quinta-feira, 6 de março de 2014


EDUCANDO RITA

 

(UMA PERFEITA AULA DE INTERPRETAÇÃO E COMPETÊNCIA)

 




 

            O TEATRO é minha “cachaça” e, quase diariamente, assisto a uma peça.  Há dias em que vejo duas ou, até mesmo, três.  Antes, apenas por puro prazer; agora, foi acrescentado um compromisso, quase profissional.  Por conta disso, tenho uma agenda, muito concorrida, a ser cumprida, o que me leva, muitas vezes, a ser obrigado a postergar minha ida a determinados espetáculos.  Assim ocorreu com EDUCANDO RITA, que acaba de cumprir uma temporada, breve, até certo ponto, no Teatro Café Pequeno.

            Os que me conhecem ou os que me dão o prazer de ler meus comentários aqui, neste blog, destinado ao TEATRO, sabem que, quando um espetáculo me agrada, invariavelmente, será visto mais de uma vez.  Sou obrigado, certas vezes, a me policiar, para não reservar uma poltrona cativa em determinadas produções. 

Por força de algumas contingências, só pude ver EDUCANDO RITA na sua última semana de exibição, o que me faz lamentar o fato de não poder rever esse lindo e grandioso espetáculo, a menos que os deuses do TEATRO conspirem e ele se transfira para outro teatro do Rio de Janeiro. 

            O Teatro Café Pequeno é um espaço muito simpático, entretanto extremamente insignificante, em termos de espaço, para a grandiosidade desse espetáculo, que merece ser visto por um grande público, quantitativa e qualitativamente falando.

            O texto, escrito por WILLY RUSSEL, dramaturgo inglês, e inédito no Brasil (o texto, porque RUSSEL já é velho conhecido dos brasileiros, pelo grande sucesso de duas montagens de um monólogo de sua autoria, SHIRLEY VALENTINE, a primeira interpretada por RENATA SORRAH e a segunda, por BETTY FARIA), baseia-se no clássico PIGMALEÃO, do mestre BERNARD SHAW, o qual, por sua vez, serviu de inspiração para o musical MY FAIR LADY, adaptação de ALAN JAY LERNER, com libreto e letras do próprio LERNER (a última montagem brasileira contou com a tradução de CLÁUDIO BOTELHO) e música de FREDERICK LOEWE, e que já teve mais de uma montagem em solo brasileiro, uma das quais protagonizada por BIBI FERREIRA, em 1962, e, mais recentemente, por AMANDA ACOSTA.

Saindo dos palcos londrinos, em 1980, como o  vencedor do Prêmio Laurence Olivier de Melhor Comédia, o texto foi adaptado para o cinema e conta a história de uma amizade pouco convencional entre uma cabeleireira (RITA) e um professor de meia idade, alcoólatra (FRANK).  

 

O Ator e diretor já somou mais de 27 anos de carreira (Foto: Octavio Mac Niven)

 

Trata-se de um tema totalmente inserido no dia a dia de hoje, e sempre, pois proporciona ao espectador uma reflexão sobre as mudanças positivas que podemos causar na vida do outro e o importante papel da educação na formação, não só profissional, como também na do caráter de um ser humano.

            Concordo, plenamente, com o ator do espetáculo, e também seu diretor, CLÁUDIO MENDES, quando diz: “O tema da peça aborda, de forma implícita, questões muito atuais no Brasil, que vieram à tona nas manifestações do ano passado.  Qual o sentido de educar?  Num momento em que se questiona o formato da educação no Brasil, levantar esse assunto é absolutamente pertinente.  Mas o texto vai além, é um tratado sobre amizade, sobre relacionamento, sobre ouvir, sobre respeitar. Um dos melhores textos que tive oportunidade de ler da dramaturgia contemporânea.”

            Com o único propósito de poder sustentar seu vício, a bebida, o professor universitário FRANK (de Literatura) aceita ministrar aulas a RITA, papel, como ocorre com MENDES, que é muito bem defendido por MARIANNA MAC NIVEN. 

Os dois vivem em mundos totalmente opostos, o que, paradoxalmente, vai levá-los a um relacionamento muito estreito e sincero, com um desfecho bastante interessante. 

À medida que os encontros vão se tornando mais frequentes e desprovidos de cerimônia, vai sendo estreitada uma complexidade só encontrada quando se reúnem “almas gêmeas”, embora aparentemente díspares.

            Um trabalho que, a princípio, era só para engrossar os ganhos de um professor, a fim de suprir uma necessidade, e a ida às aulas, por parte de RITA, por mero desejo de tentar livrar-se de sua insatisfação com a rotina do seu trabalho e da sua vida social, transformam-se numa engrenagem que se encaixa perfeitamente, fazendo com que cada um dos personagens lucre, a seu jeito, com o relacionamento.

 


 

O texto é um primor, valorizado pela bela tradução de MARIANNA MAC NIVEN.

“Excelente” é o mínimo que se pode dizer da direção de CLÁUDIO MENDES e da interpretação deste e de MARIANNA MAC NIVEN.  Magníficas atuações!

Muito bons, principalmente para o micropalco do Teatro Café Pequeno (gostaria de ver o espetáculo num palco bem maior) os cenários e figurinos de CARLOS ALBERTO NUNES.

Simples e totalmente adequada às exigências do texto e da direção da peça é a iluminação de PAULO CÉSAR MEDEIROS.

Torço muito para que algum mecenas, que tenha assistido ao espetáculo e saído do Teatro Café Pequeno tão encantado e gratificado como eu, apareça para produzir uma nova montagem deste espetáculo tão simples e despretensioso quanto lindo e tecnicamente perfeito. 



Pena que eu não seja esse mecenas!

 


 

(Fotos: OCTAVIO MAC NIVEN)

 

Um comentário:

  1. Gilberto,

    sabe o que é mais legal? É que essa sua paixão pelas duas tábuas é tão grande, que é maior que sua função de crítico e de jurado e te permitem dialogar com a obra de arte, de uma maneira muito particular e saborosa, porque livre, porque inteira, porque muito verdadeira e principalmente: simples!! É como deve ser o bom teatro também, simples, e claro, profundo, envolvente, belo, provocador, instigante, mobilizador. Foi isso que tentei fazer: um espetáculo simples. Elaborado em sua simplicidade, mas simples. Concentrado nesse belíssimo texto, cheio de boas reflexões sobre a vida e no jogo dos atores (que afinal o teatro é deles e de mais ninguém). E a ficha técnica, os criadores, entenderam isso perfeitamente e vieram comigo no jogo. Você não cita a trilha do espetáculo na sua "crítica" (não se pode chamar essa delícia de crítica, né?!!). Mas eu acho que ela é um pouco a síntese dele. Comentários humorados sobre as situações, que ora sublimam, ora ironizam, ora comentam, com saborosas investidas de Tom Zé pra ajudar a dar o tom irreverente. Trilha de Alessandro Persan! Mas continuando sobre você, que ora te faço meu ator principal, você vê os espetáculos como quem se envolve. E pra desenvolver é preciso ter se envolvido primeiro. Eu tenho 28 anos de carreira, já fiz quase 70 espetáculos de teatro e já trabalhei com Deus e o Mundo nessa profissão. Sou do tempo de críticos como Yan Michalski, Décio de Almeida Prado, Sábato Magaldi, Flora Sussekind, Eliane Yunes, entre outros, que eram verdadeiros parceiros dos espetáculos, mesmo quando para criticar falhas ou descaminhos, porque sua paixão pelo teatro eram maiores que tudo e tudo o que queriam era que os artistas fizessem por onde estimar, prezar e respeitar as duas tábuas e essa paixão, como a que vc tem pelo teatro. Olha, eu e Marianna somos só agradecimentos pelas suas palavras mais que carinhosas e generosíssimas, pela sua torcida pela continuidade de nosso trabalho. Que seu desejo (e o nosso) se torne realidade e que dentro em breve possamos estar apresentando novamente esse espetáculo aqui no Rio, antes de circular com ele por aí. Um grande abraço, daqui eu sigo lendo seus registros, seu diário de teatro, com o mesmo sabor com que vc os escreve. Muito obrigado, saúde, paz, vida longa e EVOÉ!!!

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