segunda-feira, 26 de agosto de 2019


SANGUE

(LAVA-SE O SANGUE,
MAS NÃO SE LAVA 
A DOR DAS ALMAS.
ou
UMA TRAGÉDIA ATEMPORAL,
SOB A ÓTICA DA CONTEMPORANEIDADE.
ou
O PRESUMÍVEL QUE SURPREENDE.)






            Os puristas que me perdoem, mas transgredir é fundamental, principalmente em tempos de chuva negra, de perspectivas negras, de uma situação política negra, no Brasil. Tempo de trevas. Mas é preciso saber transgredir. LARS NORÉN e BRUCE GOMLEVSKY sabem fazer isso, brincar com o perigo; fazer piruetas no trapézio, sem rede de proteção; desafiar os conservadores... E fazem tudo isso de olhos fechados. E agradam aos que amam um BOM TEATRO.

Com sua intrepidez e profundo talento, tantas vezes comprovados, ao longo de 25 anos de profissão, nos palcos e em outras mídias, quer como ator, quer como diretor, BRUCE nunca sai de cena e, como agora, está conseguindo emplacar vários sucessos simultaneamente: cinco espetáculos teatrais, um como ator (“Renato Russo - O Musical”, em cartaz há 13 longos anos, visto, até agora, por mais de 300 mil pessoas, em mais de 40 cidades brasileiras)  e quatro como diretor: (“Um Tartufo”, no Teatro Maison de France; “Blackbird”, no Teatro Ipanema; “40 Anos Esta Noite”, no Teatro Fashion Mall e “Sangue”, no SESC Copacabana. A última peça é o motivo desta crítica. Além disso, ainda pode ser visto, como ator, no filme “Simonal”, de Leonardo Domingues, e está em fase de gravação da série “Desalma”, com direção de Carlos Manga Jr, para a plataforma Globoplay. Ufa!!! Quanto fôlego e amor à arte!!! (E, obviamente, necessidade de sobrevivência, num país em que o poder público não valoriza o trabalho dos artistas, principalmente os do TEATRO.)






“SANGUE” é um excelente espetáculo, um dos melhores em cartaz, no momento, no Rio de Janeiro, por vários motivos, e um deles é muito curioso, pois trata-se de um texto escrito por um sueco, vivo, de 75 anos, baseado numa tragédia grega, “Édipo Rei”, escrita por Sófocles, há quase dois milênios e meio (presume-se que tenha sido por volta do ano 427 a.C.), tendo como personagens três latinos, chilenos, os principais, e uma francesa. E o que se pode esperar dessa “salada” toda? Um espetáculo fascinante, instigante, desafiador, que prende a atenção do espectador, do início ao fim, ainda que, curiosamente, mostrando tudo da forma mais presumivelmente possível, tanto para os que já vão ao Teatro conhecendo a sinopse da peça quanto para os que vão “no escuro”.





            Não é a primeira vez que temos a alegria, o prazer, a satisfação de ver em cena o resultado do trabalho da dupla, NORÉN / GOMLEVSKY. BRUCE, em 2016, já nos brindou com outro texto de LARS, “Demônios”, também no SESC Copacabana, grande sucesso de público e de crítica, na época. E de muitas polêmicas, também, porque tanto o dramaturgo quanto o diretor parecem ter nascido para “causar”; intencionalmente ou não.












SINOPSE:

        A trama se passa nos anos 1990, e começa com ROSA (LUCIANA BRAGA), uma famosa jornalista e escritora chilena, radicada, ou melhor, exilada, na França, sendo entrevistada por MADELEINE H (SURA BERDITCHEVSKY), popular apresentadora de um canal da TV francesa. Um dos motivos da entrevista seria o lançamento de um livro, escrito por ROSA.

A escritora fala, destemidamente, de sua obra e de sua luta política no Chile, e conta a história do filho, retirado de seus braços, aos oito anos, engrossando a lista de desaparecidos durante a ditadura de Pinochet.

Paralelamente, o casamento, de três décadas, com o psicanalista ERIC (CHARLES FRICKS), pai de seu filho, está em crise e o marido, cada vez mais distante, vive um envolvimento amoroso com um jovem ex-paciente, LUCA (PEDRO DI CARVALHO).





O rapaz acaba de se descobrir portador do vírus HIV, fazendo crescer, ainda mais, a tensão sobre o secreto romance. 

ROSA, sem saber de nada, acaba conhecendo LUCA, em outras circunstâncias, e se forma, assim, “do acaso”, um triângulo amoroso, com consequências definitivas para os três envolvidos.














          Como diz o completo e detalhado “release”, enviado por STELLA STEPHANY (JSPONTES COMUNICAÇÃO) Através da história de um casal exilado, durante a ditadura chilena, e em busca de seu filho desaparecido, a peça mergulha nos eventuais desdobramentos de famílias atravessadas pela migração forçada, seja ela fruto do exílio político ou da situação de refúgio.”.

            A primeira consideração que merece destaque é para a originalidade do texto. Perguntariam, talvez, alguns: Mas onde cabe “originalidade” num texto baseado num clássico de uma tragédia grega? E a resposta é muito simples: Antes de mais nada, nunca confundir “ineditismo” com “originalidade”. Aquele se refere à “qualidade do que é inédito, nunca visto”; este, à “qualidade do que é inusitado, do que não foi, ainda, imaginado, dito, feito; inovação, singularidade; capacidade para se expressar de modo independente e individual; habilidade criativa; criatividade”. Deu para entender? Espero. O “Édipo” é inédito; “SANGUE” é original. E como!!!







            O grande dramaturgo foi buscar inspiração na tragédia de Sófocles; mas apenas isso. É óbvio que não gastarei tempo, para traçar a sinopse da tragédia do “homem que matou o pai, sem saber, e casou-se com a própria mãe, da mesma forma, tendo, com ela, duas filhas”. É superinteressante a estrutura do texto, o aproveitamento de uma ideia inédita, transformada numa trama, que prece ter acontecido ontem, embora se passe na década de 1990, e que provoca a comiseração da plateia e, ao mesmo tempo, nos faz aplaudir a criatividade praticada, ou explorada, nessa, digamos, “adaptação”. Não chega a ser uma. NORÉN criou uma história, aparentemente, pouco verossímil, mas não totalmente. No plano da realidade, as chances de aquele conflito, envolvendo três pessoas, distantes e desconhecidas, inicialmente, acontecer seriam ínfimas, porém não impossíveis. Mas estamos tratando de ficção, de uma excelente ficção, na qual o acaso, a fatalidade conduzem os três personagens a um relacionamento que nunca deveria existir e a um desfecho trágico, curiosamente, previsível, como já tive a oportunidade de dizer, porém, nem por isso capaz de fazer algum espectador se afastar do foco das ações e se desinteressar pelo desenrolar da trama. Muito pelo contrário. Quem são aquelas três pessoas? O que vai acontecer no final? Disso ninguém tem dúvidas. Mas de que modo o trio será “punido”? Só mesmo assistindo à peça, para sentir a emoção e o entusiasmo que tomaram conta de mim, durante aqueles 100 minutos de ação e que se renova agora, no momento em que escrevo sobre o espetáculo.





            Pensar em monotonia e lentidão, em “SANGUE”, não passa nem por perto. As cenas alternadas, os cortes precisos, as passagens de uma ação a outra são mais do que suficientes para manter o público “aceso”, “ligado”, ansiando pela novidade que está à frente. É o dedo nobre do diretor sobre a o primoroso texto do autor, numa simbiose perfeita.





            BRUCE, mais uma vez, tem a oportunidade de demonstrar seu talento, como “maestro” de uma “orquestra de câmara”, afinada, da primeira à última nota, tocando num andamento perfeito. Montar um espetáculo de TEATRO na forma de arena, por vezes, dependendo do texto, é uma tarefa bem difícil, como é o caso da peça ora analisada, a qual, provavelmente, ou com quase certeza, foi escrita para um palco italiano, e exige mais de uma locação; mais de um cenário, portanto, solução brilhante, encontrada pelo próprio diretor, que também assina a cenografia, ao lado de VINÍCIUS FRAGOSO. Sobre esta, falarei, com detalhes, mais adiante.  





            LARS NORÉN, dramaturgo, romancista e poeta sueco, (Estocolmo, 9 de maio de 1944), é um dos mais proeminentes dramaturgos contemporâneos, comparável, por muitos, acertadamente, aos meus olhos, a Eugene O´Neill, “de quem herda a violência psicológica e o sentido dos espaços fechados”, e é, frequentemente, citado como “herdeiro de Strindberg”. “Os seus textos são realistas e giram, muitas vezes, em torno de relações familiares e dos mais pobres e indefesos da sociedade” (Os trechos em grifo foram pesquisados na Wikipédia.).

          Ainda consta no já citado “release”: “É autor de mais de 70 peças teatrais. Sua obra retrata os lados escuros da vida humana, psicológica e familiar. É um dos autores suecos atuais cujas peças são mais encenadas pelo mundo”.





“SANGUE” é um texto inédito, no BRASIL, e nos faz lembrar que “Estamos vivendo um tempo em que presenciamos grandes massas humanas se movimentando, em busca de um novo lugar no mundo. As guerras, os regimes totalitários e as crises econômicas têm redesenhado, por vezes, de forma traumática, as ocupações humanas no planeta. Mas esse não é um problema novo. Talvez só mais visível, hoje, aos olhos do mundo. Nem este, nem as tragédias universais embutidas nas relações humanas - ou na falta delas. E foi nessas feridas atemporais que LARS NORÉN (...) resolveu tocar, nos idos anos 1990”, com este texto (Também extraído do “release”.).





A partir do clássico da tragédia grega, “Édipo Rei” e seguindo as bases daquele gênero teatral, o autor vai “empurrando, através de reviravoltas surpreendentes, os personagens aos seus destinos trágicos anunciados”. Há uma arquitetura dramática muito bem planejada, que faz convergir, a uma situação limite o destino de três pessoas, aparentemente desconhecidas, mas que têm em comum o mesmo sangue e as mesmas dores e sofrimentos. Não há, explicitamente, um oráculo, a determinar o fado de cada um. Há, sim, um destino fatídico, pronto a testar os limites da dor e da miséria humana, sem dó nem piedade. E, da forma mais ingênua possível, o trio não consegue perceber que está sendo conduzido a um precipício do qual não conseguirá escapar, porque a vida, muitas vezes, nos prepara armadilhas, sem volta, utilizando, como isca, a sedução, o interesse e o culto à bondade, à atenção, ao magnetismo e à fascinação que o outro exercita sobre nós.





            A aranha tecendo sua renda, associada ao canto da sereia, atraia suas vítimas e as destrói, impavidamente, impetuosamente, friamente, como se a desejar que cada espectador purgue, junto com elas, os seus erros, os seus descaminhos.

            A escalação do elenco não poderia ter sido mais adequada, incluindo o novato PEDRO DI CARVALHO, que merecerá um destaque nesta apreciação técnica, protagonista que é neste trabalho.





            LUCIANA BRAGA, com uma carreira de grandes sucessos, é uma excelente atriz e, aqui, demonstra isso, na pele de uma famosa jornalista e escritora chilena (ROSA). Ativista pela democracia, perseguida, torturada e exilada, pela ditadura de Pinochet, ROSA teve seu filho, de oito anos, arrancado de seus braços, como, certamente, a maior punição que lhe foi aplicada por aquele regime de terror; a maior de todas as torturas, a emocional. Aparentemente, depois de fixada na França, e de se tornar mais conhecida e respeitada na profissão, resolveu o problema daquela perda, mas isso não corresponde à verdade, uma vez que, sempre vive se questionando se o filho estaria vivo, com cerca de 28 anos de idade, vivendo onde e de que maneira. No fundo, seu coração materno alimentava uma esperança de reencontrá-lo e retomar os laços daquela família, destruída pela força brutal do horror de uma ditadura militar. LUCIANA encontrou o tom perfeito para a personagem, sem exageros nem carências de emoção. Embora seu casamento, de três décadas, já viesse vivendo um desgaste, sua permanência, ao lado do marido, talvez fizesse parte dos planos de reencontrar o filho e reconstruir o núcleo familiar. ROSA conheceu, por acaso, o jovem LUCA (PEDRO DI CARVALHO), sem saber nada de seu passado, e os dois iniciaram uma boa amizade.





            CHARLES FRICKS, um dos melhores atores de sua geração, estava fazendo falta, nos palcos, e retorna à cena, no papel de ERIC, um psicanalista, que, talvez, por força da profissão, encara a perda do filho de forma menos dramática, digamos; menos trágica, já parecendo curado de todas as feridas do passado. Por força do desgaste no relacionamento matrimonial ou por outro motivo - ou por ambos -, acaba se envolvendo, amorosamente, com um rapaz, bem mais jovem que ele, que já fora seu paciente, embora tal relacionamento o perturbasse bastante, pois não se sentia à vontade, por assumir seu lado homossexual e por “trair" a esposa, a quem dizia amar, porém se deixando levar pela força maior de uma atração física pelo jovem, que ia num crescendo, tonando aquilo uma bomba, prestes a explodir. Assim como LUCIANA, CHARLES encontrou o ponto exato de interpretação de seu personagem e nos encanta com seu trabalho. Os dois.

           Para viver uma jornalista, apresentadora de um programa da TV francesa, MADELEINE H, foi convidada, para uma participação especial, a veterana e boa atriz SURA BERDITCHEVSKY, que entrevista ROSA, num programa ao vivo, e vai ajudando a contar a história, passando pistas à plateia. Personagem também importante na trama.





Sem desmerecer, absolutamente, o ótimo trabalho do trio de atores, já mencionado, não resta a menor dúvida de que a grande surpresa e revelação, nesta montagem, fica por conta de PEDRO DI CARVALHO, um jovem ator, de 23 anos, ainda estudante da CAL (Casa das Artes de Laranjeiras), em seu primeiro trabalho profissional, já estreando como protagonista, um protagonista de grande peso, fazendo um trabalho impecável, merecedor de muitos aplausos. No dia em que assisti à peça, na saída, todos os comentários eram favoráveis ao espetáculo, porém a grande maioria era voltada para a atuação de PEDRO, descoberto pela assistente de direção, BRUNA DIACOYANNIS, e que, quando de seu teste, de imediato, caiu na graça do diretor e dos colegas de cena. Todos se entusiasmaram com a audição do jovem, que ganhou, merecidamente, o papel e o desempenha como se grande experiência de palco tivesse. Certamente, um futuro brilhante o aguarda e que ele tenha a certeza de que sempre contará com os meus mais sinceros aplausos e gritos de “BRAVO!”, caso não deixe de ser aplicado, como nesta peça. Seu personagem é LUCA (Sem qualquer “spoiler”, não é preciso dizer quem ele é, na trama.). Durante um tempo em que esteve preso, numa cadeia, foi, constante e barbaramente, estuprado, o que o levou a contrair o vírus do HIV, fato que fez aumentar, mais ainda, a tensão entre o relacionamento dele com o amante, seu ex-psicanalista, o qual passou a temer também ter sido contaminado.  



  




Fiquei assaz bem impressionado com a cenografia da peça, de VINÍCIUS FRAGOSO e BRUCE GOMLEVSKY, totalmente criativa e a serviço de um texto limitado a ser encenado numa arena. Alguns baús bem grandes, creio que cinco, que são movimentados em cena, pelos próprios atores, assumindo diversas formações, dentro dos quais há alguns objetos de cena, associados a uma mesa/escrivaninha fixa, são o apartamento do casal, o estúdio de TV, o apartamentinho de LUCA e, se não me equivoco, também o consultório do psicanalista. Não é preciso mais nada. O público entende tudo.


(Foto: Gilberto Bartholo.)


Um dos melhores trabalhos de iluminação que me passaram pelos olhos e pela minha sensibilidade, neste ano, está nesta peça, luz assinada por RUSSINHO, que vem acompanhando BRUCE em suas últimas montagens. As soluções são mais que perfeitas e as alternâncias de luz obedecem a uma precisão que valoriza, por demais, o espetáculo. Há um desenho de luz próprio para cada espaço e para evidenciar o que necessita disso.

O espetáculo conta, ainda com um bom trabalho de direção musical, feito por MARCELO ALONSO NEVES, interessantes adereços, executados por VINÍCIUS FRAGOSO e acertados figurinos de MARIA DUARTE.


    





FICHA TÉCNICA:

Texto: Lars Norén
Tradução: Karl Erik Schollhammer 
Direção: Bruce Gomlevsky
Assistência de Direção: Bruna Diacoyannis
  
Elenco: Luciana Braga (Rosa), Charles Fricks (Eric), Pedro Di Carvalho (Luca) e Sura Berditchevsky, em participação especial (Madeleine H)

Equipe de TV: Bruna Diacoyannis (Câmera), Gaia Garcia (Maquiagem) e Luciano Moreira (Técnico de Som)
Vozes na Secretária Eletrônica: Jaime Leibovitch e Gustavo Damasceno
Cenário: Vinícius Fragoso e Bruce Gomlevsky
Figurino: Maria Duarte
Iluminação: Russinho
Direção Musical: Marcelo Alonso Neves
Adereços: Vinícius Fragoso
Fotos: Dalton Valério  
Realização: SESC Rio
Direção de Produção: Luiz Prado
Assistente de Produção: Letícia Dale
Uma produção BG ArtEntretenimento Ltda.
Assessoria de Imprensa: JSPontes Comunicação - João Pontes e Stella Stephany










SERVIÇO:

Temporada: De 08 de agosto a 1º de setembro de 2019.
LOCAL: Teatro de Arena do SESC Copacabana.
Endereço: Rua Domingos Ferreira, 160, Copacabana – Rio de Janeiro.  
Telefone: (21) 2547-0156.
Dias e Horários: De 5ª feira a domingo, sempre às 19h.
Valor dos Ingressos: R$7,50 (associados do Sesc), R$15,00 (meia entrada), R$30,00 (inteira).
Horário de Funcionamento da Bilheteria: De 3ª a 6ª feira, das 9h às 20h; sábados, domingos e feriados, das 12h às 20h.
Capacidade: 242 espectadores.
Duração: 100 minutos.
Gênero: Tragédia.
Classificação Indicativa: 18 anos.








            Pelo cuidado empregado nesta produção, pela qualidade do texto e da direção, pela ótima atuação de um elenco equilibrado e por todos os elementos técnicos utilizados neste trabalho, recomendo, com muito empenho, a peça, na esperança de que ela possa fazer novas temporadas, proporcionando-me a oportunidade de revê-la, pois gosto sempre de rever, pelo menos uma vez, os espetáculos que me agradam, que me enriquecem, que me passam uma boa mensagem. Gosto de rever os espetáculos que me marcam.







E VAMOS AO TEATRO!!!

OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!

A ARTE EDUCA E CONSTRÓI!!!

RESISTAMOS!!!

COMPARTILHEM ESTE TEXTO, 
PARA QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO BRASILEIRO!!!






(FOTOS: DALTON VALÉRIO.)






















































































































quarta-feira, 21 de agosto de 2019


QUANDO EU SONHO,
VIRO SONHO.

(SEM LUXO NEM RIQUEZA,                                                
MAS, COM AMOR E COMPETÊNCIA,

TAMBÉM SE FAZ UM BOM

TEATRO INFANTOJUVENIL.)




         Embora meio sem tempo para escrever e com dificuldade de enfrentar um longo tempo sentado, em frente a um computador, em função de uma recém-cirurgia, resolvi reservar um tempinho, para tecer uma merecida crítica, positiva, ainda que de forma muito superficial, diferente do que me é habitual fazer, sobre um espetáculo infantojuvenil, que, de superficial, não tem nada. É bem simples, é verdade, o que não é nenhum defeito, tanto quanto poético, singelo e com um conteúdo muito enriquecedor. Falo de “QUANDO EU SONHO, VIRO SONHO”, em cartaz no Teatro da Casa de Cultura Laura Alvim (VER SERVIÇO.).









SINOPSE:

Quantos sonhos cabem na cabeça de uma criança?

A quantos lugares se pode ir, sem sair do quarto, apenas usando a imaginação?

É isso que ELISA (CAROL LEIPELT), uma menina apaixonada pelo mundo dos sonhos, tenta nos mostrar. Aliás, consegue.

Mas... E quando surge um pesadelo?

O que fazer para superar os medos?

Para isso, ela conta com personagens já presentes em sua vida, como a mãe e a avó, e com personagens inusitados, como um pássaro e um caderno (Ou seria uma "caderna"?) falante.

Toda essa história de superação é embalada pelas músicas de TOQUINHO, que também trazem o lúdico e o imaginário infantil, em suas letras e melodias.

Embarque nas asas da imaginação, com ELISA, e sonhe também, pois, como ela mesma diz: “Quando chega a hora de sonhar, eu que viro sonho”.









            E como é importante virar sonho, principalmente nos dias de hoje, quando pesadelos são mais frequentes! Não podemos, entretanto, nos acovardar e nos deixar contaminar por eles. É preciso sonhar. E muito!!! Sonhar como ELISA. Sonhar colorido, pensando, sempre, que “sonho que se sonha junto, é realidade” (“Prelúdio” - Raul Seixas).

            A vida não é feita só de sonhos, infelizmente. De vez em quando, surge um ou outro pesadelo, que nos amedronta, que nos tira a calma e a paz. E isso é muito natural. O autor do texto, o jovem DANIEL DE MELLO, em sua estreia como dramaturgo (Já há outras peças na gaveta.), também, ator e diretor, teve a ideia dupla de passar a necessidade de se viver intensamente cada sonho, focando, sempre, na possibilidade de sua realização, porém ensinando-nos que, quando o onírico desaparece e surge a realidade, representada pelos pesadelos, não podemos ter medo ou fugir deles. É hora, sim, de buscar ajuda, apoio, de reunir forças e lutar contra o “inimigo”.







            DANIEL escreveu um texto muito simples, de facílima assimilação por crianças bem pequeninas e que consegue deslumbrar, também, os adultos, porque “gente grande” também tem o direto de sonhar – e deve – e porque o belo, o que é positivo, agrada a pessoas, a gente, antes de tudo, não importando a idade. Utiliza um vocabulário bem comum e, sabiamente, encontrou, na dramaturgia, um momento próprio, para que a personagem interaja com as crianças, chamando algumas ao palco. Isso agrada e funciona muito bem.





            Como sonho e música formam uma combinação perfeita, DANIEL selecionou algumas canções de TOQUINHO, para fazer parte de uma deliciosa trilha sonora, acompanhada, em uníssono, pelo público: as crianças e os adultos. São canções conhecidas, que fazem parte da memória afetiva de todos e serão, para sempre, atemporais: “O Filho Que Quero Ter”, “O Poeta Aprendiz”, “Canção do Medo”, “Valsa Para Uma Menininha”, “Ao Que Vai Chegar (Voa Coração)”, “O Caderno” e a emblemática e icônica “Aquarela” (“Numa folha qualquer, / Eu desenho um sol amarelo. / E, com cinco ou seis retas, / É fácil fazer um castelo.), que encerra o espetáculo; todas as canções se encaixam, perfeitamente, nas cenas.

               Também deve ser citado o fato do bom aproveitamento, por parte do autor/diretor, das cenas em que inclui o velho e bom Teatro de Sombras, que sempre terá sua importância e despertará interesse no público.



 






            CAROL LEIPELT, cujo trabalho, como atriz, eu não conhecia ainda, encanta a plateia, por ser uma boa intérprete e ter uma bela presença de palco e muito carisma, tanto com relação aos pequenos quanto no que diz respeito aos adultos. Representa uma ELISA meio ingênua, doce, meiga, sonhadora, alegre e consegue que seja vista, adulta que é, como uma menina, mas sem aqueles vícios horrorosos, a que estamos acostumados a ver, infelizmente, no Teatro Infantojuvenil, de idiotização da criança. Seu trabalho é muito natural e ela consegue uma excelente comunicação com o público. Tem, ainda, a seu favor, o fato de ter uma belíssima voz e ser afinadíssima, outro ganho para a peça. Além da protagonista, interpreta outros personagens ou, simplesmente, reproduz as vozes deles (mãe, avó, pássaro e “caderna” – isso mesmo, no feminino), em pequenas participações, alterando a voz e a postura física.





            CAROL é a protagonista da peça, porém, generosamente, divide a cena com o ótimo músico RENAN FRANCIONI, que a acompanha, ao vivo, ao violão, apoiado num “playback”, muito bem gravado, e, meteoricamente, participa de alguma cena, com uma fala ou outra.





            Com parcos recursos financeiros, a produção é, contudo, muito bem cuidada, com elementos simples, entretanto funcionando muito bem, como o bonito cenário, de GUSTAVO PINHEIRO, que se resume a quatro guarda-chuvas coloridos, pendurados, utilizados em algumas cenas, e dois caixotes coloridos, além de alguns poucos objetos de cena.

            TERESA MELO criou um figurino muito simples e singelo, um vestido “de menininha”, que combina muito bem com a personagem. Não sei se devo incluir com parte do figurino ou considerar como objeto de cena uma peça, assemelhada a uma capa, que assume várias funções no decorrer da peça. Um aproveitamento muito criativo da direção.

              FRANCISCO HASHIGUCHI é o responsável por uma bela luz, que ajuda a criar o universo onírico do espetáculo.







            Ganham destaque, na montagem, os adereços, criados por LEANDRO MELO, todos fundamentais, na peça.

            Também deixaram a marca de sua participação e colaboração, para o bom resultado final do espetáculo, BRUNO COSTA, na direção musical; ELIS LOUREIRO, na direção de movimento; e WILLIAM LOPES, no desenho de som, além de outros profissionais, sem os quais o trabalho de equipe não existiria: GUILHERME QUADRADO (operador de luz e assistente de produção), ADRIANA MARINHO (“design” gráfico), MOISÉS SANTANA e MÁRCIA LOPES (fotos e vídeos) e ISADORA GUENKA (produção).









FICHA TÉCNICA:

Texto e Direção: Daniel de Mello

Atuação: Carol Leipelt

Músico: Renan Francioni
Direção Musical: Bruno Costa
Direção de Movimento: Elis Loureiro
Cenário: Gustavo Pinheiro
Figurino: Teresa Melo
Adereços: Leandro Melo
Iluminação: Francisco Hashiguchi

Desenho de Som: William Lopes
Operador de Luz: Guilherme Quadrado
“Design” Gráfico: Adriana Marinho
Fotos e Vídeos: Moisés Santana e Márcia Lopes
Produção: Isadora Guenka
Assistente de Produção: Guilherme Quadrado
Direção de Produção: Carol Leipelt e Daniel de Mello
Realização: Caramello Produções















SERVIÇO:

Temporada: De 03 a 25 de agosto de 2019.
Local: Teatro da Casa de Cultura Laura Alvim.
Endereço: Avenida Vieira Souto, 167 – Ipanema – Rio de Janeiro.
Dias e Horários: Sábados e domingos, às 16:00.
Valor dos Ingressos: R$40,00 e R$20 (meia entrada).
Classificação: Livre.
Gênero: Teatro Infantojuvenil









            Está cada vez mais difícil encontrar boas montagens teatrais voltadas para o público infantojuvenil, que, quando nos deparamos com uma, como esta, de boa qualidade, desperta-nos, logo, a vontade de escrever sobre ela e recomendá-la.







E VAMOS AO TEATRO!!!

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(FOTOS: MOISÉS SANTANA.)