“EM NOME DA
MÃE”
ou
(É “MASTER
CLASS”
QUE SE DIZ?)
ou
(OBRIGADO,
EM
NOME
DE TODOS OS
ESPECTADORES.)
ou
(NAZARÉ FICA
EM MINAS?
Aceitar um convite para
assistir a SUZANA NASCIMENTO atuando
é algo irrecusável. Saber que a concepção do espetáculo e a dramaturgia
também são dela é mais um reforço para ter dito “sim” ao convite de PAULA CATUNDA (Assessoria de Imprensa). Lendo a SINOPSE do solo, que está no “release” enviado por aquela assessoria,
não ficou a menor dúvida de que o espetáculo precisaria ser visto o quanto antes
possível. E já ficava ali uma quase certeza de que me encantaria com a peça, o
que significa que teria que escrever a crítica que a montagem mereceria, se bem
que todos os artistas podem errar a mão, um dia, o que, até hoje, não foi o
caso da talentosíssima SUZANA NASCIMENTO.
E não deu outra. Fui ontem (21 de agosto de 2024) ao Teatro
Adolpho Bloch, onde a montagem fica em cartaz até o próximo dia
29 (VER SERVIÇO.), a fim de conhecer a nova proposta de encenação de SUZANA, dirigida por MIWA YANAGIZAWA, e deixei o Teatro
como sempre gostaria de me sentir, ao término de todas as peças a que assisto: em
total estado de graça.
SINOPSE:
Ao deixar de lado o aspecto religioso e
desmistificar a figura de Maria de Nazaré, mãe de Jesus,
o espetáculo “EM NOME DA MÃE” aborda a jornada
íntima de uma jovem, pobre, não casada, e grávida, tendo, por isso,
sofrido os preconceitos de uma sociedade conservadora, patriarcal e machista.
A história milenar, escrita por homens, na Bíblia, aqui é contada por sua protagonista, antes de se tornar a mãe do Filho de Deus.
A peça é inédita no Rio de Janeiro, baseada na obra homônima do premiado autor italiano Erri de Luca, considerado um dos mais conceituados autores italianos contemporâneos, tendo sido concebida para o palco pela atriz que representa a personagem, em sua primeira montagem no Brasil, embora já tenha sido levada ao público em versão audiovisual, em agosto de 2021, quando os Teatros estavam fechados, por conta da pandemia de COVID-19, quando conquistou prêmios em quatro categorias, no “16º Prêmio APTR de Teatro”, a saber: espetáculo, atriz, direção e música. Há muito tempo, este solo já deveria, e merecia, ter ocupado um Teatro no Rio de Janeiro, depois da já citada versão audiovisual e de, por ter sido contemplado pelo Edital de Cultura Sesc RJ Pulsar, ter a oportunidade de se apresentar, na forma como a ele assisti, em oito unidades do Sesc no estado do Rio de Janeiro, entre abril e maio de 2024. Um detalhe interessante é que, como também é uma artista plástica, SUZANA apresenta, paralelamente ao espetáculo, a exposição inédita “NO PRINCÍPIO ERA A MULHER”, com obras suas, bordadas em folhas secas de árvores, um requinte de beleza, delicadeza e poesia.
A “gestação” do espetáculo durou quase
10
anos, tendo sido iniciada em 2015, quando SUZANA leu o livro que a inspirou, o qual conta, em primeira
pessoa, a história da gestação de Maria de Nazaré, desde o anúncio de
sua gravidez imaculada, pelo anjo Gabriel, até o nascimento do Menino
Jesus.
A paixão pelo livro tomou conta da artista, assim como também está me provocando
o desejo de conhecê-lo, e ela resolver adaptá-lo para o palco, visando a um
olhar atento para o feminino e, em especial, para os dias de hoje. Houve por
bem, então, fazer com que a personagem ganhasse voz própria, colocando em evidência,
além do fator humano, um diferencial, por meio de uma visão bem feminina,
relatando “sua coragem e suas incertezas, as perseguições, os constrangimentos
diante de intrigas e acusações, seus medos e sonhos”. E ela o faz como
muita verdade, poesia e bom humor, mesclando os fatos históricos com uma ficção
hodierna, que chega ao ponto de “contrariar a geografia” e “levar”
a cidade natal de Jesus, Nazaré, em Israel, para as terras
mineiras.
Quem, como eu, teve a oportunidade de assistir à versão para a telinha encontrará um outro espetáculo, obviamente, já que são duas linguagens diferentes, que necessitam de elementos especiais no palco, como, por exemplo, a belíssima iluminação, a cargo de ANA LUZIA MOLINARI DE SIMONI, em trabalho conjunto com HUGO MERCIER, obra merecedora, no mínimo, de indicações (NO PLURAL MESMO) a prêmios.
Também uma dupla, DESIRÉE BASTOS e JOVANNA SOUZA, se encarregou da cenografia, dos figurinos e da direção de arte. Aquela reúne, no amplo espaço cênico do Teatro Adolpho Bloch, elementos na forma de peças rústicas e do dia a dia, com muitos detalhes de brasileirismo, como a criativa utilização de cabaças, para representar o ventre fecundado de Miriam e o próprio bebê, chamado de Yeshua. Para completar os nomes da “Sagrada” Família, há Yosef, o “pai terrestre” da criança. DESIRÉE havia assinado os mesmos elementos na versão audiovisual. Quanto aos trajes vestidos pela atriz, há um que a acompanha durante toda a encenação, em tule branco e rosa, em camadas, sobre o qual ela vai adicionando, e retirando, três espécies de camisolas em tecido extremamente leve e transparente, creio que tule, em cores diferentes. Um figurino delicado, combinando com o tom da peça.
É preciso um poder de síntese muito grande, para falar sobre o trabalho de SUZANA NASCIMENTO, que deve ser analisado aqui em três frentes: a dramaturga, a atriz e a artista plástica, começando por esta vertente. Oriunda de uma “linhagem de costureiras e bordadeiras”, na família e na vizinhança, desde pequena, em Juiz de Fora, a artista se tornou uma exímia criadora de peças de arte, transbordantes em beleza, poesia e afeto, na forma de bordados em folhas secas de árvores. No “foyer” do Teatro, durante a temporada do monólogo, o público que vai aplaudir SUZANA, na peça, também pode se deleitar com 10 peças criadas por ela, expostas e colocadas à venda. Todos os trabalhos foram criados especialmente para a mostra, mesclando “arte, poesia visual, afeto, memória, ancestralidade e natureza, as obras inéditas dialogam com o universo feminino e ancestral do espetáculo”. Num outro inesquecível solo seu, como este, a artista já confeccionara muitos elementos de cena.
Como dramaturga, SUZANA já havia demonstrado a que veio,
desde quando escreveu outro monólogo, “Calango Deu!” Os Causos de Dona Zaninha”,
um estupendo sucesso de público e de crítica, que estreou, no Rio
de Janeiro, em novembro de 2012, fez várias
temporadas na capital carioca e viajou por este “Brasil de meu Deus”,
ganhando vários prêmios, tendo ficado em cartaz, sem interrupção, por cerca de 10 anos, apresentado até hoje, quando é
solicitado por algum contratante ou para fazer parte de algum festival ou
evento afim. Assisti a essa maravilha, certamente, umas 10 vezes e me orgulho de
ter sido convidado, por SUZANA, para revisar a versão do
texto, editada em livro. Trata-se de um “espetáculo
teatral, baseado na cultura popular mineira. O monólogo foi construído ao longo
de cinco anos de uma pesquisa que abrange vocabulário, hábitos, histórias,
músicas e crenças, em uma grande celebração à sabedoria popular”. Como dramaturga,
a artista apostou no “time que está ganhando” e escreveu,
agora, um texto que guarda muitas características do “Calango...”, incluindo
os momentos de interação com a plateia, bem descontraídos e respeitosos,
recebidos com grande simpatia pelo público, como o que lotava o Teatro
na sessão de ontem, o que se dá, segundo me informaram, todos os dias. Apesar de
leve e divertido, o texto, delicioso, diga-se de passagem, “abre espaço
para reflexões sobre o feminismo e sobre os comportamentos patriarcais que
atravessaram o tempo até nossos dias”.
Na função de atriz, SUZANA é completa e profundamente
versátil, além de possuir um carisma contagiante e um poder de comunicação
direta com o público poucas vezes visto num palco. Sua versatilidade permite
que ela provoque sentimentos de dor e alegria na plateia. Tanto transita bem
pelos momentos mais dramáticos como arranca risos e gargalhadas nas cenas em que
o (BOM)
humor dá o ar de sua graça. E com que graça ela o faz, seja por palavras, seja
por caras e bocas e silêncios bem expressivos! Não darei nenhum tipo de “spoiler!”,
mas, se a pessoa que ainda não conhecia o potencial da atriz e, até a cena do
parto, por esse motivo, não tinha formado um juízo de valor sobre seu trabalho,
a partir de lá, chegará à conclusão de que está diante de uma das melhores atrizes
da geração de SUZANA. A partir dessa
cena, vale a pena ficar mais atento ao desfecho da peça e à atuação dessa
grandiosa atriz. SUZANA, em cena, é
sinônimo de uma explosão de emoções e sentimentos.
Durante os 90 minutos de duração
desta OBRA-PRIMA, SUZANA NASCIMENTO
apresenta importantes
arquétipos da alma feminina. Representa três personagens diferentes, três
mulheres: a donzela Maria, ou Miriam, como é chamada em hebraico;
a própria
atriz, uma mulher de 43 anos; e a anciã, que carrega, em si,
a ancestralidade feminina. Elas “relatam a jornada da protagonista,
intercaladas com histórias da vida da própria atriz e temas da atualidade”,
inclusive há uma homenagem à Dona Irene, mãe da atriz. “Só
existem seis falas atribuídas a Maria em toda a Bíblia. Pouco se escreveu sobre
ela. A peça é uma investigação sobre sua jornada íntima, trazendo uma Maria
profundamente humana, em plena metamorfose, se apoderando de sua própria
história”, são palavras de SUZANA.
Tanto na versão em vídeo como na presencial, a direção
de ambos os trabalhos é de uma premiada atriz e diretora, MIWA YANAGIZAWA, que, mais uma vez, corresponde a todas as minhas
expectativas, provando ter mergulhado de cabeça em todas as mensagens e intenções
que a dramaturga desejou que chegasse, de forma clara e precisa, aos
espectadores. Todas as cenas são marcadas com precisão e muita delicadeza.
Seria imperdoável não fazer referência à brilhante e
agradável trilha sonora original, criada por FEDERICO PUPPI, que ajuda
a embalar as cenas.
FICHA TÉCNICA:
Concepção: Suzana Nascimento, a partir da
obra de Erri de Luca
Tradução: Federico Puppi
Dramaturgia: Suzana Nascimento
Direção: Miwa Yanagizawa
Atuação: Suzana Nascimento
Cenografia: Desirée Bastos e Jovanna Souza
Figurino: Desirée Bastos
Iluminação: Ana Luzia Molinari de Simoni e Hugo Mercier
Direção de Movimento: Denise Stutz
Trilha
Sonora Original: Federico Puppi
Participações
Especiais (trilha) Cantoras: Rita
Beneditto, Kacau Gomes, Mari Blue, Fernanda Santanna e Alexia Evellyn
Percussão: Marco Lobo
Voz da Mãe (a
própria): Irene Pereira do
Nascimento
Operação de Som e Vídeo: Roberto Lucaro
Direção de Palco: Sabrina Savino
“Design” Gráfico: Raquel Alvarenga - Etúdio Janela Aberta
Mídias Sociais e Produção Gráfica: Top na Mídia
Fotografias: Nil Caniné, Elisa Mendes e Júlio Ricardo
Vídeos: Elisa Mendes
Edição de Vídeos para Projeção: Almir Chiarattin - OKOTO Produções
Assessoria de Imprensa: Paula Catunda e Catharina Rocha
Direção de Produção: Alessandra Reis e Cristina Leite
Coordenação
Geral: SP Nascimento Produções
Produtoras Associadas: AR 27 Produções Artísticas Ltda e SP
Nascimento Produções
SERVIÇO: Temporada: De 07 a 29 de agosto de 2024. Local:
Teatro Adolpho Bloch. Endereço:
Rua do Russel, nº 804 – Glória – Rio de Janeiro. Telefone:
(21) 3553-3557. Capacidade:
359 lugares. Acessibilidade:
SIM, para pessoas com dificuldade de locomoção, Dias
e horários: 4ªs e 5ªs feiras, às 20h. Valor
dos Ingressos: R$ 70 (inteira)
e R$ 35 (meia-entrada). Vendas na bilheteria do teatro ou
pelo “site” da Sympla. Gênero: Monólogo. |
E se mais não escrevo sobre esta fabulosa produção, é porque tenho algumas
críticas esperando ganhar forma. “EM NOME DA MÃE” é um espetáculo para
ser aplaudido de pé e visto mais de uma vez, motivo pelo qual o RECOMENDO.
FOTOS: ELISA MENDES
e
JULIO ROBERTO.
GALERIA PARTICULAR
(Fotos: Alaor Ferreira.)
(Com Miwa Yanagizawa.)
(Com Suzana Nascimento.)
VAMOS AO TEATRO!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE
ESPETÁCULO DO BRASIL!
A ARTE EDUCA E CONSTRÓI, SEMPRE; E
SALVA!
RESISTAMOS SEMPRE MAIS!
COMPARTILHEM ESTA CRÍTICA, PARA
QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR O QUE HÁ DE MELHOR NO TEATRO BRASILEIRO!
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