UMA EXCELENTE “PEÇA
RUIM”
(PARADOXO OU VERDADE?)
Você sairia de
sua casa para assistir a uma peça chamada PEÇA
RUIM? Talvez sim, apenas por
curiosidade. Eu fui, por tal motivo e
por mais dois.
O primeiro é
que acredito muito no trabalho do autor do texto, DANIEL BELMONTE, e, também diretor do espetáculo. O segundo é que, já há algum tempo, ele vinha
me falando dessa peça, e o fazia com tanto entusiasmo, que eu não poderia
deixar de prestigiar esse jovem talentoso ator, autor e diretor, com apenas 20 anos.
Por três
vezes, tive de adiar minha ida ao Teatro
O Tablado, para conferir esse trabalho.
Consegui fazê-lo, finalmente, ontem, quando seria a última apresentação
da peça. Felizmente, graças ao sucesso
de público (acho que a crítica não passou ainda por lá, mas deveria fazê-lo),
haverá, em princípio, mais duas apresentações, nas próximas 2ªs feiras, sempre às
21h. Mas é necessário comprar os
ingressos com antecedência, uma vez que se esgotam logo e dezenas de pessoas
retornam, frustradas, às suas casas, sem conseguir “curtir” o espetáculo.
DANIEL mergulha, magistralmente, na
metalinguagem, e seu texto é facilmente assimilado por qualquer pessoa, desde
as mais maduras, em minoria na plateia, até os jovens, que compõem a grande
massa do público. Foi escrita por um
jovem, feita por jovens, voltada para jovens e para quem mais quiser chegar.
Retrata os
bastidores do TEATRO e conta a história
de um diretor de uma companhia “não muito convencional” – ambos - (DUDU, ou BISÃO, como exige ser chamado por seus
atores, aos quais se refere como “imbecis’), o qual, em meio a uma crise
existencial, escreve uma peça, na intenção de compartilhar, com a assistência, suas
angústias amorosas, uma vez que está apaixonado por uma atriz da trupe, a
personagem A TAL GAROTA QUE ANDA MEXENDO
COM A MINHA CABEÇA (o nome da personagem é genial).
BISÃO não consegue separar a realidade
da ficção e vê, na sua obra, PEÇA RUIM,
uma maneira de poder conquistar sua pretendida, durante os ensaios “arrojados”.
Há, no texto,
uma crítica explícita a alguns estereótipos de atores contemporâneos, que, por
meio de um processo de “criação coletiva”, vão tentando pôr ordem num caos cênico,
este crescendo numa proporção geométrica, à medida que os ensaios vão
acontecendo.
Dentro dessa
narrativa, o grupo está ensaiando uma tragédia grega – ÉDIPO REI – com “pitadas de modernidade”, que provocam muitas
gargalhadas no público, quando, por exemplo, ÉDIPO estupra sua mãe JOCASTA.
.
Para piorar a
situação, BISÃO resolve inscrever a
peça num edital, em Salvador, Bahia, num projeto que tem por objetivo promover
os valores culturais soteropolitanos.
Tendo sido aprovado no primeiro estágio do referido edital, o grupo terá
de fazer uma apresentação para um júri, que decidirá pela sorte de
companhia. Para sustentar a fraude (o
grupo havia sido inscrito como se formado fosse por cidadãos de Salvador), o
diretor impõe aos atores a utilização de uma prosódia local, o que rende
momentos hilários.
Imaginem ÉDIPO
REI representado em sotaque baiano, e de uma forma propositalmente
exagerada.
O trabalho de DANIEL não só é bom no papel como também
o é na execução da proposta. É ótima a
sua direção.
Ótimos, também,
são todos os sete atores, sem destaques, a saber: ANDRÉ DALE (BISÃO), HERNANE
CARDOSO (RICKY), ADRIANO MARTINS
(ATOR DE TEATRO), MARIANNA PASTORI (A TAL GAROTA QUE ANDA MEXENDO COM A MINHA
CABEÇA), PEDRO THOMÉ (IDIOTA 1),
EDUARDO SPERONI (IDIOTA 2) e JOANA CASTRO (IDIOTA 3).
Trata-se de
uma montagem na base da “ação entre amigos”, pobre, no sentido material, mas
muito rica, no sentido profissional, com bom cenário (JÚLIA MARINA) e
figurinos (ANOUK VAN DER ZEE) e uma excelente iluminação (RODRIGO BELAY).
Parabéns a
todos os envolvidos no projeto!
DANIEL BELMONTE (guardem bem este nome)
é um jovem talento, não mais promissor.
PEÇA RUIM é, paradoxalmente, um
excelente espetáculo!
DANIEL BELMONTE
(FOTOS EXTRAÍDAS DA PÁGINA DO ESPETÁCULO NO FACEBOOK)
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