JIM – UM GRITO EM MOVIMENTO NO AR
Está em cartaz, de 3ª a 5ª feira, às 21
horas, e permanecerá até o final de setembro, no Teatro do Leblon (Sala Tônia Carrero), o espetáculo (musical) JIM, texto de Walter Daguerre, direção
de Paulo de Moraes, com Eriberto Leão e Renata Guida como intérpretes.
Embora
goste muito de “rock’n’roll”, eu não me considero um roqueiro, nem quando tinha
idade para isso. Será que há limite de
idade para ser roqueiro? Não sei; mas,
para se gostar de “rock”, certamente, não.
Também Jim
Morrison e a banda “The Doors”, da qual era líder e vocalista, nunca me
atraíram tanto, já que a minha “praia” sempre foi um “light rock” (existe um?),
mas não há como deixar de reconhecer a importância desse ícone e sua influência
sobre a música pop que veio depois dele.
Precocemente
desaparecido, aos 27 anos, desconhece-se, ainda hoje, a sua “causa mortis”, por
não ter sido realizada a autópsia.
Atribui-se a uma “overdose”.
Morreu em Paris, numa banheira, em 1971.
Jim foi influenciado por grandes filósofos,
pensadores e escritores, como Nietzsche, Rimbaud,
Baudelaire, Molière, Kafka, Balzac e Cocteau, dentre outros, influência essa que
transportou para suas letras de canções e para outros escritos. Não era nada “fraco” esse rapaz.
Mas não é dele que me proponho a tecer
comentários, mas sim sobre o espetáculo JIM,
baseado em sua conturbada, instigante e polêmica figura.
A peça, como
muitos podem pensar, não se propõe a contar a biografia de Jim Morrison. Trata-se de um momento na vida de um ardoroso
fã dele, chamado João Mota, o qual, frustrado com os rumos de sua vida, decide,
de forma alucinada, “acertar as contas” com o seu ídolo, fazendo-lhe uma “visita”
ao cemitério onde este foi enterrado e propondo-lhe um jogo de roleta-russa.
Mais
por curiosidade e por “dever do ofício”, fui assistir ao espetáculo. Havia, ainda, outros componentes que me
indicavam uma ida àquele teatro: o texto de um autor que muito admiro, Walter
Daguerre; a direção de um homem que merece todo o respeito, um polivalente peão
de um tabuleiro de xadrez, chamado TEATRO, Paulo de Moraes; e as interpretações
de dois atores que muito me agradam em cena: Eriberto Leão e Renata Guida.
Fui
à estreia, temendo ser denunciada, por minha voz e fisionomia, a minha desaprovação
ao espetáculo, quando fosse cumprimentar os meus amigos e conhecidos, ao final
da sessão. Realmente, não o fiz, mesmo,
mas por um outro motivo, este, sim, desagradável: estava bastante incomodado,
com dor num dos joelhos, potencializada pelo desconforto da poltrona que
ocupei, o que me empurrava, célere, para casa.
Não fosse isso, teria cumprido o ritual de praxe. Mas a prova de que gostei do espetáculo são
estas palavras.
Nos
agradecimentos, ao fechar do pano, Eriberto Leão, o idealizador do projeto,
falou da coragem de Walter Daguerre e de Paulo de Moraes, quando aceitaram
escrever e dirigir, respectivamente, a peça.
Entendi essa observação à minha maneira.
Aquele, por ter conseguido escrever um texto, às vezes, hermético (já
revi o espetáculo, para dirimir algumas dúvidas que me haviam ficado) e de difícil costura, mas
que atinge seu objetivo; este, pelo desafio de conter, em cena, o ímpeto de
dois atores que tinham tudo para extrapolar os limites da interpretação, pelas
personalidades que representam, e não o fazem, a não ser Eriberto, com seu João
Mota, em algumas cenas, perfeitamente aceitável, pelo histórico da vida do
personagem. (Vida?)
Eriberto
Leão é um grande ator e se revelou um bom cantor de “rock”. Sua movimentação, no minúsculo palco da Sala
Tônia Carrero, magnetiza a plateia. Não
é a primeira vez que me agrada o seu trabalho nem a em que interpreta um texto
de Daguerre. Seu desempenho, em A
MECÂNICA DAS
BORBOLETAS (excelente espetáculo), no CCBB e, recentemente, reencenado nos palco do Imperator,, só fez aumentar a minha admiração
por seu indiscutível talento.
Renata Guida
atravessa uma trajetória profissional que conheço apenas há uns três ou quatro
anos, o suficiente para reconhecer nela um talento que só faz crescer, a cada
trabalho. No último a que assisti, SARAU DAS PUTAS, ela esbanja
desprendimento e verdade em sua interpretação.
Dois pontos
fortes da peça são a direção musical, de Ricco Vianna e a iluminação de Maneco
Quinderé.
Ricco, que
também é responsável por essa “gaveta”, na Armazém Companhia de Teatro, onde
vem fazendo excelentes trabalhos, orienta três excelentes músicos (José Luiz
Zambianchi, nos teclados; Felipe Barão, na guitarra; e Rorato, na bateria), uma
banda que mexe com as estruturas daquela construção arquitetônica. Sobra som no Tônia Carrero. Seus arranjos são ótimos.
Maneco
Quinderé é responsável por um dos melhores trabalhos de iluminação dos últimos
tempos. Nunca pensei que, um dia,
pudesse seguir outras pessoas, na plateia, numa atitude tão inusitada. Acreditem: aplaudimos a luz, numa determinada
sequência que ocorre em uma das cenas.
Pode-se dizer que, como ocorre em UMA NOITE NA LUA, do brilhante João Falcão,
magistralmente interpretado por Gregório Duvivier, a luz não chega a ser um
personagem, mas quase.
Os figurinos
de Rita Murtinho são bastante interessantes; simples, porém satisfatórios e
condizentes com os dois personagens e a situação em que se inserem.
O cenário é
simples, porém bastante interessante, também de Paulo de Moraes: num dos
cantos, um túmulo, o de Jim, sob a forma de um gigantesco piano inclinado. Por todo o palco, diferentes microfones, para
captar as falas dos personagens, todas utilizando esse recurso
tecnológico. Compõem uma bela
imagem.
Recomendo o
espetáculo e deixo, aqui, algumas das célebres frases de Jim Morrison, algumas
delas pontuando a peça e servindo de motivação para que você vá assistir a JIM, além de serem muito pertinentes,
neste momento revolucionário que estamos vivendo, de soltar as amarras e exigir
um mundo melhor, o reconhecimento de nossa cidadania e o fim de uma longa era
de mentiras e corrupção, além do sepultamento das impunidades:
Jim Morrison
Renata Guida e Eriberto Leão
“SE EXPONHA A SEU MEDO MAIS PROFUNDO;
DEPOIS DISSO, O MEDO NÃO TEM MAIS FORÇA, E O MEDO DA LIBERDADE ENCOLHE E
DESAPARECE. VOCÊ ESTÁ LIVRE.”
"ALGUNS NASCEM PARA O SUAVE DELEITE;
OUTROS, PARA OS CONFINS DA NOITE.”
“O FUTURO É INCERTO E O FIM ESTÁ SEMPRE
PERTO!”
“ISSO É O QUE CORRESPONDE AO VERDADEIRO
AMOR: DEIXAR UMA PESSOA SER O QUE ELA REALMENTE É.”
“TUDO O QUE É DESORDEM, REVOLTA E CAOS ME
INTERESSA; E, PARTICULARMENTE, AS ATIVIDADES QUE PARECEM NÃO TER NENHUM
SENTIDO. TALVEZ SEJAM O CAMINHO PARA A
LIBERDADE.”
“A REBELIÃO EXTERNA É O ÚNICO MODO DE
REALIZAR A LIBERTAÇÃO INTERIOR.”
“A FRAQUEZA DA MENTE ESCONDE O INFINITO DE
NÓS.”
“SEMPRE FUI ATRAÍDO PELAS IDEIAS CONTRA A
AUTORIDADE. GOSTO DAS IDEIAS REFERENTES À QUEBRA DE SISTEMA, DESTRONAMENTO DA
ORDEM ESTABELECIDA."
“A ÚNICA OBSCENIDADE QUE CONHEÇO É A
VIOLÊNCIA.”
“NÃO ME IMPORTARIA DE MORRER NUM AVIÃO. SERIA UMA BOA FORMA DE IR. NÃO QUERO MORRER DORMINDO, OU DE IDADE OU DE
OVERDOSE. QUERO SENTIR COMO É. QUERO SABOREAR, OUVIR, SENTIR O CHEIRO DISSO. A MORTE SÓ VAI ACONTECER UMA VEZ; NÃO QUERO
PERDÊ-LA.”
"QUEREMOS O MUNDO E O QUEREMOS... AGORA"
“UM DIA, PEGUEI UMA MARGARIDA E FIZ O “BEM-ME-QUER, MAL-ME-QUER”… NA PRIMEIRA VEZ, DEU “BEM-ME-QUER”; ENTÃO, ME
AMA. NA SEGUNDA, VEIO “MAL-ME-QUER”; MAS
NÃO FIQUEI PREOCUPADO… AS MARGARIDAS
TAMBÉM PODEM MENTIR!”
Espetáculo realmente instigante.
ResponderExcluirVale conferir.