“COMO VENCER NA VIDA SEM FAZER FORÇA”
ou
COMO AGRADAR A UMA PLATEIA SEM
FAZER FORÇA, AO MESMO TEMPO, RESULTADO DE MUITA FORÇA.
Finalmente, nasceu a criança!!!
Nunca demorei
tanto tempo para me manifestar acerca de um trabalho da dupla CHARLES MÖLLER e
CLÁUDIO BOTELHO, e nem eu mesmo entendo por que isso aconteceu, mas tenho lá as
minhas desconfianças.
O impacto que
o espetáculo me causou foi tão grande, que eu até tive MEDO (isso mesmo) de me
sentar logo ao computador e permitir que os meus dedos fizessem um passeio
pelas teclas, sem correr o riso de falar bobagens (mais do que as que estou
falando agora) e/ou omitir detalhes importantes dessa memorável
montagem. Também, é claro, o fator
emoção poderia idealizar qualquer comentário.
Foi por isso, creio, que preferi deixar a poeira voltar ao chão.
GREGÓRIO DUVIVIER e LUIZ FERNANDO GUIMARÃES.
Tive a honra,
o privilégio e o prazer de receber um convite para uma sessão de COMO VENCER NA VIDA SEM FAZER FORÇA,
destinada a amigos e convidados, realizada no dia 11 de março (2013), três dias após a
estreia, no Teatro OI CASA GRANDE, onde a mais nova produção de CHARLES MÖLLER
e CLÁUDIO BOTELHO está em cartaz, já com lotações esgotadas, na primeira
semana, e onde ficará em exibição até o final de junho, se não tiver a
temporada prorrogada (assim espero).
Estas considerações
iniciais já bastam para que a minha modesta opinião sobre o espetáculo se torne
pública. Paradoxalmente ao que disse, no
início deste texto, acho que nunca foi tão fácil atrever-se a uma “crítica”
sobre uma peça de teatro como o foi, ou está sendo, agora, com relação a esta
nova encenação do texto de Abe Burrows, Jack Weinstock e Willie Gilbert, com
músicas de Frank Loesser, vertidas para a nossa língua pelo craque do “métier”,
CLÁUDIO BOTELHO, escrito há mais de meio século e que permanece tão atual neste
início de novo milênio.
Parte do elenco da peça.
A história é,
aparentemente, simples e ingênua, diverte bastante o público, mas também o leva
a refletir sobre diversas mazelas sociais e políticas, universais, muito bem
acomodadas nas gavetas de um subtexto, ou seja, nas entrelinhas. Se todo humor é crítico, por excelência, não
poderia ser diferente nesta magnífica comédia.
Nada de novo e
tudo muito novo, muito bem explorado, na figura de alguns emblemáticos
personagens, vividos por atores e atrizes de um nível incomparável, à altura
dos que pisam palcos de outras praças consagradas por seus grandiosos
espetáculos musicais, a saber:
Os protagonistas.
GREGÓRIO DUVIVIER – Tenho de começar
por ele. Interpreta, magistralmente, um
obstinado jovem, J. Pierrepont Finch, que acredita, piamente, em livros de
autoajuda e leva suas recomendações ao extremo, papel que lhe caiu como uma
luva. GREGÓRIO já está consagrado como
um grande ator e humorista (não perco um trabalho dele e sou seu fã número não
sei qual; não importa, mas me considero o maior). Gostaria de compará-lo aos grandes atores do
teatro e do cinema internacionais, mas não o consigo, simplesmente, porque GREG
é incomparável. Ele é apenas GREGÓRIO DUVIVIER, que, por ser, ainda, muito jovem, graças a Deus, tem uma carreira brilhante à sua frente, a
qual (pretendo viver muito ainda) tenho certeza de que vou continuar
aplaudindo, inclusive em outros musicais, uma vez que este espaço, que lhe
faltava, esse queridíssimo ator e amigo já conquistou.
Cumplicidade trabalhada.
LUIZ FERNANDO GUIMARÃES – Atualmente,
meio bissexto nos palcos, tendo-se dedicado mais a entreter seu público na TV,
interpreta, de forma brilhante, um inconsequente dono de uma grande empresa, o
senhor J. B. Biggley, que, possivelmente, a tenha herdado (não me lembro se
isso fica claro no texto), que não sabe dirigir nem a própria vida; aliás, não
sabe nem o que está fazendo à frente daquela empresa e que se submete aos
caprichos de uma amante burra, porém "gostosa", e às determinações de uma esposa,
que não aparece em cena, dominadora, autoritária e, provavelmente, não tão
"gostosa" quanto a secretária. Junto com
GREGÓRIO, LUIZ FERNANDO arranca muitas gargalhadas da plateia, principalmente
quando acrescenta alguns “cacos” ao texto. Ele domina o “timing” da comédia (é um grande
conhecedor do assunto) e, às vezes, nem de texto precisa para provocar
risos. Ele e GREGÓRIO são tão bons, que
conseguem até encantar cantando, experiência nova para os dois, na qual estão
sendo bem-sucedidos.
Aqui e na Broadway.
ANDRÉ LODDI - Seu personagem é um
incompetente e digno representante do nepotismo, tão velho conhecido de todos
os brasileiros, cuja pele reveste um talentosíssimo representante da nova
geração de atores/cantores brasileiros. ANDRÉ,
nosso velho conhecido de tantos outros musicais, sempre perfeito no que faz,
vive o personagem Bud Frump, além de tudo invejoso, bajulador e falso, sobrinho
da mulher do “big boss”, empregado na empresa de Biggley por exigência da
esposa deste.
LUIZ e GREGÓRIO. Ao centro, LETÍCIA COLIN
ADRIANA GARAMBONE – Em sua melhor interpretação,
depois de GYPSY, faz a amante do
chefe, incorporada aos funcionários da empresa, a despeito de sua ignorância
crônica e, digamos, de seus “modos politicamente incorretos de viver numa
sociedade dita normal”. Trata-se da
escultural Hedy La Rue. ADRIANA a interpreta numa
composição de personagem de fazer inveja, por alguns detalhes, principalmente o
timbre de voz escolhido para a personagem, não sei se pela própria atriz ou se
por sugestão do grande diretor, um dos magos dos musicais, CHARLES MÖLLER, o
que lhe deve exigir muito de seu talento
vocal.
LETÍCIA, GREGÓRIO, LUIZ FERNANDO E ADRIANA GARAMBONE.
LETÍCIA COLIN – Essa atriz/cantora é
uma das maiores descobertas da dupla MÖLLER & BOTELHO nos últimos
tempos. Em O
DESPERTAR DA
PRIMAVERA, a despeito de não ser a protagonista da trama, valorizava a cena,
toda vez que dela participava, com seu talento, sua beleza e voz
lindíssima. LETÍCIA vive Rosemary
Pikington, uma jovem funcionária da empresa WORLD
REBIMBOCA COMPANY (o nome da empresa é um achado de CLÁUDIO BOTELHO, autor da versão para o Português), sonhadora e apaixonada por Finch, e
que tenta ajudá-lo a conquistar terreno na firma, sem saber que tal ajuda era
desnecessária, graças à astúcia e determinação do personagem de GREGÓRIO.
GOTTSHA – Penso que ela é uma espécie
de talismã da dupla de diretores. É uma
reencarnação de Midas. Tocou, virou
sucesso. Já participou de uma quantidade
infinita de musicais, também com outros diretores, e não me lembro de nenhum em
que ela não me tenha encantado e levado a gritar BRAVO! e a aplaudi-la de pé.
Embora sua personagem não seja de tão relevante importância na trama,
GOTTSHA, com sua voz linda, clara, possante e afinada, domina a cena e recebe,
merecidamente, aplausos em cena aberta.
GOTTSHA e seu solo.
ADA CHASELIOV – Outra presença
constante e competente nos musicais de CHARLES e CLÁUDIO, ADA, mais uma vez,
defende, com competência, o seu ofício, no papel da Srta. Jones, uma típica secretária de um
chefão, responsável por poupá-lo de maiores “micos”.
GOTTSHA dando uma de "Cupido".
Além desses,
merecem destaque os demais “coadjuvantes”, cada um, merecidamente, em seu
lugar: LÉO WAINER, PATAU, CÁSSIO PANDOLFI e LUIZ NICOLAU. LÉO e CÁSSIO me surpreenderam nas
coreografias.
Sem comentários.
Todos os
outros doze atores/atrizes/cantores/cantoras/bailarinos/bailarinas são,
também, merecedores dos maiores elogios. São eles: KOTOE KARASAWA, CRISTIANA POMPEO, RENATA RICCI, CAROL EBECKEN, LEANDRO LUNA, PATRICK AMSTALDEN, HELCIO MATTOS, GUILHERME LOGULHO, FÁBIO PORTO, LÉO WAGNER, NÁDIA NARDINI e JOANE MOTA.
Recuso-me a tecer
qualquer comentário sobre a direção de CHARLES MÖLLER e a supervisão musical de
CLÁUDIO BOTELHO. Quem, neste país,
entende mais de musicais e põe na mesa mais talento que esses dois? São imbatíveis. Nenhum aspecto negativo na montagem de COMO VENCER NA VIDA SEM FAZER FORÇA.
Espelho, espelho meu...
Se o
espetáculo é capaz de merecer os maiores elogios de todas as pessoas que
assistem a ele, não é apenas pelo texto, pelas canções, pelas interpretações,
pela direção... Se é um musical,
espera-se ver nele belas coreografias.
Essa é a área de ALONSO BARROS,
que já vem trabalhando com MÖLLER & BOTELHO há alguns anos e que faz um
trabalho impecável. Todos os meus amigos
que trabalham ou já trabalharam com o ALONSO são unânimes em elogiar seu método
de trabalho, que deve ser muito bom mesmo, a julgar pelo lindo resultado de
suas coreografias em cena.
A direção
musical, a cargo de PAULO NOGUEIRA,
também é excelente.
E o que falar
do cenário de um craque, como ROGÉRIO
FALCÃO, que também ajuda a enriquecer os trabalhos assinados por CHARLES e
CLÁUDIO? Como sempre, ROGÉRIO cria
cenários brilhantes, lindos e funcionais, o que encanta e facilita a percepção
dos espectadores a respeito dos espaços em que as cenas transcorrem. Neste espetáculo, não é diferente.
Os figurinos
de MARCELO PIES, outro veterano da
equipe dos “meninos”, são ótimos.
Somos MARMOTAS!!!
É inaceitável
assistir a um musical e não se conseguir ouvir bem, com clareza e distinção,
todos os sons produzidos, quer nas falas, quer nas interpretações das
canções. Trata-se de uma tarefa bastante
árdua, mas que não é problema para o competente MARCELO CLARET. Que som puro
e cristalino, meu Deus!
PAULO CÉSAR MEDEIROS, ou, simplesmente,
o PAULINHO, é responsável, mais uma vez, por uma luz irretocável.
BETO CARRAMANHOS seria um mágico, ao
transformar as pessoas em personagens, se essa transformação não fosse fruto de
muita pesquisa, estudo, pratica e talento.
Só a transformação de GOTTSHA em Smitty já valeria todos os elogios ao
trabalho do BETO neste espetáculo.
Uma das sensacionais coreografias de ALONSO BARROS.
Uma produção
da envergadura e COMO VENCER NA VIDA SEM
FAZER FORÇA só chega ao palco da maneira como chegou, e continuará chegando
ainda por muito tempo, graças, também, a um exército de técnicos, que, nos
bastidores, se revezam em várias atividades, para que o público possa aplaudir
um bom espetáculo. Nessa faina, de
garantir que o espetáculo chegue a uma estreia, e se mantenha em cartaz, com
sucesso, não podem ser omitidos dois nomes: TINA SALLES, na coordenação artística, e EDSON LOPES, na produção executiva.
Faltou alguma
coisa a ser dita? Esqueci-me de citar o
nome de alguém? Acho que não.
Aplausos e consagração do público. Momento inesquecível!!!
Nesta semana,
encontrei uma pessoa que me disse não ter gostado do espetáculo. Depois de um esforço muito grande para não
espancar o infeliz (brincadeira), pedi que o cidadão se justificasse. Ele havia brigado com a namorada, perdido o
emprego, sido diagnosticado como bipolar e comido um “podrão”, antes de entrar no teatro, que não “caiu
bem”. Poderia ter gostado de alguma
coisa naquele dia? Nem com muita força.
Elenco e parte dos técnicos e de elementos da produção.
(FOTOS DE DIVULGAÇÃO DO ESPETÁCULO)
Nenhum comentário:
Postar um comentário