“CAZUZA, PRO DIA NASCER FELIZ – O
MUSICAL” - “MENTIRAS
SINCERAS ME INTERESSAM”, MAS VERDADES VERDADEIRAS ME INTERESSAM MUITO MAIS.
Elenco.
Algumas vezes,
sentei-me ao computador, para escrever minhas impressões sobre o espetáculo CAZUZA - PRO DIA NASCER FELIZ, O MUSICAL,
e, em todas, fracassei, porque não sabia nem por onde começar.
Decidi, então,
rever o espetáculo e anotar todos os detalhes que me chamaram a atenção nele,
já que, na primeira vez, não me contive, mergulhei profundamente na emoção e, a
partir dos dez ou quinze minutos após o início da peça, já estava chorando,
muito comovido, o que continuou ocorrendo durante todo o espetáculo, incluindo
o intervalo.
Saí do teatro
totalmente impactado com o que vi, dirigi meu carro, no longo percurso de Copacabana
ao Recreio dos Bandeirantes, chorando, a cada cena que me vinha à cabeça, e só
consegui me livrar de litros de adrenalina e pegar no sono após as cinco horas
da manhã.
Posteriormente,
soube, por parte de alguns atores do elenco, que eles também, depois de cada sessão,
só conseguem relaxar e adormecer passado um bom tempo, até que consigam se
livrar do peso emocional de seus personagens e da carga emotiva do espetáculo, no todo.
É preciso – mais
do que isto, que fique bem claro – dizer que tudo o que aqui vai escrito é a
mais pura verdade, já que não sou EXAGERADO,
mas tenho, sim, um coração do tamanho do mundo, para acomodar toda a emoção que
a noite do sábado, 26 de outubro (vai ficar, para sempre, na minha memória
afetiva) me reservou.
Cazuza descontraído / Cazuza e Lucinha.
Sempre
fui totalmente apaixonado pelo talento de CAZUZA,
sem a menor preocupação com sua vida particular (“EU NÃO POSSO FAZER MAL NENHUM A NÃO SER A MIM MESMO” - Cazuza) e
dele guardo algumas boas e marcantes lembranças, desde sua adolescência, e uma
em especial, num dos últimos “shows”, que prefiro me reservar o direito de não
compartilhar com ninguém, experiência que jamais esquecerei, quando ele me
dedicou uma especial atenção, após eu ter sofrido um grave acidente na minha
vida.
A pessoa sai
de casa, para assistir a CAZUZA - PRO
DIA NASCER FELIZ, O MUSICAL, pensando que vai se emocionar muito, diante da
história de um genial poeta, que teve um final tão trágico, comovendo toda uma
nação, e pensa: sou capaz de chorar.
O espetáculo
começa e, logo nas primeiras cenas, os espectadores não resistem a tanta emoção e
começam a ser ouvidas as primeiras fungadas, Os lencinhos das senhoras
começam a entrar em
cena. E os “lenções”
dos homens também - porque homem que é homem não tem vergonha de chorar -
começam a ser utilizados. E vão sendo
encharcados até o final do espetáculo.
Pessoas de todas as idades, incluindo gente muito jovem, nascida após a
morte do cantor, choram juntas.
É lindo ver
que ninguém se preocupa com o pudor, com a vergonha de chorar em público (os
homens) nem com a maquiagem (as mulheres) e se permite desidratar-se.
Mas não é um
choro de tristeza. Não. Sim. É
de tristeza, sim, mas de uma tristeza diferente. Não é porque CAZUZA morreu, até porque gênios são eternos. É uma tristeza pela interrupção de uma
carreira de sucesso, por se saber que ele poderia ter composto mais tantas
outras lindas canções, com letras verdadeiras, críticas, cáusticas,
denunciadoras, libertadoras...
Uma tristeza
por tanto sofrimento por que passou o próprio CAJU, apelido dele, LUCINHA
e JOÃO ARAÚJO, seus pais, os amigos
mais chegados, seus amores, seu público, nós, eu. Uma tristeza, por saber que nos falta mais uma
voz, neste momento tão nebuloso e de trevas por que passa o Brasil (“BRASIL, MOSTRA A TUA CARA!” - Cazuza),
no campo político e ético, para protestar e zombar “dessa gente careta e
covarde”; corrupta, burra, do mal.
Pose para o programa da peça
Se CAZUZA e Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte
Preta, aqui estivessem, vivos, entre nós, o que não falariam ou escreveriam
sobre a violência policial, os escândalos políticos, as trapaças e as tramas
governamentais na calada da noite?
CAZUZA, embora eu entenda, muito bem, o
que quiseste dizer na letra de MAL
NENHUM, vou discordar de ti, meu querido e inesquecível ídolo (eu nunca
te quis santo, mas sempre vou te querer ídolo).
Fizeste, sim, um mal enorme a todos os que amavam o teu talento e que
não gostariam de que a tua inesgotável fonte criativa secasse nunca.
O espetáculo
tinha tudo para ser piegas, para pegar a plateia pela apelação, pela comoção,
por meio da piedade, um dos mais horríveis sentimentos inventados pela
humanidade. Ao contrário, a despeito de
tanto sofrimento, de tanta emoção, trata-se de um espetáculo “pra cima”, para o que muito colabora a
cena final, em que o protagonista recebe os aplausos, envolto na mesma bandeira
brasileira na qual o personagem havia cuspido, durante um dos últimos “shows”,
senão o último, no saudoso Canecão, sem que se note, na cena da peça, um tom
ufanista, como interpretou o cantor, no “show”, o que o levou a tomar aquela discutida
e reprovada atitude, na ocasião, mas sim uma demonstração de respeito ao povo
brasileiro, numa espécie de “estamos
juntos”. É aplaudidíssimo. Todo o elenco é ovacionado, de pé.
Cazuza e Ezequiel Neves.
Alguns dos
vários momentos e detalhes que me marcaram no espetáculo, em ordem cronológica:
1)
A canção EXAGERADO,
sendo interpretada por CAZUZA e LUCINHA: uma ótima ideia da direção e
muito interessante a divisão dos versos que cada personagem canta.
2)
São de excelente qualidade e efeito plástico, para um
musical, os muitos videografismos, de Bárbara Lana, projetados durante todo o
espetáculo.
3)
É hilária a cena em que CAZUZA
subverte a ordem, quando resolve fazer parte de um espetáculo teatral,
satirizando o clássico A NOVIÇA REBELDE.
4)
A cena em
que CAZUZA , DÉ PALMEIRA, baixista do Barão Vermelho, e BEBEL GILBERTO compõem, juntos, descontraidamente, a bela canção PRECISO DIZER QUE TE AMO é magnífica. Os atores se comportam com uma naturalidade
tão grande, que dá a impressão de que aquilo está acontecendo, de verdade,
naquele momento, pela primeira vez.
5)
A interpretação de DOWN
EM MIM revela um dos melhores momentos de EMÍLIO DANTAS como cantor/intérprete. É de arrepiar. Bloqueou a minha respiração.
6)
O final do primeiro ato, quando todo o elenco está em
cena, cantando a belíssima canção MAIS
FELIZ, também de CAZUZA, DÉ e BEBEL, numa espécie de despedida de CAZUZA, quando este vai tentar tratamento médico, para a aids, em
Boston, é muito comovente, pela combinação da beleza da letra e da melodia com
a encenação dessa “despedida”. Quase
tive de apelar para uma boia, para não afundar num mar de lágrimas. Curioso é que quase todas as pessoas pensam
que tal canção foi composta por Adriana
Calcanhoto, pelo fato de ter sido sucesso na voz desta.
7)
A coreografia que abre o segundo ato, numa cena que se passa num
hospital de Boston, é uma das melhores do espetáculo; muito criativa e leve, a
despeito da situação.
Todo o elenco em cena.
8)
Gostei muito da inserção de um texto, por parte do autor
da peça, na cena em que CAZUZA interpreta o
clássico IDEOLOGIA, por meio do qual
ele, paradoxalmente, renega as drogas, exaltado a ideologia dos jovens que se
dedicam a lutar por ideais políticos.
Pode parecer meio estranho tal discurso vir de uma pessoa como ele, mas
é extremamente válido e pode funcionar como subtexto, como um alerta e uma
mensagem de “não às drogas”. Cada um interprete como desejar.
9)
Outro momento inesquecível da peça é a cena em que CAZUZA ,
LUCINHA e JOÃO interpretam outro ícone do repertório do cantor, CODINOME BEIJA-FLOR, dele e de Reinaldo Arias. A canção entra na cena por um pedido de CAZUZA, no leito do hospital, para que
sua mãe, que ele considerava a melhor cantora viva (a melhor morta seria Dalva de Oliveira) a cantasse. Em certo trecho, pede que ela imite Dalva.
É linda a cena.
10) Bastante
forte é a cena em que, para protestar contra o preconceito das pessoas em
relação à sua doença, acerca da qual pouco se sabia à época, CAZUZA interpreta, magistralmente, BLUES DA PIEDADE. A coreografia feita para este número também é
das melhores da peça.
11) Um
belo destaque é a luz, predominantemente verde e amarela, na cena em que é
cantada a canção BRASIL,
uma das letras mais cáusticas e agressivas do poeta.
12) A
cena em que o personagem ZECA CAMARGO
entrevista CAZUZA e este revela
estar sofrendo com a aids é uma das mais lindas e comoventes da peça, quando,
desafiado por CAZUZA a beber
vinho em seu copo, como prova de não ter qualquer preconceito contra a
doença, o jornalista, que, então, trabalhava para um jornal paulista, hoje
apresentador de TV, pessoa bem informada, o faz, provocando, na plateia, um
silêncio profundo, acompanhado por aplausos, quando o ator que interpreta ZECA sai de cena.
13) Percebe-se
uma total cumplicidade do público com a ira de CAZUZA e sua família, quando a revista VEJA, num comportamento de imprensa marrom, faz uma matéria de capa
com o cantor, já em avançado estado de debilidade, tratando-o como se já
houvesse morrido. Foi, à época, um
escândalo jornalístico, que fez valer, à revista semanal, toneladas de críticas
de desaprovação pela atitude antiética daquele órgão de imprensa.
ALOÍSIO DE ABREU foi felicíssimo ao
escrever o texto da peça, baseado, principalmente, no livro SÓ AS MÃES SÃO FELIZES, um depoimento
de LUCINHA ARAÚJO à escritora Regina Echeveria (já li duas vezes e
meia e ainda vou ler novamente).
ALOÍSIO tentou, e conseguiu, mostrar a
verdadeira personalidade do artista, seu lado doce e seu avesso irreverente e
debochado, bem como soube iluminar cada um dos mais importantes momentos e
detalhes da conturbada e curta vida de CAZUZA.
Sem que menos
se espere, até nos momentos mais dolorosos de sua vida, surge um CAZUZA, cujo nome de batismo era Agenor – nada combinando com o próprio - com uma frase engraçada,
picante, às vezes, um deboche, tentando descontrair o ambiente.
Os diálogos
são ágeis, entremeados por algumas das melhores canções que saíram daquela
usina de criatividade, embora, em alguns momentos, existam pequenas narrações
de alguns personagens, para costurar as cenas, principalmente do ponto de vista
cronológico. Muito bem escolhido o
repertório e os momentos em que as canções melhor se encaixam.
A direção de JOÃO FONSECA, a meu juízo, é a melhor de todos os musicais por ele
dirigidos. JOÃO também é uma fábrica de sucessos. Quase tudo, praticamente tudo, o que ele
assina é bem recebido pelo público e pela crítica.
É um dos meus diretores preferidos.
Na assistência da direção,
contou com o trabalho de PAULA SANDRONI,
PHILIPE CARNEIRO, CRIS FRAGA e REINER TENENTE, este na preparação de atores.
Muito boa a direção musical e vocal, a cargo de DANIEL ROCHA, que também acumula a
função de regente da banda, da qual fazem parte músicos de excelente qualidade,
como MARCELO FARIAS (teclado 01 e
regente substituto), EVELINE GARCIA
(teclado 02), BERNARDO RAMOS
(guitarra 01), o próprio DANIEL ROCHA
(guitarra 02), RAUL D’OLIVEIRA
(baixo) e RAFAEL MAIA (bateria),
todos com experiência em musicais. P oucos
músicos, porém produzem um som de primeira qualidade, passando a ideia
de que, por trás daquele telão, existem mais músicos, acompanhando os artistas.
ELENCO:
EMÍLIO DANTAS (CAZUZA): Um
fenômeno! Um gênio, à altura da
genialidade de CAZUZA. De formação musical, como cantor e
compositor, foi descoberto, para a arte de representar, por Oswaldo Montenegro e passou a se
dedicar à interpretação, tendo atuado em produções dramáticas da TV. Não sei se esse rapaz tinha
(porque hoje, certamente, já tem) noção do quanto ele é um excelente ator. Seu trabalho de construção do personagem é
irretocável.
Quando digo
que se trata de um fenômeno, baseio-me em alguns detalhes, tais como o fato de
ele não ter a menor semelhança física com o personagem (é até mais alto), mas,
assimilou todos os trejeitos e a postura cênica do cantor, além da voz, quando
fala e quando canta, muito bem, por sinal.
Com o passar
do tempo, o espectador é até capaz de ir “vendo” o rosto do ator se
transformar no do próprio personagem.
Por várias vezes, fechei os olhos e “vi” e ouvi CAZUZA. Na primeira vez em
que assisti à peça, numa cena em que desce à plateia, cantando MAL NENHUM, EMÍLIO se colocou a menos de um metro da minha poltrona. Foi só fechar os olhos, com as lágrimas
escorrendo pelo rosto, para sentir a presença de CAZUZA, “vivo”, entre nós.
Tenho certeza
de que, depois de ROCK IN RIO, O MUSICAL,
também dirigido por JOÃO FONSECA, é
a partir de agora, neste CAZUZA, que
EMÍLIO passou a fazer parte do
primeiro time de atores/cantores dos musicais brasileiros. Que venham muitos outros!
Após cada
sessão do inesquecível espetáculo JUDY
GARLAND - ALÉM DO ARCO-ÍRIS, da imbatível dupla Charles Möller & Cláudio Botelho, ao qual assisti várias vezes,
era comum ouvir as pessoas dizerem (também a mídia o fazia) que a sensacional
atriz Cláudia Netto havia “incorporado”
o espírito da diva americana, o que causava um certo incômodo à Cláudia, nas entrevistas concedidas,
quando reclamava dessa afirmação.
Concordo,
plenamente, com ela, uma vez que, mesmo que fosse médium, o ator ou a atriz não
é “cavalo” para receber entidades, muito menos os espíritos de grandes estrelas
falecidas. TEATRO não é terreiro nem centro espírita. Se Cláudia era Judy, em
cena, assim como EMÍLIO DANTAS é CAZUZA, “vivíssimo da silva”,
iluminando o palco do Teatro NET Rio, aquilo é fruto de muito trabalho da
direção, do visagista, dos preparadores, corporal e vocal, e, acima de tudo, do
talento e da disciplina do artista, que dedica horas, dias inteiros, madrugadas
a uma pesquisa sobre o personagem, seja ele quem for, a ser representado, “imitado”.
O ator
representa, “vive” um personagem; não o incorpora espiritualmente. São leituras, vídeos de “shows” e entrevistas,
filmes, muito exercício, até se atingir, se possível, a perfeição. Assim como a Judy, de Cláudia, é PERFEITO o CAZUZA de EMÍLIO.
Cazuza, o original.
Cazuza, a representação.
SUSANA RIBEIRO (LUCINHA ARAÚJO): Também excelente diretora de TEATRO, SUSANA é um dos
principais trunfos do espetáculo. Muito
segura no papel, principalmente sabendo dosar a emoção que tem de passar ao
público, sem cair na pieguice. Excelente
e comovente trabalho!
YASMIN GOMLEVSKY (BEBEL GILBERTO): Protagonista
em ROCK
IN RIO , O MUSICAL, aqui, ela tem uma
participação menor, quantitativamente falando, mas de excelente qualidade. Além de boa atriz, YASMIN canta e tem uma bela presença em cena.
THIAGO MACHADO (FREJAT): Já tem grande
experiência em musicais e se comporta muito bem em cena, no papel de uma pessoa
que foi muito importante na vida profissional de CAZUZA. A cena em que ele se
reconcilia com o amigo, após seis meses de rompimento da amizade, é muito bonita
e os dois atingem uma bela cumplicidade em cena.
MARCELO VÁRZEA (JOÃO ARAÚJO): Embora
tenha experiência em musicais, conheço mais os trabalhos do ator em outros tipos de espetáculo, no TEATRO
“tradicional”. Uma agradabilíssima
surpresa, na pele do pai do cantor.
Ótimo trabalho.
ANDRÉ DIAS (EZEQUIEL NEVES): O grande
incentivador de CAZUZA e um das pessoas
mais influentes na sua carreira profissional. ANDRÉ já tem uma larga experiência em
musicais e, mais uma vez, mostra todo o seu talento de intérprete, cantor e
bailarino em
musicais. Impressionam
a mobilidade e a leveza do ator em cena.
À primeira vista, pode parecer meio caricata a construção do seu
personagem, como tive a oportunidade de ouvir da boca de duas pessoas, quando
da segunda vez em que assisti à peça, há dois dias, entretanto, para quem, como eu, conheceu o ZECA, como era tratado entre os amigos, era aquilo mesmo. Acho até que o “exagero” inato de CAZUZA pode ter sido fomentado pelo de EZEQUIEL, que era "louco", “irresponsável”,
afetado, mas de um faro desenvolvidíssimo para descobrir talentos, como o Barão Vermelho e Cazuza, em sua carreira solo.
Mais um ótimo trabalho do ANDRÉ.
FABIANO MEDEIROS (NEY MATOGROSSO / GUTO
GRAÇA MELLO): Como NEY MATOGROSSO, com quem CAZUZA teve um romance, após o rompimento
do qual, teve, no “performer”, um dos melhores amigos, FABIANO brilha. Grande interpretação.
BRUNO NARCHI (SERGINHO MACIEL): O
grande amor da vida de CAZUZA, seu
namorado, pode-se dizer, até o fim de sua vida. Também
com experiência em musicais, BRUNO
desempenha satisfatoriamente seu personagem.
BRUNO SIGRIST (GUTO GOFFI, baterista do Barão Vermelho, e DR. SHELDON WOLF): BRUNO, que se iniciou nos musicais
pelas mãos de Charles Möller e Cláudio Botelho, no magnífico e
inesquecível O DESPERTAR DA PRIMAVERA,
tem uma bela atuação neste musical.
BRUNO FRAGA (MAURÍCIO BARROS, tecladista do
Barão Vermelho): Apesar de sua pouca
experiência em musicais, comporta-se como um veterano. Boa atuação.
SHEILA MATOS (TEREZA, empregada da casa de
CAZUZA / ENFERMEIRA / SUB DE LUCINHA ARAÚJO): Atriz,
cantora e bailarina, seu currículo é extenso, sendo a maioria de seus trabalhos
em musicais. Veterana e experiente nessa
área, Sheila empresta seu talento, mais uma vez, a um espetáculo deste tipo.
JULIANE BODINI (YARA NEIVA / VIZINHA / MÉDICA / FEIA / SUB DE BEBEL GILBERTO): Experiente em
musicais, também marca sua presença no elenco de CAZUZA. É uma daquelas a
quem chamamos “cantriz”, e das boas.
SAULO SEGRETO (DÉ PALMEIRA, baixista do Barão Vermelho): Muito bom
em cena, apesar de ser um estreante em musicais. Marcou presença, território
conquistado. Agora, é só dar prosseguimento a outros trabalhos nesta modalidade
de TEATRO.
DEZO MOTA (CAETANO VELOSO / LEO NETTO). Sua “praia” é a música, já tendo gravado um
CD, e, agora, atuando neste musical, sua participação é excelente,
principalmente quando interpreta Caetano
Veloso. Não creio que tenha havido
uma intenção de imitar perfeitamente o cantor, mas este ator/cantor, também
baiano, diverte bastante a plateia em sua caracterização. Bom trabalho.
OSCAR FABIÃO: (ZECA CAMARGO / TRAFICANTE / REPÓRTER / SWING MASCULINO). Tem discreta, porém boa, interpretação em
todos os papéis que representa.
OSMAR SILVEIRA: (ARAPUÃ / SUB DE CAZUZA). Comporta-se com correção em cena, e tem a
difícil missão de substituir EMÍLIO DANTAS,
no papel de CAZUZA, o que já ocorreu
há uma semana.
Além desses
papéis, todos os atores, à exceção de EMÍLIO,
SUSANA e MARCELO, interpretam diversos personagens coadjuvantes e participam
de quase todas as coreografias.
Na FICHA TÉCNICA, que é muito extensa, já
que são necessários muitos profissionais competentes, para pôr em cena um
espetáculo da envergadura de CAZUZA,
além dos nomes já citados, os destaques vão para:
CARLOS BAUZYS: supervisão musical. Nada que desabone seu trabalho.
FELIPE HABIB: preparador vocal. Bom trabalho.
ALEX NEORAL: coreografias. Boas, com alguns destaques, já citados.
NELLO MARRESE: cenário. Plataformas em níveis diferentes, bem utilizadas nas coreografias e para dar destaque a algumas cenas, servindo para marcar diferentes ambientes.
CAROL LOBATO: figurinos. Bons. Interessante é a transição dos figurinos de CAZUZA, do primeiro para o segundo ato. Durante aquele, quando a doença ainda não se manifestara (só vai acontecer no final do ato), os trajes são bem coloridos, alegres, descontraídos, "descolados", justos ao corpo do ator. No segundo ato, quando a aids já é manifesta e a degradação, física e psicológica, se faz notar, a figurinista, creio que em trabalho conjunto com a visagista, reserva ao personagem roupas em tons escuros e largas, sempre com mangas compridas, para dar a impressão de abatimento. É chocante a imagem do personagem, em estado quase terminal, entrando em cena, numa cadeira de rodas, trajando uma calça bem larga e uma camisa de manga comprida, de gola rolê, preta, alguns números acima do manequim de EMÍLIO DANTAS, o que, associado a uma maquiagem e a uma peruca de cabelos ralos, dá a sensação de que o ator emagreceu uns trinta quilos, no mínimo, de um ato para o outro. Belo truque de caracterização (visagismo).
JULIANA MENDES: visagismo. Formidável, como já foi comentado acima.
DANIELA SANCHEZ E LUIZ PAULO NENEN: desenho de luz. Bom, sem destaques especiais.
GABRIEL D’ANGELO: design de som. Idem.
A produção é de SANDRO CHAIM, conhecido por várias investidas de sucesso na área
dos musicais.
Terminado o
espetáculo, no sábado da semana de estreia, nem que me fosse permitido, já que
haveria uma segunda sessão, eu teria condições de cumprimentar alguns amigos do
elenco, em respeito ao descanso, mais que merecido, de cerca de meia hora, para
o início de uma segunda sessão, o que me fez recordar uma época em que fazíamos
nove sessões por semana, de 3ª a domingo, sendo duas na 5ª, no sábado e no domingo.
Os dois aspectos
negativos que observei, nas duas vezes em que fui assistir a este grandioso espetáculo,
não dizem respeito à encenação, em si, mas à falta de um “folder”, com a ficha
técnica do espetáculo, já que nem todos adquirem o belíssimo programa da peça
(R$25,00), e a falta de lugares para as pessoas idosas e portadoras de
necessidades especiais se acomodarem no belíssimo e aconchegante melhor “foyer”
dos teatros cariocas, antes da abertura da plateia. O teatro retirou
as poltronas que decoravam o local, para dar lugar a uma bela exposição sobre CAZUZA.
Mas creio que não seria necessário remover todos os assentos. Fica aí uma dica para Frederico Reder e demais pessoas da administração do teatro.
Escrevi tudo
isto, ouvindo CAZUZA e sentindo que
o “o poeta está vivo, com seus moinhos de
vento, a impulsionar a grande roda da história, e que o poeta não morreu; foi
ao inferno e voltou. Conheceu os jardins
do Éden e nos contou...”
SERVIÇO: 5ªs
e 6ªs feiras, às 21h; sábados, às 18h e às 21h30min; aos domingos, às 20h, no Teatro
NET Rio, até o dia 22 de dezembro.
(Fotos da produção/divulgação do
espetáculo, de Marisa Sá e de outras fontes desconhecidas, garimpadas na Internet.)