O TEATRO ME REPRESENTA!: maio 2022

“CÉU ESTRELADO”

(A SINOPSE ME

PREGOU UMA PEÇA.)

(DE COMO TRATAR

UM TEMA

ÁRIDO E TRISTE

DE FORMA POÉTICA

E ALEGRE.)

Começo esta crítica, justificando o seu primeiro subtítulo, diretamente pela SINOPSE, que extraí do “release” enviado por RACHEL ALMEIDA (RACCA COMUNICAÇÃO – ASSESSORIA DE IMPRENSA):

SINOPSE:

O espetáculo retoma músicas que fazem parte de nossa memória afetiva, fazendo um resgate do cancioneiro popular brasileiro, em uma história que reflete sobre relações familiares e nossa responsabilidade afetiva e social.

O Brasil profundo, longe do litoral e dos grandes centros urbanos, apresenta uma cultura rica e diversa, fundamental para a compreensão da identidade nacional.

Esse lugar, que pode estar na fronteira entre Minas Gerais, Espírito Santo e sul da Bahia, no interior do Mato Grosso ou, mesmo, no nosso imaginário afetivo, ganha os palcos no musical inédito “CÉU ESTRELADO”.

Eu esperava ver tudo, menos o que foi encenado. Isso me frustrou ou desagradou? É claro que não! Muito pelo contrário. Se assim tivesse acontecido, eu não estaria aqui, gastando horas do meu precioso tempo, para escrever sobre esta peça, que muito me agradou, divertiu e comoveu.

O espetáculo foi idealizado por GUSTAVO NUNES, com texto de CARLA FAOUR, estreante em musicais, escrito durante a pandemia de COVID-19 (2020/2021), com direção de VINÍCIUS ARNEIRO e JOÃO FONSECA, direção musical de TONY LUCCHESI, com interpretações feitas por um grande elenco, falando não quantitativa, mas qualitativamente: JULIANA LINHARES, BRUNO GARCIA, DANIEL CARNEIRO, DANI CÂMARA, HAMILTON DIAS E NATASHA JASCALEVICH.

O texto conta a história de ANTONIA (JULIANA LINHARES). Mas seria ela, de verdade, a “protagonista”? De certa forma, sim, porém, talvez, esse “protagonismo” esteja voltado não para uma pessoa, mas para um fato, um triste e lamentável fato. “Na trama, a personagem, nascida na cidade fictícia de Carneirinhos, se muda para o Rio de Janeiro, brigada com o pai, seu CRIS (BRUNO GARCIA), para tentar a carreira de cantora. Depois de alguns anos, ela está de volta, a pedido da família, para participar da festa de Santo Antônio, na fazenda onde moram. Ao lado do namorado estrangeiro, JOHNNY (HAMILTON DIAS), ANTONIA vai reencontrar, além do pai, um antigo amor, PAIXÃO (DANIEL CARNEIRO), sua irmã CIDINHA (DANI CÂMARA), e a ‘faz-tudo’ da fazenda, FAFÁ (NATASHA JASCALEVICH)”.

Bruno Garcia e Juliana Linhares.

Antes de ter tomado a decisão de ir tentar a carreira artística na “cidade grande”, ANTONIA formava uma dessas “indefectíveis” duplas sertanejas (É A MINHA OPINIÃO. DETESTO TODAS!!! “Sertanejo universitário”. ECA!!! Estão mais para “classe de alfabetização”. Não confundir com “música caipira”, que eu adoro.) e, desde adolescentes, namoravam. Quando volta a Carneirinhos, a moça se sente “mexida”, em função do reencontro com seu antigo amor, sem saber que, durante a sua ausência, PAIXÃO (Nome sugestivo.) e sua irmã, CIDINHA começaram a namorar e estavam de noivado marcado.

É óbvio que todos, assim como eu, só poderíamos imaginar, na trama, um conflito, em função de um triângulo amoroso, sem contar, ainda, com a questão da culpa, por parte de ANTONIA, em relação ao novo namorado, que parecia estar muito apaixonado por ela e pelo Brasil (Coisa de “gringo”, que não mora aqui. ESSA TAMBÉM É MINHA OPINIÃO.). Só que isso é, apenas, um pretexto para o que, realmente, a dramaturga deseja mostrar, e criticar, e que eu não vou revelar, nem sob tortura, porque é contra os meus princípios dar “spoilers”, quando escrevo sobre uma peça de TEATRO. Assistam a ela e terão a mesma grande surpresa que eu tive, e ficarão, com certeza, tão emocionados, como aconteceu comigo. Apesar, porém, de CARLA FAOUR ter “pegado pesado”, no fechamento da cortina, ninguém consegue sair “por baixo” do Teatro I, do CCBB, Rio de Janeiro, onde o musical está em cartaz, em função da forma poética e, também, às vezes, divertida, como a história é contada. Mas uma coisa é certa: a ficção nos faz refletir sobre a realidade.

A respeito do espetáculo, diz o diretor VINÍCIUS ARNEIRO: “A história nos leva a refletir sobre a inevitável passagem do tempo, o curso da vida e como é urgente e necessário que a humanidade resgate seu olhar sensível para a natureza.”. “É, também, uma trama que fala sobre o que ganhamos e o que perdemos, quando deixamos nossa cidade e nossas raízes, para seguir um sonho, uma carreira. É uma peça delicada, leve e, ao mesmo tempo, dramática. Tem uma dramaturgia que vai nos surpreendendo”, acrescenta o diretor JOÃO FONSECA.

O elenco, à exceção de BRUNO GARCIA, ator convidado, foi formado, em audições, por atores e atrizes, todos excelentes, de diferentes partes do Brasil: Natal, Recife, Angra dos Reis, Goiânia e Rio de Janeiro. “Os sotaques são muito distintos e se misturam em cena. Fizemos questão de que permanecesse assim, para enfatizar que é, também, nessa multiplicidade cultural, que reside a beleza do português não uniforme do Brasil”, é o que diz VINÍCIUS ARNEIRO. Como professor de língua portuguesa, só tenho a aplaudir essa decisão da direção do espetáculo.

O elenco me encantou, sobremaneira, não só pelas interpretações, mas também, e muito, pela qualidade vocal, como cantores, de todos, sem exceção. Que vozes! E como ficam mais belas as canções nas vozes deles! Como cantam bem, em solos, dupla ou em conjunto! Embora eu nivele todos, por cima, com relação ao canto, gostaria de destacar JULIANA LINHARES, que vive a sua primeira protagonista, ainda que já tenha uma considerável carreira, pela forma como emite cada sílaba, das letras das canções, o que as valoriza demais. JULIANA é potiguar, nascida em Natal, razão pela qual eu não conhecia seus trabalhos anteriores, mas já me tornei um ardoroso fã de seu talento. Essa não volta mais para a “terrinha”, creio eu, visto que maiores oportunidades de trabalho pode ela encontrar por aqui, embora eu faça questão de dizer que sou amigo de grandes atores potiguares e conheço excelentes grupos de TEATRO do Rio Grande do Norte, assim como de outras partes do Brasil. Uma “cantriz” de grandes predicados e de facílima comunicação com a plateia. Alguns números musicais foram aplaudidos, após sua execução; nos solos dela, aconteceu sempre, acompanhado de alguns brados de “BRAVO!” (Deveria ser “BRAVA!”.).

Extraído, também, do excelente “release”: “A premiada autora CARLA FAOUR, estreante em musicais, conta que criou uma história sobre afetos, família e memórias, sem deixar de lado a crítica social, ao expor a urgência de preservação de nossos recursos naturais.”. Diz CARLA: “A música popular brasileira se inspirou, e se inspira, muito na natureza do Brasil. Quantas de nossas canções não falam sobre nossas águas, rios, animais, a flora, a terra e sobre nosso povo? E, se, por um lado, a gente tem essa biodiversidade, que é um tesouro planetário, também temos essa falta de cuidado com o meio ambiente, que traz consequências seriíssimas.”.

Bruno Garcia e Juliana Linhares.

Ainda diz o “release” que a “intenção do produtor GUSTAVO NUNES, ao idealizar o espetáculo, era explorar o tema das migrações existentes no Brasil, a partir de canções que emocionam e unem os habitantes das mais diversas regiões do país”. São suas estas palavras: “Minha vontade era fazer um resgate de músicas do cancioneiro nacional que não costumam ser tão prestigiadas no nosso TEATRO MUSICAL. Eu sentia falta de espetáculos que tratassem de nossas raízes, queria reunir canções com grande potência poética”.

Não poderia ser melhor a trilha sonora, escolhida a dedo, pela equipe criativa, na qual encontramos canções de Milton Nascimento, Chico César, Chico Buarque, Gilberto Gil, Jovelina Pérola Negra, entre outras. O diretor musical, TONY LUCCHESI, trabalhou com o acompanhamento do violonista GABRIEL QUINTO, ótimo, por sinal, ao vivo, e com alguns dos atores também tocando instrumentos musicais, em cena. “Além disso, todas as canções ganham novos arranjos, para aumentar a dramaticidade das cenas. As músicas foram escolhidas pela sua importância e beleza, mas também porque são essenciais para contar a história, de maneira forte e poética”, acrescenta TONY. Considero esse detalhe um dos mais importantes no espetáculo.

Eis o “set list” completo: “BATE CORAÇÃO” (Mary Maciel Ribeiro, Antônio Barros e Cecéu); “NADA SERÁ COMO ANTES” (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos); “A CORRENTEZA” (Luiz Bonfá e Antônio Carlos Jobim); “TUDO QUE VOCÊ PODIA SER” (Márcio Borges e Lô Borges); “TOCANDO EM FRENTE” (Almir Sater e Renato Teixeira); “MEDLEY 1”: “ABRE A PORTA, MARIQUINHA” (Zé do Rancho), “QUATRO SEMANAS DE AMOR” (Peter Udell, versão de Carlos Colla), “MORANGO DO NORDESTE” (Fernando Alves), “É O AMOR” (Zezé de Camargo), “EVIDÊNCIAS” (Paulo Sérgio Valle e José Augusto); MEDLEY 2: “MARAMBAIA (SÓ VENDO QUE BELEZA)” (Henricão e Rubens Campos), “COISINHA DO PAI” (Jorge Aragão e Almir Guineto), “QUANDO A GIRA GIROU” (Claudinho Guimarães), “VAI VADIAR” (Ratinho e Monarco), “ÁGUA DA MINHA SEDE” (Dudu Nobre e Roque Ferreira); “UM JEITO ESTÚPIDO DE TE AMAR” (Isolda); “NÃO APRENDI DIZER ADEUS” (Joel Marques); “ROMARIA” (Renato Teixeira); “ÁGUAS DE CACHOEIRA” (Jovelina Pérola Negra); “SANTO ANTÔNIO” (Ponto de “macumba” – autores desconhecidos); “BATE CORAÇÃO” (REPRISE); “ONDE ESTARÁ O MEU AMOR” (Chico César); “A CORRENTEZA” (REPRISE); “A BALADA DO LADO SEM LUZ” (Gilberto Gil). A última canção citada encerra, que, de forma apoteótica, o espetáculo, levou-me às lágrimas e a cantá-la, no meu carro, durante o trajeto de volta à minha casa.

A direção, a quatro mãos, de VINÍCIUS ARNEIRO e JOÃO FONSECA, que já trabalharam juntos, em “Cássia Eller – o Musical”, repete, aqui, o ótimo resultado obtido lá, trabalhando o texto, que trata de um tema bastante “pesado”, de forma poética e, às vezes, até meio lúdica e engraçada, pondo em prática a intenção da dramaturga. Esta, por sua vez, creio que intencionalmente, vai, com seus diálogos, nos conduzindo a algumas ilações, que, subitamente, desmoronam, como um castelo de areia, levado por uma onda do mar mais forte.

Como um triste sinal dos tempos – poucos recursos financeiros, para se montar uma peça teatral, ainda mais quando se trata de um musical –, a solução encontrada, para não utilizar uma banda ao vivo, no palco ou nos bastidores, levou TONY LUCCHESI a trabalhar com bases gravadas e, por cima delas, ao vivo, o violão de GABRIEL QUINTO, já citado, a rabeca, tocada por DANIEL CARNEIRO, e alguns instrumentos de percussão, por parte dos demais do elenco. O resultado disso é o melhor possível.

Bruno Garcia e Juliana Linhares.

A cenografia, de NELLO MARRESE, e a iluminação, de DANI SANCHEZ, “trocam longos e deliciosos bate-papos”, ao longo de toda a peça. Aquela é bem simples, com a utilização de um praticável baixo, que serve de mesa e de “palco”, algumas cadeiras e cordões com bandeirinhas coloridas, típicas das festas juninas. E basta, para criar o universo da fazenda. Esta é muito bonita. DANI consegue ótimos efeitos de luz, para nos arrebatar, fascinar mesmo, levando-nos a aplaudir o belo e a sofrer com outras situações. (Não adianta, que não darei “spoilers”. Vá assistir à peça, que só fica em cartaz até o dia 5 de junho próximo, apenas por duas semanas! VER SERVIÇO!).

FLÁVIO SOUZA foi bastante preciso nos figurinos, exatamente como cada personagem deveria ser composto, esteticamente.

Volto a fazer uma referência ao excelente elenco, para reforçar que cada ator/atriz conseguiu entender muito bem a participação de seu personagem na trama, alcançando, nesse aspecto, um resultado para lá de correto. E repito: interpretando e cantando, além de executarem uma coreografia simples, mas adequada às cenas em que ela existe. Na verdade, já conhecia, sim, o trabalho de JULIANA LINHARES (Agora, eu me lembrei.), mas não me recordava, por terem sido em personagens de pouca relevância, em “A Ópera do Malandro” e “Gabriela, um Musical”, ambos musicais dirigidos por João Falcão. BRUNO GARCIA, que sempre considerei um ótimo ator, me surpreendeu cantando. HAMILTON DIAS interpreta um americano que está aprendendo a falar português, com “o namorada” e é um gatilho, encontrado por CARLA FAOUR, para aliviar, um pouco, a tensão do espetáculo, por suas falas engraçadas e “ingênuas”. É um alívio, no meio de uma tragédia anunciada. (Continua curioso? Vá assistir à peça!)

FICHA TÉCNICA:

Idealização: Gustavo Nunes

Texto: Carla Faour

Direção Artística: João Fonseca e Vinícius Arneiro

Assistente de Direção: Dominique Arantes

Direção Musical: Tony Lucchesi

Violonista, Coarranjador e Direção Musical Residente: Gabriel Quinto

Cenografia: Nello Marrese

Iluminação: Dani Sanchez

Figurino: Flavio Souza

Elenco: Bruno Garcia, Juliana Linhares, Daniel Carneiro, Dani Câmara, Hamilton Dias e Natasha Jascalevich

Coordenação de Produção: Diogo Gallindo

Produção Executiva: Jenny Mezencio

“Design”: Julliana Della Costa

Fotos: Dalton Valério

Uma Produção Original: Turbilhão de Ideias

Apresentado por Brasilcap

Bruno Garcia.

Juliana Linhares.

SERVIÇO:

Temporada: de 26 de maio a 5 de junho de 2022.

Local: CCBB – Rio de Janeiro – Teatro I.

Endereço: Rua Primeiro de Março, nº 66 – Centro – Rio de Janeiro.

Informações: (21)3808-2020.

Dias e Horários: de 5ª feira a sábado, às 19h; domingo, às 18h.

Valor dos Ingressos: R$30,00 (inteira) e R$15,00 (meia entrada).

As vendas estão abertas na bilheteria do CCBB e no "site" Eventim (www.eventim.com.br/artist/teatro-ceuestrelado-omusical-ccbbrj/).

Duração: 90 minutos.

Classificação Indicativa: 12 anos.

Gênero: Comédia Dramática.

Assessoria de Imprensa: Racca Comunicação - Rachel Almeida (21)3579-1352 | (21)99196-1489 racca.almeida@gmail.com

O espetáculo inicia turnê, que vai passar pelas quatro unidades do CCBB: Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília e São Paulo. O projeto é patrocinado pela Brasilcap, empresa de capitalização da BB Seguros, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura.