EDUKATORS –
TEATRO DE PRIMEIRO MUNDO
(Este texto foi escrito no dia 17 de janeiro deste ano, quando da estreia do espetáculo, no Teatro OI Futuro Flamengo, após cuja temporada já viajou por todo o Brasil e está de volta, no palco do Teatro Ipanema)
Hoje, estreia, oficialmente, EDUKATORS, espetáculo que ficará em
cartaz, no Teatro OI Futuro – Flamengo, até 31 de março.
Entretanto, ontem, houve uma
pré-estreia para convidados, para a qual eu tive a honra de ter sido convidado,
convite este já feito no apagar das luzes do ano passado, quando encontrei meu
amigo PABLO SANÁBIO na plateia de um
outro espetáculo.
Desde o início do segundo semestre de 2012, PABLO e outro grande e querido amigo, FABRÍCIO BELSOF, haviam me falado desse
projeto, mas, na última vez em que estive com o PABLO, ele me falou com tanto entusiasmo, sua marca registrada em
tudo em que se envolve profissionalmente, e com um brilho no olhar tão
comovente e cativante, que, a partir daquela noite, passei a contar os dias
para a estreia de EDUKATORS.
Naquele dia, PABLO me disse que eu seria seu convidado especial para a estreia. Mesmo sem me achar merecedor de tal
distinção, convite de PABLO SANÁBIO,
para a estreia de um projeto seu, e, ainda por cima, com o bônus “especial”, é totalmente
irrecusável. E lá fui eu, ontem,
conferir, ou melhor, ratificar aquilo que já esperava ver: uma peça que merece
a criação de um adjetivo especial para qualificá-la.
EDUKATORS
é um primoroso texto de RAFAEL GOMES,
baseado no filme THE EDUKATORS, de HANS WEINGARTNER, em parceria com KAHUUNA FILMS.
Quando o filme foi lançado, em 2004,
cercado de grande polêmica, por parte do público e da crítica, algo como “ame-o
ou deteste-o”, ouvi algumas pessoas do PD (Partido do Detesto) dizendo não
achar a menor graça num filme que nada mais era do que “uma cópia de Laranja
Mecânica”, que também fora transposto para o palco. Absurdo total! Nada a ver com o consagrado filme de STANLEY KUBRICK.
O único ponto em comum entre os
personagens de ambos os filmes é o caráter da rebeldia de seus personagens
principais. Rebeldes todos são, nos dois
filmes, por causas diversas.
O Alex, da Laranja, é um líder de
uma gangue, que, mais do que subverter a ordem social, tem fixação pela
violência, pelo sadismo, e não mede esforços para humilhar e punir suas pobres
vítimas até a morte, com altos requintes de perversidade, de crueldade;
totalmente amorais.
O trio JAN, JULE e PETER, os “educadores” primam por uma causa, única e exclusivamente,
social. Seu objetivo é subverter, sim, a
ordem instituída pela burguesia e tentar fazer com que esta classe perceba o
quanto deixam de viver em função de seus valores materiais e o quanto
prejudicam e fazem sofrer outros seres humanos, seus semelhantes.
Pablo Sanábio, Natália Lage e Fabrício Belsoff
Vamos a uma despretensiosa análise
do espetáculo:
Em primeiro lugar, deixo bem claro
que jamais me deixo levar por fatores externos ao espetáculo, quando me
proponho a analisá-lo. Isento-me das
emoções com relações a laços afetivos com as pessoas que fazem o espetáculo. É ótimo poder dizer aos amigos: seu
espetáculo é fantástico! Da mesma forma,
embora com tristeza, é obrigação de um amigo dizer ao outro: Não gostei de tal
e tal detalhe; é preciso mudar, melhorar...
Assim devem agir os amigos. Mas
isso não se aplica a EDUKATORS.
O texto, já mencionado e que deve
ter custado muito a seu autor, prende o espectador, do início ao fim, reservando-lhe,
sempre, surpresas na linguagem, extremamente simples e de fácil decodificação,
o que é fundamental para um espectador comum.
O texto de RAFAEL GOMES prova
que não é preciso ser hermético, para impressionar e ser agradável ao público; é
simples, profundo e muito bem construído do ponto de vista estrutural.
A direção é de JOÃO FONSECA. Preciso dizer
alguma coisa? Mas vou. O JOÃO
faz parte da minha coleção de grandes profissionais do teatro, na sua praia,
qual seja, a de dirigir. Acompanho sua
carreira longa, ainda que ele seja jovem, desde a fundação do grupo OS FODIDOS PRIVILEGIADOS, há cerca de
vinte anos, se não me falha a matemática.
Nos últimos anos, JOÃO vem colecionando vários sucessos,
dentre os quais, a meu juízo, merecem destaque MARIA DO CARITÓ, R&J DE
SHAKESPEARE – JUVENTUDE INTERROMPIDA e NÃO
SOBRE ROUXINÓIS. Após ROUXINÓIS, nós, seus grandes
admiradores, ficamos a nos perguntar: E,
agora, o que o JOÃO pode fazer de
mais sensacional? Mas ele consegue. A direção de EDUKATORS é digna de todos os elogios, contando com o auxílio
luxuoso de RAFAELA AMADO, na direção
de movimento. Cada nova cena é uma
agradável e emocionante surpresa.
NELLO
MARRESE assina os geniais cenários, dignos de premiação. Conheço NELLO,
como ator, nos FODIDOS, mas, nos
últimos anos, tenho aplaudido, de pé, os belos e práticos cenários dele. Tenho certeza de que já é um nome de respeito
nesse setor, a julgar, apenas, pelos cinco ou seis maravilhosos trabalhos que
fez em 2012, com destaque para os de NÃO
SOBRE ROUXINÓIS e DOROTEIA, ambos
dirigidos pelo JOÃO FONSECA.
Neste espetáculo, a luz é um
elemento importantíssimo, para criar a variação de climas que cada cena exige,
trabalho muito bem executado pelo veterano LUIZ
PAULO NENEN.
Os figurinos, de BRUNO PERLATTO, estão bem de acordo com
os personagens e a trama.
Não se pode deixar de pôr em evidência,
de modo algum, a trilha sonora, a cargo do craque RODRIGO PENNA, o inventor do Bailinho, que já criou excelentes
trilhas para outros espetáculos e, agora, parece estar em sua fase áurea,
dentro do ofício que escolheu. A música
de RODRIGO embala, de forma muito
coerente e correta, as cenas e a nós, os espectadores. Ajuda a nos transportar para o universo da
peça.
Não chega a ser um espetáculo multimídia,
mas os vídeos, de PAOLA BARRETO e DAVID COLE, acrescentam valores ao
espetáculo.
Os três protagonistas, em primeiro plano, e, ao fundo, Edmílson Barros
Ficaram para o final as palavras
sobre os quarto atores, por ordem alfabética, que formam o elenco de EDUKATORS. Muito fácil:
EDMÍLSON
BARROS tem uma participação mais discreta na trama, mas não menos
importante, e desempenha o seu papel com muita correção. Bom ator, sempre competente nos papéis que
tem desempenhado.
FABRÍCIO
BELSOFF é um dos melhores atores do teatro brasileiro que eu conheço, até
mesmo quando, sem fala, participa de uma cena, ainda que, como diz JOÃO FONSECA, no belíssimo programa da
peça, “...quando lembro que ele ainda não tem nem trinta anos, fico pensando do
que será capaz esse menino”. Realmente, FABRÍCIO é, como dizia minha avó, um
“azougue” (indivíduo muito agitado e esperto) em cena.
Ele parece hipnotizar o espectador, com tanta força
que atribui a seus personagens. Seu JAN é digno de muitos aplausos de pé. BRAVO!
NATÁLIA
LAGE, a JULE, é um capítulo à
parte. Nos seus 26 anos de carreira, (informação
do programa), a moça é muito mais conhecida pelos papéis que interpreta na
telinha, entretanto é no teatro que o ator(atriz) mostra que “tem garrafas vazias
pra vender” (outra vez, minha avó baixou em mim). No palco é que a pessoa mostra que sabe
representar, sabe explorar seu potencial dramático, sua voz, seu corpo, todas
as suas expressões... NATÁLIA é uma atriz de teatro e assim
deve ser reverenciada. Mais ainda: uma
grande atriz de teatro. Já tive a
oportunidade de vê-la representando em alguns espetáculos, mas é em EDUKATORS, que ela tem a oportunidade
de se jogar de cabeça no personagem, proporcionando-nos belos momentos de
grande emoção. Muito boa a escolha da
atriz.
PABLO
SANÁBIO, por coincidência, ficou para o final, obedecendo à já expressa
ordem alfabética, mas, de qualquer forma, fosse outro o critério, ele seria o último
a ser comentado. Por quê? Simplesmente porque ele é PABLO SANÁBIO, um ser iluminado, como
profissional e como pessoa. É dele o projeto
deste EDUKATORS e foi ele que correu
atrás da compra dos direitos da peça, procurou parceiros para o projeto... Mais uma vez, parafraseando JOÃO FONSECA, “ele parece não conhecer
limites para realizar seus sonhos. Ele
produz, atua (maravilhosamente, acrescento eu), cria, inventa, é um verdadeiro
‘doido’”. Já foi assim em R&J DE SHAKESPEARE – JUVENTUDE
INTERROMPIDA e em O
MENINO QUE VENDIA PALAVRAS. Não sei onde há mais espaço naquela cabecinha
de criança/adulta para caber tantas ideias, tanta criatividade, tantas gostosa
loucuras. Mas sempre há. Ele, cada vez mais, nos surpreende com um
trabalho mais estupendo que outro.
Merece todas as glórias, todas as homenagens, todos os aplausos, todos
os prêmios. Merece tudo de bom, porque é
uma das pessoas que mais amam o teatro e se dedicam a ele. MUITA MERDA,
meu queridíssimo amigo.
Parece que não há mais nada a
merecer destaque, mas isso não é verdade.
O sucesso que, certamente, será a temporada de EDUKATORS no Rio, depois em São Paulo e, novamente no Rio, se os deuses do
teatro permitirem (e eles haverão de) depende muito de um nome: MARIA SIMAN, diretora de produção, no
comando da sua PRIMEIRA PAGINA PRODUÇÕES.
MARIA é uma das mais importantes
produtoras do teatro brasileiro. Para
quem não consegue ligar o nome à pessoa, ela produziu ENSINA-ME A VIVER (ao lado de um outro grande e talentoso amigo
empreendedor, ARLINDO LOPES, e GLÓRIA MENEZES), A PEÇA DO CASAMENTO, MACBETH, DOIDAS E SANTAS, MARIA DO CARITÓ, CLANDESTINOS... MARIA é aquela pessoa com quem se tem
vontade de trabalhar. Eu gostaria, e
muito. Ela só se envolve, com muita
garra e paixão, em grandes produções, e conta com excelentes colaboradores,
como BRUNA AYRES, LUCIANO MARCELO, PAULA SALLES e tantos outros, sempre gentis e generosos.
Mais alguma coisa a falar? Sim.
Como todas as produções que levam a
assinatura de MARIA SIMAN, o programa
da peça, já citado anteriormente, é lindo, de um enorme bom gosto, em todos os
aspectos, principalmente pelos belos textos nele contidos.
EDUKATORS
será, certamente (ou melhor, já é) um dos maiores acontecimentos teatrais deste
ano, que apenas começa.
Deve ser visto e compartilhado por todos.
Nada melhor do que EDUKATORS para se acreditar que, no
Brasil, também se faz teatro de primeiro mundo.
VIDA
LONGA A EDUKATORS!
MIL VEZES MERDA!!!
APROVEITE PARA CONFERIR O QUE EU DISSE, NO TEATRO IPANEMA, EM CURTA TEMPORADA. VEJA, NA MÍDIA, DIAS E HORÁRIOS.
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