domingo, 24 de outubro de 2021

 

“SUJEITO

A

REBOQUE”

ou

(O “SISTEMA” NOS SUFOCA.)

ou

(QUALQUER UM DE NÓS

PODERÁ SER 

“O PRÓXIMO”.)


(OBSERVAÇÃO: A temporada deverá ser prorrogada até o final de novembro.)


        Com raríssimas e inexplicáveis exceções, todos os que vão a um Teatro, para assistir a uma peça, fazem-no por vontade própria, movidos por algum interesse e, evidentemente, na expectativa de deixar a sala de espetáculo satisfeitos, felizes com o que acabaram de assistir, porque foram lá com o desejo de gostar, de aplaudir. É com esse propósito que sempre vou e, quando a peça corresponde às minhas expectativas, fico feliz; se extrapola, chego ao “estado de graça”, algo indescritível, embora Clarice Lispector tenha chegado próximo (“Quem já conheceu o estado de graça reconhecerá o que vou dizer. Não me refiro à inspiração, que é uma graça especial que, tantas vezes, acontece aos que lidam com arte.- Sugiro que leiam a crônica “Estado de Graça”.). Quando, porém, o espetáculo é ruim, o oposto do que eu esperava ver, os sentimentos de frustração, arrependimento, pena, desolação, raiva e, até mesmo, ódio, e outros semelhantes tomam conta de mim, e não consigo disfarçar.



        Na última 6ª feira, 22 de outubro de 2021, a convite de STELLA STEPHANY, assessora de imprensa (JSPONTES COMUNICAÇÃO), fui ao Teatro PetraGold, Sala Marília Pêra, para assistir a uma montagem que seria feita “on-line”, no que não poderia ser classificada como TEATRO, porém a produção e os envolvidos no projeto optaram por encenar o texto de HERTON GUSTAVO GRATTO presencialmente. E, já que falei no dramaturgo, confesso, com toda a minha sinceridade, que ele era a minha maior motivação para eu querer assistir à peça, uma vez que gosto muito da maioria dos seus textos. “Moléstia” é imbatível, e, agora, este “SUJEITO A REBOQUE”.

        Por total falta de tempo – não é outro o motivo -, esta crítica será mais curta (Espero.), na medida do possível, fugindo, um pouco, às minhas características, dc me dar o direito de dissecar item por item do espetáculo, de dar um mergulho abissal, até atingir o fundo do oceano, porém procurarei fazer uma análise completa, mas nem por isso extensa do espetáculo, em cujo “release” é apresentado como pertencente ao gênero “comédia dramática”. Até certo ponto, considero essa classificação meio equivocada. O público ri? Sim. Mas de nervoso, de tensão, de ódio a um dos dois personagens da trama.   


  

 

 

SINOPSE:

Através de uma história tragicômica, um homem que, ao tentar tirar, do depósito do DETRAN, o seu carro rebocado, acaba embaraçado num labirinto “kafkiano” e absurdo.

A peça reflete sobre a incomunicabilidade e a indiferença, hoje, tão presentes nas relações interpessoais.

Colocando uma lente de aumento da relação humana com a burocracia, a peça nos leva a refletir sobre até que ponto estamos reféns do “sistema”, essa entidade sem rosto nem endereço, que dita as regras a que somos submetidos.

 

 


Vou iniciar minhas considerações sobre a peça, comentando alguns pontos presentes na supra “SINOPSE”.

O “labirinto ‘kafikiano’” existe, sim, porque “habemos um Kafka entre nós”, o jovem e talentoso dramaturgo HERTON GUSTAVO GRATTO. Franz Kafka, um autor nascido na atual República Tcheca, falecido em 1924, autor de romances e contos, como “A Metamorfose" e “O Processo”, por exemplo, considerado, pelos críticos, como um dos escritores mais influentes do século XX, deve estar feliz, no seu túmulo, pelo “discípulo brasileiro”. Da mesma forma, devem estar festejando os autores mais consagrados do “Teatro do Absurdo” (Eugène Ionesco, Samuel Beckett, Arthur Adamov, Harold Pinter, Fernando Arrabal, Jean Genet e Edward Albee, que fazem parte da “diretoria do clubinho dos absurdistas”.). Por favor, não entendam que estou direcionando holofotes demais ao nosso jovem dramaturgo, querendo compará-lo a nenhum desses consagradíssimos autores, contudo, não podem deixar de admitir, os que assistiram ou assistirão à peça, que há um pouquinho deles todos, pitadas ou pílulas, em “SUJEITO A REBOQUE”. Foram fonte, para que HERTON saciasse a sua sede.


                     


Penso que o objetivo do texto de “SUJEITO A REBOQUE” vai além do que, apenas – e já seria muito – propor uma reflexão acerca da “incomunicabilidade e a indiferença, hoje, tão presentes nas relações”. Ele faz uma grave denúncia sobre a falta de empatia, “doença” dos nossos dias, caminhando para uma epidemia - se é que já não pode ser considerada uma -, de falta de amor e respeito ao próximo, e contra a capacidade de um Homem, dito “ser racional”, pôr em prática a racionalidade, característica que o difere dos outros animais, os “irracionais”, os quais, por exemplo, só matam para se  defender e às suas proles ou para matar a fome, além de outras tantas ações positivas, que o Homem não pratica. Não estaria na hora de trocarmos os adjetivos, invertendo-lhes a aplicação?



A “lente de aumento da relação humana com a burocracia”, da qual a “SINOPSE” diz que o autor do texto se utiliza, não me parece um exagero, pois, guardadas as devidas proporções, estamos bem perto das situações “bizarras” que vemos encenadas, a última, em especial. Aliás, já vi casos muito semelhantes serem abordados em telejornais; e, quanto à primeira, eu mesmo vivi algo bem parecido. No que diz respeito a sermos “reféns do ‘sistema’”, não há nada a discutir ou não existem meios para contestar tal nefasta verdade. Nós os somos mesmo. E não dispomos de armas para, pelo menos, tentar lutar contra ele. E, quando tentamos fazê-lo, nadamos contra a corrente e, extremamente exaustos e vencidos, vamos dar à praia.



O “sistema” – perdão pela, talvez, “absurda” comparação – guarda uma certa identidade com o flagelo que vimos enfrentando há quase dois anos, a COVID-19. Em que aspecto? Poderão, os que me leem, já estar querendo me enquadrar como um “absurdista” também – e, talvez, eu o seja -, porém, antes que pensem em me internar num manicômio, direi por que cheguei a tal analogia. Um vírus, algo identificável apenas sob a potência de lentes de aumento, é capaz de fazer milhões de vítimas fatais, mundo afora, sem que quase nada possamos fazer para combatê-lo e vencê-lo; apenas, ainda, conseguimos uma certa defesa, por meio de uma vacina (VIVA O SUS! VIVA A CIÊNCIA! VIVA OS CIENTISTAS!). O “sistema” é um “ser” amorfo e indetectável, até mesmo pelo mais possante telescópio da NASA; só é percebido, sentido, quando atua. E é o tempo todo, em qualquer lugar, em qualquer situação. Um “ser do mal, criado pelo demônio – só pode ser - para infernizar a vida dos humanoides, até, se possível, levá-los às raias da loucura ou a responder a ele com reações extremamente agressivas, chegando à morte, por assassinato ou suicídio, em certos casos. Um filme de 1972, baseado num fato real -isso é muito importante -, “Um Dia de Cão”, estrelando Al Pacino (Sonny) e John Cazale (Sal) ilustra bem o que acabo de dizer.



E olha só como não consigo cumprir minhas promessas! Já estamos diante de um “textão”, e falta muito a ser dito ainda. Vou tentar finalizar as considerações sobre o texto, que considero impecável. HERTON utiliza diálogos bem ágeis, o que vai propiciar bastante dinamismo às ações. Usa um vocabulário bem característico dos dois personagens, sendo direto e cruel, por vezes, mas realista ao extremo, em certas frases. Mas isso é totalmente necessário. Não sei se chega a chocar o espectador, mas incomoda-o, com certeza. O autor vai criando situações de embate, que fazem com que a plateia, mesmo sem querer, tome partido do personagem considerado uma “vítima” do tal maldito “sistema”, este representado por um burocrata, que tem um paralelepípedo no lugar do coração, por “fidelidade às leis, ao que preconizam os ditames da lei”. É incrível como o dramaturgo leva os espectadores à proximidade, não de um dia, mas de um momento de fúria, como vontade de subir ao palco e espancar o intransigente funcionário burocrata, por total empatia com relação a um homem que paga por um erro não cometido e por uma distração.



A peça é curta, dura 50 minutos E não precisava de mais que isso. Na metade, porém, quando, depois de muito sofrer, o pobre do cidadão honesto e contribuinte, consegue reaver seu automóvel, que fora, erradamente, rebocado, pelo fato de o motorista, ter estacionado num local onde não havia uma placa que indicasse ser um ponto proibido para estacionamento (Isso já me ocorreu.), eu olhei para o relógio e me fiz, internamente, duas perguntas: Mas a peça, apesar de boa, só dura 30 minutos, aproximadamente? Se não acabou, o que o HERTON vai aprontar, o que ele pode fazer, para “dar linha a essa pipa”? E não é que o espetáculo continua e o dramaturgo nos põe diante de uma situação totalmente esdrúxula, pior, ainda, que a primeira; macabra, irracional, incompreensível, revoltante, mas que já soube ter ocorrido, várias vezes, na vida real?!



Chega de falar do texto e passemos a voltar nossos aplausos à ótima direção de EMILIO ORCIOLLO NETTO, mais conhecido como um bom ator do que como diretor, atividade na qual também demonstra talento. EMILIO conseguiu extrair o melhor de cada um dos dois atores, levando-os a despertar, no público, comiseração e ódio, no que cada um dos personagens traz de suas características pessoais, não deixando que o espetáculo despencasse para uma comédia rasgada ou para um melodrama. Ele dosa as duas coisas e atinge o tom certo, para fazer com que tudo o que o autor deseja que chegue aos espectadores aconteça da forma mais natural possível. O Teatro do Absurdo exige isso: que o improvável e o “estranho” sejam ditos e executados com a maior naturalidade possível. É bom, também, falar que, sob sua batuta, não há, no espetáculo, espaços para “barrigas”. Dessa forma, consegue dinamizar bastante as ações, com marcações perfeitas, levando as pessoas a não ficarem quietas, acomodadas, inertes, em suas poltronas.



De que adianta um texto de primeira qualidade e um diretor competente, que soube decodificar, nas palavras do dramaturgo, todas as mensagens que este queria passar e traduziu-as num belo trabalho de condução dos atores, se estes não conseguem acompanhar toda essa qualidade e fazer a coisa certa? Acho que já deu para perceber que o meu entusiasmo por esta montagem se concentra, principalmente, nos dois elementos já analisados e no trabalho dos dois ótimos atores, LEONARDO PAES LEME e GUSTAVO NOVAES, dois profissionais cujos nomes podem representar pouco, para o público amante do TEATRO, mas cujos trabalhos merecem ser conhecidos, e reconhecidos, uma vez que são dois profissionais do maior gabarito.

A idealização do projeto é de JOÃO CAMPANY.



LEONARDO é mais um ator das telas (cinema e TV) do que das tábuas. Raríssimos trabalhos dele eu assisti no TEATRO e, como não sou chegado às telas (todas), confesso que não me lembrava bem se suas atuações nos palcos, porém digo duas coisas: que ele deveria se dedicar mais ao TEATRO e que, de agora em diante, procurarei não perder uma peça em que ele atue. Em “SUJEITO A REBOQUE”, ele faz, duplamente, a “vítima do sistema”. E o faz muito bem, convence o público de seu drama pessoal.

Quanto a GUSTAVO NOVAES, um ator paulistano, também se trata de um profissional que se dedica muito mais ao cinema e à TV, em cerca de 30 anos de carreira, motivos pelos quais, a não ser que esteja sendo traído por minha memória, eu nunca o vi ocupando um palco de TEATRO e que foi, para mim, uma gratíssima surpresa. Ele interpreta o “representante do sistema” e, como não poderia deixar de ser, para que isso incomode bastante o espectador e o tire de sua zona de conforto, faz uso de muito tom de deboche, ironia, escárnio, insensibilidade, registados na sua voz e nas máscaras faciais e inflexões das quais faz uso, o tempo todo, sem deixar de falar do texto, é claro. Que ódio do personagem! Também não quero perder mais nenhum trabalho de palco do GUSTAVO.



Nenhum deles tem nome (Acho que a "vítima" se chama ANTAR, mas isso, praticamente, não é notado pelo público.), na peça, pois representam duas coletividades: a dos homens de bem, no melhor sentido da palavra, e a dos canalhas, idem. O personagem de LEONARDO, como já afirmei é a vítima, o oprimido, e o de GUSTAVO é a personificação do “sistema”, o opressor.

A peça se passa em dois espaços: uma repartição do DETRAN e o IML (Instituto Médico Legal), mas o cenário, a cara da burocracia, de FERNANDA TEIXEIRA, é o mesmo, pois ambos guardam relações de semelhança. São dois “espaços burocráticos” (ou “burrocráticos”), com mesa, cadeiras (para os requerentes), arquivos, muitos papéis e carimbos... Simples, porém perfeitamente adaptado à proposta do espetáculo.



Os figurinos, de MARIANA BARRETO ORCIOLLO, esposa de EMILIO, discretos e de acordo com os personagens, não apresentam nada de especial a ser comentado, a não ser o fato de o do funcionário burocrata, seja no DETRAN, seja no IML, permanecer o mesmo, o que eu entendi como sendo uma espécie de “característica desse tipo de gente”. Será que “viajei na maionese”? Os figurinos do personagem de LEONARDO sofrem pequenas modificações.

Nada de especial a comentar sobre a iluminação, assinada por LUCIANO XAVIER, a não ser que ela é correta e bem aplicada a cada cena. Uma análise muito superficial, não é mesmo? Concordo! Talvez porque eu tenha me ligado tanto aos outros elementos (Falha minha!), que deixei de prestar a devida atenção a este importante elemento, numa montagem teatral, pelo que me penitencio.



 

 

FICHA TÉCNICA:

 

Texto: Herton Gustavo Gratto

Idealização: João Campany

Direção: Emilio Orciollo Netto

 

Elenco: Leonardo Paes Leme e Gustavo Novaes

 

Cenografia: Fernanda Teixeira

Figurino: Mariana Barretto Orciollo

Iluminação: Luciano Xavier

Direção de Movimento: Úrsula Mandina

Trilha Sonora: Plínio Profeta

Fotos: Cristina Granato e Guilherme Maia

Produção: Leonardo Paes Leme

Direção de Produção: Maria Alice Silvério

Assessoria de Imprensa: JSPontes Comunicação – João Pontes e Stella Stephany

 

 




 

SERVIÇO:

 

Local: Teatro PetraGold (Sala Marília Pêra)

Endereço: Rua Conde de Bernadotte, 26 – Leblon – Rio de Janeiro - RJ

Telefone: (21) 2529-7700

Dias e Horários: Todas as 6ªs feiras de outubro e novembro, às 20h

Valor do ingresso: R$60,00 (inteira) e R$30,00 (meia entrada)

Vendas pelo SYMPLA ou na bilheteria do Teatro (até uma hora de antecedência do dia da sessão)

Capacidade Presencial: 117 espectadores (em obediência ao distanciamento social)

Indicação Etária: Livre

Duração: 50 minutos

Gênero: Comédia Dramática

 

 



Não tenho a menor vergonha, o menor pudor, em dizer que fui ao Teatro PetraGold com uma expectativa “x”, não muito alta, com não muita empolgação, e saí de lá com a certeza de que aquele “x” se multiplicou a uma elevada potência, em função de tudo o que já disse sobre esta montagem, o que me faz recomendá-la, na certeza de que aqueles que aceitarem a minha recomendação não terão motivos para arrependimento. Muito pelo contrário, apesar de eu já estar avisando que esqueçam um pouco a comédia e se preparem para violentos golpes na boca do estômago, dos quais, muitas vezes, carecemos, a fim de que acordemos para a realidade e nos organizemos, para lutar contra e destruir esse maldito “sistema”.


(Foto: Gilberto Bartholo)


(Foto: Gilberto Bartholo)



(Os atores e o diretor.)



FOTOS: CRISTINA GRANATO

e

GUILHERME MAIA.




E VAMOS AO TEATRO,

COM TODOS OS CUIDADOS!!!

 

OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO

 DO BRASIL,

COM TODOS OS CUIDADOS!!!

 

A ARTE EDUCA E CONSTRÓI, SEMPRE!!!

 

RESISTAMOS, SEMPRE MAIS!!!

 

COMPARTILHEM ESTE TEXTO,

PARA QUE, JUNTOS,

POSSAMOS DIVULGAR

O QUE HÁ DE MELHOR NO

TEATRO BRASILEIRO!!!























 

























 

 



















 

   

 

 

 

 

 

 

 

sábado, 23 de outubro de 2021

 

“CAPIROTO”

ou

(MAS PODE ME CHAMAR DE DIABO,

DEMÔNIO, BELZEBU

ANJO MAU

TINHOSO – “ADORO ESSE NOME!” -, 

ANJO DAS TREVASLÚCIFER

CANHOTOCÃO

CÃO-TINHOSO

CHIFRUDOCORNUDO, MALDITO

MALIGNOPAI DO MAL, SATÃ

SATANÁS, PRÍNCIPE DAS TREVAS...)

ou

(VOCÊS VIVEM COMETENDO

AS MAIORES ATROCIDADES,

E O DIABO SOU EU?!

ME POUPEM!!!)

ou

(“VOCÊ E EU SOMOS IGUAIS /

NÃO MUDAMOS JAMAIS.” –

EVALDO GOUVEIA E JAIR AMORIM.










        Esta crítica já era para ter sido publicada há cerca de dois meses, porém um fato bem inusitado impediu-me de fazê-lo. Foi o terceiro espetáculo presencial a que assisti, no dia 6 de agosto de 2021, na parte externa do Teatro Prudential, durante este período pandêmico (COVID-19). Morrendo de medo, ainda, eu fui, porque queria muito assistir à montagem, entusiasmadíssimo que fiquei e, da mesma forma, interessado nela, pelo que li no “release”, a mim enviado por ALESSANDRA COSTA, da assessoria de imprensa.


(JR)


Fiquei com a impressão de que não perderia o meu tempo e que valeria a pena enfrentar aquele medo e a insegurança, indo até onde o artista está, função de um crítico de TEATRO, seja lá aonde for, e não o vendo atuar por uma tela. Se é TEATRO, ele só existe, se for presencial. Só pela proposta da peça e por sua ficha técnica, com destaque para o protagonista, LEANDRO MELO – trata-se de um monólogo -, agendei, com a ALESSANDRA, rezei “846.932 vezes”, para os meus santos de fé, implorando-lhes que me poupassem de ser infectado, e parti, “cheio de amor pra dar”, para o bairro da Glória, no Rio de Janeiro, onde fica localizado o Teatro, cruzando a cidade, em, aproximadamente, 30 quilômetros.


(JR)


        Tudo correu às mil maravilhas. O Teatro oferece o máximo, em segurança, para todos, público e artistas. Ocupei o meu lugar, na terceira fila, e esperei, ansioso, que o espetáculo começasse. A felicidade de encontrar vários amigos “da classe” já me empolgava. Imaginei o que sentiria diante daquele “CAPIROTO”.


(JR)


        Ocorreu, contudo, um fato mais que estranho. Se alguém me perguntasse, terminada a sessão, se eu havia gostado da peça, eu não saberia dizer “sim ou não”. Poderão falar que isso é natural, que, muitas vezes, precisamos de um certo tempo, para fazer amadurecer uma opinião, refletir, pesar os prós e contras, testar as ponderações necessárias e chegar a uma única resposta: gostei ou não gostei”. (Nunca perco a oportunidade de lembrar que só escrevo sobre o que me agrada.). Sei muito bem disso, porque já me ocorreu várias vezes. Curiosamente, pelo que já fui sabendo acerca da montagem, do texto, principalmente, e sua proposta, e pelo que me foi dado apreciar, do ponto de vista da plasticidade, eu poderia dizer que tinha a certeza de que a peça era boa, no entanto um “pequenino detalhe” fez toda a diferença, e só ele bastou para que eu saísse do Teatro bastante triste e, não vou esconder, muito irritado. Quero esquecer aquela noite, à exceção dos encontros com os amigos. Motivo? Tudo me pareceu perfeito: a interpretação do ator, a direção, os elementos cênicos (cenografia, figurino, iluminação, trilha sonora...), mas quem vai a um Teatro, para assistir a uma peça que tenha um texto verbal, quer, e precisa, ouvir as palavras, as frases, o que está sendo dito, e, por um seriíssimo problema técnico, que, parece-me, foi, parcialmente, resolvido, a partir do dia seguinte (Fui no dia da estreia.), mas não totalmente, não devo ter ouvido 80% do texto, ou mais, a despeito de estar sentado num lugar privilegiado, bem à frente. E esse comentário era geral, à saída. Quase todo mundo fazia a mesma reclamação. Ninguém conseguira ouvir bem o texto. Muito desagradável mesmo! É que aquele espaço externo do Teatro Prudential é ótimo para “shows”, como muitos que já foram e estão sendo, ainda, apresentados lá, porém não se presta a uma montagem teatral.


(JR)


        Conversei, por muito tempo, com o LEANDRO, um querido e velho amigo, logo após o término da sessão, ele vestindo um roupão (Ou seria um refinadíssimo “robe de chambre”?), para ocultar a nudez da última cena, e disse-lhe, com a maior sinceridade, que deve haver entre os amigos, tudo o que estou dizendo agora, acrescentando que a minha tristeza maior é que eu acreditava que o espetáculo era, realmente, da melhor qualidade, porém não poderia escrever sobre ele, o que mais eu desejava naquele momento, pelo fato de não ter ouvido o texto. E acrescentei que invocaria os “Deuses do TEATRO”, para que o espetáculo fizesse uma nova temporada, numa sala fechada, com uma boa acústica e uma aparelhagem de som de alta qualidade, e que, inclusive, pudesse dispensar a utilização de microfones, OS QUAIS FORAM O GRANDE PROBLEMA DA PRIMEIRA TEMPORADA.). Prometi-lhe que, se isso acontecesse – tinha a certeza de que iria acontecer -, eu faria questão de estar presente, na estreia, sentado na primeira fila (Poltrona A2.), o que, de fato, ocorreu anteontem, dia 21 de outubro/2021), quando o monólogo reestreou, para curtíssima temporada, infelizmente, agora no Teatro Firjan SESI, no Centro do Rio de Janeiro, e que iria escrever uma crítica sobre a peça, uma boa crítica, à altura da qualidade do espetáculo. E a promessa está sendo cumprida.


(JR)


        Então, aos trabalhos!



(JR)

 


SINOPSE:

 

Você já viu o “DIABO”?

E se ele não “existisse”, de quem seria a culpa das mazelas humanas?

Só o próprio “CAPIROTO” poderá responder!

 

 


(JR)


        Quem me lê deve estar se perguntando o que eu vi de tão interessante, de tão instigante, numa “microssinopse” (quase um pleonasmo) como a desta peça, “que diz tão pouco”. Parece pouco, curta, rasa, mas é muito profunda, quando lemos a proposta que nos faz o autor e diretor da montagem, RODRIGO FRANÇA, texto também presente no já citado “release”, complementando a “SINOPSE”, uma vez que, por trás de tudo, “A peça propõe uma reflexão sobre a apropriação religiosa, exclusão, fé, tolerância e respeito às religiões não cristãs.”.


(JR)


        É lógico que todos já sabem que “CAPIROTO”, como consta num dos subtítulos desta crítica, é uma das muitas denominações do DIABO, assim como tantos outros substantivos que lá estão. E há muitos mais, alguns frutos de regionalismos. Na tradição judaico-cristã, representa uma figura do mal, em oposição a Deus, ícone máximo e extremo do bem e da bondade. Mas as representações dos santos da Igreja Católica não ocorrem nas religiões de matriz africana, o que muitos não sabem, e isso provoca terríveis equívocos. Falar, com profundidade, sobre isso implicaria gastar muito tempo e tornar este trabalho, por demais, longo, cansativo, enfadonho, mas sugiro que pesquisem sobe a figura do DIABO, nas religiões de origem africana, se tiverem o interesse que me moveu, para escrever esta crítica.


(JR)


Em algum sentido, “forçando um pouquinho a barra”, isso tem, de certa forma, a ver com o sincretismo religioso, surgido do “confronto” entre brancos e negros, escravos, no Brasil, durante o período da escravidão. (Passou esse tempo?! Isso é uma provocação, sim.) Perseguidos pelos senhores, cristãos, que queriam catequizá-los e torná-los católicos, fazendo-os renegar as suas religiões, os escravos, arraigados às suas crenças e à sua cultura, inteligentemente, associaram seus orixás, mais ligados aos fenômenos e elementos da Natureza, os quais não tinham uma representação icônica, às imagens dos santos da Igreja Católica, para que pudessem continuar a cultuá-los, dentro das senzalas, sem sofrer sanções e castigos terríveis. Cada um dos 16 orixás – as entidades cultuadas no candomblé e na umbanda – corresponde a um ou mais santos católicos. (A distância entre as fazendas e a dificuldade de comunicação entre os escravos provocaram algumas divergências nesse sincretismo.). Eis algumas das correlações:  Exú = Santo Antônio de Pemba ou Santo Antônio; Oxalá = Jesus Cristo ou Senhor do Bonfim; Ogum = São Jorge ou Santo Antônio; Oxóssi = São Sebastião, Santo Antônio ou São Jorge; Xangô = São Pedro, São Jerônimo ou São João; Obaluaê/Omolu = São Lázaro ou São Roque; Logun  Edé = Santo Expedito; Oxum = Nossa Senhora Aparecida ou Nossa Senhora da Conceição; Iemanjá = Nossa Senhora das Candeias, Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora dos Navegantes ou Nossa Senhora da Glória; Iansã = Santa Bárbara; Nanã Buruquê = Nossa Senhora Sant’Ana; Ibeji = Cosme e Damião... Minha pesquisa pode conter alguns “equívocos”, admito, pelos quais já, antecipadamente, peço desculpas aos iniciados nas religiões de matriz africana, uma vez que “a internet é confiável até a página 5” e não tive tempo de checar o que encontrei, com algumas pessoas que pensei consultar. Mas isso não fará a menor diferença, aqui, quanto à análise da peça, a que me proponho.


(JR)


Enquanto, no catolicismo, as imagens dos santos ficam nos altares, nas religiões vindas da África, elas estão num “congá”, a mesma coisa, e, todas as vezes em que os escravos eram surpreendidos, em cultos a seus orixás, diante de seus “congás”, os capatazes julgavam que eles estavam voltando suas crenças e preces aos santos católicos e que, portanto, haviam sido convertidos à religião de seus senhores. “Inocentes!”


(JR)


Eu disse que seria como “uma espécie desse sincretismo”, uma vez que o DIABO passou a equivaler à figura do Exu, sem que o seja (Na peça, inclusive, em certo momento, o personagem grita, e repete: “EU NÃO SOU EXU!”.), representado, nas casas que vendem produtos utilizados em rituais para a umbanda ou candomblé, por exemplo, por um ser humanoide, ou próximo a isso, todo vermelho, com chifres, rabo e um tridente numa das mãos. A equivalência feminina ficou para a Pomba-Gira, ambos, equivocadamente, considerados “do mal”, pelos leigos, não católicos, visão que se estendeu, velozmente e com uma aversão incomensurável, gritante, estúpida e inaceitável, aos evangélicos. Um tremendo equívoco. Embora eu não seja ligado às religiões de matriz africana, já visitei alguns terreiros de umbanda (De candomblé, nunca, mas gostaria de.), para conhecer um pouco sobre elas. Também leio, vez por outra, sobre o assunto e converso com os seus fiéis. Sou curioso e aprendi um pouco sobre esse grande equívoco, que a peça procura desmitificar.


(JR)


        Vejamos o que diz, nesse sentido, o roteirista e diretor, RODRIGO FRANÇA; O espetáculo explicita as apropriações religiosas, ao longo do tempo, que determinava que alguns deuses eram personificações do mal. Algumas sociedades foram destruídas por essa estrutura dominadora. Não falamos sobre religião. Falamos sobre o homem que mata, exclui, escraviza, gera miséria, em nome da sua fé, dinheiro e poder. ‘CAPIROTO’ busca desdemonizar as divindades das sociedades e / ou grupos não cristãos, através da tolerância e do respeito entre as diferenças. Acredito que a humanidade não errou. Quem faz as maiores atrocidades, por conta do poder econômico, financeiro e político, tem raça, gênero, faixa etária, orientação sexual e classe. Então, a peça também fala com essa ponta da pirâmide social. Precisamos falar sobre essa tendência do ser humano em terceirizar a maldade que faz.”.


(JR)


E isso não basta, para aguçar a nossa curiosidade sobre o espetáculo?! Aplaudo, com bastante vigor, FRANÇA, pelas palavras acima, assim como pelo brilhante texto da peça, agora que tive a oportunidade de ouvi-lo na íntegra.


(JR)


        E continua RODRIGO: “Ao falarmos sobre o século XXI, muitos, logo, apontam essa como a era da tecnologia, da razão e da ampla circulação do conhecimento. Sob tal quadro, fica difícil imaginar que a figura mítica do demônio tenha espaço na explicação do mundo ou no próprio imaginário das pessoas. De fato, desde que o mundo é mundo, pode-se observar que as culturas ocidentais e orientais elaboram formas de explicar as mazelas que nos afligem. Nesse esforço, a construção de uma figura maligna, acaba assumindo os valores morais e comportamentos de menor prestígio, em nossa cultura. Nas religiões cristãs, judaica e islâmica, o mal encarna a figura de um indivíduo que se opõe a Deus e busca atormentar a vida de todos os seguidores de tais religiões.”. A gente sempre procura encontrar alguém ou algo, para lhes atribuir a culpa por nossos erros e fraquezas. Terceirizar, como já disse RODRIGO FRANÇA, os nossos humanos “pecados” parece nos redimir deles. Ou não é assim mesmo?! Às favas com a empatia e o amor ao próximo! Pensamento do Homem.


(JR)


        E mais, da lavra de RODRIGO FRANÇA, que merece fazer parte deste meu trabalho, ainda extraído do já citado “release” da peça: “Atualmente, a descrença no Diabo acaba alimentando um interessante debate entre os pensadores da cultura. Para alguns destes, acreditar no Diabo é algo fundamental, para que a sociedade reforce os seus limites éticos e morais. Desconstruir uma imagem do mal pode levar as pessoas a, simplesmente, ignorar os comportamentos hediondos. No fim das contas, acreditar nas forças malignas não deixa de ser uma forma de reforço às qualidades positivas do indivíduo. O desenvolvimento da figura diabólica é fruto das várias dualidades que permeiam o cotidiano do homem. O belo e o feio, a sorte e o azar, o certo e o errado, a vida e a morte compõem jogos em que um lado assume significação positiva e o outro, necessariamente, uma posição completamente negativa. Dessa forma, não se enganem aqueles que acreditam que o universo demoníaco seja somente um traço singular às três religiões anteriormente citadas.”.


(RC)


        Vamos, então, partir para a análise crítica de cada um dos pilares que sustentam a ótima montagem de “CAPIROTO”, a começar pelo texto, que já disse ser excelente, com ótimas “tiradas” de um humor cáustico, bastante crítico, e didático, ao mesmo tempo. Durante todo o espetáculo, o personagem só deseja dizer ao público, representando a humanidade, quão hipócritas somos todos nós, “diabos” que assumem aparências diversas, mas todos com a mesma índole e sujeitos a fraquezas; uns mais, outros menos, mas ninguém escapa. Ele nos apresenta um corolário de acusações, todas pertinentes, o que é mais triste. E que cada um faça o seu “mea culpa”! Se tiver coragem e a hombridade para fazê-lo.


(RC)


Tudo isso se dá por meio de um magnífico texto – agora, posso dizê-lo, sem titubear -, que provoca muitos risos e algumas gargalhadas, que nada mais são do que fruto de uma catarse que cada um pode fazer, diante de alguma frase mais incisiva ou de uma acusação mais que verdadeira, da qual parece que procuramos fugir ou jogar para debaixo do tapete, ao longo de nossas vidas. Por vezes, um riso “nervoso”; em outras, não. É muito importante registrar que, para chegar à dramaturgia, RODRIGO FRANÇA contou com a preciosa colaboração de JONATHAN RAYMUNDO, numa profunda pesquisa historiográfica.


(RC)


O resultado desse trabalho de pesquisa serviu de base para o texto de uma peça “permeada de perseguições de cunho religioso, com suas máximas expressões de intolerância, em nome de Alá, Jesus, Maomé, Deus... ‘Inveja’, ‘ódio’, ‘mortes’, ‘injúrias’, ‘calúnias’, ‘perseguições’ e ‘torturas’ são algumas das palavras que passaram a ser usadas no lugar de ‘tolerância’, ‘amor’ e ‘respeito’, na construção mútua da civilidade humana.”.


(RC)


O texto da peça, indiscutivelmente, para mim, o melhor, até agora, de toda a carreira de dramaturgo de RODRIGO FRANÇA, lança uma instigante provocação, que é levar o público a se questionar, voltado para tudo o que aprendeu, nas escolas formais, oficiais, e na escola da vida, acerca da capacidade dos “humanos” de serem cruéis, egocêntricos, egoístas, desrespeitosos, intolerantes e indiferentes para com os seus semelhantes. Exemplos disso, desde os primórdios da presença do Homem na Terra (QUE É REDONDA!!!), não faltam, mas basta um só, para termos a certeza de que também somos “diabos”: a “Santa Inquisição”, durante a qual, em nome de um Deus da Igreja Católica, tanto se matou, tantas vidas humanas foram sacrificadas em fogueiras. E esse tipo de racismo, essa intolerância religiosa chegou aos nossos dias, não podemos negar, atenuada, ainda bem, porém jamais aceitável, quando fanáticos e ignorantes, o que vêm a ser sinônimos – falo, principalmente, de alguns evangélicos – invadem terreiros de religiões de matriz africana, destruindo-os, quebrando tudo o que encontram pela frente, verdadeiros vândalos, para “proteger a sua fé”, que julgam ser a única a merecer crédito, porém sob a marca do ódio.


(RC)


        Para viver o personagem-título, assevero ter sido um acerto e tanto a escolha de LEANDRO MELO, um ator muito aplicado e versátil, que, além de saber dominar a voz, para dizer o texto e também cantar (A cena em que ele canta a canção “Lilium”, deitado sobre uma mesa, é de arrepiar, aplaudida, prolongadamente, após seu término.), além de emprestar as corretas inflexões às falas de seus personagens; a este, em especial. LEANDRO tem um porte físico privilegiado e invejável e um domínio desse corpo, em cena, que poucos atores conseguem, graças à sua sólida formação na dança. É claro que, aqui, cabe, direta ou indiretamente, um elogio ao brilhante trabalho de corpo, de direção de movimento, creditado a KENNEDY LIMA. Mas os aplausos são mais dirigidos, obviamente, à entrega do ator ao personagem. Nota-se, em seu trabalho, que ele o executa com muito prazer e parece se divertir bastante com o que faz, tornando, em alguns momentos, o que poderia ser “pesado”, em algo leve, engraçado, divertido, conduzido pelo atalho do humor.


(RC)


        Engana-se quem pensa que vai encontrar um DIABO sério, raivoso, destilando fel, a lhe escorrer pelos cantos da boca. Esqueçam isso! De forma genial, merecedora de premiações, LEANDRO MELO, nos apresenta a um DIABO que diz as maiores verdades, faz as mais afiadas acusações ao Homem, fala as coisas mais sérias, graves e certas, de uma forma direcionada, debochada, irônica e, ao mesmo tempo, muito divertida, sabendo explorar a sua veia cômica. Não lhe sai da boca uma única palavra que não venha carregada de uma firme lucidez, de uma convicção inquestionável, de uma forma que nos prende a atenção, da primeira à última frase. E, como se já não bastasse, esbanja sensualidade, coragem e despudor, numa prolongada cena de nu frontal, circulando pelo palco, jogando-se ao chão, a qual, absolutamente pode chocar alguém sensato e não pudico, uma vez que, no contexto da peça, é extremamente necessária.


(RC)


Já assisti a vários trabalhos de LEANDRO, incluindo sua participação num espetáculo totalmente diferente deste, mas igualmente arrojado, “Dzi Croquetes em Bandália”, em 2012, quando o conheci e nos tornamos amigos, na Sala Marília Pêra, do antigo Teatro Leblon, hoje PetraGold, seu primeiro trabalho, no Rio de Janeiro, recém-chegado de passagens por várias cidades brasileiras, onde morou e estudou, fez sua formação acadêmica, para o TEATRO, tendo nascido em Alto Floresta, uma cidadezinha no meio da Amazônia. De lá para cá, jamais deixei de assistir a qualquer espetáculo do qual ele fez parte, incluindo musicais, e sinto, a cada dia, seu crescimento, como um artista completo, que canta, dança e representa. E tenho a certeza de que ainda poderá render muito mais, pelo amor que tem a seu ofício.


(JR)


Eu poderia tecer muitos elogios à corretíssima direção de RODRIGO FRANÇA, contudo restrinjo-me a dizer, apenas – e não é preciso mais que isto -, que, além de muito criativa, o diretor soube tirar partido de todos os elementos e possibilidades que lhe chegaram à mão, deixando, como legado, o que julgo ser seu melhor trabalho de direção e um dos mais interessantes a que venho assistido, nos últimos tempos. A cena de como e por que se deu o “pecado capital”, por exemplo, é fantástica, sendo que esta e várias outras mereceram, na noite de anteontem, aplausos em cena aberta, o que, certamente, ocorrerá em toda a temporada.


(JR)

   

Quem idealizou o fantástico cenário de “CAPIROTO” foi WANDERLEY GOMES, um multiartista, também responsável pelos figurinos da peça. Começarei pela cenografia, que engloba uma enorme mesa, de metal e vidro, com algumas gavetas, de onde saem objetos de cena. Sobre ela, numa das pontas, um grande e deslumbrante tabuleiro de xadrez, com peças em vidro. Completam esse cenário uma cadeira de escritório, branca, com rodinhas, detalhe importante, para a sua utilização em cena. Ao fundo, cinco espécies de vitrais, em formato gótico, se não me equivoco, nos quais são projetadas, de acordo com a exigência da cena, figuras de divindades, entidades e outros seres. O mais importante, neste cenário, além de sua beleza e criatividade, é o fato de que nada, nele, deixa de estar a serviço da montagem. Tudo importa neste brilhante trabalho de WANDERLEY GOMES.


(RC)


Sobre o WANDERLEY figurinista, os mais merecidos aplausos, pelas duas vestes que o personagem exibe em cena. Durante quase todo o espetáculo, o “CAPIROTO” veste-se com uma elegância invejável, como ele próprio, por esnobação e deboche, diz ser um “Prada”. Um “Prada” criado por WANDERLEY GOMES, que cai, impecavelmente, no ator / personagem. Trata-se de um terno, com colete e gravata borboleta, numa cor vermelha, puxando para o bordô, talhado, milimetricamente, para o corpo de LEANDRO, com um caimento próprio de um refinado trabalho de alfaiataria. Sapatos finos, clássicos, sem meia. Após a já comentada cena de nudez, até os agradecimentos, o, também já referido, roupão / ”robe de chambre”, num tom neutro, variando entre o bege e o marrom, é uma peça que eu gostaria de ter no meu guarda-roupa, por sua beleza, com destaque para os bordados. Não sei se foi desenhada pelo figurinista e confeccionada, especialmente, para a peça ou se foi comprada em alguma loja do ramo, porém o bom gosto impera nela. O cenário e o figurino, frutos do trabalho e da criatividade de um mesmo artista, WANDERLEY GOMES, são dois detalhes que se destacam nesta montagem.


(RC)


Da mesma forma, considero o lindo desenho de luz, assinado por PEDRO CARNEIRO, uma das melhores iluminações a que tive a oportunidade de ter acesso nos últimos tempos. Sua paleta de cores, usadas estas em momentos precisos, cria imagens, ou melhor, realçam-nas, provocando um deleite aos nossos olhos e, certamente, ajudando na obtenção dos resultados desejados pela direção. Um trabalho que me agradou sobremaneira, da mesma forma como me deixei emocionar pela linda e precisa trilha sonora e pelos efeitos de sonoplastia, cujo nome do artista criador é JOÃO VINÍCIUS BARBOSA.


(RC)


A figura do “CAPIROTO”, para ser perfeita, como nos é apresentada, conta, também, com um importante elemento de composição, que é o visagismo, iniciado, para os vídeos de divulgação da peça, por VÍTOR MARTINEZ e concluído, para a apresentação no palco, por DIEGO NARDES. Não há uma maquiagem especial para o personagem, mas o adorno que vai em sua cabeça, uma armação, em arame, forrado de vermelho, ao feitio de uma cabeça de um, talvez, bode, com enormes chifres, é um detalhe que, embora só usado por pouco tempo, no início do espetáculo, chama muito a atenção, por seu significado, na errada representação do personagem, por parte da imaginação das pessoas, pelos que lhes foi, e, ainda, é passado, através dos tempos.


(RC)

 

 

 

FICHA TÉCNICA:

 

Autor e Diretor: Rodrigo França

 

Elenco: Leandro Melo

 

Direção de Movimento: Kennedy Lima

Diretor Assistente: Júlio Ângelo

Iluminação: Pedro Carneiro

Cenário e Figurino: Wanderley Gomes

Arte Digital: Akueran

Designer: João Eliel

Pesquisa Historiográfica: Rodrigo França e Jonathan Raymundo

Consultoria de Representações Raciais e de Gênero: Deborah Medeiros

Fonoaudiólogas: Débora Santos e Luisa Catoira

Visagismo: Vítor Martinez e Diego Nardes

Trilha Sonora: João Vinícius Barbosa

Costureira: Terezinha Silva

Fotos: Júlio Ricardo (oficial) e Regina Cavalcanti

Direção de Produção: Fábio França

Assessoria de Imprensa: Alessandra Costa

Produtores Associados: Fábio França e Rodrigo França

Realização: Diverso Cultura e Desenvolvimento e Orí Produções de Conhecimentos

 

 


(JR)

 

 


SERVIÇO:

 

Temporada: De 21 de outubro a 07 de novembro de 2021.

Local: Teatro Firjan Sesi Centro.

Endereço: Av. Graça Aranha, nº 1 – Centro - Rio de Janeiro.

Dias e Horários:5ªs e 6ªs feiras, às 19h; sábados e domingos, às 17h.

Valor do Ingresso: R$30,00 (inteira) / R$15,00 (meia entrada).

Classificação Etária: 18 anos.

Duração: 60 min.

 



(JR)


              “CAPIROTO” é um espetáculo que não pode deixar de ser visto, pelo conjunto da obra, porém com destaque maior para o texto, a direção e a interpretação, o tripé principal de sustentação de uma excelente montagem teatral, como é o caso desta.


(RC)



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(RC)


        Não percam tempo, uma vez que a temporada é curtíssima, e vão ao Teatro Firjan SESI, no Centro do Rio de Janeiro, onde seu gestor, Alessandro Martins, se preocupou em cumprir todas as exigências impostas pelas autoridades sanitárias, no que diz respeito à proteção, dos artistas e do público, contra a COVID-19! Ninguém tinha mais receio de voltar aos espetáculos presenciais do que eu. Respeito a opinião de todos e acho que cada um deve sentir o seu momento certo, para voltar frequentar uma sala de espetáculos. Se não for assim, não vale a pena. Graças aos DEUSES DO TEATRO, o meu momento já chegou, faz algum tempo.


(RC)

 

FOTOS: JÚLIO RICARDO (JR) - 

(FOTÓGRAFO OFICIAL)

e

REGINA CAVALCANTI (RC)

 

 

 

GALERIA PARTICULAR

(FOTOS DE DIVERSOS AUTORES.)






(Teatro Prudential - Estreia.)


(Teatro Prudential - Estreia)


(Com Leandro Melo.)


(Com Rodrigo França.)



E VAMOS AO TEATRO,

COM TODOS OS CUIDADOS!!!

 

OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO

 DO BRASIL,

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A ARTE EDUCA E CONSTRÓI, SEMPRE!!!

 

RESISTAMOS, SEMPRE MAIS!!!

 

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