“MINHA MÃE NUNCA FOI UMA PEÇA, COMO A DO PAULO GUSTAVO;
JAMAIS VOTEI EM BRUNO COVAS;
MAS SEMPRE AMEI E APLAUDI DEMAIS DONA EVA WILMA.”
(ou)
“UM TÍTULO LONGO E ‘NONSENSE’, QUE ESCONDE MUITO SENTIMENTO.”
Passou-se
a “comoção”, ficou a “emoção”.
Do
ponto de vista semântico, ambos os substantivos guardam extrema relação de
sentido, entretanto há, entre eles, uma pequena diferença.
Dizer
que sentimos “comoção” por alguém ou algo é o mesmo que afirmar termos
desenvolvido uma “extrema emoção”, derramando lágrimas, a ponto
de experimentar o sentimento da compaixão. É algo que vai se estendendo,
ocupando todos os espaços, num frenesi coletivo. É contagiante e catártico.
A “emoção” é uma experiência subjetiva, controlável, até certo ponto, mais comedida, podendo, até, ser um pouco reprimida ou “domesticada”, até o limite da tensão do elástico esticado, sempre associada ao temperamento individual, à personalidade e a uma determinada motivação, a qual bate diferente, para cada ser humano, em cada distinto coração, por cada diferente situação.
A palavra
“emoção” vem do latim “emovere”, na qual o “e-”
(variante de “ex-”) significa “fora”, e “movere”,
“movimento”. Emocionar-se é, pois, “mover-se para fora”,
é não ocultar nem reprimir o que não cabe mais dentro do peito e que precisa
ganhar o mundo, despudoradamente, desavergonhadamente, expandir-se, quase que
se tornar etéreo, volátil. “Não dá mais pra segurar! / Explode, coração!” (Gonzaguinha).
O termo relacionado “motivação” é, assim, derivado de “movere”. E precisamos, sempre, de uma, para transformar pensamentos e sentimentos em palavras, ditas ou escritas. Optei pela segunda forma.
Deixei
passar algum tempo, “pós-comoção”, para escrever um pouco sobre, “apenas”
“emoção”, o que já é muito. E “gratidão”, também, lá pelo
final do texto.
Aqui,
reúno três momentos de adeus, uma despedida a três pessoas, que me bateram em
intensidades diferentes, porém foram três afluentes de um mesmo rio, que corre na mesma direção: vida eterna e saudade.
Três
nomes: BRUNO COVAS, PAULO GUSTAVO e EVA WILMA.
BRUNO "caiu de paraquedas", neste blogue, que trata de TEATRO, mas houve, para
isso, uma “motivação” especial, que será tocada, de forma um
tanto leve, meio rápida (O problema é que eu não sei ser conciso.) e sutil,
totalmente oposta à intensidade como aquela determinada e indelével cena me
tocou. Já direi qual.
Sem
obedecer a qualquer hierarquia ou ordem cronológica, começando, inclusive pelo
último, dos três, a falecer, quero falar um pouco do BRUNO, de quem
tomei conhecimento de pouco tempo para cá.
Nunca
soube se foi um bom político e administrador, pouco sei do gestor, mas tenho a certeza
de que, por um fenômeno que não sei como explicar, me parecia “da família”, “de
casa”. “O BRUNO”. “Íntimo”. Talvez excesso de empatia,
da minha parte, o que nem considero um defeito, como podem alguns julgar.
Não
gosto de política, menos ainda a partidária, embora não consiga deixar de, vez
por outra, soltar meus impropérios contra essa corja de políticos que grassa no
país: uns mais calhordas, criminosos, ladrões, corruptos; outros sabendo melhor
disfarçar sua falta de vergonha na cara.
Sempre
tive uma simpatia por seu avô, Mário Covas, sem conhecer, de perto, seu
trabalho e sua personalidade; simpatia, apenas. Tenho certeza de que foi por
conta de sua participação na campanha pelas “Diretas Já!”. Simpatia por
ele e por todos os que lideravam o movimento, do qual participei, intensamente,
em prol da redemocratização do país.
Vim
a saber da existência do BRUNO há cerca de dois anos, quero crer, e não
foi por conta de sua administração à frente da maior cidade deste país, porém, por
meio da mídia, em função da sua doença. Grave e cruel doença. Hoje, menos vilã
que em outros tempos, mas só para uma parte dos que lhe são, infelizmente,
apresentados. Não foi o caso do BRUNO. Para ele, ela foi um terrível
algoz e o nocauteou, ainda que tenha levado alguns “rounds”, até a
contagem final do árbitro. BRUNO lutou como um titã, mas acabou saindo
perdedor.
A
distância, pela telinha e pelas redes sociais, acompanhei sua batalha pela
vida, sua coragem de lutar para manter viva e unida uma dupla, na qual me
chamava a atenção a figura do pequeno Tomás, seu filho adolescente.
Ambos tão agarrados. Eu quis dizer “AMIGOS AMADOS”.
Via-os,
invariavelmente, juntos, o menino, sempre ao seu lado, dando-lhe força e
levando-lhe aqueles suspiros e respiros de esperança. Não sei da vida privada
do BRUNO, o que não me interessa nem um pouco; soube, por curiosidade,
via pesquisa, para escrever este texto, que era separado da mãe de Tomás.
Nunca vi, salvo engano, a presença de uma mulher ao seu lado, acompanhando-o
nos seus compromissos de prefeito de São Paulo; mas o Tomás era “figurinha
carimbada e premiada”. “Arroz de festa”. Até o último suspiro do seu "herói"; seu "super-herói".
E
o BRUNO, aos 41 anos de idade, muito jovem, perdeu a luta para o câncer,
e depois de ter sido contaminado, também, pelo coronavírus.
Não
chorei (até a página cinco). Não havia, para mim, “motivo” para
tal. Afinal de contas, parece que, infelizmente, a morte se tornou algo “normal”,
“corriqueiro”, nos dias de hoje, para os brasileiros; passou a caminhar
ao nosso lado, pelas calçadas da vida, estendendo-nos a mão, a julgar pelo fato de, diariamente, ao
abrir minha página no “Facebook”, eu ser levado a prestar minha solidariedade
a cerca de uma dezena de amigos, em média, os quais perderam alguém da família
ou um amigo próximo, pela crueldade desse monstro, chamado COVID-19.
Apenas
lamentei, e muito, como sinto todas as mortes, principalmente de pessoas muito
jovens (Ninguém deveria morrer antes de completar um centenário! Mas
dançando, namorando e bebendo; não entrevado, demente e dependente de terceiros.
É assim que desejo chegar lá.).
Fiquei
emocionado com a notícia do falecimento, já tão esperada; triste e emocionado,
apenas. Mas só até assistir, pela TV, à cena de despedida do Tomás, de
15 anos, debruçado, por um bom tempo, sobre o corpo frio, inerte e extremamente abatido, cadavérico, dentro de uma urna funerária, do seu amado pai e companheiro, aquele que,
talvez, o estivesse preparando para seguir na vida pública, ser um político;
para seguir a tradição da família.
Isso
não tem a menor importância. O que me fez passar da “emoção” à “comoção”
foi uma profunda empatia, foi o ter me projetado no jovem Tomás, que,
ainda por cima, tem o mesmo nome do meu neto mais velho e, praticamente a
mesma idade (O “meu” Tomás completará 15 anos daqui a cerca de dois
meses.) e constatar a certeza de uma grande perda, a da referência masculina,
tão importante na formação de um menino, um adolescente, um rapaz, um homem.
Chorei,
copiosa e quase compulsivamente, durante uns dez ou quinze minutos. Cheguei a
tremer, deitado na cama, olhos fixos na TV; e não estou exagerando. Foi uma
catarse, confesso. Eu estava precisando chorar, e muito, acho, e "o Tomás do BRUNO"
acionou o botão.
= /// =
Não
era amigo do PAULO GUSTAVO. Muito vagamente, lembro-me de termos sido,
meteoricamente, apresentados, por um amigo comum, numa festa, há uns seis ou
sete anos, talvez. Fui levado a ele, ou ele trazido a mim, não me lembro bem, como “um amigo
nosso, crítico de TEATRO”, ao que ele respondeu, com um
sorriso comum e um breve aperto de mão: “Prazer! Paulo!”.
Senti
como se ele não tivesse dado a mínima para aquele “crítico de TEATRO”,
se é que devesse dar, o que, em nada, me incomodou. Passou-me a impressão,
muito justa, por sinal, de que, ali, vindo de uma sessão de um de seus vitoriosos espetáculos, ele desejasse ser apenas o “Paulo”,
um simples conviva, naquele “rega-bofe” (Entreguei a idade.),
ainda que ninguém que fosse PAULO GUSTAVO pudesse caber num simples “Paulo”.
Não
houve conversinha, bate-papo. Sem tempo nem oportunidade para nada disso.
Confesso que adoraria ter dado uns dedinhos de prosa com ele e dizer-lhe o
quanto eu admirava o seu trabalho, como artista.
Até
a sua morte, acho que eu não tinha tomado consciência de sua importância na
vida de um batalhão de pessoas, uma multidão incalculável, de sua luta, ainda que da forma mais discreta
possível, por exigir respeito a todas as diversidades, e não somente à causa “gay”,
condição da qual ele tinha o maior orgulho e que é motivo do total respeito de
todos.
Ele,
extremamente requisitado, por amigos e jornalistas, saiu a falar com todos,
esbanjando alegria e simpatia. Algumas pessoas me pareciam querer abraçar e
beijar o PAULO GUSTAVO e fazer a sua "selfie"; outros, talvez, só desejassem uma pequena
atenção do “Paulo”.
E eu, sentado no mesmo lugar, segui-o, com o olhar, lembrando-me da primeira vez em que o vi em cena, no acanhado espaço do Teatro Candido Mendes, em Ipanema, nos idos de 2005, e, com o meu “faro”, modéstia à parte, bastante “apurado” profetizei – ou constatei: Esse cara é bom! Vai dar muito caldo! O outro também! (O “outro”, a título de curiosidade, para quem não sabe, era, simplesmente, meu amigo Fábio Porchat, em “INFRATURAS”.).
Não
consegui, infelizmente, por algum motivo de que não me recordo, ter visto PAULO
GUSTAVO dar o seu primeiro passo, profissionalmente, um ano antes, numa
pequena participação em “SURTO”, num outro formato, diferente da
hilária comédia que vi, incontáveis vezes, depois, com outro elenco.
De
2005 para cá, não deixei de assistir a um de seus trabalhos no TEATRO.
Para ter certeza de tal afirmação, fiz uma pesquisa sobre sua vida
profissional, desde o início e em todas as mídias. Chequei espetáculo por
espetáculo e constatei que, graças a Deus, fui plateia em todos. Nunca, o
crítico.
Como
minha “praia” é o TEATRO, falarei bem menos – espero – de
seus trabalhos nas outras duas mídias: TV e cinema.
Na
televisão, confesso que não o via muito, atuando. Em primeiro lugar, porque me
sobra pouco tempo para engrossar a audiência da TV, visto que vou ao TEATRO
(Ia, antes da pandemia.) todos os dias, e, também, porque, respeitando todos os
gostos e tendo grandes e queridos amigos, ganhando, da forma mais honrada e
honesta possível, seu dinheiro nos elencos dos humorísticos em que o PAULO
atuava, para mim, aquele tipo de humor tem passagem livre. Repararam como eu
escrevi “o PAULO”? Outro “da família”. “Íntimo”
também.
Faço
questão de frisar que tenho o maior respeito por todos os grandes artistas de TEATRO,
em várias funções (atores, diretores, redatores...), meus queridos
amigos, muitos deles, que trabalharam, e ainda trabalham, nos muitos programas de televisão
em que o nome do PAULO GUSTAVO encabeçava os elencos, mas tais programas
não eram, nem são, compatíveis com o meu gosto (Respeito o de todos e sei que
tais programas são líderes de audiência na grade do canal Multishow, por
exemplo. Eu não sou nem quero ser parâmetro de nada, e deve haver, sim, nas
grades das emissoras de TV, uma programação que agrade a todos.). Faço uma exceção a “220
VOLTS” e ao quadro “SENHORA DOS ABSURDOS”, com um humor muito inteligente e cáustico, que eu adorava.
O cinema também não me tem como frequente espectador, entretanto, contrariando a opinião de muita gente, coloco o cinema nacional como prioridade, quando penso em sair de casa para ir a um cinema, a não ser quando se trata de um filme estrangeiro daqueles ditos “imperdíveis”, os quais, muitas vezes, eu percebo que poderia ter perdido.
E
não me importo com os estilos, desde que não lhes faltem qualidade e bom gosto.
Adoro boas comédias. Vi, na telona, algumas delas em que PAULO
GUSTAVO teve participações, maiores ou mais discretas, porém, sem sombra de
dúvidas, com relação ao cinema nacional, a despeito de tantos “momentos, movimentos e
tendências divisores de água” que a ele são atribuídos, desde seus
primórdios, não se pode negar que uma parte da sua história, vista por que
prisma for, fecha um ciclo e inicia outro com “MINHA MÃE É UMA PEÇA - O FILME”.
Embora, para os padrões brasileiros, outros grandes filmes nacionais tenham arrastado multidões de cinéfilos às salas de exibição, sobrepondo-se recordes sobre recordes, em termos de arrecadação, foi com aquele filme que houve a grande primeira explosão de bilheteria do cinema brasileiro, salvo engano, o que levou à filmagem das versões 2 e 3.
E
foi uma grande pena que a precoce partida de PAULO GUSTAVO tenha
motivado a "morte", também, pelo menos nas películas, daquela que era a grande
responsável por um público de até mais de doze milhões de pagantes, por um
único filme: DONA HERMÍNIA, uma espécie de seu “alter ego”, encarnando
sua verdadeira mãe.
PAULO
GUSTAVO, vivo, significaria que DONA HERMÍNIA, a fabulosa
e hilária personagem, com a qual ele homenageava, e sacaneava também, com muito
respeito e carinho, Dona Déa Lúcia, sua adorada mãe, continuaria a fazer
das suas por aí, até quando só Deus soubesse, com suas extravagâncias e irreverência, doce e
ácida, ao mesmo tempo. E superlotando os cinemas do Basil inteiro. Por
merecimento; puro merecimento.
Não
sei dizer, de coração, qual dos três filmes, da “série”, me agrada mais, porém
afirmo que, antes mesmo de PAULO GUSTAVO ter sido mais uma das vítimas desse maldito
vírus, do qual poderia, como milhares de outras pessoas, anônimas ou famosas,
ter-se livrado, não fosse o descaso, a ignorância, o negacionismo e o ideal de genocídio de um (des)governo
federal, vi, no cinema, os três, e revi todos, pela TV, duas ou três vezes. Ou
mais. E não me canso de ver e rir das mesmas cenas, das mesmas piadas. E, repito, vamos
deixar bem claro: isso antes de ele ter deixado de existir, fisicamente.
E
reverei sempre. Sempre que a saudade bater e eu me lembrar de que houve, nesta
Terra, REDONDA, neste país, que é, no triste momento atual, um barco desgovernado, à deriva,
batendo nas rochas e nos ameaçando, a todos, de um tenebroso naufrágio, um GRANDE
ATOR CÔMICO, que nasceu para provocar o riso, veio ao mundo para fazer as
pessoas felizes, que, assim como já aconteceu comigo, tirou muita gente da “fossa”,
levantou o nosso astral, com um humor gostoso, irreverente e subversivo (E não teria
a menor graça, se não o fosse.).
Lembro-me
de que, numa noite bem fria, do, nem tão severo, inverno carioca, o qual, porém, naquele ano, naquele dia do início de julho de 2013, exatamente,
resolveu que atingiria a sua temperatura mínima, havia muito tempo não
registrada por estas bandas, eu, morador do Recreio dos Bandeirantes, próximo
ao mar, estava em casa, "torto de frio" – eu que não sou friorento - muito mal da
cabeça, cheio de problemas interiores para resolver, quase batendo um
desespero, quando pensei em pegar o carro, depois de me agasalhar, mais ainda, e
sair, para dar uma volta, sem rumo, para aliviar o peito e a mente.
Eram
quase dez horas da noite e eu me lembrei de que, em algum lugar, vira que, num
dos cinemas do Shopping Recreio, estava sendo exibido “MINHA MÃE É UMA PEÇA - O FILME” e resolvi que seria o meu programa solitário, na
última sessão, a das 22h, a qual, por sinal, já estava com a lotação quase
completa. E acabou lotando; lotação esgotada.
Foi a sessão de terapia mais barata pela qual já paguei em toda a minha vida. Parafraseando o bardo, gargalhei, gargalhei, até ficar com dó de mim; pelas dores, nas bochechas e nos maxilares.
O
filme acabou em torno de meia-noite e eu queria beber. Para comemorar; não sei
o quê. Talvez um "renascimento". Mas eu queria beber um pouco, porque estava feliz. E eu só fazia rir
muito, mesmo depois do término do filme, esperando subir o derradeiro crédito e
sendo o último a deixar a sala de exibição, quase “expulso” pela equipe
de limpeza. E não parava de gargalhar, sozinho, pelos desertos corredores do “shopping”,
até o seu, também, ermo estacionamento. Ria sozinho, e muito; gargalhava, como
um louco, ao me lembrar das cenas; de algumas, em particular.
E fui assim, dirigindo, até chegar à minha casa, a uns três quilômetros de lá, sem encontrar, no caminho, num dia de semana, vazio, todos fechando suas portas, um bar que me servisse alguma coisa. E o jeito foi abrir uma garrafa de vinho, na varanda, enrolado num cobertor, e tomá-la quase inteira, sem me lembrar mais dos problemas nem de quem eu gostaria de que estivesse esvaziando aquela garrafa comigo, debaixo daquele cobertor.
Isso
eu devo a ele: a PAULO GUSTAVO.
Houve
uma época em que – talvez, agora, eu seja mal interpretado por alguns – cheguei
a “me aborrecer” com ele, como se ele soubesse da minha existência, pelo
fato de “só fazer personagens femininas”. Mas durou
pouco tempo a minha “bronca”, a minha “birra”. Qual era o
problema? Que mal havia naquilo? Nenhum, respondendo, eu mesmo, às duas
perguntas!
Ele
fazia outros personagens, masculinos, também, mas era naquelas “personas”
femininas que ele se encontrava melhor, como intérprete; era com elas que ele
se identificava mais e dava o seu melhor, em termos de composição de um tipo, de
uma personagem. E fazia isso da maneira mais estupenda possível, a começar pela
escrachada DONA HERMÍNIA, circulando por outras, até as exuberanes
mulheres de alguns de seus mais icônicos “shows”, pelos palcos do
Brasil afora. E viva as “beyoncés” da vida!!!
PAULO
GUSTAVO era conhecido, aplaudido, querido, amado e admirado,
um incomensurável sucesso, em qualquer minúsculo rincão deste país. E tanto era
um grande artista para plateias pequenas, no início da carreira, como para
gigantescos estádios lotados.
Não
vou fazer nenhuma análise técnico-crítica de seu trabalho de ator, porque julgo
uma perda de tempo, algo completamente desnecessário, uma repetição de tudo o
que já foi dito sobre seu incomensurável talento, todavia sempre é oportuno
lembrar que todo ator cômico pode vir a se tornar bom num papel dramático,
entretanto o contrário é quase, praticamente, impossível.
Para
ser um bom ator cômico, é necessário que o candidato seja dono de uma
inteligência acima do normal; tenha um raciocínio rápido, safo, para o
improviso; seja, naturalmente, engraçado; e que domine o “timing”
da comédia, sem o que estará fadado ao fracasso. E esse quadripé, que sustenta
o trabalho de um bom ator de comédia e lhe garante um espaço em qualquer
calçada da fama, e em qualquer parte do mundo, PAULO GUSTAVO dominava
como ninguém. Essa era a razão de seu enorme sucesso. Era por isso que ele foi,
é e sempre será o PAULO GUSTAVO.
Quando
foi confirmada a sua morte, já aguardada para qualquer momento, apesar de, por
diversas vezes, eu ter achado que ele venceria o vírus, para mim, foi como se
ele fosse um “irmão do BRUNO”, também, que partia; “da família”,
repetindo. E tem sido assim até hoje.
Chorei
muito, pela morte de um ser humano, muito digno, que estava vivendo o mais lindo e feliz
momento de sua vida, no auge do sucesso profissional, ao lado de um grande amor, que ele bem merecia, e de dois filhos, amados e tão
desejados, uma conquista indescritível, incomensurável, servindo de inspiração
e coragem para muita gente e dando uma bela bofetada, com luvas de pelica, nas
caras do(a)s hipócritas e do(a)s mal-amado(a)s de plantão. HOMOFOBIA NUNCA
MAIS!!!
Antes
de dormir, todas as noites - vem sendo assim há algumas - procuro, no YOUTUBE, pela TV,
alguma coisa sobre ele: trechos de programas ou entrevistas (E há material
“às toneladas”.), aciono o “timer”, para o aparelho ser desligado
depois de eu ter adormecido, e, assim, meu sono, que vinha muito
agitado, ultimamente, está ficando mais leve, mais sereno, mais reparador...
Nasce
um PAULO GUSTAVO de tempos em tempos, no Brasil. É coisa fina; produto
raro no mercado. De exportação.
= /// =
VIVINHA!!!
Esteve,
ainda está e, para sempre, estará VIVINHA, entre nós.
O
terceiro adeus vai para DONA EVA WILMA. O “DONA” é como trato todas as grandes divas do TEATRO BRASILEIRO, quando atingem uma idade
mais avançada e “muitos anos de janela”, independentemente de nossa relação
pessoal, de amizade.
DONA
EVA
era, carinhosamente, chamada pelos seus amigos, de VIVINHA, mas “reza
uma lenda”, a ser conferida, dita, recentemente, pelo querido amigo Ivan
Cabral (Também já ouvi de outras fontes.), que só teria direito a tratá-la
pelo carinhoso apelido os que lhe eram mais íntimos. E a condição para isso, a
concretização dessa “intimidade”, se daria se o candidato a “amigo
íntimo” tivesse tomado chá com ela, algumas vezes. Não bastava uma. Ou
duas.
Infelizmente,
nem lhe servir um chá a mim coube, entretanto assisti à maior parte de seus
trabalhos nos palcos. Poderia, por isso, eu ser considerado um "quase íntimo"? E mais não vi por um problema geográfico: quatrocentos e
alguns quilômetros nos separavam: ela em São Paulo e eu no Rio de Janeiro.
Em
Sampa, assisti a umas três ou quatro peças dela, uma ou outra que não veio para
o Rio. Aqui, fui plateia em quase todas, desde quando a idade me permitiu
frequentar o TEATRO para adultos. Sim, os espetáculos eram “permitidos”
para determinadas faixas etárias, antigamente, de acordo com os "humores" das "otoridades". E, aqui, confesso que já
falsifiquei a carteirinha estudantil, “por uma boa causa”; não para
pagar meia entrada, mas para poder ter acesso aos espetáculos que eu queria ver
e "não tinha idade para tal".
Gostaria
muito de ter sido amigo íntimo de DONA EVA WILMA, conhecer as suas
histórias, saídas de sua própria boca, porém o máximo que consegui foi, a
convite da produção de “Möeller & Botelho”, ter ido a São
Paulo, para conferir a montagem da dupla, no aprazível Teatro Porto Seguro,
da peça “O QUE TERÁ ACONTECIDO A BABY JANE?”, até porque não se tinha a
certeza de que a montagem viria para o Rio, e, ao final do espetáculo, que
contava com um excelente elenco, em que ela dividia o protagonismo com outra
queridíssima diva, também recém-falecida, DONA Nicette Bruno, a produção
da peça e os queridos administradores do “Porto” me levaram ao camarim,
ou melhor, à confortabilíssima sala de imprensa, para uma conversinha rápida com
o elenco, no qual havia outros amigos.
Apresentado
aos poucos que eu não conhecia ainda, foram todos, um a um, tomando seus rumos, após
uma meia dúzia de palavras minhas com cada um, mas as duas divas fizeram
questão de que nos sentássemos e conversássemos um pouco sobre o trabalho e a
função de um crítico de TEATRO. E queriam saber a minha opinião sobre a peça.
Disse-lhes o óbvio, o mínimo que lhes poderia ter dito: que havia amado o
espetáculo, sem ter usado apenas essas palavras.
Eu
não esperava por aquela. Quando vi os funcionários do “Porto”, os quais
são de uma gentileza inquestionável, demonstrando que estavam cansados e doidos
para voltarem às suas casas, o que era muito justo, foi que me dei conta de que
já “papeávamos” havia cerca de meia hora. Nós três. Eu e as duas divas.
Acrescente-se o detalhe de que ela, DONA EVA, não estava muito bem de
saúde, meio indisposta, naquele dia. Imaginem se não estivesse...
(Fotos feitas pelo querido amigo Leo Ladeira, no Teatro Porto Seguro, São Paulo.)
Quando
a peça veio para o Rio, no ano seguinte, tive a oportunidade de assistir ao
excelente texto de Henry Farrel, com tradução de Cláudia Costa Chaves
e Claudio Botelho, dirigido pela dupla Möeller & Botelho,
duas vezes, no Theatro NET Rio, hoje “Claro” (Mas, sem a intenção de fazer trocadilho, é claro que,
para mim, será sempre NET!): no dia da sessão para convidados, que eu me recuso
a chamar de “sessão VIP”, porque “VIPs” somos todos nós, e num
outro dia, meio de supetão.
Adorável
peça! Aqui, no Rio, o papel de Blanche Hudson, que era interpretado por DONA
Nicette foi vivido por outra diva dos palcos: nada menos que DONA
Nathalia Thimberg.
(Foto feita pelo querido amigo Leo Ladeira, no Teatro CLARO/NET Rio, Rio de Janeiro.)
(Nós e nossas taças, para um brinde.)
Mas,
neste momento, o foco vai para DONA EVA WILMA, que aprendi a admirar,
desde pré-adolescente, na TV, ao lado de seu primeiro marido, naquilo que,
naquela época, dos anos 60, já poderia, creio, ser chamado de um “sitcom”,
“ALÔ, DOÇURA!”. Programa leve, divertido, para toda a família.
(TELEVISÃO: "ALÔ, DOÇURA".)
Embora
já tenha dito que não me sobra, em tempos sem pandemia, muito disponibilidade
para a TV, não posso negar que já fui um grande amante das nossas telenovelas –
as mais antigas, principalmente – e sempre ficava feliz, quando o nome EVA
WILMA era anunciado no elenco da próxima produção, nas chamadas que
antecediam as estreias.
(TELEVISÃO: "A VIAGEM")
(TELEVISÃO: "VERDADES SECRETAS")
Embora,
em poucas vezes, eu tenha tido a oportunidade de tê-la visto como protagonista, menos do que ela merecia,
suas personagens eram marcantes e, sem desmerecer qualquer ator/atriz que com
ela contracenava, se DONA EVA estava na cena, roubava todas. Tanto em
papeis dramáticos como nas personagens que puxavam para o humor. Ela jogava tão
bem na defesa quanto no ataque.
(TELEVISÃO: "PLUMAS E PAETÊS")
(TELEVISÃO: "MULHERES DE AREIA")
Poderia ter dedicado um bom tempo de pesquisa, para me deter na sua carreira televisiva, principalmente nos folhetins, mas não julgo necessário, uma vez que todo mundo sempre haverá de se lembrar de algumas de suas personagens marcantes na telinha; todas icônicas.
(TELEVISÃO: "RODA DE FOGO")
Não
é meu propósito escrever a minha versão “wikipédia” centrada em tão
importante nome das artes cênicas brasileiras, mas, apenas escrever algo que
deixe bem clara toda a minha admiração por essa artista “formidável”,
como diriam Nelson Rodrigues e DONA Fernanda Montenegro.
(TELEVISÃO: "SASSARICANDO")
Tendo
sido, também, bailarina, iniciou sua carreia de atriz em 1952,
fazendo uma participação, como figurante, no filme "UMA PULGA NA BALANÇA". No
cinema, participou de três dezenas de filmes, dos quais me lembro bem de “SÃO PAULO, SOCIEDADE ANÔNIMA”, “A ARTE DE AMAR BEM”, “ASA BRANCA – UM SONHO BRASILEIRO” e “FELIZ ANO VELHO”. Já disse que não sou muito de
cinema.
(TELEVISÃO: "COMEÇAR DE NOVO")
(TELEVISÃO: "O TEMPO NÃO PARA")
Como atriz de TV, iniciou-se na
extinta TV Tupi de São Paulo, tendo, também, atuado nas, igualmente, extintas
TV Record e TV Excelsior, ambas paulistas; cerca de vinte anos,
nas três emissoras.
Com
a força da TV Globo, no Rio de Janeiro, ingressou na emissora, em 1980,
onde atuou em dezenas de novelas, especiais e seriados, tendo ficada marcada,
na minha mente, a perversa personagem Maria Altiva Pedreira de Mendonça
e Albuquerque, na novela "A INDOMADA"; a
nordestina, “metida a falar ingrês”, a vilã, que, como Odorico
Paraguaçu, nos fazia dar boas gargalhadas.
(TEATRO: "BOING-BOING")
(TEATRO: "BOING-BOING")
(TEATRO: "BOING-BOING")
(TEATRO: "PATO COM LARANJA")
Foi
apresentada às tábuas em 1953, pelo diretor José Renato, e nunca
mais parou. A primeira vez em que a vi, num palco, foi de forma clandestina,
dentro da cabina de som do, infelizmente, extinto Teatro Copacabana,
onde trabalhava um amigo do meu pai, na comédia “BOING-BOING”. Imaginem
o que representou, para um garoto de 14 anos, já apaixonado por TEATRO,
ver reunidos, num só elenco, gente do nível de Ilka Soares (Belíssima,
deixou o adolescente “perturbado”.), John Herbert, Adolfo Celi,
Jardel Filho, Francisco Cuoco e Berta Loran, dentre
outros, além de DONA EVA WILMA, evidentemente!
(TEATRO: "UM BONDE CHAMADO DESEJO")
(TEATRO: "ESPERANDO GODOT")
(TEATRO: "O PREÇO")
(TEATRO: "BLACK-OUT")
(TEATRO: "A MEGERA DOMADA")
(TEATRO: "QUERIDA MAMÃE")
(TEATRO: "AZUL RESPLENDOR")
(TEATRO: "AZUL RESPLENDOR")
(TEATRO: "QUARTA-FEIRA, LÁ EM CASA, SEM FALTA")
Devo ao TEATRO
as melhores recordações dela e de seu trabalho. Foram incontáveis montagens,
entretanto lembro-me bem de algumas, como “BOING-BOING”, “A MEGERA DOMADA”,
“OH! QUE DELÍCIA DE GUERRA!”, “BLACK-OUT” (Essa me impressionou
muito.), “INFIDELIDADES”, “UM BONDE CHAMADO DESEJO” (Montagem
impecável!), “DOIS MIL ANOS DE TEATRO”, “O LEOPARDO”, “PATO COM LARANJA” (Que elenco!), “DESENCONTROS CLANDESTINOS”, “VIAGEM SEM VOLTA”, “QUANDO O CORAÇÃO FLORESCE”, “O PREÇO”, “QUERIDA MAMÃE” (Emocionante demais.), “MADAME”, “O MANIFESTO”, “AZUL RESPLENDOR” (Espetáculo belíssimo e inesquecível!) e “O QUE TERÁ ACONTECIDO A BABY JANE” (Dispensa maiores comentários.). Lamento,
profundamente, não ter podido assistir a “QUARTA-FEIRA, SEM FALTA, LÁ EM CASA”,
seu último trabalho no TEATRO, salvo engano, em 2018.
(CINEMA: "SÃO PAULO, SOCIEDADE ANÔNIMA")
Creio que
DONA EVA WILMA tenha sido uma das mais premiadas atrizes do TEATRO BRASILEIRO, sem falar nas inúmeras premiações relacionadas ao cinema e à
televisão. Uma vez indicada (E foram tantas as indicações...), raramente, perdia
o prêmio. Também foi merecedora de muitas homenagens, que lhe foram prestadas, no
Brasil e no exterior.
(Aqui, em janeiro de 2020, homenageada pelo professor Carlos Alberto Serpa,
no "Prêmio CESGRANRIO de Teatro"
Sem ter
sido panfletária, no sentido mais amplo da palavra, sempre foi uma
atriz/cidadã, representando, com muita garra e dignidade, seus pares, em
reivindicações profissionais ou por um Estado Democrático de Direito.
Tornou-se célebre uma foto em que aparece, em fevereiro de 1968, à frente de uma passeata, de tantos manifestos dos quais participou, que foi a culminância de uma manifestação, na Cinelândia, a qual ficou conhecida como “A Cultura Contra a Censura”, ao lado de algumas colegas de trabalho e de luta, como Tônia Carrero, Odete Lara, Norma Bengell, Eva Todor, Leila Diniz e Cacilda Becker, além de outras. Essa foto, tirada por Evandro Teixeira, fotojornalista do "Jornal do Brasil", à época, é “vendida”, erroneamente, pela mídia, em geral, como tendo sido tirada durante a icônica “Passeata dos Cem Mil”, ocorrida em 26 de junho daquele mesmo ano, 1968.
FOTOS DA PEÇA "O QUE TERÁ ACONTECIDO A BABY JANE?", FEITAS POR DARYAN DORNELLES, MARCOS MESQUITA E DE DIVULGAÇÃO, A MIM, GENTILMENTE, CEDIDAS PELO QUERIDO AMIGO LEO LADEIRA.
= /// =
O BRUNO
COVAS, o político, não existe mais, no entanto a saudade que o BRUNO
deixa é para seus familiares e amigos; para seus correligionários e eleitores
também, menos. Já o PAULO GUSTAVO e DONA EVA WILMA mexeram muito
com os corações de milhões de brasileiros, que, durante muito tempo, abriram as
portas de suas casas para os dois ou foram ao seu encontro, nos cinemas e nos Teatros.
O BRUNO
político deixou de existir com a morte do BRUNO cidadão, porém Paulo
Gustavo Amaral Monteiro de Barros e Eva Wilma Riefle Buckup Zarattini, dois nomes, dois CPFs, foram cancelados, pela morte, mas ficarão,
eternamente, na saudade de seus familiares e amigos, mas, também na nossa, de seus fãs e admiradores, de
uma forma mais simples e bastante afetiva, traduzida apenas em dois nomes de dois magníficoas e inesquecíveis artistas: PAULO GUSTAVO
e EVA WILMA.
Esse “apenas”
ganha muita robustez, aqui...
Aos três – no meu caso, especificamente, aos
dois últimos – os nossos agradecimentos por terem feito nossas vidas mais
felizes e por tantos ensinamentos que nos legaram!
Descansem em paz!
Observação: À exceção das fotos referentes à peça "O QUE TERÁ ACONTECIUDO A BABY JANE?", todas as demais foram recolhidas na imprensa, de uma forma geral, sendo difícil, ou impossível, atribuir os créditos a seus autores, aos quais, de antemão, fico muito agradecido.
E VAMOS AO TEATRO,
TÃO LOGO SEJA POSSÍVEL!!!
DIVULGUEMOS TUDO O QUE,
EMBORA NÃO SEJA TEATRO,
VEM SENDO FEITO,
COM MUITA GARRA,
DURANTE A PANDEMIA,
VIA “ON-LINE”!
A ARTE SALVA!
“RIR É UM ATO DE
RESISTÊNCIA”.
(PAULO GUSTAVO)