quinta-feira, 22 de agosto de 2024

“EM NOME DA MÃE”

ou

(É “MASTER CLASS”

QUE SE DIZ?)

ou

(OBRIGADO, 

EM NOME

DE TODOS OS

ESPECTADORES.)

ou

(NAZARÉ FICA 

EM MINAS?

 


 




         Aceitar um convite para assistir a SUZANA NASCIMENTO atuando é algo irrecusável. Saber que a concepção do espetáculo e a dramaturgia também são dela é mais um reforço para ter dito “sim” ao convite de PAULA CATUNDA (Assessoria de Imprensa). Lendo a SINOPSE do solo, que está no “release” enviado por aquela assessoria, não ficou a menor dúvida de que o espetáculo precisaria ser visto o quanto antes possível. E já ficava ali uma quase certeza de que me encantaria com a peça, o que significa que teria que escrever a crítica que a montagem mereceria, se bem que todos os artistas podem errar a mão, um dia, o que, até hoje, não foi o caso da talentosíssima SUZANA NASCIMENTO. E não deu outra. Fui ontem (21 de agosto de 2024) ao Teatro Adolpho Bloch, onde a montagem fica em cartaz até o próximo dia 29 (VER SERVIÇO.), a fim de conhecer a nova proposta de encenação de SUZANA, dirigida por MIWA YANAGIZAWA, e deixei o Teatro como sempre gostaria de me sentir, ao término de todas as peças a que assisto: em total estado de graça.


 

 

 


SINOPSE:

Ao deixar de lado o aspecto religioso e desmistificar a figura de Maria de Nazaré, mãe de Jesus, o espetáculo “EM NOME DA MÃE” aborda a jornada íntima de uma jovem, pobre, não casada, e grávida, tendo, por isso, sofrido os preconceitos de uma sociedade conservadora, patriarcal e machista.

A história milenar, escrita por homens, na Bíblia, aqui é contada por sua protagonista, antes de se tornar a mãe do Filho de Deus.

 

 

 


      A peça é inédita no Rio de Janeiro, baseada na obra homônima do premiado autor italiano Erri de Luca, considerado um dos mais conceituados autores italianos contemporâneos, tendo sido concebida para o palco pela atriz que representa a personagem, em sua primeira montagem no Brasil, embora já tenha sido levada ao público em versão audiovisual, em agosto de 2021, quando os Teatros estavam fechados, por conta da pandemia de COVID-19, quando conquistou prêmios em quatro categorias, no “16º Prêmio APTR de Teatro”, a saber: espetáculo, atriz, direção e música. Há muito tempo, este solo já deveria, e merecia, ter ocupado um Teatro no Rio de Janeiro, depois da já citada versão audiovisual e de, por ter sido contemplado pelo Edital de Cultura Sesc RJ Pulsar, ter a oportunidade de se apresentar, na forma como a ele assisti, em oito unidades do Sesc no estado do Rio de Janeiro, entre abril e maio de 2024. Um detalhe interessante é que, como também é uma artista plástica, SUZANA apresenta, paralelamente ao espetáculo, a exposição inédita “NO PRINCÍPIO ERA A MULHER”, com obras suas, bordadas em folhas secas de árvores, um requinte de beleza, delicadeza e poesia.


 

 

   A “gestação” do espetáculo durou quase 10 anos, tendo sido iniciada em 2015, quando SUZANA leu o livro que a inspirou, o qual conta, em primeira pessoa, a história da gestação de Maria de Nazaré, desde o anúncio de sua gravidez imaculada, pelo anjo Gabriel, até o nascimento do Menino Jesus. A paixão pelo livro tomou conta da artista, assim como também está me provocando o desejo de conhecê-lo, e ela resolver adaptá-lo para o palco, visando a um olhar atento para o feminino e, em especial, para os dias de hoje. Houve por bem, então, fazer com que a personagem ganhasse voz própria, colocando em evidência, além do fator humano, um diferencial, por meio de uma visão bem feminina, relatando “sua coragem e suas incertezas, as perseguições, os constrangimentos diante de intrigas e acusações, seus medos e sonhos”. E ela o faz como muita verdade, poesia e bom humor, mesclando os fatos históricos com uma ficção hodierna, que chega ao ponto de “contrariar a geografia” e “levar” a cidade natal de Jesus, Nazaré, em Israel, para as terras mineiras.

 

 

 

Quem, como eu, teve a oportunidade de assistir à versão para a telinha encontrará um outro espetáculo, obviamente, já que são duas linguagens diferentes, que necessitam de elementos especiais no palco, como, por exemplo, a belíssima iluminação, a cargo de ANA LUZIA MOLINARI DE SIMONI, em trabalho conjunto com HUGO MERCIER, obra merecedora, no mínimo, de indicações (NO PLURAL MESMO) a prêmios.

 

 

Também uma dupla, DESIRÉE BASTOS e JOVANNA SOUZA, se encarregou da cenografia, dos figurinos e da direção de arte. Aquela reúne, no amplo espaço cênico do Teatro Adolpho Bloch, elementos na forma de peças rústicas e do dia a dia, com muitos detalhes de brasileirismo, como a criativa utilização de cabaças, para representar o ventre fecundado de Miriam e o próprio bebê, chamado de Yeshua. Para completar os nomes da “Sagrada” Família, há Yosef, o “pai terrestre” da criança. DESIRÉE havia assinado os mesmos elementos na versão audiovisual. Quanto aos trajes vestidos pela atriz, há um que a acompanha durante toda a encenação, em tule branco e rosa, em camadas, sobre o qual ela vai adicionando, e retirando, três espécies de camisolas em tecido extremamente leve e transparente, creio que tule, em cores diferentes. Um figurino delicado, combinando com o tom da peça.   

 

 

É preciso um poder de síntese muito grande, para falar sobre o trabalho de SUZANA NASCIMENTO, que deve ser analisado aqui em três frentes: a dramaturga, a atriz e a artista plástica, começando por esta vertente. Oriunda de uma “linhagem de costureiras e bordadeiras”, na família e na vizinhança, desde pequena, em Juiz de Fora, a artista se tornou uma exímia criadora de peças de arte, transbordantes em beleza, poesia e afeto, na forma de bordados em folhas secas de árvores. No “foyer” do Teatro, durante a temporada do monólogo, o público que vai aplaudir SUZANA, na peça, também pode se deleitar com 10 peças criadas por ela, expostas e colocadas à venda.  Todos os trabalhos foram criados especialmente para a mostra, mesclando “arte, poesia visual, afeto, memória, ancestralidade e natureza, as obras inéditas dialogam com o universo feminino e ancestral do espetáculo”. Num outro inesquecível solo seu, como este, a artista já confeccionara muitos elementos de cena.

 


Como dramaturga, SUZANA já havia demonstrado a que veio, desde quando escreveu outro monólogo, “Calango Deu!” Os Causos de Dona Zaninha”, um estupendo sucesso de público e de crítica, que estreou, no Rio de Janeiro, em novembro de 2012, fez várias temporadas na capital carioca e viajou por este “Brasil de meu Deus”, ganhando vários prêmios, tendo ficado em cartaz, sem interrupção, por cerca de 10 anos, apresentado até hoje, quando é solicitado por algum contratante ou para fazer parte de algum festival ou evento afim. Assisti a essa maravilha, certamente, umas 10 vezes e me orgulho de ter sido convidado, por SUZANA, para revisar a versão do texto, editada em livro. Trata-se de um “espetáculo teatral, baseado na cultura popular mineira. O monólogo foi construído ao longo de cinco anos de uma pesquisa que abrange vocabulário, hábitos, histórias, músicas e crenças, em uma grande celebração à sabedoria popular”. Como dramaturga, a artista apostou no “time que está ganhando” e escreveu, agora, um texto que guarda muitas características do “Calango...”, incluindo os momentos de interação com a plateia, bem descontraídos e respeitosos, recebidos com grande simpatia pelo público, como o que lotava o Teatro na sessão de ontem, o que se dá, segundo me informaram, todos os dias. Apesar de leve e divertido, o texto, delicioso, diga-se de passagem, abre espaço para reflexões sobre o feminismo e sobre os comportamentos patriarcais que atravessaram o tempo até nossos dias”.


 


 

Na função de atriz, SUZANA é completa e profundamente versátil, além de possuir um carisma contagiante e um poder de comunicação direta com o público poucas vezes visto num palco. Sua versatilidade permite que ela provoque sentimentos de dor e alegria na plateia. Tanto transita bem pelos momentos mais dramáticos como arranca risos e gargalhadas nas cenas em que o (BOM) humor dá o ar de sua graça. E com que graça ela o faz, seja por palavras, seja por caras e bocas e silêncios bem expressivos! Não darei nenhum tipo de “spoiler!”, mas, se a pessoa que ainda não conhecia o potencial da atriz e, até a cena do parto, por esse motivo, não tinha formado um juízo de valor sobre seu trabalho, a partir de lá, chegará à conclusão de que está diante de uma das melhores atrizes da geração de SUZANA. A partir dessa cena, vale a pena ficar mais atento ao desfecho da peça e à atuação dessa grandiosa atriz. SUZANA, em cena, é sinônimo de uma explosão de emoções e sentimentos.


 

 

 

Durante os 90 minutos de duração desta OBRA-PRIMA, SUZANA NASCIMENTO apresenta importantes arquétipos da alma feminina. Representa três personagens diferentes, três mulheres: a donzela Maria, ou Miriam, como é chamada em hebraico; a própria atriz, uma mulher de 43 anos; e a anciã, que carrega, em si, a ancestralidade feminina. Elas “relatam a jornada da protagonista, intercaladas com histórias da vida da própria atriz e temas da atualidade”, inclusive há uma homenagem à Dona Irene, mãe da atriz. “Só existem seis falas atribuídas a Maria em toda a Bíblia. Pouco se escreveu sobre ela. A peça é uma investigação sobre sua jornada íntima, trazendo uma Maria profundamente humana, em plena metamorfose, se apoderando de sua própria história”, são palavras de SUZANA.

 

 

 

Tanto na versão em vídeo como na presencial, a direção de ambos os trabalhos é de uma premiada atriz e diretora, MIWA YANAGIZAWA, que, mais uma vez, corresponde a todas as minhas expectativas, provando ter mergulhado de cabeça em todas as mensagens e intenções que a dramaturga desejou que chegasse, de forma clara e precisa, aos espectadores. Todas as cenas são marcadas com precisão e muita delicadeza.

 

 








 (Suzana e Miwa.)

 

Seria imperdoável não fazer referência à brilhante e agradável trilha sonora original, criada por FEDERICO PUPPI, que ajuda a embalar as cenas.

 

 


 

FICHA TÉCNICA:

Concepção: Suzana Nascimento, a partir da obra de Erri de Luca

Tradução: Federico Puppi

Dramaturgia: Suzana Nascimento

Direção: Miwa Yanagizawa


Atuação: Suzana Nascimento

 

Cenografia: Desirée Bastos e Jovanna Souza

Figurino: Desirée Bastos

Iluminação: Ana Luzia Molinari de Simoni e Hugo Mercier

Direção de Movimento: Denise Stutz

Trilha Sonora Original: Federico Puppi

Participações Especiais (trilha) Cantoras: Rita Beneditto, Kacau Gomes, Mari Blue, Fernanda Santanna e Alexia Evellyn

Percussão: Marco Lobo

Voz da Mãe (a própria): Irene Pereira do Nascimento

Operação de Som e Vídeo: Roberto Lucaro

Direção de Palco: Sabrina Savino

“Design” Gráfico: Raquel Alvarenga - Etúdio Janela Aberta

Mídias Sociais e Produção Gráfica: Top na Mídia 

Fotografias: Nil Caniné, Elisa Mendes e Júlio Ricardo

Vídeos: Elisa Mendes

Edição de Vídeos para Projeção: Almir Chiarattin - OKOTO Produções

Assessoria de Imprensa: Paula Catunda e Catharina Rocha

Direção de Produção: Alessandra Reis e Cristina Leite

Coordenação Geral: SP Nascimento Produções

Produtoras Associadas: AR 27 Produções Artísticas Ltda e SP Nascimento Produções


 


 


 

 

SERVIÇO:

Temporada: De 07 a 29 de agosto de 2024.

Local: Teatro Adolpho Bloch.

Endereço: Rua do Russel, nº 804 – Glória – Rio de Janeiro.

Telefone: (21) 3553-3557.

Capacidade: 359 lugares.

Acessibilidade: SIM, para pessoas com dificuldade de locomoção,

Dias e horários: 4ªs e 5ªs feiras, às 20h.

Valor dos Ingressos: R$ 70 (inteira) e R$ 35 (meia-entrada).

Vendas na bilheteria do teatro ou pelo site” da Sympla.
Duração: 60 minutos.
Classificação Etária: 14 anos.

Gênero: Monólogo. 


 


         E se mais não escrevo sobre esta fabulosa produção, é porque tenho algumas críticas esperando ganhar forma. “EM NOME DA MÃE” é um espetáculo para ser aplaudido de pé e visto mais de uma vez, motivo pelo qual o RECOMENDO.

 

 

 


 

FOTOS: ELISA MENDES

e

JULIO ROBERTO.

 

 

 


 

GALERIA PARTICULAR

(Fotos: Alaor Ferreira.)

 

 

 


(Com Miwa Yanagizawa.)


(Com Suzana Nascimento.)



 


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