CONCRETO ARMADO
(Projeto-mais-que-TEATRO)
Fui
assistir ao espetáculo CONCRETO ARMADO,
no Espaço SESC Copacabana, e saí de
lá com a alma lavada, porque, muito oportunamente, duas pessoas, DIOGO LIBERANO e KELI FREITAS, disseram por mim, e por milhões de pessoas, tudo que
desejaríamos dizer, se tivéssemos oportunidade para, com relação ao absurdo de
se patrocinar uma Copa do Mundo no
Brasil. Não pelo fato em si, mas por
todas as implicações de prejuízos, de toda sorte, que tal evento trouxe, está
trazendo e ainda trará a nós, brasileiros, que não fomos consultados se era
nosso desejo trocar esse absurdo por escolas bem equipadas, hospitais “padrão
FIFA”, habitação para todos, saneamento básico, transportes coletivos de boa
qualidade, valorização do ser humano, do cidadão...
Do site
oficial da companhia do TEATRO
INOMINÁVEL e de outras fontes, extraí a sinopse do projeto, que vai, aqui,
adaptada:
Quinto
espetáculo da companhia do TEATRO
INOMINÁVEL, CONCRETO ARMADO visa
a dar continuidade à pesquisa que vem se tornando assinatura da jovem
companhia: a busca pelo encontro com a cidade do Rio de Janeiro, por meio de
uma obra artística.
Com CONCRETO ARMADO, o encontro entre
cidade e obra deseja se manifestar mais diretamente. Um dos mais importantes elementos da
arquitetura do século XX, o concreto armado é um material da construção civil
que, por aglutinar, em si, elementos diversos, adquire força suficiente para
sustentação de edifícios e arquibancadas. Como mote inaugural da criação deste
espetáculo, escolhemos o contexto da Copa
do Mundo de 2014 para nos encontrarmos – ficcionalmente – com nossa cidade.
O título CONCRETO ARMADO, nessa configuração,
acaba sugerindo outras acepções menos comuns. Afinal, não seria a Copa, também, uma obra fruto de muitos braços e mãos? Não seria este evento um projeto resultante de
um vastíssimo somatório de energias e esforços distintos? Se sim, o que aconteceria, então, caso aqueles
que ergueram estádios não conseguissem fazer parte da celebração para a qual
destinaram seus esforços?
(Por
oportuno, aqui, abrimos parênteses, para lembrar uma velha marchinha de
carnaval, de Wilson Batista e Roberto Martins, que dizia: “Você conhece o pedreiro Waldemar? Não conhece? Mas eu vou lhe apresentar. De madrugada, toma
o trem da Circular. Faz tanta casa e não
tem casa pra morar.”)
Em cena, uma
dramaturgia, a ser criada colaborativamente, apresenta o encontro acidental de
seis cariocas, que, durante a Copa do
Mundo de 2014, no Rio de Janeiro, se veem excluídos do evento que ajudaram
a construir. Em cena, a nossa maneira de
expressar que, talvez, o que esteja em jogo, neste megaevento, seja muito mais
complexo do que, simplesmente, a paixão do brasileiro pelo futebol.
Neste novo
trabalho, seguimos, tentando não fazer da experiência teatral um espaço de
refúgio e omissão de nossas responsabilidades, enquanto cidadãos, mas sim,
justamente um espaço-tempo privilegiado de aproximação e encontro. Eis a nossa principal busca: utilizar-se da
ficção não para se distanciar da nossa realidade, mas justamente para lhe
oferecer novas formas de sutura e movimento.
CONCRETO
ARMADO começou a ser gestado em novembro de 2011. Não é só uma peça de teatro; é, também, um
programa de performances que teve início em maio de 2013 e se encerrou em
janeiro de 2014.
A tragédia carioca CONCRETO ARMADO encena a história de MANUELA, professora de arquitetura,
que, aos 43 anos, promove uma mudança radical em sua pedagogia, tendo em vista
a truculência que assola a realidade do Rio durante a Copa do Mundo de 2014.
A peça fala, discute e, acima de tudo,
reivindica o que deve e pode sobre a paixão pelo futebol, a indignação com o
poder público, a Copa do Mundo, a FIFA, a falta de transparência do governo e a
falta de participação popular, o desrespeito aos cidadãos, a lei de exceção
recorrente, a elitização do espaço urbano, o superfaturamento, a repressão, a
truculência, o endividamento, a especulação imobiliária...
No espetáculo, alunos de
arquitetura estudam a preservação e restauração de um patrimônio público,
tombado pelos órgãos “competentes”, e, depois de vários acontecimentos, são
levados a pensar as contradições em torno do Maracanã, desde a sua construção até a reforma mais recente.
Eles estão discutindo Copa do Mundo e os nosso investimento
de tantos milhões na sua realização; a maneira como somos afetados pela
violência que acontece aqui, na esquina, ou na Síria; as repercussões das ações
do governo no Rio de Janeiro; a repressão policial, os tempos de ditadura, que
ainda não foram embora. Uma montagem que
trouxe à cena o ranço coronelista da nossa política.
Gostei
bastante da ideia, de quão oportuna ela é, e respeito, profundamente, os ideais
dos envolvidos no projeto, assim como todo o esforço de pesquisa nele
envolvido. Do ponto de vista de um
espetáculo teatral, porém, excluindo-se o impactante cenário, que parece meio
estranho, quando se adentra a arena do Espaço
SESC Copacabana, mas que, a partir da metade do espetáculo se revela
genial, e da atuação satisfatória do elenco, com pequenos destaques para um ou
outro, nesta ou naquela cena, esperava ver mais. Não sei exatamente o quê. A verdade é que o espetáculo me pegou por ser
uma espécie de meu porta-voz, mas não sei explicar o que faltou nele.
De
qualquer forma, não posso deixar de recomendá-lo, principalmente pelo
diferencial que deu origem à sua montagem e por todo o processo desenvolvido
para que fosse levado à cena, não sendo eu dono da verdade, e, considerando que
poderia não estar vivendo um bom momento no dia em que assisti ao espetáculo
(talvez fosse melhor revê-lo). Mas uma
coisa é certa: do ponto de vista dramatúrgico, na minha modesta opinião, não
tem o mesmo peso de um MARAVILHOSO, LABORATORIAL, VERMELHO AMARGO e FLUXORAMA,
todos da lavra desse jovem e talentoso dramaturgo, de apenas 26 anos: DIOGO LIBERANO.
EQUIPE
DE CRIAÇÃO:
Direção: DIOGO LIBERANO
Dramaturgia: DIOGO LIBERANO e KELI FREITAS
Diretora Assistente:
MARCELA ANDRADE
Estagiária de Direção:
TAÍS FEIJÓ
Elenco : ADASSA MARTINS (RIANE), ANDRÊAS GATTO
(PAOLO), CAROLINE HELENA (ANTONISIA), FLÁVIA
NAVES (VIRGÍLIA), GUNNAR BORGES (ALEXANDRE), LAURA NIELSEN (GLÓRIA) e MARINA
VIANNA (MANUELA)
Trilha e Direção
Musical: Luciano Corrêa
Música incidental
“Sobre Canecas e Chá”: Léo Fressato
Cenário: Elsa Romero
Figurinos e
Visagismo: Marina Dalgalarrondo
Iluminação: Renato Machado
Assistente de
Iluminação: Lívia Ataíde
Preparação Corporal
> Paisagens Afetivas: Maíra
Gerstner
Assessoria de
Imprensa: Bianca Senna > Astrolábio
Comunicação
Mídias Sociais: Teo Pasquini
Fotos: Paula Kossatz
Vídeos de
divulgação: Philippe Baptiste
Projeto Gráfico: Lebre Azul
Operação de luz: Lívia Ataíde
Operação de som: Philippe Baptiste
Cenotécnico: Derô Martins
Contrarregras: Érica Lemos de Souza e Fabiana
da Silva
Costureira: Selma da Silva
Assistente de
Produção: Ramon Alcântara
Produção: Dani Carvalho e Tamires
Nascimento
Artistas-Pesquisadores
(UFRJ): Bruno Marcos (pesquisa
“Poéticas da
negação”); Natã Lamego (pesquisa “O Trágico
e a Cena Contemporânea”)
Realização: Teatro Inominável
Keli Freitas e Diogo
Liberano
(FOTOS: PRODUÇÃO / DIVULGAÇÃO DO
ESPETÁCULO)
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