAÇÃO, LEO AVERSA,
MARISA SÁ e GILBERTO BARTHOLO)
Realmente um espetáculo para se ver e rever. Excelente crítica!
ResponderExcluirLindo texto, Gilberto. Tenho similar opinião na maioria dos aspectos. Achei o espetáculo muito bom, mas tal como você, penso que o roteiro merecia uma enxugada. A partir de determinado momento me deu uma cansada, mas ni final retomou o fôlego. Um espetaculo lindíssimo e de encher os olhos diante de tanta beleza cênica. Direção de arte, figurinos e coreografias impecáveis.
ResponderExcluirAdorei seu texto. Pelo visto preciso ir a esse CIRCO pela 2ª vez!
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