sábado, 29 de março de 2014


OLEANNA

 

(UMA PEÇA SOBRE O PODER: SUA FORÇA E SEU PREÇO.)

 

 


 

 

Assisti ao espetáculo OLEANNA, em cartaz até 21 de abril, no Teatro Gláucio Gil, de 6ª a 2ª feira, sempre no horário das 20h (é excelente a opção de TEATRO às 2ªs feiras), cuja proposta, bastante interessante, apresenta um dos personagens, um docente universitário, interpretado por um homem, MARCOS BREDA, e por uma mulher, MIWA YANAGIZAWA, alternando-se por sessões. 

Tive a oportunidade de ver a peça com BREDA e decidi que não escreveria sobre ela, antes de poder ver o trabalho de MIWA, muito elogiado pelos envolvidos no projeto, do que, aliás, não tenho a menor dúvida.  Entretanto, por total falta de tempo e incompatibilidade de agenda, creio que, infelizmente, vou ficar me devendo esse prazer, motivo pelo qual aqui estou discorrendo sobre o espetáculo.

 

 


 

 

O texto também tem uma versão para as telas e causou muita celeuma, principalmente nos Estados Unidos, quando de seu lançamento, o mesmo tendo acontecido com a versão para os palcos.  Trata-se de um dos texto mais polêmicos da dramaturgia americana, nos últimos tempos.

Ao final de cada sessão, nesta temporada, o elenco e o diretor se propõem a um pequeno debate com a plateia.  No dia em que estive no Gláucio Gil, a conversa foi tão agradável e enriquecedora, com relatos pessoais de alguns dos presentes, e durou tanto, que quase fomos expulsos do teatro, pelos funcionários, ávidos de retornar às suas casas.  Gostei tanto do debate quanto da peça.

Antes de qualquer outro comentário, afirmo que é digno de todos os elogios o programa da peça; mais propriamente, o conteúdo dos textos escritos nele.  É tudo muito esclarecedor e, se lidos, os textos, antes ou depois de o espectador ter visto a peça, poderão mudar o rumo de suas convicções acerca dos personagens e de suas visões e interpretações para aquilo que parece ser o tema central da trama – o assédio sexual -, mas que é apenas uma face de algo maior: a força e o preço do poder.

Considero tarefa muito difícil escrever sobre este espetáculo, baseado num fato real, em função da sua riqueza e profundidade e de tantos detalhes nele contidos.   Precisaria de muita capacidade de síntese, para não tornar enfadonha esta despretensiosa resenha.  Assim, limito-me a uma sinopse bastante superficial, convidando o prezado leitor a ir ao Teatro Gláucio Gil, a fim de conferir o que digo.

 

 


 

 

 
SINOPSE: Um excelente (?) professor universitário (JOHN) recebe, no seu gabinete, uma aluna medíocre (?) (CAROL), para a apreciação de um trabalho.  Ela não consegue entender nada do que ele explica nas aulas, muito menos o que escreveu num livro, indicado como fonte bibliográfica, e sente que seu futuro como universitária está ameaçado, uma vez que já prevê sua reprovação na matéria que ele leciona.  
O diálogo inicial transforma-se num violento confronto de ideias sobre as finalidades da educação e do ensino, o lugar do indivíduo na sociedade, as relações entre os sexos e os limites da liberdade.  Um confronto que envolve o espectador e o incita a tomar uma posição, a favor de um e contrária a outro, podendo, no meio da trama, ou no seu final, inverter-se.
De início, o que parece apenas uma disputa entre um “mestre” e uma “discípula” revela-se uma grande e dolorosa peleja sobre o que possa vir a ser a verdade.  Quem teria razão?  O professor lúcido, muito articulado, detentor de um vocabulário riquíssimo e do “poder”, o que não faz o menor sentido para a aluna?  Ou seria a aluna, que se sente humilhada, quando vai à busca de respostas simples e objetivas e é “metralhada”, com uma esmagadora demonstração de brilho intelectual do “poderoso” professor?
Na verdade, a guerra existe para que saia vencedor aquele que tem o direito à palavra: o que melhor a domina ou o que ainda não consegue fazer o “correto” uso dela.  A palavra e seus vários significados.  A palavra e suas diversas conotações, como, por exemplo, “estupro”.
 

 

 


 

 

Um bom psicanalista encontra, em OLEANNA, material abundante para escrever um longo tratado sobre a condição humana, as verdades e as contradições do ser dito humano, as ações e reações inter-humanas, tendo o poder, no mais “latu sensu”, como pano de fundo.

Falar muito mais do que isto seria tirar, do futuro espectador, o prazer de saborear o espetáculo e, sem se deixar influenciar, “comprar a briga” do professor ou da aluna.

Para GUSTAVO PASO, diretor do espetáculo, e um dos responsáveis pela ocupação temporária do Teatro Gláucio Gil, com a CIA TEATRO EPIGENIA, lutando contra todas as dificuldades, incluindo a falta de patrocinadores, DAVID MAMET traz à tona um certo patrulhamento frequente nos dias de hoje.

A boa tradução do texto é de MARCOS DAUD.

Como já foi mencionado, a direção do espetáculo, muito boa, é de GUSTAVO PASO.

No elenco, no dia em que assisti à peça, MARCOS BREDA e LUCIANA FÁVERO, ambos brilhantes, muito seguros e convincentes em seus personagens.   

A iluminação, muito boa, é assinada por PAULO CÉSAR MEDEIROS.

O cenário, que pode lembrar uma arena, onde gladiadores tentam destruir leões e fugir ao apetite destes, foi criado por GUSTAVO PASO e TECA FICHINSKI.

Os figurinos foram idealizados por JÔ RESENDE.

Uma boa trilha sonora original foi criada por ANDRÉ POYART, executada por SAULO VIGNOLI (cello) e ANDERSON PEQUENO (violino).

Indiscutivelmente, OLEANNA é um espetáculo instigante, que faz o espectador levar para casa muitas reflexões e ficar mergulhado nelas, por muito tempo, sem que, talvez, até consiga chegar a conclusões.

Não é uma peça para divertir, para o lazer.  Os que têm preguiça de pensar ou que vão ao teatro para cumprir uma agenda social não haverão de apreciar este espetáculo, que não é superficial; é de uma profundeza abissal.

Recomendo, com veemência, a peça e parabenizo todos os envolvidos no projeto.

 

 


 

 

(FOTOS: PRODUÇÃO/DIVULGAÇÃO DO ESPETÁCULO)